CAPÍTULO 2

Logo ela liga o auto-falante e coloca uma música internacional que ecoa pela cozinha. As gargalhadas saem soltas, como se fizesse séculos que não saíamos juntas.

  — Vem, doida! - Ela me puxa pelo braço enquanto eu ainda ria. Dançamos juntas como duas loucas, rebolando nossos bumbuns e nos mexendo de um lado para o outro. 

  Em um momento de descuido, caio no chão, já bêbada de tanto vinho e exausta de dançar tanto. Sinto meu corpo todo suado ao olhar para Martina ao meu lado no chão, rindo como uma maluca. Só poderia ser ela! Sorrio, Martina sempre foi divertida e alegre, sempre tentando arrancar um sorriso do meu rosto.

  Ela logo se levanta cambaleando, e eu a observo.

  — Vamos fazer um brinde à nossa amizade e ao fato de que agora podemos ficar milionárias! - Ela sorri, olhando para mim caída no chão.

  — Vem! - insiste ela, puxando-me pelo braço para me ajudar a levantar. Logo estou em pé, rindo da sua ajuda.

  — Um brinde!

  — Um brinde! - repito, rindo enquanto batemos nossas taças uma na outra. 

  Em seguida, a abraço, ela retribui meio tonta e quase caímos novamente no chão, mas conseguimos nos segurar no balcão.

  — Eu te amo, amiga! - ela diz, e eu sorrio.

  — Eu também! - respondo.

  — Quando você vai se mudar dessa casa e morar comigo em Queens em Nova York? - pergunta ela, com um olhar curioso.

  — Eu não sei... já te disse que gosto daqui.

  Ela faz uma cara feia. — Tá brincando?

  Sorrio. — É sério.

  — Muda de ideia, por favor! Essa sua casa parece mais assombrada, você precisa viver comigo em Queens. Lá é bem melhor!

  Eu sorrio pela sua gentileza.

  — Obrigada, amiga! Mas está tudo bem, estou ótima morando aqui.

  Ela sorri com as bochechas rosadas, por conta da bebida e do calor que sente.

  — Espero mesmo, que sim! Não minta pra mim, Elizabeth. Agora preciso ir, tenho que trabalhar na boate como garçonete. Te busco hoje às dez? - Ela diz enquanto pega sua bolsa sobre minha mesa.

  Dirigi-me em direção à porta, pronta para abri-la para Martina, que estava prestes a sair.

  — Tchau, amiga! Me busca às dez, estarei te esperando.

  — Tá bom, beijos, minha gata! — Ela respondeu, despedindo-se com um beijo na bochecha. Eu retribuí o gesto, envolvendo-a em um abraço caloroso.

  — Só toma cuidado para não bater o carro. Cuide-se para chegar em Queens, em segurança! — Falei, segurando a porta enquanto a observava caminhar cambaleando em direção ao automóvel.

  — Pode deixar! Não vou bater meu carro, eu prometo... Droga... Mas cadê a maçaneta? Ah, está aqui... — Escutei ela dizer de longe, tentando abrir a porta do carro de maneira atrapalhada. Não consegui conter o riso diante de seu jeito desastrado.

  Martina trabalha em uma boate muito famosa em Queens de Nova York e está sempre rodeada de homens ricos. 

  Ela adora os milionários que fazem com que sua vida seja cheia de aventuras e um dinheiro extra quando se entrega a eles. 

  Eu sou completamente diferente, não me vejo nesse nível. Namorei apenas uma vez com Henry e tive alguns encontros esporádicos, mas desde o ensino médio não me relacionei com mais ninguém. Isso pode parecer estranho. 

Acenei para ela com um "tchauzinho" enquanto ela buzinava ao se afastar. Assim que desapareceu do meu campo de visão, fechei a porta da minha casa, respirando aliviada por não ter encontrado um sequestrador ou algo do tipo. Apoiei-me na porta e fui fazer algo útil da minha vida.

  Amo ser escritora, sempre gostei de ler e tive uma imaginação muito fértil. Espero concluir minha faculdade ainda este ano, se tudo correr bem e nada de ruim acontecer.

  Martina sempre foi minha melhor amiga desde o colegial, ela me conhece praticamente por completo. Quase nascemos juntas. Ela foi como uma mãe e uma irmã que eu nunca tive, sempre me apoiando em tudo, especialmente quando meus pais me abandonaram e ignoraram minha existência.

  Morei com minha mãe por um tempo, mas a situação com meu padrasto era insustentável. Ele era agressor e abusador, e suas ações comigo e com ela eram horríveis. Isso me deixou traumatizada. Minha mãe nunca quis deixá-lo por medo do que ele poderia fazer conosco.

  Minha mãe, Natália Miller, é uma mulher forte e determinada. Seus cabelos, que têm mechas loiras, são bem diferentes dos meus, e seus olhos azuis transmitem uma intensidade única. 

