Novos ares

Depois de algum tempo tentando, finalmente Ana conseguiu passar na

entrevista e treinamento na empresa que tanto desejou trabalhar. É uma grande empresa e famosa por todo o mundo, o salário é

compatível com o seu sucesso. Tem muitas sedes espalhadas e hora ou

outra, funcionários são transferidos de um lugar à outro. Ana que não

é tola, já havia aprendido alguns principais idiomas, o básico, mas já é alguma

coisa. Hoje, é seu último dia na loja.

Na verdade, ela já está desligada mas, queria aproveitar cada momento junto à sua chefa e aos demais colegas. Ela trabalhou aqui desde os seus 20 anos. Foi uma vida. Choros e sorrisos se misturaram e houve uma linda despedida com

direito a cantoria e mensagens de carinho por seus colegas de trabalho

e especialmente de sua chefa Carol, que mais que uma chefa se tornou

amiga, essa amizade é sólida de muito companheirismo e gratidão.

- Saiba que torço muito por você Ana, obrigada por tudo que fez pela

loja, hoje é o que é por sua causa. Você sabe disso. Por isso , não

tenho dúvida do seu sucesso – diz Carolina segurando o choro.

- Eu realmente vou sentir saudades. Aprendi muito com você, com

todos vocês. Carol, você me deu oportunidade de me desenvolver aqui, todos vocês foram de extrema importância para mim e para a loja, eu

só tenho gratidão. A noite foi longa, com muito amor e saudade.

Para uma empresa de grande porte manter um padrão tão alto, as exigências

seriam à altura. Ana sempre teve dificuldade com regras, indomável por assim dizer, apesar de nunca ter se metido em confusão, mas sempre fez o que quis

e logo se viu podada por regras que seriam necessárias se quisesse sua

permanência na empresa. Seu gerente, o Sr. Ferreira não dava um descanso, em seus primeiros

seis meses, sua vida e perspectiva dentro da empresa não seria fácil, disso ela já sabia, só não sabia que seria mais do que ela imaginava.

Passaram-se um, dois, três dias, uma semana, um mês e quanto mais o

tempo passava mais Ana aprendia e se posicionava como uma

profissional qualificada na empresa, embora muitas vezes pensou que

não conseguiria, mas não desistiu seguiu firme, pois foi o que sempre

quis, era um sonho concretizado, não iria jogar tudo só por causa de

um cansaço aqui ou um estresse ali, ela não desistiria tão fácil assim. Foi assim que sua mãe a ensinou, com seu exemplo. Ana sempre a

observava e absorvia a maior parte das qualidades de sua mãe, tinha

muito orgulho e onde passasse com certeza a citaria em sua conversa

nem que fosse para falar apenas o seu nome.

Passados os seis meses, seu gerente parou um pouco com o castigo e

começou a perseguir o novo integrante.

- O senhor precisa de algo?

- Não Ana, pode seguir o seu trabalho e reveja o documento que foi

enviado ontem. O cliente se queixou , alegando não conter dados

suficientes.

- Entendo.

- Não é sua culpa, eu sei que o erro não foi seu. É apenas um cliente

difícil.

- Obrigada senhor. Licença.

- Ah, Ana.

- Sim.

- Está chegando um novo integrante vindo de Londres, ele é Brasileiro, então pode falar em português. Como ele estará no seu setor, ajude-o

quando precisar. Os outros integrantes não tem a mesma paciência que

você.

- Está bem, cuidarei disso. Ana se retirou e pensou um pouco, ela tinha ouvido sobre um novato

vindo do exterior, mas achou que seria para daqui um mês. Os

planos mudaram.

- Você soube do novo integrante? – pergunta um dos colegas, Marcelo.

- Sim, o gerente me falou agora.

- Um gato, você precisa ver as fotos dele, quem me dera um pedaço desse mal

caminho.

Cara, olha a pinta. Se o gerente te pegar falando assim, vai ser chamado

atenção, você sabe que na empresa, não.

