Ainda Amo Meu Ex
Isabel Cardoso encarava seu reflexo no espelho, os olhos marejados pelas lágrimas que ameaçavam transbordar a qualquer segundo. As mãos tremiam enquanto segurava o teste de gravidez. Era pequeno, mas pesava como se carregasse nele um futuro inteiro, incerto e assustador. A respiração dela era irregular, o peito subindo e descendo em ritmo acelerado, como se o ar ao redor não fosse suficiente para acalmar a tempestade que se formava dentro de seu coração.
"Estou grávida..." O sussurro saiu frágil, quase inaudível, perdido na imensidão do quarto. Sua voz estava carregada de uma mistura de sentimentos que ela mal conseguia processar: medo, esperança, surpresa, incerteza. As duas linhas vermelhas no teste eram uma confirmação do que ela sempre quisera, mas também traziam uma enxurrada de dúvidas. Isabel sentiu as primeiras lágrimas caírem lentamente pelo rosto, enquanto absorvia a magnitude daquela revelação. Uma nova vida. Uma responsabilidade que agora pesava sobre ela.
Ela se apoiou na pia, as pernas de repente fracas. O pensamento de Hygor preencheu sua mente como um raio. "Será que ele vai ficar feliz? Será que esse bebê nos unirá novamente?" A fagulha de esperança em seu peito era pequena, mas presente. Talvez essa fosse a chance deles reconstruírem o que haviam perdido. Talvez esse bebê fosse o laço que os manteria juntos.
Hygor Ferreira... um nome que sempre fazia seu coração acelerar, mas agora trazia uma inquietação. Ele tinha deixado tudo para trás – sua carreira no futebol, seus sonhos – para estar com ela em Londres. Mas ultimamente, ele parecia distante, frustrado com a vida que levavam. Isabel podia ver em seus olhos o arrependimento silencioso, o peso das escolhas que fizeram. E agora? Será que a notícia de uma criança traria alegria ou aumentaria sua angústia?
Decidida, Isabel começou a preparar um jantar especial naquela noite. Velas iluminavam suavemente a mesa, o cheiro da comida preenchia o ambiente, mas o nervosismo tomava conta dela. A cada minuto que passava, a ansiedade se intensificava. Isabel olhou para o pequeno presente que havia preparado – um par de sapatinhos de bebê embrulhados em papel azul. Era uma forma doce e delicada de dar a notícia, mas Hygor ainda não havia chegado. Onde ele estava?
O relógio avançava, e com ele, o coração de Isabel batia mais rápido. Já era tarde quando finalmente ouviu o som de passos do lado de fora. Isabel correu até a janela, o coração acelerado, e o que viu fez seu estômago revirar. Hygor estava sentado na escada da casa, a garrafa de vinho quase vazia em suas mãos, a gravata frouxa, e os olhos perdidos, sem brilho. A imagem dele assim, tão desolado, partiu o coração dela.
Ela se aproximou devagar, ajoelhando-se ao lado dele. "O presidente fez você beber de novo?" perguntou, a voz suave, mas carregada de tristeza. A bebida, sempre ela, sempre um refúgio para os problemas que ele não conseguia enfrentar.
Hygor levantou os olhos turvos e sorriu fracamente, o sorriso vazio de quem já não sabia mais sorrir de verdade. Ele passou a mão pelos cabelos dela, num gesto lento, como se quisesse afastar as preocupações. "Logo, não serei mais apenas um estagiário... Vamos poder ficar juntos... casar, sabe?" Ele murmurou, as palavras saindo desconexas, misturadas ao álcool que o consumia. Isabel sabia que não podia confiar naquele estado, mas o que mais a machucava era o distanciamento emocional. Ele estava ali, mas não realmente.
Isabel tentou sorrir, mas o nó em sua garganta era forte demais. Ela ajudou Hygor a se levantar, o corpo dele pesado contra o dela. Levaram-se para dentro, em silêncio. Enquanto ele murmurava coisas sem sentido, ela o acomodou na cama, cobrindo-o cuidadosamente. Seu olhar fixo nele, agora adormecido, mas tão distante, a deixava sufocada. O que havia acontecido com eles? Quando tudo se tornara tão complicado?