  Atualmente, ela vive em Orlando na Flórida com Jacob, meu padrasto. Desde a infância, sempre senti que ela não nutria carinho por mim, seu comportamento era peculiar, como se eu não fosse realmente sua filha. 

  Nenhuma mãe deveria tratar seus filhos dessa maneira, o que me deixou cheia de curiosidade e inquietude. Eu acreditava que ela deveria ser uma mãe mais presente e amorosa, especialmente considerando as ameaças de agressão que Jacob fazia a nós.

  Eu sempre me colocava entre minha mãe e Jacob, um homem alto, de corpo robusto, não muito magro, com olhos verdes claros e cabelos castanhos bagunçados. Ele sempre foi agressivo, envolvido com drogas, e quando chegava em casa embriagado, descontava sua raiva em nós. Eu sempre defendi minha mãe, mas parecia que isso não era suficiente para que ela me aceitasse como sua filha.

  Meu pai nos abandonou quando eu era apenas uma criança, o que gerou em mim um profundo ressentimento. 

  Lembro-me claramente do dia em que ele pegou suas malas e deixou nosso lar sem explicar nada. Até hoje busco entender essa decisão, mas não consigo. Só de pensar na dor que ele nos causou, sinto um aperto no coração. Chorei tanto ao vê-lo partir sem sequer olhar para mim, eu o amava. Recordo com carinho como ele me fazia rir e como me defendia nas discussões com minha mãe.

  Seu nome é Charles Cooper, e não faço ideia de onde ele esteja agora ou se ainda está vivo. Contudo, anseio reencontrá-lo para questioná-lo sobre aquele dia e sobre o motivo de nos abandonar sem explicações. Talvez haja uma razão que eu desconheça, mas quero muito descobrir.

  Ele nos deixou desamparadas, as contas começaram a se acumular e minha mãe teve que enfrentar tudo sozinha. Sempre que eu tocava nesse assunto, ela mudava de expressão ou ficava irritada, nunca quis compartilhar nada sobre meu pai.

  Enquanto olho para uma foto antiga em que estou no colo dele, sorrindo durante a infância, sinto uma mistura de saudade e tristeza. Ele tinha olhos castanhos cor de mel iguais aos meus e cabelos castanhos escuros lisos. 

  Seu sorriso na imagem é radiante, assim como o meu. Lembro-me dos dias em que ele acordava cedo para trabalhar e me levava à escola. Ele costumava fazer exercícios todas as manhãs, correndo com uma roupa cinza de moletom, nunca aparentou ser um homem envolvido com drogas como Jacob. 

  Sempre pareceu calmo e trabalhador. Até hoje não entendo por que nos deixou. Uma onda de nostalgia me invade, acompanhada de tristeza e angústia.

  A foto está guardada em cima da escrivaninha, ao lado de um abajur que ilumina minhas memórias. A saudade dele é imensa, eu só queria vê-lo novamente. Talvez ele ainda esteja morando na Flórida em algum lugar... só preciso reencontrá-lo, pois ele é a única família verdadeira que tenho — minha mãe parece não se importar comigo.

  [....]

    "Já estou a caminho de te buscar, amiga! Me espera no portão, gata."

  Recebo a mensagem de Martina no meu celular. Já me arrumei para o tão aguardado cassino, aquele lugar que ela tanto insistiu para que eu fosse. Não sei por quê, mas uma sensação estranha me invadia, algo ruim parecia prestes a acontecer.

  Estou vestindo um vestido preto curto e decotado, que realça as curvas do meu corpo. Não sou fã de roupas tão curtas, definitivamente não é o meu estilo. Apesar de não ter uma autoestima baixa, vejo meu corpo como mediano — nem muito magra, nem muito acima do peso — apenas dentro dos padrões normais de uma mulher.

  Sempre ouvi comentários e sussurros sobre mim, principalmente na escola, onde alguns garotos me olhavam com malícia e curiosidade, assobiando como se desejassem algo mais. 

  Isso sempre me deixou desconfortável e constrangida. Sempre fui tímida e reservada, mantendo-me à parte na escola, sem muitas amizades. Sou morena, diferente da minha amiga Martina, que é branca. Ela foi minha primeira amiga na escola e com quem compartilhei todos os meus segredos.

  Martina é completamente oposta a mim: 

  Extrovertida e cheia de energia, adora se divertir em grupos grandes, ir a festas e bailes. Graças a ela, conheci Jack e Emily, que também se tornaram meus amigos mais próximos. 

  Infelizmente, acabamos nos afastando por conta da distância e até hoje não sei muito sobre eles, soube apenas que estão namorando através da Martina.

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Luciana Souza

Luciana Souza

quem sera que tava no carro, buzinando

2024-09-10

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