– diz Ricardo.

- Ué, o que posso fazer? Não resisto a um homem daquele. Se você

fosse gay, estaria babando por ele também.

- Respeito, mas não é minha praia.

- Vocês dois, parem de falar bobagens ou querem que o gerente pegue

vocês?

- Deus me livre, amo o meu emprego - diz Marcelo.

Ana sorri e pensa se esse cara é tudo isso mesmo.

Aeroporto Internacional de Guarulhos.

- Lucas!

O rapaz olha para trás e vê seus pais e seu irmão.

- Filho, como está lindo meu amor. Cresceu tanto, está fazendo

academia?

- Mãe, a senhora esteve em Londres há um mês – diz Leonardo, irmão

de Lucas.

- Pare de estragar meu drama garoto e vá abraçar seu irmão.

- Como vai maninho? Trouxe um presente da sua loja preferida de

Londres.

- Jura? Cara, já falei que te amo?

- Já chega, já chega. Venha dar um abraço no seu velho pai.

- Velho uma ova, se você é velho, eu sou o quê? - pergunta sua esposa indignada.

Ele pensou por três segundos, antes de respondê-la.

- velha.

- oras, seu...

- Já chega, vamos para casa, estou cansado. E amanhã, vou para a

fazenda visitar o vovô e a vovó – Lucas conduz sua mãe para longe de

seu pai, este que acha graça da fúria de sua esposa.

- Certo, vamos.

Ele é formado em Ciências da computação e após o estágio em

Londres, foi selecionado para trabalhar no Brasil onde mora com sua

mãe Fernanda, seu pai Arnaldo e o irmão mais novo Leonardo, este

que é o braço direito de seu pai na empresa da família.

Rapaz simpático, mas reservado, sem muita conversa e observador. Ele viveu sua infância e adolescência com seus avós paternos Rômulo

e Judite, que moram no interior da cidade em uma grande fazenda. Seu amor

pela natureza crescia cada vez mais e não gostava de estar em lugares

muito movimentados ou barulhentos, gostava mesmo da tranquilidade, do verde das plantas, de cavalgar aos arredores da

fazenda, brincar com os cachorros e tomar o leite da vaca após seu

banho quando chegava em casa.

Seus pais eram empresários e não tinham tempo devido as constantes viagens, por isso deixou ele e seu irmão com seus avós, embora quase todo final de

semana fossem visitá-los. Quando adolescente, sonhava em ser um desbravador do mundo, queria conhecer os quatro cantos da Terra, mas após algum tempo se

encantou pela tecnologia e queria saber cada vez mais, até que decidiu

seguir Ciências da computação. Seus avós sempre o apoiaram em tudo o que quisesse fazer, pois tinha

habilidade e maturidade suficiente para seguir qualquer coisa, era empenhado

nas tarefas de casa, nunca deu trabalho aos seus avós, na

verdade gostava de ajudá-los no que fosse preciso.

Onde viviam, havia uma boa escola – fundada pelo pai de seu bisavô

paterno – ele era um dos melhores alunos, se tivesse algum concurso

era certo que ele ganharia uma medalha, toda semana um professor de

piano ia à sua casa lhe ensinar, sempre teve uma facilidade enorme de

aprendizagem, sua dificuldade era em socialização, embora gostasse

de brincar, correr e cavalgar, mas interagir com os outros colegas de classe

era complicado e por isso sempre ouviu brincadeiras a seu respeito um

tanto desagradáveis por parte dos colegas.

Isso gerava uma série de brigas de seu irmão com os valentões, que

não suportava ver seu irmão ser insultado. Lucas tinha um coração de ouro, era aquele garoto que toda mãe

desejaria ter.

