O sol brilhava intensamente sobre Vale Verde, e a cidade estava em plena efervescência devido à feira das hortaliças. Eu, Pedro e Marinho chegamos com a "Carinha", uma Mitsubishi Fuso carregada com diversos produtos frescos da fazenda. A feira estava repleta de barracas e estandes coloridos, e o aroma dos produtos frescos e das especiarias preenchia o ar.
Pedro e Marinho começaram a montar o estande e organizar os produtos, enquanto eu me afastei um pouco para explorar a feira e verificar as oportunidades para melhorar a visibilidade de nossos produtos. Estava à procura de possíveis compradores e parcerias quando avistei um homem com um ar distinto, que imediatamente me chamou a atenção. Era o mesmo homem que eu havia visto em Belo Monte, perguntando sobre café.
Meu coração acelerou. Sem pensar duas vezes, comecei a correr na direção dele, ignorando as perguntas de Pedro e Marinho sobre onde estava indo. A correria, no entanto, não foi suficiente para alcançar o homem, que estava se afastando rapidamente entre a multidão. Cansada e sem sucesso, fui até uma barraca próxima, onde pedi um café e água para recuperar o fôlego.
Enquanto aguardava, percebi que o homem se sentou em uma mesa próxima. Nossos olhares se cruzaram, e o reconhecimento foi instantâneo. Ele me observava com interesse, o que me fez sentir uma mistura de ansiedade e determinação. A atendente trouxe o café e a água, e eu comecei a beber meu café enquanto tentava decidir como abordar o homem.
Foi então que o homem chamou a atendente e perguntou sobre mim:
— Quem é aquela garota? — sua voz carregava uma curiosidade misturada com uma certa desconfiança.
Eu, que ouvi a pergunta, não deixei a moça responder e decidi tomar a iniciativa. Levantei-me e caminhei até a mesa do homem, meu passo firme e decidido.
— Por que não pergunta diretamente a garota? — disse eu, enquanto puxava uma cadeira e me sentava à mesa.
O homem levantou os olhos, olhando-me com um sorriso intrigado.
— Meu nome é Anaya Lemos Monteiro. Sou uma fazendeira e tenho aquilo que você está procurando, — disse eu com firmeza.
O homem arqueou uma sobrancelha, claramente interessado, mas também um pouco cético.
— E o que é que eu estou procurando, senhorita? — perguntou ele, mantendo um tom de curiosidade calculada.
Eu olhei diretamente para ele e, com uma confiança que eu não sabia que possuía, respondi:
— Oro negro.
O homem sorriu, e um brilho de interesse surgiu em seus olhos. Ele fez um breve estudo e análise de mim, antes de perguntar:
— Desculpe, como mesmo a senhorita se chama?
Senti uma onda de frustração. Levantei-me abruptamente e, com um tom firme, disse:
— Desculpe, não converso com quem não me leva a sério. O meu nome foi uma das primeiras coisas que eu disse.
Sem esperar pela resposta, saí em passos decididos e voltei até o estande onde Pedro e Marinho estavam. Marinho, sempre com seu jeito protetor, notou minha expressão tensa e perguntou:
— Onde você foi?
— Só fui tomar um café — respondi, tentando esconder a frustração.
Marinho, com seu habitual senso de humor, brincou:
— Então, você saiu aqui enquanto a gente trabalhava, só para tomar café?
Pedro, que estava organizando o último repolho, interveio com um tom mais sério:
— Marinho, a Anaya é nossa chefe, e deve ser respeitada.
Marinho, no entanto, não se deixou abater e replicou:
— Chefe? Se ela não consegue cuidar da própria vida, como é que pode ser chefe?
A provocação de Marinho me atingiu profundamente, e senti uma pontada de dor. Antes que pudesse responder, uma voz atrás de mim chamou:
— Senhorita Monteiro?
Eu me virei rapidamente e vi um homem com um terno bem cortado e um sorriso amigável. Ele se apresentou:
— Meu nome é Rafael. Meu patrão gostaria de falar com a senhorita.
Marinho, sempre no papel de protetor, interveio imediatamente:
— Quem é o seu patrão que não pode vir até aqui?
Rafael, mantendo a calma, respondeu:
— Quem é você para perguntar isso?
Pedro interveio, tentando apaziguar a situação:
— Somos amigos da senhora Monteiro.
