Capítulo 17: A Profecia Antiga

Estela caminhava pelo grande salão do castelo, sentindo a tensão no ar. O banquete estava próximo, e cada momento parecia carregado de incertezas. Seraphina, Alastair, e até mesmo alguns nobres antes considerados aliados, todos pareciam ter suas próprias agendas. Mas o que mais a preocupava não eram os jogos políticos — era a sensação de que algo muito maior estava para acontecer.

Uma batida suave na porta de seu gabinete a fez voltar à realidade. Ao abrir, foi surpreendida por uma criada, que fazia uma reverência profunda.

— Majestade, há alguém no castelo que deseja vê-la — disse a criada, com um olhar cauteloso. — Ela se diz uma oráculo e trouxe notícias urgentes.

Estela franziu o cenho. Não esperava visitas naquele momento, ainda mais de uma oráculo. No entanto, algo dentro dela — uma sensação incômoda e familiar — disse que ela deveria aceitar o encontro.

— Onde ela está? — Estela perguntou.

— Na sala do conselho, Majestade. Esperando por você.

Estela fez sinal para que a criada se retirasse e rapidamente seguiu pelos corredores do castelo, seu coração batendo mais rápido. Ao entrar na sala do conselho, encontrou uma mulher de aparência envelhecida, com cabelos brancos desgrenhados e uma capa escura que mal escondia sua presença misteriosa. Ela estava sentada em uma cadeira, seus olhos fechados, como se estivesse em transe.

Assim que Estela entrou, a mulher abriu os olhos lentamente, seus lábios formando um leve sorriso.

— Estela, filha das rosas e do sangue — a voz da oráculo era rouca e profunda, como se tivesse sido desgastada por incontáveis segredos. — Sabia que você viria.

— Quem é você? — perguntou Estela, sem rodeios, sua desconfiança evidente.

— Eu sou apenas uma mensageira do destino, uma voz que fala sobre o futuro — respondeu a oráculo, erguendo as mãos cobertas de anéis de prata. — Vim porque as Sombras estão se movendo, e seu futuro está intrinsecamente ligado a elas.

Estela se aproximou, seu olhar atento sobre a oráculo. — O que você sabe sobre as Sombras?

A oráculo sorriu enigmática. — As Sombras são mais do que simples escuridão. Elas são antigas, como o tempo. Ligadas a linhagens, a pactos que foram feitos muito antes de você nascer. E você, Estela, está no centro dessa teia.

Estela sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Havia muito que ela não sabia sobre sua própria história, sobre o que sua mãe escondia. Desde que começara a ouvir os sussurros nas sombras, seu coração se enchia de dúvidas. E agora, diante dessa mulher, parecia que as respostas estavam mais perto do que nunca.

— O que você quer dizer com "pactos"? — Estela perguntou, mantendo sua voz firme.

A oráculo se levantou lentamente, seus olhos se fixando nos de Estela. — Muitos anos atrás, sua mãe, Anaïs, foi avisada de que uma profecia envolveria sua família. Ela tentou fugir do destino, esconder seus filhos da verdade, mas o destino não pode ser evitado, minha querida. O tempo está se esgotando, e a profecia está se desenrolando, quer você queira ou não.

Estela cruzou os braços, tentando manter a calma. — E o que essa profecia diz? Fale claramente.

A oráculo se aproximou, suas mãos trêmulas alcançando as de Estela. Quando seus dedos tocaram a pele de Estela, uma visão súbita tomou conta de sua mente. Ela viu imagens nebulosas de um futuro incerto — o reino em chamas, as sombras consumindo a terra, e ela, de pé em meio ao caos, segurando uma coroa de rosas negras.

— "A rainha das rosas enfrentará o dilema do sangue", — a oráculo recitou em um sussurro, os olhos ainda fixos nos de Estela. — "Ela escolherá entre a escuridão ou a luz, entre a vida e a morte, e seu destino será selado pelo sacrifício de um coração."