Depois de algum tempo, Isabel se afastou e caminhou até a estante. Seus pés descalços deslizavam pelo chão de madeira. Com as mãos trêmulas, puxou uma caixa marrom escondida entre os livros. Dentro dela estavam fragmentos de um passado que ela lutava para esquecer. Um ursinho de pelúcia velho, cartas, documentos amarelados e fotos. Cada objeto trazia lembranças dolorosas que ela preferia deixar enterradas.
Ela pegou uma das cartas e a desdobrou, os olhos pousando sobre a caligrafia familiar. "Como alguém que escreveu coisas tão doces pode ser o homem que mais temo agora?" murmurou, a voz embargada. As palavras da carta eram de seu pai, o homem que agora controlava o Grup’Art, o mesmo homem que quase destruiu sua vida. Isabel deixou uma lágrima cair sobre o papel, sentindo o peso da verdade que ainda não tinha coragem de encarar totalmente.
Os seus olhos caíram sobre uma fotografia antiga. Nela, Isabel ainda era uma criança, sorrindo entre os seus pais. "Eu preciso contar a Hygor... sobre meu pai, sobre o Grup’Art. Ele tem o direito de saber. Mas e se ele me deixar? E se ele não entender o porquê de eu ter guardado isso por tanto tempo?" Acariciou a barriga instintivamente, como se já estivesse protegendo a vida que crescia dentro de si. Agora, não era mais apenas sobre ela. Havia uma nova vida, uma nova responsabilidade, e o medo de perder tudo a consumia lentamente.
Na manhã seguinte, Isabel foi despertada por um som ensurdecedor de tiros e explosões vindos da sala. Seu coração acelerou. "Hygor, abaixe o volume!" gritou, a voz áspera com a irritação crescente enquanto massageava as têmporas. A dor de cabeça que começava a pulsar em sua mente parecia se intensificar com o barulho.
Sem resposta, Isabel se levantou com raiva. O desconforto e o cansaço pesavam sobre ela enquanto marchava até a sala. Sem pensar duas vezes, desligou a televisão com um único toque brusco no controle remoto. Hygor a encarou, surpreso e frustrado, os olhos ligeiramente desfocados.
"Eu estava quase passando de fase, Isa!" ele resmungou, o tom de voz desanimado. Ele parecia abatido, como se aquele jogo fosse a única coisa que o distraía do caos em sua mente.
"Estou com dor de cabeça, Hygor," ela respondeu com um suspiro, tentando manter a voz sob controle. Mas havia algo de duro em seu tom, uma irritação que ela não conseguia mais conter. Caminhou até a cozinha e encheu um copo de água, tentando acalmar os nervos.
Imediatamente, Hygor se levantou, sua expressão suavizando com preocupação. "Não temos remédio, vou buscar na farmácia." Ele se aproximou, os olhos refletindo o cuidado que ainda tinha por ela.
"NÃO!" A palavra saiu muito mais alta do que ela queria, como um grito sufocado de pânico. Seus olhos foram atraídos para o carro preto que estava estacionado do lado de fora da casa, algo sinistro pairando sobre a cena. Ela sabia de quem era aquele carro, e o medo começou a tomar conta dela.
Hygor parou, surpreso pela reação inesperada de Isabel. "Isa, o que está acontecendo? Por que você está tão nervosa?" Ele franziu o cenho, o tom de voz carregado de uma mistura de preocupação e confusão.
Ela evitou o olhar dele, o medo crescendo em seu peito. "Eu só... eu só prefiro que você fique aqui," murmurou, tentando manter a calma, mas sua mente estava em um turbilhão. O perigo parecia próximo, e cada célula do seu corpo gritava por alerta.
Hygor, sempre atento aos sinais de Isabel, tentou abraçá-la, oferecer conforto, mas ela se afastou rapidamente, o estômago embrulhando com a onda de ansiedade. Sem conseguir controlar, ela correu para o banheiro, vomitando violentamente.
"Hygor veio atrás dela, ajoelhando-se ao seu lado, segurando-lhe o cabelo com cuidado. O rosto dele estava carregado de preocupação. "Você está bem, Isa? Precisa descansar, vou à farmácia de qualquer jeito," disse, determinado. Pegou seu casaco e sua carteira do sofá, e antes que ela pudesse protestar, saiu pela porta.
Isabel ficou ali, ajoelhada no chão frio do banheiro, tentando recuperar o fôlego. O som do motor do carro de Hygor desapareceu ao longe, e a quietude da casa parecia uma sentença de perigo iminente. Ela mal teve tempo de processar o que estava acontecendo quando o telefone tocou, interrompendo seus pensamentos. Ao olhar o visor, um arrepio gelado percorreu sua espinha.
