Na manhã seguinte, Isabel se preparava para um dos dias mais cruciais de sua vida. Cada movimento era meticuloso, cada detalhe em sua aparência cuidadosamente calculado. Ela vestiu um tailleur preto impecável, de corte elegante, que moldava sua silhueta com precisão. Os sapatos de salto ecoavam pelo chão de mármore frio, um som ritmado que parecia marcar o compasso de seu coração acelerado. Por fora, Isabel era a imagem da perfeição, uma mulher imponente e inabalável. Mas, por dentro, um turbilhão de emoções a ameaçava a cada segundo, como uma tempestade prestes a romper suas defesas.
Enquanto ajeitava os papéis sobre a mesa, seus dedos tremiam levemente. Tentava revisar pela última vez os detalhes da reunião, mas sua mente a traía. Ela se via constantemente voltando ao passado, aos traumas, aos momentos que moldaram sua vida e a transformaram na pessoa que era hoje. Tudo o que fizera até aquele ponto havia sido para culminar naquele dia. Era o início de sua vingança, o primeiro passo para destruir aqueles que a haviam traído. No entanto, a magnitude de suas decisões começava a pesar em seus ombros. O futuro parecia incerto e perigoso, mas não havia mais volta.
De repente, o silêncio tenso foi interrompido por uma voz suave e alegre que flutuava pelo corredor da cozinha, iluminando o ambiente como a luz do sol depois de uma longa noite. "Mamãe, você está tão linda hoje!" Era Diana, sua filha, com os olhos brilhantes de entusiasmo e o sorriso inocente que sempre conseguia aquecer o coração de Isabel, por mais gélido que ele estivesse naquele momento.
Isabel virou-se devagar, o peso de seus pensamentos momentaneamente suavizado pelo brilho infantil da filha. Seus lábios se curvaram em um sorriso carinhoso, embora seus olhos ainda refletissem a profundidade de tudo que estava tentando esconder. “Meus pequenos são os que estão lindos,” disse ela, sua voz carregando uma ternura quase ausente nos últimos dias. Ajoelhou-se para ficar à altura dos filhos, puxando-os para um abraço apertado. Ao sentir o calor dos corpos frágeis e delicados de Diana e Dylan, algo dentro dela pareceu se acalmar, como se aquele simples contato pudesse afastar o caos que se agitava em sua mente.
Diana, sempre tagarela, não conseguia conter a animação. Ela começou a falar rapidamente sobre seus planos para a escola, sobre os amigos que iria ver, as brincadeiras que pretendia fazer. Seu entusiasmo era contagiante, e por um breve momento, Isabel se permitiu mergulhar naquela leveza, tentando se esquecer, ainda que por segundos, do peso sombrio que pairava sobre sua cabeça.
Enquanto isso, Dylan, mais quieto e introspectivo, observava a mãe com seus grandes olhos curiosos. Ele não disse uma palavra, mas Isabel sentiu a intensidade de seu olhar. Ele sempre fora mais sensível às mudanças de humor dela, como se pudesse perceber o que se passava por trás da fachada que ela tanto se esforçava para manter. Isabel passou a mão pelos cabelos de Dylan, um gesto reconfortante tanto para ele quanto para ela.
"Vai ficar tudo bem, mamãe?" ele perguntou, em um tom baixo, mas cheio de significado. A pergunta pegou Isabel de surpresa, e ela teve que respirar fundo antes de responder. Havia algo quase intuitivo na maneira como Dylan captava a tensão no ar.
Ela acariciou o rosto do filho, forçando-se a sorrir. "Vai ficar tudo bem, querido. Mamãe tem só um dia muito importante hoje, mas eu volto logo, está bem?"
Dylan assentiu, embora seu semblante sério mostrasse que ele não estava completamente convencido. Isabel sentiu um aperto no peito. Queria poder dizer mais, queria prometer que tudo ficaria bem de verdade, mas sabia que não podia dar garantias naquele momento.
Cristian entrou na sala com passos firmes e decididos, ajustando a gravata com um toque rápido e ajeitando o terno. Seus movimentos eram precisos, refletindo a confiança que ele sempre carregava, aquela postura de quem estava preparado para enfrentar qualquer adversidade. O olhar intenso, porém caloroso, pousou sobre Isabel, como se ele pudesse sentir o que ela estava prestes a enfrentar. “Pronta para ir à empresa?” perguntou ele, a voz carregada de firmeza, mas com uma suavidade encorajadora. Aquele tom era uma âncora para Isabel, que ao longo dos anos havia aprendido a se apoiar na força silenciosa de Cristian. Ele sempre estava lá, um pilar inabalável em sua vida. "Ainda precisamos levar os gêmeos à escola."
