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Ainda Amo Meu Ex

Capítulo 1: Mentiras

Isabel Cardoso encarava seu reflexo no espelho, os olhos marejados pelas lágrimas que ameaçavam transbordar a qualquer segundo. As mãos tremiam enquanto segurava o teste de gravidez. Era pequeno, mas pesava como se carregasse nele um futuro inteiro, incerto e assustador. A respiração dela era irregular, o peito subindo e descendo em ritmo acelerado, como se o ar ao redor não fosse suficiente para acalmar a tempestade que se formava dentro de seu coração.

"Estou grávida..." O sussurro saiu frágil, quase inaudível, perdido na imensidão do quarto. Sua voz estava carregada de uma mistura de sentimentos que ela mal conseguia processar: medo, esperança, surpresa, incerteza. As duas linhas vermelhas no teste eram uma confirmação do que ela sempre quisera, mas também traziam uma enxurrada de dúvidas. Isabel sentiu as primeiras lágrimas caírem lentamente pelo rosto, enquanto absorvia a magnitude daquela revelação. Uma nova vida. Uma responsabilidade que agora pesava sobre ela.

Ela se apoiou na pia, as pernas de repente fracas. O pensamento de Hygor preencheu sua mente como um raio. "Será que ele vai ficar feliz? Será que esse bebê nos unirá novamente?" A fagulha de esperança em seu peito era pequena, mas presente. Talvez essa fosse a chance deles reconstruírem o que haviam perdido. Talvez esse bebê fosse o laço que os manteria juntos.

Hygor Ferreira... um nome que sempre fazia seu coração acelerar, mas agora trazia uma inquietação. Ele tinha deixado tudo para trás – sua carreira no futebol, seus sonhos – para estar com ela em Londres. Mas ultimamente, ele parecia distante, frustrado com a vida que levavam. Isabel podia ver em seus olhos o arrependimento silencioso, o peso das escolhas que fizeram. E agora? Será que a notícia de uma criança traria alegria ou aumentaria sua angústia?

Decidida, Isabel começou a preparar um jantar especial naquela noite. Velas iluminavam suavemente a mesa, o cheiro da comida preenchia o ambiente, mas o nervosismo tomava conta dela. A cada minuto que passava, a ansiedade se intensificava. Isabel olhou para o pequeno presente que havia preparado – um par de sapatinhos de bebê embrulhados em papel azul. Era uma forma doce e delicada de dar a notícia, mas Hygor ainda não havia chegado. Onde ele estava?

O relógio avançava, e com ele, o coração de Isabel batia mais rápido. Já era tarde quando finalmente ouviu o som de passos do lado de fora. Isabel correu até a janela, o coração acelerado, e o que viu fez seu estômago revirar. Hygor estava sentado na escada da casa, a garrafa de vinho quase vazia em suas mãos, a gravata frouxa, e os olhos perdidos, sem brilho. A imagem dele assim, tão desolado, partiu o coração dela.

Ela se aproximou devagar, ajoelhando-se ao lado dele. "O presidente fez você beber de novo?" perguntou, a voz suave, mas carregada de tristeza. A bebida, sempre ela, sempre um refúgio para os problemas que ele não conseguia enfrentar.

Hygor levantou os olhos turvos e sorriu fracamente, o sorriso vazio de quem já não sabia mais sorrir de verdade. Ele passou a mão pelos cabelos dela, num gesto lento, como se quisesse afastar as preocupações. "Logo, não serei mais apenas um estagiário... Vamos poder ficar juntos... casar, sabe?" Ele murmurou, as palavras saindo desconexas, misturadas ao álcool que o consumia. Isabel sabia que não podia confiar naquele estado, mas o que mais a machucava era o distanciamento emocional. Ele estava ali, mas não realmente.

Isabel tentou sorrir, mas o nó em sua garganta era forte demais. Ela ajudou Hygor a se levantar, o corpo dele pesado contra o dela. Levaram-se para dentro, em silêncio. Enquanto ele murmurava coisas sem sentido, ela o acomodou na cama, cobrindo-o cuidadosamente. Seu olhar fixo nele, agora adormecido, mas tão distante, a deixava sufocada. O que havia acontecido com eles? Quando tudo se tornara tão complicado?

Depois de algum tempo, Isabel se afastou e caminhou até a estante. Seus pés descalços deslizavam pelo chão de madeira. Com as mãos trêmulas, puxou uma caixa marrom escondida entre os livros. Dentro dela estavam fragmentos de um passado que ela lutava para esquecer. Um ursinho de pelúcia velho, cartas, documentos amarelados e fotos. Cada objeto trazia lembranças dolorosas que ela preferia deixar enterradas.