Em sua adolescência se apaixonou por uma garota da escola, ela era

simpática, mas se deixava levar pelos comentários, então numa tarde

em que ele havia marcado um encontro para conversar, ela não

apareceu e no dia seguinte enviou um bilhete afirmando que não o

queria mais. Aquilo desapontou demais, seu coração ficou tão triste que ele

chorou por dois dias seguidos, principalmente por saber o motivo pelo

qual ela havia desistido de si. Como pôde se deixar levar assim e não

levar em consideração seus sentimentos?

Nunca havia se apaixonado por ninguém, ela foi a primeira e a última

por certo tempo.

A moça alegou que não o queria por ele ser

diferente dos outros e dela mesma, prezava suas amizades, tendo a maioria

não aceitado esse envolvimento, ela teria que se distanciar dos

seus amigos, coisa que ela não queria.

Isso foi o bastante para que ele se fechasse completamente para este tipo de sentimento, começou a pensar que havia algo errado consigo

mesmo, que não era bom o suficiente e que nunca ninguém o iria

querer, por ser do jeito que é. Seu irmão por outro lado, era um conquistador de classe A.

O tempo passou, algumas garotas tentaram se aproximar, mas ele

sempre as rejeitava, tinha poucos amigos os quais passaram um fim de

semana em sua casa antes do término das aulas do ensino médio. Chegada a hora de preparar sua documentação para estudar fora do

País, seu avô o deixou no local para pegar seu passaporte enquanto

seguia para comprar alguns alimentos.

Algo interessante, é que ele

nunca havia saído do País antes. Nem ele, nem seu irmão. Sempre diziam não

ter vontade de conhecer outros Países. Agora estava aqui, à espera de um

ônibus com seu passaporte em mãos.

Dias atuais...

- Filho, vá tomar um banho, vou pedir para a Jandira desfazer suas malas – sua mãe diz.

- Deixe-me pegar o presente de Leonardo.

Ele abre a mala e pega uma luminária em forma de bola de cristal, com

pedestal arquitetônico encrustado de ouro banco em relevos.

- Sei que você gostou da última vez que viu – ele entrega para seu irmão, que lhe dá um abraço apertado.

- Irmão, você é o melhor.

- Trouxe outras coisas para vocês – se refere aos seus pais – aqui pai, esse relógio comprei da última vez que fui para Dubai, ouro puro.

- Obrigado filho, mas não precisava gastar tanto.

- Mãe, esse conjunto de joias foram feitos sob encomenda, a mãe de

uma amiga é dona de uma joalheria em Paris, pedi para que fizesse algo

inédito.

- Meu deus meu amor, que coisa mais linda. Muito obrigado.

- Sorte sua que papai é multimilionário e não tem vícios.

- sorte sua que a mamãe está me abraçando agora.

O sorriso sarcástico de Leonardo diverte seu irmão.

- Vá tomar seu banho, se quiser comer vá até a cozinha, se preferir

descanse. Vou deixar seu lanche preparado. Chegando no seu quarto, se deu conta de que tudo ali era estranho para

si.

Muitos anos havia passado fora. Em sua adolescência vinha poucas

vezes. Mas, ainda assim é bonito e agradável. Tons claros e muito

iluminado, seus pais realmente sabem do que gosta. Embora , já tenha

comprado um apartamento mais próximo do trabalho, não pretende morar definitivamente tão cedo por lá. Quer dar um tempo mais

próximo com sua família. Irá nos fins de semana.

Na manhã seguinte, Lucas e sua família foram visitar seus avós. Não

mudou quase nada, apenas alguns adereços que vislumbravam ainda

mais aquela casa, sua arquitetura alemã dá um charme sem igual. Não

é muito grande mas é aconchegante, ele gosta de ir à fazenda, é

tranquilo e tem o piano de seu avô que ambos gostavam muito de

tocar após o jantar, sempre havia uma música, era praticamente uma

tradição.

- Meu menino, você cresceu muito. Você está bem?

- Estou vó, e você como está? E o vovô?