Isabel suspirou profundamente, sentindo o peso daquele dia repousar sobre seus ombros como uma montanha. Pegou a xícara de café, levando-a aos lábios com lentidão, saboreando o calor que a bebida proporcionava, na esperança de que pudesse aquecer suas emoções geladas pela ansiedade. Sabia que o que a aguardava não era apenas mais uma manhã de trabalho comum. O encontro marcado representava um divisor de águas, um momento crucial em sua busca por vingança. Anos de planejamento, dor contida e uma obsessão cuidadosamente escondida a haviam levado até ali. O café, que normalmente a energizava, naquele momento apenas parecia aquecer a superfície de um coração congelado pelo medo e pela expectativa.
“Você pode levá-los hoje?” perguntou ela, tentando manter a voz firme. “Tenho um compromisso extremamente importante em meia hora, e preciso estar lá o quanto antes.” Não queria revelar todos os detalhes, mas aquele compromisso era a chave para descobrir se Hygor representava uma ameaça maior do que ela imaginava. O detetive particular que contratara prometera trazer respostas sobre os passos recentes dele, e Isabel não podia perder nem mais um segundo.
Cristian, sempre compreensivo, inclinou a cabeça e sorriu, aquele sorriso que parecia dizer sem palavras que tudo ficaria bem. Ele tinha uma calma natural, uma confiança que quase fazia Isabel acreditar que tudo seria fácil. “Claro, sem problema. Vou deixá-los na escola e depois sigo direto para o escritório. Não se preocupe, vai dar tudo certo,” disse ele, com uma convicção que parecia quase inabalável. Ele se aproximou dos filhos, pegando suas mochilas com uma naturalidade que falava de sua rotina constante de apoio, de ser o alicerce da família, mesmo quando Isabel estava distraída pelas sombras de seu passado.
Ela observou enquanto ele guiava os gêmeos para fora, sentindo uma onda de gratidão silenciosa por sua presença constante. Cristian era aquele que segurava as pontas, que mantinha a normalidade em uma vida cheia de segredos e jogos perigosos. Sem ele, talvez Isabel já tivesse desmoronado sob o peso de suas escolhas.
"Agora, vão lá," disse ela, abaixando-se para dar um último beijo nos filhos antes de saírem, "comportem-se na escola, e quando eu voltar, vamos fazer algo especial, certo?"
Diana, sempre cheia de energia e entusiasmo, sorriu de orelha a orelha. Ela pulou nos braços de Cristian, pronta para mais um dia normal de sua infância, completamente alheia ao que realmente estava acontecendo nos bastidores. Isabel observou a filha, com aquela inocência tão brilhante, que fazia todo o esforço valer a pena. Dylan, por outro lado, permaneceu mais quieto, introspectivo como sempre. Ele seguiu a irmã, mas antes de sair, parou na porta e olhou para a mãe, com aqueles olhos profundos e sérios, como se pudesse sentir que algo importante estava por vir.
Isabel manteve o sorriso, mas o olhar de Dylan a tocou de uma maneira que ela não estava preparada. Ele sempre parecia enxergar além das aparências, captar os sentimentos que ela tentava esconder. Um nó apertou seu peito enquanto ela o observava sair, e por um instante, ela desejou poder protegê-los de tudo, mas sabia que o caminho que escolhera poderia expor todos a perigos inimagináveis.
Quando a porta finalmente se fechou atrás deles, o som ecoou pela casa, deixando-a em um silêncio que Isabel não sabia se era reconfortante ou perturbador. A solidão da casa vazia caiu sobre ela como um manto, dando-lhe alguns minutos para processar o que estava por vir. Aquele pequeno instante de paz parecia a calmaria antes de uma tempestade devastadora. Respirou fundo, tentando absorver aquele silêncio temporário, como se pudesse se preparar emocionalmente para o que a aguardava. Seus pensamentos voltaram para o detetive. Se Hygor soubesse mais do que aparentava, ou se estivesse mais envolvido com seus inimigos do que ela suspeitava, todo seu plano poderia desmoronar.
Ela se dirigiu para a mesa, onde estavam seus documentos e anotações. Cada palavra, cada detalhe naquele papel representava anos de trabalho meticuloso. A vingança que tanto desejava estava ao alcance de suas mãos, mas para isso, precisaria manter o controle sobre cada aspecto da situação.
O telefone em sua bolsa vibrou, trazendo-a de volta ao presente. Era uma mensagem do detetive: "Encontro confirmado. Estou com informações novas. Você vai querer ver isso."
Isabel fechou os olhos por um momento, sentindo a adrenalina começar a correr por suas veias. Não havia mais como voltar atrás. A partir daquele dia, tudo mudaria.
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Atualizado até capítulo 53
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