Ela pegou uma das cartas e a desdobrou, os olhos pousando sobre a caligrafia familiar. "Como alguém que escreveu coisas tão doces pode ser o homem que mais temo agora?" murmurou, a voz embargada. As palavras da carta eram de seu pai, o homem que agora controlava o Grup’Art, o mesmo homem que quase destruiu sua vida. Isabel deixou uma lágrima cair sobre o papel, sentindo o peso da verdade que ainda não tinha coragem de encarar totalmente.

Os seus olhos caíram sobre uma fotografia antiga. Nela, Isabel ainda era uma criança, sorrindo entre os seus pais. "Eu preciso contar a Hygor... sobre meu pai, sobre o Grup’Art. Ele tem o direito de saber. Mas e se ele me deixar? E se ele não entender o porquê de eu ter guardado isso por tanto tempo?" Acariciou a barriga instintivamente, como se já estivesse protegendo a vida que crescia dentro de si. Agora, não era mais apenas sobre ela. Havia uma nova vida, uma nova responsabilidade, e o medo de perder tudo a consumia lentamente.

Na manhã seguinte, Isabel foi despertada por um som ensurdecedor de tiros e explosões vindos da sala. Seu coração acelerou. "Hygor, abaixe o volume!" gritou, a voz áspera com a irritação crescente enquanto massageava as têmporas. A dor de cabeça que começava a pulsar em sua mente parecia se intensificar com o barulho.

Sem resposta, Isabel se levantou com raiva. O desconforto e o cansaço pesavam sobre ela enquanto marchava até a sala. Sem pensar duas vezes, desligou a televisão com um único toque brusco no controle remoto. Hygor a encarou, surpreso e frustrado, os olhos ligeiramente desfocados.

"Eu estava quase passando de fase, Isa!" ele resmungou, o tom de voz desanimado. Ele parecia abatido, como se aquele jogo fosse a única coisa que o distraía do caos em sua mente.

"Estou com dor de cabeça, Hygor," ela respondeu com um suspiro, tentando manter a voz sob controle. Mas havia algo de duro em seu tom, uma irritação que ela não conseguia mais conter. Caminhou até a cozinha e encheu um copo de água, tentando acalmar os nervos.

Imediatamente, Hygor se levantou, sua expressão suavizando com preocupação. "Não temos remédio, vou buscar na farmácia." Ele se aproximou, os olhos refletindo o cuidado que ainda tinha por ela.

"NÃO!" A palavra saiu muito mais alta do que ela queria, como um grito sufocado de pânico. Seus olhos foram atraídos para o carro preto que estava estacionado do lado de fora da casa, algo sinistro pairando sobre a cena. Ela sabia de quem era aquele carro, e o medo começou a tomar conta dela.

Hygor parou, surpreso pela reação inesperada de Isabel. "Isa, o que está acontecendo? Por que você está tão nervosa?" Ele franziu o cenho, o tom de voz carregado de uma mistura de preocupação e confusão.

Ela evitou o olhar dele, o medo crescendo em seu peito. "Eu só... eu só prefiro que você fique aqui," murmurou, tentando manter a calma, mas sua mente estava em um turbilhão. O perigo parecia próximo, e cada célula do seu corpo gritava por alerta.

Hygor, sempre atento aos sinais de Isabel, tentou abraçá-la, oferecer conforto, mas ela se afastou rapidamente, o estômago embrulhando com a onda de ansiedade. Sem conseguir controlar, ela correu para o banheiro, vomitando violentamente.

"Hygor veio atrás dela, ajoelhando-se ao seu lado, segurando-lhe o cabelo com cuidado. O rosto dele estava carregado de preocupação. "Você está bem, Isa? Precisa descansar, vou à farmácia de qualquer jeito," disse, determinado. Pegou seu casaco e sua carteira do sofá, e antes que ela pudesse protestar, saiu pela porta.

Isabel ficou ali, ajoelhada no chão frio do banheiro, tentando recuperar o fôlego. O som do motor do carro de Hygor desapareceu ao longe, e a quietude da casa parecia uma sentença de perigo iminente. Ela mal teve tempo de processar o que estava acontecendo quando o telefone tocou, interrompendo seus pensamentos. Ao olhar o visor, um arrepio gelado percorreu sua espinha.

"Richard..." murmurou, as palavras mal saindo de seus lábios. Seu coração disparou, e com dedos trêmulos, atendeu.

"O que você quer?" ela disparou, tentando manter a voz firme, mas a tensão em seu corpo era incontrolável.

A voz fria e controlada de Richard veio do outro lado da linha, cada palavra carregada de uma crueldade calculada. "Isabel Duarte, você já se esqueceu de quem é?"

