CAPÍTULO 3

Mudei-me para Nova York, em um bairro tranquilo longe do centro. Embora não haja muitas casas por aqui, amo a privacidade de morar sozinha, sempre gostei de ter meu espaço e evitar barulho excessivo. A leitura sempre foi minha paixão, me perco em mundos imaginários através das páginas dos livros.

  Olhando-me no espelho antes de sair, admiro meu rosto com a maquiagem bem feita — meu nariz é empinado e nada mal para alguém com apenas 19 anos. Nunca tive problemas com autoestima, sempre me considerei bonita e meu rosto possui os traços certos.

  Como hoje é uma ocasião mais sofisticada no cassino, optei por este vestido curto, confesso que não sou fã de chamar atenção, mas também não tinha muitas outras opções no armário. Solto um suspiro aliviado enquanto pego minha bolsa com documentos e celular, fechando a porta atrás de mim.

  Do lado de fora, espero pelo carro dela no portão de grade. As árvores balançam ao vento gelado que percorre minha pele, fazendo-me cruzar os braços para me aquecer.

  Já passa das dez horas e nada dela ainda, a preocupação começa a me consumir. Olho em volta com receio de que algo possa acontecer — o escuro da noite só é iluminado pela lua cheia.

  Um som estranho ressoa no meio da estrada vazia: um pássaro morto? O que é isso? 

  Sinto um arrepio ao perceber uma presença ao meu redor, estou completamente sozinha ali esperando por minha amiga que parece nunca chegar.

  Novamente olho para o céu onde os pássaros voam apressados, um frio na espinha me invade.

  Fecho os olhos com medo e ao abri-los novamente vejo um carro passar em alta velocidade — cada fio do meu cabelo castanho se ergue com o susto.

  Num primeiro momento pensei que fosse Martina, mas ela jamais passaria tão rápido assim. Uma série de pensamentos bizarros invade minha mente, nesta rua onde moro é raro ver carros à noite, especialmente nesse horário. Essa ideia só aumenta minha paranoia.

  — Achei que você nunca ia chegar! – brinquei, observando Martina estacionar seu carro. Ela desembarcou com um sorriso radiante no rosto.

  — Houve um pequeno atraso, mas jamais te deixaria esperando, amor. – Ela selou o cumprimento com um beijo suave na minha bochecha, e o aroma do seu perfume invadiu minhas narinas.

  Olhei para o seu look: um vestido vermelho lindo que acentuava sua beleza, com uma maquiagem vibrante que destacava seus lábios vermelhos, perfeitamente coordenados com a roupa.

  — Você está maravilhosa! – exclamei.

  — Não, você é quem está incrível! Esse vestido ficou perfeito em você, tenho certeza de que vários homens vão ficar sem fôlego ao te ver. – Ela riu enquanto caminhava em direção ao carro, e eu a segui.

  Logo entrei no banco do carona, bati a porta e coloquei o cinto de segurança às pressas. Estávamos prestes a nos dirigir ao tão sonhado cassino.

  — Na próxima vez, alugue uma casa mais perto! Amiga, tive que andar quase dez quilômetros para chegar aqui. – Ela sorriu de maneira irônica.

  — Não exagera, Martina. Eu gosto daqui e da privacidade de morar sozinha. – Respondi, vendo-a revirar os olhos.

  — Privacidade? Sua casa é tão assombrada que nem sozinha você está, e sim, com espíritos! – Ela soltou uma risada após fazer a afirmação.

 — Espíritos? Fala, sério! – retruquei.

 — É sério, você não tem vizinhos e mora no meio do nada, literalmente!

  O silêncio tomou conta do carro enquanto eu a observava dirigir calmamente. A paisagem se desenrolava pela janela: apenas árvores se erguendo na escuridão da noite.

  Meu olhar foi atraído para o retrovisor, onde vi o mesmo carro de antes passando em alta velocidade. Um arrepio percorreu minha nuca. Não pode ser... Repeti para mim mesma em pensamento.

  Aquele homem deve estar nos seguindo. Como vou explicar para Martina que vi aquele carro minutos atrás?

  — Martina... – resmunguei seu nome quase em um sussurro, tamanha era a fraqueza da minha voz.

  Observei o carro se movendo lentamente atrás de nós, como se estivesse atrás de algo. Faltava quase uma hora e meia até a cidade, isso iria demorar demais. Isso não pode estar acontecendo.

  — O que foi? – ela perguntou calmamente enquanto dirigia, sem perceber a presença ameaçadora atrás de nós.

  — Esse cara atrás... - murmuro, mal conseguindo articular as palavras. - Ele... Ele está nos seguindo.

 — O quê? Como assim? - Martina responde, sua atenção dividida entre o volante e a estrada à frente.