- Ele foi buscar morangos silvestres, sabe que vocês gostam. Leonardo

você está mais magro, o que aconteceu?

- Nada demais vó, apenas trabalho demais. - venha passar as férias aqui da próxima vez, sairá daqui 4kg mais cheio.

- Vó, preciso manter a forma, caso contrário, as garotas não vão me

querer.

- Deixe de bobagem. Venham, entrem. Arnaldo olha para sua cansada, mas ativa mãe e diz:

- Mamãe, o papai está naquele cercado não é? Vou até ele.

- Tome cuidado, você já não é um garoto.

Nesse momento, Arnaldo olha para sua esposa e vê o sorriso disfarçado.

“velhota” – pensou antes de dar as costas e sair.

- Minha sogra, tem aqueles biscoitos de leite? Adoro quando a senhora

os faz.

- Sim, sim. Pegue, está atrás das tigelas no armário.

- Vovó, quais são as novidades por aqui? – pergunta Leonardo.

- Bem, o prefeito faleceu há um mês e meio e as duas filhas dele

casaram-se com uns rapazes suíços, famosos no País deles. Uma após

a outra.

- Oh, aquela que você gostava? – Leonardo pergunta ao seu irmão. Mas, ele não responde.

- Aqui está você – diz seu avô o abraçando, assim que entra na sala.

- Vovô, quanta saudade, como você está?

- Estou bem, veja, seus morangos preferidos.

O senhor de idade avançada põe muitos morangos em cima da mesa de

marfim. Seu pai vem logo atrás, passando mal.

- Como... como aguenta subir aquilo?

- Oras, achei que eu fosse o idoso aqui.

Foi impossível segurar a risada, principalmente sua esposa. Essa

briga por jovialidade entre os dois chega a ser cômico.

já chega, vamos comer, fiz muita comida, minha ajudante me auxiliou hoje a

preparar tudo. Que mesa farta, é de encher os olhos. Há queijos, pães variados, café, leite

quentinho tirado há pouco tempo, frutas, doces, torradas, geleias e iogurte.

- Estou seriamente pensando em passar as próximas férias aqui – diz

Leonardo enchendo um prato com tudo que tem direito.

- Você é um saco sem fundo – diz Lucas.

No almoço, mais comida e um passeio a cavalo. Que sensação maravilhosa. Quanta falta sentiu disso. O verde, o cheiro de plantas e flores, o vento

fresco, a belíssima paisagem e a sensação de liberdade. Tudo o que

sempre precisou.

- É bom estar de volta, não é? – pergunta Leonardo.

- Sim, muito. Não quero mais ir embora.

- Mas, se futuramente pedirem a transferência novamente?

- Peço demissão. Eu já estava pensando nisso há algum tempo. Pretendo

ter minha empresa de TI. Com algumas parcerias aqui e no exterior.

- Muito bom. Se é o que você quer, siga em frente.

- E você? Está bem na empresa?

- Sim, tudo certo. Aqueles velhos ranzinzas sempre acham que não

tenho estrutura para lidar com as coisas. Mas, sempre os coloco no chão.

Lucas entendeu, os conflitos internos entre alguns acionistas hora ou

outra, tornavam aquele ambiente um caos. Seria impossível para

Lucas viver naquele lugar, pois o que mais ele queria era paz em sua

mente. Seu irmão pelo contrário gosta do caos e sabe colocar aqueles

ranzinzas em seu devido lugar, com muita elegância. Apesar de novo, sua habilidade para lidar com os mais velhos e suas decisões assertivas

para a melhoria da empresa, é invejável.

O dia passou entre beijos afetuosos de sua avó e abraços calorosos de

seu avô. O que mais ele poderia desejar? Aquele era seu lugar

preferido. No fim da tarde despediram-se, voltando para casa a fim de aproveitar

o restante do fim de semana. Em dois dias começaria mais um dia de trabalho. Decidiu

assistir alguns capítulos de uma série qualquer, tomando um chocolate

quente com alguns biscoitos.