"Eu não uso esse sobrenome há muito tempo," Isabel retrucou, tentando soar confiante, mas a angústia em seu peito só aumentava. "E a única coisa que me faz infeliz é ser sua filha."

"Isso não muda quem você é, Isabel. E como filha mais velha dos Duarte, você sabe o que precisa fazer. Um casamento foi arranjado para você, e esse acordo será cumprido, custe o que custar."

A ligação foi cortada abruptamente, deixando um silêncio ensurdecedor no ar. Isabel mal conseguia respirar. O pânico tomou conta dela, e suas mãos tremiam incontrolavelmente. Ela sabia que Richard não fazia ameaças vazias. Ele era implacável, e isso a aterrorizava.

Desesperada, ela pegou o telefone novamente e discou o número de Hygor com dedos trêmulos. Cada toque parecia uma eternidade. "Por favor, atende, atende..." sussurrou, a voz sufocada pelo medo.

Finalmente, Hygor atendeu. "Isa? Tá tudo bem? Estou quase chegando em casa. Aconteceu alguma coisa?" A voz dele era serena, mas a preocupação era palpável.

As palavras pareciam presas na garganta de Isabel. "Hygor, eu... eu preciso te contar algo. Algo que eu escondi por muito tempo..." Ela hesitou, mas sabia que não podia mais adiar. "Eu nunca te contei quem é meu pai biológico. Minha mãe achou melhor manter segredo, mas..."

"Isa, calma. Fala devagar. Vou estar aí em poucos minutos, podemos conversar em casa, tá bem?" ele disse, tentando acalmá-la. Isabel ouviu o som do trânsito ao fundo, e sabia que ele estava perto.

Mas ela não podia esperar. "O Grup'Art... Hygor, eu sou..."

De repente, um som estrondoso interrompeu a ligação, fazendo Isabel congelar. O barulho era tão alto que seu coração pareceu parar por um segundo. "Hygor? Hygor, você está aí?" A voz dela aumentou, cheia de desespero. "Hygor, responde!"

A linha ficou muda. O telefone escorregou de suas mãos, caindo no chão com um som seco. Isabel ficou ali, atônita, o medo tomando conta de cada parte de seu ser. Algo terrível havia acontecido. Ela sentiu isso em sua alma.

Sem pensar duas vezes, ela correu para a porta. O impulso de encontrar Hygor a empurrava para a rua, mas antes que pudesse sair, o telefone tocou novamente. O nome que apareceu no visor fez seu coração parar: Richard.

"Agora está mais calma?" A voz dele era gélida, quase cruel. Ele parecia saborear a dor que estava causando.

"Eu já disse para ficar longe de mim e de quem eu amo!" Isabel gritou, a raiva misturada com desespero dominando sua voz.

"Você sabe que só há uma maneira de acabar com isso, Isabel. Aceite seu destino, se case com Willians, e eu deixarei você em paz."

Isabel estava prestes a responder quando sons de gritos vindos da rua a interromperam. Ela correu para a janela, e seu coração afundou ao ver uma multidão se formando na esquina. Algo terrível havia acontecido.

Ela saiu correndo, empurrando as pessoas ao redor até que, finalmente, avistou Hygor. Ele estava caído no chão, ensanguentado, imóvel. "Hygor!" gritou, sua voz cheia de desespero.

Ajoelhando-se ao lado dele, Isabel o pegou nos braços, as lágrimas já escorrendo por seu rosto. "Não... por favor, não me deixe..." ela soluçava, o mundo ao redor desmoronando enquanto o amor de sua vida se esvaía. O silêncio ao redor só aumentava o eco da dor insuportável que rasgava sua alma.

Capítulo 2: Pânico

Na manhã seguinte, Isabel estava no hospital, as mãos trêmulas entrelaçadas no colo. O cansaço a consumia após uma noite sem dormir, e o cheiro estéril do hospital parecia sufocá-la, enquanto o som repetitivo dos monitores de batimentos cardíacos ecoava em seus ouvidos. Seu olhar permanecia fixo na porta da sala de cirurgia, como se sua vida inteira dependesse do próximo médico que surgisse. As lágrimas caíam silenciosamente pelo seu rosto, enquanto ela murmurava uma oração, perdida em uma mistura de desespero e esperança.

Foi então que ouviu passos apressados pelo corredor. Geisa e Renato Ferreira, os pais de Hygor, entraram no hospital com os rostos marcados pelo medo. O desespero era evidente em seus olhares. Assim que Geisa avistou Isabel, a dor que carregava se transformou em fúria. Ela avançou com determinação, agarrando Isabel pelo pescoço com uma força inesperada.

"Meu filho veio até aqui para te encontrar! Se ele morrer, será sua culpa!" Geisa gritou, cada palavra carregada de uma dor cortante. A acusação era como um golpe direto no coração de Isabel, que mal conseguia respirar com a pressão das mãos de Geisa.