Eu, percebendo a tensão, decidi intervir:
— Parada aí, rapazes. Não precisam deixar o senhor dessa forma. Rafael, aonde está o seu patrão?
Rafael indicou que eu o acompanhasse. Curiosa e um pouco nervosa, segui Rafael até uma área da feira que parecia mais exclusiva, com estandes sofisticados e um ambiente mais elegante. Ao entrar, fiquei impressionada com a variedade e a qualidade dos produtos expostos. Murmurei para mim mesma:
— Meu Deus! Eu estou aqui. Não acredito que poderia sair daqui sem ver essa beleza toda.
Rafael me conduziu até um estande de automóveis, onde o mesmo homem estava sentado com outros três homens. Eles pareciam ter saído de uma revista de moda masculina. Rafael anunciou:
— Dom Cabral, aqui está a senhorita Monteiro.
Dom Cabral olhou para mim com um sorriso que misturava ironia e reconhecimento. Ele então apresentou-me aos seus amigos:
— Este é Anaya Lemos Monteiro, e ela tem aquilo que estamos procurando, não é mesmo, Anaya?
Os outros homens olharam para mim com um misto de curiosidade e julgamento. Eu, determinada a fazer uma boa impressão, puxei uma cadeira e me sentei sem esperar por uma formalidade. Peguei um copo de whisky que foi oferecido e tomei um gole. A sensação do álcool queimando minha garganta fez-me perceber que estava, de fato, experimentando whisky pela primeira vez.
— Puta merda! Como eles conseguem beber isso? — murmurei para mim mesma, sem mostrar a fraqueza.
Dom Cabral, que parecia ter notado meu desconforto, disse:
— Então, senhorita Monteiro, você tem café que não acaba nunca na sua fazenda?
Eu, tentando manter a compostura, confirmei:
— Sim, tenho café armazenado há anos.
Os homens ficaram céticos. Questionaram a viabilidade de ter café de qualidade, já que era um período em que muitos produtores enfrentavam problemas com pragas e falta de compradores. Um dos homens até questionou minha idade e minha experiência.
Foi então que eu me dei conta de que estava no meu aniversário. Com um suspiro, exclamou:
— Puta merda! Como eu pude esquecer? Hoje é meu aniversário. Faço 19 anos.
A revelação foi recebida com um misto de surpresa e ceticismo. Eu, determinada a provar meu valor, retirei um punhado de grãos de café do bolso e espalhei-os sobre a mesa. Os homens começaram a examinar os grãos com interesse.
Dom Cabral, notando a crescente inquietação dos seus colegas, disse:
— Não duvidem. Se a senhorita Monteiro for embora, perderemos uma grande oportunidade.
Os homens começaram a se convencer da qualidade do café. Discutiram entre si e revelaram que estavam em busca de um fornecedor de café para uma grande empresa, a **Café Imperial Ltda.**, que se especializava em exportação de cafés gourmet para mercados internacionais. Eles estavam dispostos a pagar um preço justo, considerando a época e a qualidade do produto.
Ouvi atentamente enquanto eles detalhavam suas necessidades e as condições de pagamento. Mencionaram que estavam dispostos a assinar um pré-acordo mesmo sem ver o produto, prometendo bônus substanciais se o negócio fosse fechado. Aceitei assinar o pré-acordo, com a condição de que eles visitariam a fazenda na semana do Natal.
Antes de sair, Dom Cabral chamou-me:
— Senhorita Monteiro, onde está hospedada? Gostaríamos de celebrar este pré-acordo à noite.
Respondi que ainda não tinha providenciado a hospedagem. Dom Cabral então ofereceu que eu fosse sua convidada. Ele pediu a Rafael que cuidasse dos detalhes, garantindo que eu tivesse um lugar confortável para ficar.
Com o coração acelerado e uma sensação de realização, saí do estande. A vitória parecia quase surreal, uma pré-vitória que trouxe um novo ânimo para enfrentar os desafios à frente. Eu estava ansiosa para a visita dos compradores à fazenda e para o futuro promissor que agora se desenhava à minha frente.
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Atualizado até capítulo 22
Comments
Lucilene Palheta
só espero que não sejam os sombras por trás disso que ódio deles
2024-12-09
1
Irá
Nossa até q em fim achei alguém comentando que naonfosse só eu kkkkkkkk
2025-01-09
1
Aureca's
Anaya agora vai fazer sucesso, parabéns autor história bacana!💖
2024-10-09
2