Capítulo 16

"É hora", pensou Ansel enquanto se levantava, com o coração batendo um pouco mais rápido do que o normal. O momento crucial do plano havia chegado, e embora tentasse manter a calma, o nervosismo o traía. Saiu da sala de aula atrás de seus colegas, que já haviam saído para o intervalo, e encontrou Evan esperando no corredor. Ao seu lado estava Edgar, o garoto que os ajudaria com a farsa.

—Edgar, este é Ansel, meu amigo —apresentou Evan com um sorriso confiante. Edgar deu um passo à frente e bateu o punho com Ansel de maneira amigável.

—Está nervoso? —perguntou Ansel, embora na realidade fosse ele quem estava tremendo por dentro.

—Não, de jeito nenhum. Estou estudando atuação, então isso me cai bem como prática —respondeu Edgar com naturalidade. Ansel assentiu, tentando se contagiar com a calma de seu novo aliado.

—Vamos então —disse Ansel, liderando o caminho até o refeitório.

Enquanto caminhavam pelo corredor, Ansel não conseguia evitar sentir-se invadido pela dúvida. "Será que isso realmente vai funcionar?", perguntava-se repetidamente. Sabia que o plano era arriscado, mas a ansiedade de não saber o que Emmett realmente sentia por ele o havia empurrado a tomar medidas extremas. No entanto, no mais profundo de seu ser, temia que as coisas não saíssem como havia imaginado.

Ao chegar ao refeitório, os olhos de Ansel percorreram o lugar em busca de seus amigos. Não demorou muito para encontrá-los. Emmett estava de pé, explicando algo animadamente para os outros, com seu característico sorriso encantador. O coração de Ansel deu um salto ao vê-lo, e uma onda de nervosismo percorreu seu corpo. Seu plano havia começado no dia anterior, mas aquele momento era crucial.

—Ansel —cumprimentou Alex do outro lado da mesa, chamando sua atenção.

Emmett, que estava de costas, se virou para cumprimentá-lo também, mas sua expressão mudou radicalmente ao ver Evan e Edgar acompanhando Ansel. Seu sorriso habitual desapareceu em um segundo, e seus olhos azuis, que costumavam ser calorosos, se tornaram frios como gelo. A atmosfera se tornou tensa imediatamente.

—Pessoal, estes são Ronan, Alex e Emmett —disse Ansel, tentando quebrar a tensão. Apontou para seus amigos um a um—. Eles são Evan e Edgar.

Evan, desconfortável sob os olhares penetrantes de Emmett e Ronan, simplesmente levantou a mão em um cumprimento tímido. Edgar, por outro lado, deu um passo à frente e, sem aviso prévio, passou o braço pelo pescoço de Ansel de maneira despreocupada. Se inclinou ligeiramente sobre ele, fazendo contato visual direto com Emmett, cujo rosto refletia uma crescente irritação.

—E aí, Emmett, como vai? —perguntou Edgar com um sorriso que destilava confiança, enquanto levantava o punho para cumprimentá-lo com um gesto casual.

Mas Emmett não se moveu. Seus olhos estavam fixos no braço de Edgar, que descansava sobre os ombros de Ansel. A tensão era palpável, e Emmett, claramente incomodado, afastou bruscamente a mão de Edgar e, com um movimento rápido, puxou Ansel para si, abraçando-o com uma força incomum. Ansel, surpreso, sentiu como o aperto de seu amigo era mais forte do que o necessário, quase doloroso. Seu coração começou a bater com mais força, não apenas pela proximidade, mas pela evidente fúria que emanava de Emmett.

—Bem antes de você aparecer —respondeu Emmett de forma ríspida, seu tom impregnado de uma hostilidade contida. A tensão em seu maxilar era visível, e seus olhos, que agora tinham um brilho de possessividade, não paravam de olhar para Edgar.

—Não seja tão ciumento, eu também quero ser amigo dele —respondeu Edgar com um sorriso desafiador, sem recuar diante do olhar ameaçador de Emmett. Em seguida, dirigiu sua atenção para Ansel—. Não vai dizer nada?

Ansel ficou paralisado. Embora tudo aquilo fizesse parte de seu plano, a intensidade da situação o havia superado. A expressão de Emmett não era apenas de ciúmes; era de uma fúria contida que Ansel não havia previsto. O aperto em seu braço estava começando a doer. Com um pequeno esforço, conseguiu se afastar de Emmett.

—Vamos comer —murmurou, sua voz um pouco trêmula—. Emmett, eles também são meus amigos.