Isabel tentou falar, mas as palavras fugiam de sua boca. Antes que pudesse reagir, sua mãe, Viviane Cardoso, entrou no hospital com passos decididos. Ao ver a cena, ela não hesitou. Com um movimento rápido, afastou Geisa, a voz forte e firme.

"Solte minha filha agora!" Viviane exigiu, sua autoridade evidente. Seus olhos estavam marejados de lágrimas, mas sua postura era inabalável. "Seu filho veio por escolha própria! Não ouse culpá-la por isso."

Geisa deu uma risada amarga, uma risada cheia de rancor. "Escolha própria? Essa menina seduziu meu filho, assim como você seduziu o pai dela! Nunca teve coragem de contar a verdade sobre a paternidade dessa bastarda!"

O tapa de Viviane veio como um trovão, ressoando pelo corredor. "Nunca mais fale assim da minha filha!" Sua voz tremia de raiva e dor. "Eu nunca seduzi ninguém, e você sabe disso, Geisa."

Isabel, tentando conter o choro, se levantou, tremendo. "Minha mãe não tem culpa... e eu também não." Sua voz estava embargada. "Eu só queria que tudo fosse diferente."

A tensão entre as duas mulheres era palpável. O ar parecia pesado, como se o hospital inteiro estivesse congelado no tempo. E então, a luz acima da porta da sala de cirurgia se apagou. Todos se voltaram para a porta quando o médico saiu, a expressão em seu rosto revelando uma gravidade que fez o coração de Isabel parar por um momento.

"Ele está em estado crítico. Fizemos tudo o que podíamos, mas as próximas horas serão decisivas." O médico hesitou antes de continuar, visivelmente afetado pela situação. "Agora é uma questão de tempo... e esperança."

As palavras dele atingiram Isabel como uma avalanche. Suas pernas fraquejaram, e ela desabou, um soluço profundo escapando de seu peito. Cada lágrima que caía parecia carregar consigo um pedaço de sua alma, o medo de perder Hygor tornando a dor quase insuportável.

Geisa, mesmo vendo a fragilidade de Isabel, não teve compaixão. "Saia daqui. Você não é bem-vinda." A frieza em sua voz era um golpe ainda mais cruel. "Se Hygor morrer, nunca mais apareça em nossas vidas."

Isabel, sem forças para contestar, simplesmente acenou com a cabeça. Os pés dela pareciam pesados, como se cada passo para longe do hospital fosse um fardo insuportável. Lá fora, o vento frio da manhã cortava sua pele, mas não conseguia entorpecer a dor em seu coração. Seus olhos estavam vermelhos, a respiração ofegante, quando o telefone em sua mão vibrou. O nome na tela fez seu estômago revirar: Richard.

Ela se afastou da entrada do hospital, buscando um local isolado antes de atender. Sua voz saiu fraca, mas carregada de ressentimento. "O que você quer agora?"

A resposta veio fria e calculada, como sempre. "Se quer que seu namorado sobreviva, você sabe o que precisa fazer." A voz de Richard era um veneno suave, manipulador. "Case-se com o filho mais velho dos Willians. Eu pagarei pelos melhores médicos."

Isabel fechou os olhos, sentindo o peso daquela ameaça. Ela sabia que Richard não blefava. Mesmo que Hygor sobrevivesse, a vida dela nunca mais seria sua. Ele a controlaria para sempre. Mas, naquele momento, sua dor e medo pela vida de Hygor eram maiores do que qualquer outra coisa.

"Está bem..." A voz de Isabel saiu entrecortada, como se cada palavra fosse uma ferida nova. "Eu aceito. Mas você precisa cumprir sua parte do acordo."

Do outro lado da linha, Richard sorriu. Isabel podia sentir o triunfo silencioso em sua resposta curta. "Você fez a escolha certa."

Quando a ligação se encerrou, Isabel sentiu como se tivesse assinado sua própria sentença. As lágrimas voltaram a cair, dessa vez de pura resignação. Ela sabia que estava vendendo sua liberdade, talvez até sua alma, para salvar o homem que amava.

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Uma semana depois, a cerimônia de casamento entre Isabel e Bryan Willians estava prestes a começar. O salão em Londres era deslumbrante, com lustres de cristal pendendo do teto, arranjos florais exuberantes e uma decoração impecável. Porém, para Isabel, aquilo tudo parecia uma prisão dourada, sufocante e sem saída.