“é hoje o grande dia” – pensa Lucas assim que acorda, exatamente

05:00 da manhã. Após todos os preparativos, segue para o seu café e encontra seu pai e

seu irmão.

- Bom dia flor do dia. Bonitão assim, vai fazer alguém se apaixonar.

- Já começa o dia assim? Quanta energia.

- Hoje terá reunião, estou trabalhando desde agora meu sarcasmo.

- Pare com isso, você precisa ser mais complacente – diz seu pai.

- Olhando aquelas caras despencadas, é impossível sentir alguma

misericórdia. Lucas sorriu.

- Viu só, até ele me entende e o senhor não.

- Desisto, estou lhe esperando no carro. Bom trabalho filho – o senhor de idade

sai da cozinha dando um tapinha no ombro de Lucas.

- Eu tenho cara de ser complacente?

- Definitivamente não.

Os dois terminam o café da manhã e se preparam para sair. Ao olhar a garagem, ele se surpreende por ver seu carro. Ele pode

apostar que quem escolheu esse carro foi seu irmão. Mercedes AMG GT63.

Os primeiros dias foram cansativos, principalmente por causa do

gerente extremamente exigente, mas o trabalho em si é tranquilo. Sempre quando chega à cafeteria, as moças arregalam os olhos para si. Alguma puxa conversa, mas nada que prenda sua atenção. É notável

o quanto se jogam para si e isso o desgasta. Se ao menos tivessem um assunto

interessante sem nenhum apetite sexual envolvido. Mas, isso seria pedir

demais, ele acredita. Na manhã seguinte na hora do almoço, aproveitou para ir comprar um

refrigerante em um mercado próximo.

Enquanto escolhe qual

refrigerante levar, Ana para bem atrás de si com algumas coisas nas

mãos. Ela arregala os olhos e olha fixamente na dúvida se é o mesmo

rapaz que havia visto na empresa, afirmando que realmente, ele é tudo

aquilo que falam. Alto, encorpado e muito bem vestido. E esse

perfume? Só pode ser importado, um verdadeiro galã. De repente ele olha para ela e paralisa por um tempo, desconcertada, a jovem

lhe dá um meio sorriso.

- De qual setor você é?

- Como?

- Vejo que trabalhamos na mesma empresa – ele aponta para o crachá

em seu pescoço.

- Ah, sim... eu sou da administração. E você?

- Comunicação.

- Entendo.

“Na verdade não estou entendendo nada, sei apenas que ele é o cara mais lindo que já vi em toda minha vida. Essa pessoa existe?”

Seus pensamentos foram interrompidos, quando Lucas se despediu.

- Moça? – a atendente a chama.

- Oh, desculpe, aqui está o cartão. - bonito não é?

- ...

- O rapaz, ele é um gato, parece ser ator ou modelo. Todas que vem da

sua empresa sempre falam dele.

- Mesmo? Imagino.

Voltando para a empresa, entrou em sua sala e começou a beber seu

suco.

- Você viu ele?

- Vi, ele é realmente tudo isso.

- Todo mundo quer um pedaço. Aquele ali converte até

hétero – Marcelo olha sorrateiramente para o colega.

- Tô fora, meu negócio é outro.

- No dia que mudar de ideia pode vir conversar comigo.

- Me deixe almoçar.

- Claro, claro.

Ana se diverte com esses dois. As horas passam e na hora de ir

embora, vê rapidamente quando um carro que parece ser caro demais, passa por si. Ela pensa que só pode ser o novato com aquele tipo de carro. Só de

olhar seu rosto, percebe-se que pobre, ele não é. Sendo uma das mais pobres dessa empresa, a única coisa que deseja agora é

chegar o quanto antes em casa, para

finalmente descansar.

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Comments

Kaylin

Kaylin

Fiquei arrepiada com as cenas de suspense, que escrita magnífica!

2024-10-22

1

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