Cristian comprou duas passagens só de ida para a Coreia do Sul, enquanto Isabel se sentia desligada da realidade. O aeroporto, cheio de pessoas apressadas, parecia distante. Cada movimento parecia lento, como se ela estivesse em um sonho. A Coreia, um destino tão distante e desconhecido, parecia ainda mais inatingível. Ela se perguntava como havia chegado a esse ponto, como sua vida tinha virado de cabeça para baixo em questão de semanas. Quando finalmente se aproximou do balcão para pegar os bilhetes, as dúvidas começaram a surgir.
Mira, que sempre foi a mais direta do grupo, pegou o bilhete e olhou desconfiada para Cristian. "Coreia, Cris? Por que a Coreia?" Ela franziu a testa, tentando decifrar o raciocínio do amigo. Keith, ao lado, olhava atentamente, como se também tentasse entender.
Cristian deu um suspiro, olhando para Isabel antes de responder. Sua voz era baixa, quase suave, mas carregava uma firmeza que mostrava o quanto ele havia pensado nisso. "Porque... é o lugar mais longe que consegui pensar." Ele deu um meio sorriso, um tanto triste. "E você sempre quis conhecer, Isa."
Isabel ergueu o olhar, surpresa. Aquela memória parecia tão distante, quase irreconhecível em meio à tempestade emocional que estava vivendo. Ela havia mencionado isso uma vez, quando ainda era uma jovem cheia de sonhos e falava com Cristian sobre destinos exóticos que gostaria de explorar. Naquela época, a Coreia do Sul era apenas um desejo, algo distante e emocionante.
"Eu... eu disse isso, não disse?" A voz de Isabel era quase um sussurro, e seus olhos estavam distantes, como se tentassem se reconectar com a jovem que um dia fora.
Cristian assentiu, seus olhos fixos nos dela, oferecendo um apoio silencioso. "Sim, Isa. Você falou muitas vezes sobre isso. Sobre como sonhava em conhecer o país, aprender a cultura, começar algo novo. Achei que... talvez esse fosse o recomeço que você precisa."
Keith se aproximou, colocando uma mão suave no ombro de Isabel. "E se for exatamente disso que você precisa agora, Isa? Um lugar onde ninguém te conhece, onde você pode recomeçar sem todo esse peso."
Mira balançou a cabeça, ainda pensativa, mas com o tom sempre pragmático. "Você precisa de um lugar seguro. E, longe daqui, pelo menos ninguém vai poder te encontrar facilmente. Na Coreia, você pode ser outra pessoa, pode... respirar sem medo de alguém te seguir."
Isabel piscou, absorvendo as palavras de suas amigas e de Cristian. A ideia de fugir para tão longe parecia tentadora e, ao mesmo tempo, aterrorizante. "Mas e se eu não for forte o suficiente?" perguntou ela, sua voz falhando, enquanto o peso de tudo aquilo se acumulava em seus ombros.
Keith, sempre a primeira a incentivar Isabel, se agachou na frente dela e segurou suas mãos com firmeza. "Você é forte, Isa. Você passou por coisas que a maioria das pessoas nem conseguiria imaginar. E olha pra você... você está aqui. Está lutando. E, além disso, você tem a gente."
Mira se aproximou também, a expressão firme, mas com uma ternura que Isabel sempre admirou. "E não estamos falando só de você agora, Isa. Estamos falando dos seus bebês. Esses gêmeos precisam de você. Você vai encontrar forças por eles, do mesmo jeito que sempre encontrou forças quando achou que não podia mais continuar."
Isabel sentiu o aperto no peito aumentar, mas dessa vez era diferente. Havia algo reconfortante nas palavras de suas amigas, e no olhar sincero de Cristian. Eles estavam ali, ao seu lado, prontos para apoiá-la em cada passo, mesmo que fosse um caminho desconhecido.
"Vocês realmente acham que eu posso fazer isso?" perguntou ela, sua voz cheia de incerteza, mas com uma pequena faísca de esperança.
Cristian apertou suas mãos mais uma vez, com uma leveza que transmitia conforto. "Não só acho. Eu sei que você pode. E não precisa fazer isso sozinha, Isa. Estamos com você."
Keith sorriu, um sorriso suave, mas cheio de confiança. "E, honestamente, a Coreia parece incrível. Vai ser uma aventura."