Isabel, ainda na suíte de um dos mais altos prédios da cidade, estava vestida de noiva, mas se sentia completamente deslocada. A seda do vestido branco pesava sobre seu corpo, não por ser pesada fisicamente, mas porque representava o peso de uma decisão que estava dilacerando sua alma. Seu coração, em pedaços, estava com Hygor, o verdadeiro amor de sua vida, enquanto ela se preparava para dizer "sim" a outro homem. O reflexo no espelho lhe devolvia uma imagem de pura tristeza.

Do outro lado do quarto, Bryan também estava visivelmente perturbado. Ele andava de um lado para o outro, passando as mãos nervosas pelo cabelo e pela testa suada. "Você tem certeza disso, Isa?" Ele finalmente quebrou o silêncio, a voz baixa e carregada de preocupação. O olhar que ele lançou a Isabel era o de alguém que sabia que estava se casando com uma mulher cujo coração já pertencia a outro. Ele sabia que ela ainda amava Hygor, mas, por algum motivo, estava disposta a se casar com ele. Talvez houvesse uma esperança em Bryan, a de que com o tempo, quem sabe, ela pudesse amá-lo.

Isabel respirou fundo, lutando para manter a compostura. "Vamos seguir com esse casamento, mas nos divorciamos em um ano." A voz dela saiu como um sussurro, carregada com o peso de uma resignação amarga. Ela levou a mão instintivamente à barriga, onde uma nova vida crescia, e a ideia de trazer um bebê para aquela situação caótica a deixava sufocada. "Eu não posso deixar você carregar essa responsabilidade, Bryan. Não é justo."

Bryan parou diante dela, seus olhos azuis carregados de dor. Ele se aproximou lentamente, estendendo os braços para envolvê-la em um abraço terno. "Isa, não importa o que aconteça, eu estarei ao seu lado. Eu escolhi isso. Não estou fazendo isso por obrigação, estou fazendo porque quero. Não está sozinha." Sua voz era suave, mas havia uma firmeza reconfortante em suas palavras, como se ele quisesse ser o pilar de força que ela tanto precisava naquele momento.

Isabel deixou-se levar pelo abraço, o corpo tenso finalmente cedendo à emoção. As lágrimas começaram a rolar silenciosamente pelo seu rosto enquanto ela encostava a cabeça no peito dele. "Obrigada... por tudo." Ela sussurrou, com a voz embargada, o peso da decisão caindo sobre seus ombros com mais força do que nunca. Ela estava abrindo mão de sua própria felicidade para tentar salvar Hygor, sacrificando tudo pelo homem que ainda amava.

Antes que pudessem dizer mais alguma coisa, o som de gritos e tumulto ecoou pelo corredor. Bryan se afastou rapidamente, indo até a porta. Ao abri-la, seu rosto se transformou em uma máscara de puro choque. "Há um incêndio! Temos que sair daqui agora!" Ele exclamou, os olhos arregalados, enquanto a fumaça começava a se espalhar pelo ambiente.

Isabel congelou por um momento, o terror a paralisando. Ela olhou ao redor, o coração disparado, enquanto o caos se instalava. O cheiro de queimado invadiu seus sentidos, e a realidade começou a desmoronar ao seu redor. Seu telefone vibrou na mesa ao lado, e ao ver o nome de Richard piscando na tela, sua raiva tomou conta.

"Espero que esteja gostando do meu presente de casamento." A voz fria de Richard soou do outro lado da linha, gélida como sempre, carregada de malícia.

"Você é um monstro!" Isabel gritou, a raiva fervilhando em seu peito. "Como você pode fazer isso comigo? Colocar a vida de tantas pessoas em risco?"

Richard soltou uma risada sarcástica. "Acha mesmo que eu deixaria isso acontecer com alguém do meu próprio sangue? Achou que se livraria de mim sem um último ato? Eu nunca perco o controle da situação, Isabel. Esse é o meu show."

Ela estava confusa com aquelas frias palavras. Antes que ela pudesse responder, Bryan a puxou com força, e os dois começaram a correr pelo corredor, enquanto as chamas se espalhavam rapidamente, devorando o prédio. O calor era insuportável, e o som de vidro estilhaçando e madeira queimando preenchia o ar. Isabel segurava a mão de Bryan com força, seu coração batendo em um ritmo frenético. Cada passo parecia uma luta pela sobrevivência, e o medo que a consumia era tão intenso quanto a própria dor que sentia.

O fogo engolia tudo ao redor deles, e a fumaça densa dificultava a visão. De repente, Bryan gritou: "Cuidado!" Ele a puxou com força, e antes que Isabel pudesse entender o que estava acontecendo, eles se lançaram pela janela, um segundo antes de uma explosão ensurdecedora tomar conta do quarto onde estavam.

