A semana passou lenta, marcada pela expectativa da viagem ao sexto distrito com Liam. Durante esses dias, aproveitei para refletir, tentando lidar com o misto de curiosidade e receio que a ideia da viagem despertava em mim. A cada dia, a urgência em desvendar o passado parecia crescer, e isso se tornava um dos principais assuntos que eu levava para minhas sessões de terapia.
Quando entrei na sala da doutora Elisa naquela manhã, já sabia que o assunto central seria a viagem. Enquanto eu me sentava, ela me recebeu com seu olhar gentil, um incentivo silencioso para que eu compartilhasse meus pensamentos.
- Então, como tem se sentido em relação à viagem? • ela começou, cruzando as mãos sobre o colo.
Respirei fundo, tentando colocar em palavras o turbilhão que se passava em minha mente.
- A ideia de ir até lá me deixa ansiosa, para ser honesta. Ao mesmo tempo, sinto que preciso fazer isso. Cada informação que encontro sobre os distritos e as cidades me aproxima de algo que, de alguma forma, parece essencial para entender quem eu sou.
A doutora Elisa assentiu, ouvindo-me atentamente.
- Entendo. E como Liam tem se encaixado nessa jornada? Parece que ele está se tornando uma pessoa importante para você.
Um sorriso involuntário surgiu em meu rosto.
- Ele é... diferente. Conhecer alguém que compartilha desse interesse é algo novo para mim. Ele tem sido um grande apoio, tanto no sentido prático quanto emocional. Mas às vezes me pergunto se estou me apegando demais a ele. Não quero depender de ninguém para essa busca.
Ela sorriu, como se antecipasse essa preocupação.
- É natural ter dúvidas sobre os vínculos que formamos, especialmente em uma situação tão única como a sua. O que vejo aqui é que Liam pode ser um companheiro de jornada, alguém que está compartilhando desse processo de descoberta com você. Isso não significa dependência, mas sim um apoio saudável. Aliás, acredito que ele também se beneficia ao seu lado, explorando esses mistérios.
Essas palavras me fizeram sentir um pouco mais tranquila. Liam não era apenas uma ajuda para mim; ele parecia tão envolvido quanto eu na busca por respostas.
- Tem razão • concordei, com um sorriso • - Ele compartilhou tantas coisas comigo sobre os distritos, e acho que estar ao lado dele tornou isso mais leve, até divertido.
Ela assentiu, parecendo satisfeita com minha resposta.
- Fico feliz em ver que você está criando uma rede de apoio, mesmo em meio a tantas incertezas. Acredito que essa viagem será um bom passo para entender melhor o que houve com você, e me parece que Liam será uma ótima companhia. Vá com o coração aberto, mas sempre atenta aos seus próprios sentimentos.
A confiança que ela me transmitia era reconfortante. Depois de alguns minutos em silêncio, sentindo a paz que vinha das palavras dela, a doutora Elisa pareceu se lembrar de algo importante.
- Ah, e antes que eu me esqueça • disse ela • – é necessário que escolha um nome provisório. Será um passo importante para que possamos fabricar os documentos temporários e, assim, garantir sua segurança e acesso à viagem sem preocupações.
O peso das palavras dela me atingiu com força. Escolher um nome parecia tão simples, mas, ao mesmo tempo, era o primeiro passo para construir uma identidade, mesmo que temporária. Minha mente ficou em silêncio por alguns segundos, e então, um nome surgiu, quase que naturalmente.
- Acho que já tenho um nome... • murmurei, quase sem perceber.
A doutora Elisa me incentivou a continuar com um sorriso.
- Qual seria?
Pensei nos dias que havia passado na biblioteca, nos livros antigos sobre a história dos distritos que haviam me ajudado a compreender o contexto ao meu redor. Entre as páginas desbotadas e encardidas de tantos volumes, alguns dos meus favoritos tinham sido escritos por uma autora chamada Ashley Davenport. Era como se, de alguma forma, ela tivesse me guiado até aqui.
- Ashley • respondi, finalmente • – Acho que quero ser chamada de Ashley. É o nome da autora dos arquivos sobre os distritos que eu mais gostei de ler. Sinto como se devesse algo a ela, como se ela tivesse me ajudado a entender partes do que estou vivendo.
A doutora Elisa sorriu, um brilho de aprovação em seus olhos.
- Ashley é um nome forte. Parece uma boa escolha. E me parece apropriado, considerando que ela já lhe ajudou em sua busca.
Senti uma onda de paz ao ouvir isso. Ter um nome, mesmo que provisório, me trazia uma sensação de pertencimento que eu nem sabia que desejava. “Ashley” parecia certo, como se fosse uma nova página, algo que poderia preencher de acordo com minhas escolhas.
- Então, Ashley será • disse, com uma firmeza que me surpreendeu.
A doutora Elisa assentiu, satisfeita.
- Fico feliz em saber que tomou essa decisão. Agora, com seus documentos provisórios, poderá realizar essa viagem com mais segurança. E, quem sabe, talvez esse seja um grande passo para que encontre as respostas que está procurando.
Assenti, sentindo uma mistura de ansiedade e determinação. Estava preparada para o que viesse, sabendo que agora tinha uma identidade para me apoiar, mesmo que temporária.
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Atualizado até capítulo 21
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