Estela puxou as mãos de volta, o coração disparado. — O que isso significa?

A oráculo deu um passo para trás, sua expressão grave. — Significa que em breve você terá que tomar uma decisão, Estela. Uma escolha que determinará o destino de todos ao seu redor. As Sombras estão ligadas a você, como estiveram ligadas à sua mãe, e elas exigirão um preço. O sacrifício será inevitável.

— Sacrifício? — A palavra soou como um eco amargo nos lábios de Estela. — De quem?

A oráculo balançou a cabeça levemente. — Isso, minha querida, depende de você. Pode ser o seu coração, ou o coração de alguém que você ama. A escolha será sua.

Por um momento, a sala ficou em silêncio, as palavras da oráculo pairando como uma ameaça. Estela sentia o peso de cada uma delas, como se estivesse diante de um abismo que ela não sabia como evitar. Ela sempre soubera que havia algo especial, talvez até amaldiçoado, em sua linhagem, mas jamais imaginara que teria de encarar um destino tão sombrio.

— E se eu não fizer essa escolha? — Estela perguntou, quase com esperança de que houvesse outra saída.

A oráculo a encarou com uma tristeza profunda em seus olhos. — O destino sempre encontra um caminho. Se você se recusar, as Sombras tomarão o que desejam, e o reino será consumido por elas. Não há como fugir, Estela.

Antes que Estela pudesse formular outra pergunta, a porta se abriu, e Carlos entrou apressado, seu rosto carregado de preocupação.

— Estela, o que está acontecendo? — Ele parou ao ver a oráculo, franzindo o cenho. — Quem é esta mulher?

Estela trocou um olhar rápido com a oráculo antes de se virar para Carlos. — Ela é uma oráculo. Veio trazer uma mensagem... uma profecia.

Carlos a encarou com desconfiança, se aproximando da irmã. — Não podemos confiar em qualquer um que apareça com histórias de profecias, Estela. Sabemos que Seraphina e outros estão tentando nos manipular.

A oráculo manteve-se inabalável, olhando para Carlos com a mesma intensidade que tinha mostrado a Estela. — Majestade, a verdade não pode ser manipulada. Sua irmã está destinada a um grande sacrifício, e o futuro do reino depende de suas escolhas. Não sou eu quem faz a profecia, sou apenas a mensageira.

Carlos estreitou os olhos, mas antes que pudesse responder, Estela levantou a mão, interrompendo-o.

— Carlos, eu acredito nela. Há algo acontecendo que vai além dos jogos políticos. As Sombras... as visões... nossa mãe sabia disso, e agora está tudo se desenrolando. Não podemos ignorar.

Carlos olhou para a irmã, claramente dividido entre a racionalidade e a fé no que ela estava dizendo. Finalmente, ele assentiu, embora com relutância.

— Se é verdade, então precisaremos estar preparados. Mas não vamos deixar que o medo controle nossas ações. Estaremos prontos para qualquer desafio, seja ele político ou sobrenatural.

A oráculo sorriu levemente, como se já soubesse que eles aceitariam o desafio. Ela se virou para Estela uma última vez.

— Lembre-se, Estela, o tempo está se esgotando. As Sombras estão mais próximas do que você imagina. E quando o momento chegar, o sacrifício que fizer determinará o destino de todos nós.

E com essas palavras, a oráculo se retirou silenciosamente da sala, deixando Estela e Carlos sozinhos com o peso da profecia pairando sobre eles.

Estela sentia o coração pesado, sabendo que sua vida e a de todos no reino estavam à beira de uma mudança irrevogável. A escolha que ela teria de fazer ainda estava longe de ser clara, mas o pressentimento de que algo sombrio se aproximava era inegável.

Carlos colocou uma mão no ombro de Estela, tentando oferecer algum conforto.

— Juntos, Estela. Vamos enfrentar isso juntos.

Ela assentiu, grata pelo apoio do irmão, mas no fundo de sua alma sabia que, no final, essa batalha seria pessoal.

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