O vento cortante os envolveu quando seus corpos ficaram suspensos por uma corda improvisada de lençóis, pendurados do lado de fora do prédio. Isabel tremia, seus dedos agarrados com força no tecido. Abaixo deles, o abismo parecia infinito, e o medo de cair era esmagador. O corpo de Bryan estava mole ao seu lado, os olhos fechados, mas ainda respirando. Isabel olhou para ele, o pânico tomando conta.

"Bryan, por favor, fique comigo!" Sua voz saiu em um sussurro desesperado, o medo de perdê-lo aumentando a cada segundo. O coração dela batia tão forte que ela sentia que poderia explodir a qualquer momento.

Ela gritou por ajuda, mas os sons de suas súplicas se perdiam no caos. O prédio continuava a queimar, e as chances de sobrevivência pareciam cada vez menores. As lágrimas escorriam por seu rosto, misturando-se com o suor e a fuligem. Isabel se enroscou mais firmemente na corda, amarrando-se com o que restava dos lençóis. O pavor de cair e perder tudo era sufocante, e a sensação de impotência a devastava. Cada segundo parecia uma eternidade, e a ideia de não conseguir salvar Bryan pesava sobre seu coração como uma sentença.

capítulo 3: Segredos

Finalmente, os olhos de Isabel se fecharam e, ao reabri-los, ela ainda sentia o peso da fraqueza dominando seu corpo. Levantou-se da cama num sobressalto, o coração acelerado e a mente atordoada. O quarto ao seu redor era amplo e desconhecido, decorado com móveis elegantes, mas o cheiro de desinfetante e o ambiente hospitalar causavam-lhe um desconforto profundo. Sentia-se desorientada, como se estivesse imersa em um pesadelo sem fim.

"Onde... onde estou?" murmurou para si mesma, a voz trêmula e entrecortada pelo medo e pela confusão. Ela se aproximou da janela, tentando entender o que estava acontecendo, seu olhar perdido procurando um senso de realidade. Seus olhos, ainda sem foco, finalmente se fixaram em uma figura deitada na cama ao lado, e o coração disparou.

"Bryan?" O nome saiu de seus lábios como um sussurro trêmulo, repleto de apreensão e descrença. Isabel forçou-se a caminhar até ele, cada passo parecia um esforço monumental. Ao chegar ao lado da cama, começou a sacudi-lo com desespero. "Bryan, acorda! Por favor, acorda!" O som de sua voz misturava súplica e terror, mas ele permanecia imóvel. A máscara respiratória que ele usava fazia com que o ambiente parecesse ainda mais sombrio, e o silêncio que emanava dele fazia o desespero se instalar em Isabel. Lágrimas quentes começaram a rolar pelo seu rosto, e sua respiração estava cada vez mais ofegante.

De repente, a porta se abriu com um ruído suave, e Isabel se virou abruptamente. O coração dela batia descompassado, e seus olhos, sem as lentes de contato, lutavam para distinguir as figuras que entraram. Um homem e duas mulheres pararam na entrada, suas silhuetas confusas se misturando com o pânico que a envolvia.

"Mãe?" A palavra saiu num sussurro, carregada de angústia e confusão. "O que está acontecendo? Como chegamos aqui? E por que Bryan não acorda?" Sua voz era uma torrente de desespero e perguntas, tentando desesperadamente montar os pedaços de uma realidade fragmentada.

Viviane correu até ela, envolvendo-a em um abraço apertado. Isabel sentiu o calor da mãe e a tentativa de conforto, mas isso pouco fazia para aliviar o pavor que crescia dentro dela. Enquanto isso, o homem e a mulher que a acompanhavam se aproximaram da cama onde Bryan permanecia imóvel.

"Isabel..." A voz grave de Juan Willians, o patriarca da família ao lado de sua esposa, Thaís Willians, ecoou pelo quarto. "O prédio desabou no incêndio. Você e meu filho foram dados como desaparecidos. E, em breve, a família Duarte acreditará que vocês não sobreviveram."

As palavras de Juan caíram sobre Isabel como um golpe devastador. O mundo ao seu redor parecia girar, e seus joelhos vacilaram sob o peso da notícia. "O... o que ele está dizendo, mãe?" Sua voz era trêmula, quase inaudível, como se implorasse por uma outra versão da verdade.

Viviane apertou a filha com mais força, tentando protegê-la da cruel realidade. "Vocês foram encontrados pouco antes de o prédio explodir... Há dois dias, Isabel." A hesitação na voz de Viviane era dolorosa, e os olhos dela estavam marejados. "Suspeitamos que foi seu pai... Richard... quem provocou o incêndio."

O choque foi como um soco no estômago de Isabel. Ela ofegou, o ar escapando de seus pulmões enquanto o corpo tremia diante da crueza da verdade. As últimas palavras trocadas com Richard antes da tragédia agora ecoavam em sua mente como uma ferida aberta. A traição que sentia cortava fundo demais para ser compartilhada com os outros. Não havia palavras para expressar a profundidade da dor e da traição.