"Richard..." murmurou, as palavras mal saindo de seus lábios. Seu coração disparou, e com dedos trêmulos, atendeu.
"O que você quer?" ela disparou, tentando manter a voz firme, mas a tensão em seu corpo era incontrolável.
A voz fria e controlada de Richard veio do outro lado da linha, cada palavra carregada de uma crueldade calculada. "Isabel Duarte, você já se esqueceu de quem é?"
"Eu não uso esse sobrenome há muito tempo," Isabel retrucou, tentando soar confiante, mas a angústia em seu peito só aumentava. "E a única coisa que me faz infeliz é ser sua filha."
"Isso não muda quem você é, Isabel. E como filha mais velha dos Duarte, você sabe o que precisa fazer. Um casamento foi arranjado para você, e esse acordo será cumprido, custe o que custar."
A ligação foi cortada abruptamente, deixando um silêncio ensurdecedor no ar. Isabel mal conseguia respirar. O pânico tomou conta dela, e suas mãos tremiam incontrolavelmente. Ela sabia que Richard não fazia ameaças vazias. Ele era implacável, e isso a aterrorizava.
Desesperada, ela pegou o telefone novamente e discou o número de Hygor com dedos trêmulos. Cada toque parecia uma eternidade. "Por favor, atende, atende..." sussurrou, a voz sufocada pelo medo.
Finalmente, Hygor atendeu. "Isa? Tá tudo bem? Estou quase chegando em casa. Aconteceu alguma coisa?" A voz dele era serena, mas a preocupação era palpável.
As palavras pareciam presas na garganta de Isabel. "Hygor, eu... eu preciso te contar algo. Algo que eu escondi por muito tempo..." Ela hesitou, mas sabia que não podia mais adiar. "Eu nunca te contei quem é meu pai biológico. Minha mãe achou melhor manter segredo, mas..."
"Isa, calma. Fala devagar. Vou estar aí em poucos minutos, podemos conversar em casa, tá bem?" ele disse, tentando acalmá-la. Isabel ouviu o som do trânsito ao fundo, e sabia que ele estava perto.
Mas ela não podia esperar. "O Grup'Art... Hygor, eu sou..."
De repente, um som estrondoso interrompeu a ligação, fazendo Isabel congelar. O barulho era tão alto que seu coração pareceu parar por um segundo. "Hygor? Hygor, você está aí?" A voz dela aumentou, cheia de desespero. "Hygor, responde!"
A linha ficou muda. O telefone escorregou de suas mãos, caindo no chão com um som seco. Isabel ficou ali, atônita, o medo tomando conta de cada parte de seu ser. Algo terrível havia acontecido. Ela sentiu isso em sua alma.
Sem pensar duas vezes, ela correu para a porta. O impulso de encontrar Hygor a empurrava para a rua, mas antes que pudesse sair, o telefone tocou novamente. O nome que apareceu no visor fez seu coração parar: Richard.
"Agora está mais calma?" A voz dele era gélida, quase cruel. Ele parecia saborear a dor que estava causando.
"Eu já disse para ficar longe de mim e de quem eu amo!" Isabel gritou, a raiva misturada com desespero dominando sua voz.
"Você sabe que só há uma maneira de acabar com isso, Isabel. Aceite seu destino, se case com Willians, e eu deixarei você em paz."
Isabel estava prestes a responder quando sons de gritos vindos da rua a interromperam. Ela correu para a janela, e seu coração afundou ao ver uma multidão se formando na esquina. Algo terrível havia acontecido.
Ela saiu correndo, empurrando as pessoas ao redor até que, finalmente, avistou Hygor. Ele estava caído no chão, ensanguentado, imóvel. "Hygor!" gritou, sua voz cheia de desespero.
Ajoelhando-se ao lado dele, Isabel o pegou nos braços, as lágrimas já escorrendo por seu rosto. "Não... por favor, não me deixe..." ela soluçava, o mundo ao redor desmoronando enquanto o amor de sua vida se esvaía. O silêncio ao redor só aumentava o eco da dor insuportável que rasgava sua alma.
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Atualizado até capítulo 53
Comments
Adoro Ler
começando hoje dia 05.10..pois parece interessante. como leio apenas concluído.. favoritei pra deixar em off
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2024-10-06
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