Mira, mais séria, deu um leve tapinha no ombro de Isabel. "Sem contar que você sempre nos falou de como adorava a comida e a cultura coreana. Vocês vão adorar aquele país e as crianças poderam crescer em um ambiente longe desse caos."
Aquele comentário fez Isabel soltar uma risada fraca, a primeira em dias. Aquele som parecia tão estranho para ela, mas ao mesmo tempo, tão necessário. Por um momento, a sombra de seus medos parecia menos densa, menos sufocante. Ela sabia que a estrada à frente seria longa e difícil, mas com eles ao seu lado, talvez, apenas talvez, pudesse ser mais suportável.
"Ok," disse finalmente, sua voz firme apesar da emoção que ainda tomava conta de seu peito. "Vamos para a Coreia. Vamos começar de novo."
Cristian sorriu, um sorriso pequeno, mas sincero, enquanto Keith e Mira trocavam olhares de alívio e alegria. "Nós vamos conseguir, Isa," disse ele, puxando-a para um abraço. "Juntos."
E, naquele momento, Isabel sentiu, pela primeira vez em semanas, uma leve esperança surgir em meio ao caos. Ela sabia que ainda havia muito pelo que lutar, mas com suas amigas e Cristian ao seu lado, talvez estivesse mais pronta para esse novo começo do que imaginava.
A jornada para a Coreia do Sul não foi apenas uma mudança geográfica; foi uma travessia para uma nova etapa de sua vida, um começo quase mítico. Ao pisar em solo coreano, Isabel se deparou com um refúgio inesperado, e, mais importante, encontrou uma nova fonte de força dentro de si mesma. Cada passo dado em direção à nova vida era uma forma de se libertar das feridas e remorsos do passado. A Coreia, com suas paisagens vibrantes e cultura rica, oferecia um pano de fundo diferente, quase como um livro em branco para reescrever sua história.
Keith e Mira, suas amigas leais, continuaram a apoiá-la incondicionalmente, mesmo à distância. Elas enviavam mensagens de encorajamento e conselhos, e a cada mensagem, Isabel sentia um fio de conexão com o que havia deixado para trás. Seus gestos de apoio eram pequenos lembretes de que, apesar da distância física, a amizade e a solidariedade não conheciam fronteiras.
Cristian, seu amigo constante e fiel, estava sempre ao seu lado, oferecendo o suporte necessário para transformar seus sonhos em realidade. Juntos, enfrentaram os desafios diários com uma determinação quase palpável. Cristian, com seu olhar atento e palavras encorajadoras, ajudava Isabel a enfrentar os obstáculos que surgiam, desde questões práticas como encontrar um lugar para morar até o emocionalmente desgastante processo de lidar com sua nova vida.
Cada dia na Coreia do Sul era uma batalha contínua, mas também uma série de pequenas vitórias. Isabel, que antes carregava a dor como um peso esmagador, começou a transformar essa dor em combustível para sua determinação. O passado, com todas as suas cicatrizes e decepções, agora servia como um impulso para avançar. A mágoa que a paralisara anteriormente começou a se converter em uma força motriz, e a cada tarefa concluída, a cada desafio superado, ela sentia sua força interior se expandir. Cada pequena conquista era uma afirmação de sua resiliência, uma prova de que a fraqueza não tomaria conta de sua vida.
Isabel havia feito uma promessa a si mesma: ser forte não apenas para sobreviver, mas para triunfar. Com a força renovada, ela decidiu transformar a dor em poder, o passado em aprendizado e o futuro em algo grandioso. A dor que um dia a definira agora servia como uma plataforma de lançamento para uma nova e corajosa etapa de sua vida. Ela se recusa a permitir que as feridas do passado a definam; em vez disso, elas a impulsionam a construir um futuro onde ela e os gêmeos que carregava poderiam prosperar.
Enquanto o sol nascia sobre a Coreia, lançando uma luz suave sobre a cidade que agora chamava de lar, Isabel olhava para o horizonte com uma mistura de esperança e determinação. A dor ainda estava presente, mas havia sido transformada em um catalisador para um novo começo. Ela estava pronta para enfrentar qualquer desafio, sabendo que, com cada passo que dava, estava moldando um futuro mais brilhante para si mesma e para os filhos que carregava.
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Atualizado até capítulo 53
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