Ela se afastou um pouco de sua mãe, ainda em estado de choque, seus olhos vagando pela figura imóvel de Bryan. O medo que inicialmente a dominava começava a se transformar em uma dor surda, uma raiva contida que fervia dentro dela. A realidade era implacável e cruel, e a sensação de impotência e frustração a consumia, deixando-a lutando contra uma onda de emoções que parecia impossível de controlar.

 

Semanas haviam se passado desde o incêndio, e Isabel ainda se encontrava escondida na mansão da família Willians, imersa em um tormento interno que não parecia ter fim. As horas se arrastavam e cada segundo era uma eternidade enquanto ela revivia incessantemente a cena daquela noite aterradora.

"Como ele pode... como ele pode afirmar que nunca machucaria alguém da própria família e, ao mesmo tempo, ser o responsável por tentar me matar?" Ela murmurou para si mesma, a voz carregada de mágoa e confusão. O peso das palavras de Richard parecia esmagá-la, tornando cada respiração um esforço doloroso.

Uma batida suave na porta interrompeu seus pensamentos. Isabel piscou, voltando ao presente com dificuldade. "Entre," ela disse, sua voz quase um suspiro.

Viviane entrou, o rosto sombrio e marcado pela preocupação. Sem dizer uma palavra, ela se aproximou da filha e a envolveu em um abraço. Isabel, embora hesitante, retribuiu o gesto, mas o conforto parecia efêmero diante da nuvem de dúvidas e angústias que a envolvia.

"Você está pensando que... que seu pai pode ter causado o incêndio, não é?" Viviane perguntou suavemente, sua voz carregada de uma esperança vacilante. "Richard pode ser severo... mas ele nunca faria algo assim, Isabel. Ele te ama."

As palavras de Viviane soavam vazias, quase como um eco perdido no silêncio opressor do quarto. Isabel sabia da verdade; conhecia a confissão de Richard antes da tragédia. Como sua mãe poderia defendê-lo, ignorando o que estava claro para ela? As perguntas que tentava enterrar começaram a se agitar, recusando-se a ficar silenciadas.

"Mãe..." Isabel hesitou, a voz trêmula e entrecortada. "Richard... ele é realmente meu pai?"

Viviane congelou, o tempo parecia ter parado por um momento. O rosto dela mudou sutilmente, uma faísca de indignação cruzando seus olhos. "Como você pode perguntar uma coisa dessas?" A voz dela era firme, quase agressiva, mas havia algo mais ali — algo escondido, um medo subjacente.

Isabel desviou o olhar, o coração acelerado com a força da verdade não dita. "Você... você tem certeza? Se houve algo que você escondeu de mim, eu entenderia. Se você tivesse tido um caso ou..."

Um tapa. O som reverberou pelo quarto como uma explosão inesperada. Isabel sentiu o ardor no rosto, mas o que realmente a feriu foi o olhar de sua mãe — não era apenas raiva; havia medo e dor ali também.

"Nunca mais diga algo assim!" Viviane gritou, tremendo de raiva e angustia. "Você é a primogênita de Richard, o filho mais velho do Grup'Art! Isso nunca vai mudar!" Ela agarrou os braços de Isabel com uma força quase desesperada, como se tentasse forçá-la a acreditar na realidade que estava apresentando. "Você me ouviu?"

Isabel, com os olhos marejados e o coração partido, assentiu lentamente. Mas, no fundo, algo estava quebrado. O tapa foi mais do que uma agressão física; foi a confirmação de que sua mãe também estava escondendo algo. Algo que Isabel não estava pronta para enfrentar.

Naquela tarde, Isabel vagava pelos corredores da mansão da família Willians, seus passos abafados pelo peso das lembranças que invadiam sua mente. As paredes pareciam se fechar ao seu redor, e cada quadro pendurado nas paredes parecia observá-la, cúmplices de segredos que ela mal começava a desvendar. Seus pés, guiados quase por instinto, a levaram até a porta entreaberta do escritório de Thaís, mãe de Bryan. Lá dentro, vozes baixas trocavam palavras carregadas de uma tensão palpável que fez seu coração acelerar.

"Minha filha já sofreu demais nas mãos do pai. O psicológico dela está destruído... se ela descobrir a verdade..." A voz de Viviane estava trêmula, carregada de uma dor e desespero que Isabel nunca havia ouvido antes. Cada palavra parecia um lamento profundo, uma súplica silenciosa.

Thaís respondeu com um tom firme, mas solidário: "Eu prometo, farei de tudo para que Isabel nunca descubra esse segredo."