Emmett, evidentemente irritado, se sentou de má vontade, lançando um último olhar de advertência para Edgar antes de mergulhar em um silêncio constrangedor. Ansel, por sua vez, respirou fundo e se sentou ao lado dele, enquanto Evan se acomodava do outro lado da mesa e Edgar ao seu lado. Ansel sentia um nó no estômago. "É isso que eu realmente queria?", perguntou-se, observando de soslaio Emmett, cujo maxilar ainda estava tenso. Não era a reação que havia esperado. Sim, queria despertar ciúmes nele, mas não daquela maneira tão violenta.

—E como vocês se conheceram? —perguntou Alex, tentando aliviar a tensão com um sorriso sarcástico que só Ansel pôde notar.

—Evan e eu nos conhecemos por causa de um acidente —respondeu Ansel rapidamente, lançando um olhar nervoso para Emmett. Como esperava, as sobrancelhas de Emmett se franziram ao ouvir o nome de Evan.

—Eu conheci o Ansel quando fui ver o Evan —acrescentou Edgar, com um sorriso que parecia ter um toque de zombaria—. A verdade é que o Ansel é muito legal e nós nos conectamos rapidamente. —Com esse comentário, voltou a colocar o braço sobre os ombros de Ansel—. Acho que podemos ser muito bons amigos... ou talvez algo mais, quem sabe.

O garfo na mão de Emmett se apertou com tanta força que Ansel temeu que ele o quebrasse. Edgar, notando a tensão, lançou uma última provocação:

—Ou até melhores amigos —concluiu, enquanto observava o rosto de Emmett se fechar ainda mais.

Finalmente, Emmett não conseguiu mais se conter. Se levantou abruptamente da mesa, seu rosto uma máscara de fúria contida.

—Vejo vocês depois. Se eu ficar aqui, vou ter indigestão —disparou antes de pegar sua bandeja e sair sem olhar para trás.

Ansel o viu se afastar, com o coração apertado no peito. Sua primeira reação foi se levantar e segui-lo, mas pouco antes de fazê-lo, sentiu um toque suave em seu pé. Olhou para Alex, que fez um sutil gesto com a cabeça para que ele ficasse. Hesitou por um momento, mas finalmente decidiu se sentar novamente. Apertou as mãos sob a mesa, contendo o impulso de correr atrás de Emmett. Sabia que Alex tinha razão; segui-lo naquele momento só pioraria as coisas.

O clima na mesa ficou pesado por alguns minutos, mas logo Edgar, com seu carisma habitual, conseguiu que a conversa fluísse novamente. No entanto, Ansel não conseguia parar de pensar na expressão no rosto de Emmett ao ir embora. "O que eu fiz?", repetia para si mesmo várias vezes, com o peso da dúvida cada vez mais presente em seu peito.

Ansel estava em sua última aula do dia. Não conseguia evitar olhar repetidamente para o relógio na parede, contando os minutos que faltavam para o término da aula. Sua mente não parava de pensar na ideia de passar um tempo com Emmett. Queria convidá-lo para comer ou simplesmente passar um tempo a sós, como costumavam fazer. No entanto, algo o deixava inquieto: a maneira tão familiar com que Emmett havia falado com Edgar ainda o intrigava. Será que eles já se conheciam? Essa sensação não saía de sua cabeça desde seu último encontro.

Quando o professor finalmente terminou a aula, Ansel recolheu suas coisas às pressas e saiu da sala apressado, ansioso para encontrar Emmett. Enquanto caminhava rapidamente pelo corredor, sentiu uma mão firme que o deteve. Ao se virar, deu de cara com Edgar, que o segurava pelo braço. O contato repentino os deixou muito próximos um do outro, o que fez Ansel recuar quase que imediatamente.

—Está com pressa? —perguntou Edgar com um sorriso que não conseguia esconder sua intenção, dando um passo em sua direção.

Ansel, sem jeito, recuou um pouco mais, aumentando a distância entre eles.

—O Emmett está me esperando... então, preciso ir —respondeu Ansel, tentando soar firme, mas o nervosismo em sua voz era evidente.

Antes que pudesse continuar falando, seu telefone vibrou no bolso. O nome de Emmett apareceu na tela, o que lhe deu um leve suspiro de alívio da situação tensa. Sem pensar duas vezes, atendeu a chamada, esperando ouvir a voz de seu amigo, mas para sua surpresa, Emmett não lhe deu tempo nem para cumprimentá-lo.

—Ansel, não precisa me esperar. Vou sair com um novo amigo, a gente se vê amanhã —disse Emmett rapidamente antes de desligar abruptamente.

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