 — Isso mesmo! Eu vi esse carro passar em alta velocidade. - Afirmo, o medo pulsando em mim, enquanto observo Martina suar e suas mãos tremendo no volante.

  — Você só pode estar brincando! É sério, mesmo? - Ela grita, o terror evidente em sua voz, fazendo o arrepio percorrer minha espinha.

  — Sim, é verdade. Não estou mentindo,nunca diria algo assim se não fosse real... - Digo, encostando-me no vidro do carro e mantendo o olhar fixo em Martina. A única luz que se via era a do farol do carro iluminando a rua deserta.

  — Porra! Você quer me matar do susto? Isso deve ser coisa da sua cabeça, Elizabeth! - Ela tenta negar o que digo, mas sei que não é loucura, ele está atrás de nós, avançando lentamente. Mais cedo, estava rápido demais, como se estivesse nos perseguindo de verdade.

  — Eu já disse que não estou mentindo! Merda! Apenas acredita em mim e vamos manter a calma. - Falo, tentando acalmá-la naquele momento crítico.

  — Não pode ser... O que ele quer de nós? Nos sequestrar? Nos abusar? - Ela exclama, os olhos cheios de medo.

  Eu também gostaria de saber. Meu corpo todo tremia, só queria que chegássemos logo a um lugar seguro, mas parecia que levaria uma eternidade.

  — E agora? O que fazemos? - Pergunto, na esperança de encontrarmos uma saída.

  — Tenta ligar para alguém, eu não sei... - Ela responde nervosa, refletindo meu próprio estado de ansiedade.

Tento discar um número ou até mesmo encontrar um sinal, mas sem sucesso. Estamos isoladas em uma rua deserta, apenas com um louco atrás de nós.

— E se ele quiser nos matar? - Martina pergunta com voz trêmula.

— Só mantenha a calma e dirija sem olhar para trás. - Tento acalmá-la. Ela respira fundo e faz o que peço.

Mas o homem começa a buziná-la repetidamente com seu veículo, aumentando nosso pânico.

— O que ele quer? - Martina grita desesperada.

— Eu também, não sei... - Respondo nervosa, sentindo as lágrimas ameaçarem escorregar pelo meu rosto.

As lágrimas descem como se tivessem vontade própria, inundando meu rosto rosado.

Vejo Martina tremendo e apavorada como eu. Imaginar estar à mercê de um psicopata é aterrorizante, eu não queria mais passar por isso nunca mais.

A única coisa que desejo é abrir a porta do carro e correr para longe de tudo, e todos, gritar e chorar até me sentir livre novamente.

A tristeza invade meu coração, preenchendo cada parte com lembranças sombrias do meu passado.

Olho para frente e vejo um animal atravessando a rua calmamente, parece ser um gambá. Em vez de frear, Martina continua olhando para trás, focada em algo que não deveria.

— Martina! CUIDADO! Você vai atropelar o animal! - Berro, meus olhos arregalados com o pânico.

— Droga! - Ela grita ao perceber tarde demais. Tentou frear, mas foi inútil. O carro quase capotou ao colidir com um tronco de árvore e saiu da pista. O animal... bem, não quero nem pensar no que aconteceu com ele.

[....]

Acordo, atordoada. Acaricio minha cabeça, sentindo a dor pulsar, e quando olho para minha mão, vejo manchas de sangue. Percebo que meu rosto colidiu com o vidro do carro, deixando um leve ferimento.

Ainda confusa, esforço-me para recordar o que aconteceu. As memórias vêm à tona: Martina distraída ao volante, o carro colidindo com um tronco de árvore e o pobre animal que não tinha culpa alguma perdendo a vida.

Continuo acariciando meus cabelos e a cabeça dolorida. Olho para o lado, em busca de Martina. Ela está com a cabeça caída sobre o volante, seus cabelos negros cobrindo seu rosto. 

Meu coração acelera, a preocupação me invade e meu nervosismo aumenta. E se algo acontecer com ela? Eu nunca me perdoaria. Ela precisa estar viva, por mim. Eu preciso dela viva.

— Por favor, Martina, acorda! — imploro, com medo. Não posso permitir que ela morra aqui, isso não pode acontecer. Ela precisa despertar. Não posso ficar sozinha nesse matagal...

— Por favor, acorda! Eu imploro!— digo, batendo levemente em seus ombros. Estou nervosa e apavorada, não sei o que fazer. Nunca estive em uma situação como essa e nunca imaginei que minha melhor amiga poderia sofrer um acidente assim bem na minha frente. Não quero vê-la partir.

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Comments

Luciana Souza

Luciana Souza

mas cadê o grande amor pra ela

2024-09-10

1

Neide Cosmo

Neide Cosmo

sua história é muito boa autora

2024-09-03

1

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