Foi como se o chão sob Isabel desmoronasse, e o ar se tornasse pesado demais para ser respirado. Ela recuou, quase tropeçando em seus próprios pés, enquanto seu coração martelava em sua cabeça. "Que segredo?" pensou, o pânico crescendo dentro dela. Sem querer ouvir mais nada, virou-se e correu em direção ao seu quarto, lágrimas começando a embaçar sua visão.

Ao fechar a porta atrás de si, seus joelhos cederam, e ela caiu ao chão, levando as mãos trêmulas até sua barriga ainda lisa. "Bebê... o que a mamãe deve fazer?" sussurrou, suas palavras mal saindo por entre os soluços. Lágrimas escorriam livremente por seu rosto enquanto acariciava o ventre. O futuro, que antes era incerto, agora parecia um campo minado, e o medo do desconhecido a consumia.

Com o peito apertado e o coração batendo acelerado, Isabel tomou uma decisão irrevogável. Não poderia mais permanecer ali, sufocada por mentiras e traições. Levantou-se, tremendo, e começou a jogar roupas e pertences em uma mala, seus movimentos apressados e desajeitados. Cada peça de roupa que caía dentro da mala parecia um pedaço de sua vida passada sendo deixado para trás, cada objeto uma lembrança de um mundo que estava se desintegrando.

Ela pegou o telefone com as mãos trêmulas, hesitou por um breve momento e, finalmente, discou o número de Cristian Soares, seu amigo de infância. Quando ele atendeu, sua voz misturava alívio e desespero. "Cristian... eu preciso de você", disse Isabel, a voz quebrada pela emoção e pelo peso da situação.

"Isabel? O que aconteceu?" Cristian perguntou, a preocupação evidente em cada palavra. "Você está bem?"

"Não... não estou," Isabel admitiu, a voz falhando sob o peso das lágrimas. "Estou em um lugar onde não pertenço, rodeada por mentiras. Eu não consigo mais ficar aqui."

"Calma, eu vou te ajudar," Cristian garantiu, a determinação em sua voz clara e firme. "Diga-me o que você precisa."

Horas depois, o jantar na mansão Willians estava montado com a mesma opulência de sempre: pratos finos, talheres brilhando à luz das velas, tudo cuidadosamente arranjado como se fosse uma cena de um filme. Juan, o patriarca, ergueu uma taça de vinho, seu sorriso melancólico contrastando com o ambiente festivo.

"Quero agradecer por Isabel e meu filho ainda estarem vivos," começou ele, com um tom grave que fez todos ao redor da mesa silenciarem. "A vida é algo frágil, e precisamos valorizar cada momento que temos."

Isabel, no entanto, mal conseguia ouvir. Sua mente estava distante, observando a cena como se estivesse em um pesadelo acordado. As risadas e conversas dos outros membros da família pareciam ecoar em um vácuo, cada som distorcido pelo tumulto que rugia dentro de sua cabeça.

Viviane, sentada ao lado de Juan, estava visivelmente tensa. Suas mãos tremiam, mal conseguindo segurar o guardanapo. Ela evitava olhar para Isabel, mas seu desconforto era palpável. Luna e Eva, as irmãs de Bryan, conversavam em sussurros, seus olhos cheios de tristeza pela condição do irmão, ainda inconsciente.

De repente, o peso da situação tornou-se insuportável para Isabel. Ela se levantou abruptamente, a cadeira arrastando-se no chão com um rangido alto. "Eu... preciso ir," murmurou, a voz falhando sob o peso da emoção. Todos na mesa a olharam em choque, mas antes que pudessem reagir, ela já estava saindo, quase correndo.

A noite fria a envolveu quando ela saiu da casa, o ar gélido batendo em seu rosto, mas não conseguindo acalmar o tumulto dentro dela. Seus pensamentos giravam como um turbilhão, e cada respiração parecia uma luta desesperada. Ela precisava de respostas, não podia mais viver naquele cenário sufocante, em meio a segredos que a consumiam.

Seus passos a levaram pelos vastos jardins da propriedade dos Willians, onde a escuridão parecia engolir tudo. A noite estava sem lua, e o céu carregado de nuvens refletia o caos interno de Isabel. Mas, por dentro, uma chama começava a se acender. Ela não seria mais manipulada. Não seria mais uma peça no jogo de ninguém.

As palavras de Viviane e Thaís ecoavam repetidamente em sua mente: "Se ela descobrir a verdade..." O que sua mãe tanto temia? O que poderia ser pior do que tudo o que Isabel já enfrentara? Ela precisava de respostas. Se sua mãe não as daria, então ela as encontraria por conta própria. Determinada e com a coragem renovada, Isabel sabia que estava prestes a desbravar um caminho cheio de verdades ocultas e confrontos inevitáveis.

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