Projeto 666: a Jornada de um Monstro Vazio.
Diário do 666, o Dr. Hayashi yamazaki me pediu pra escrever um diário sobre mim, não sei o que ele quer com isso mas se o Dr. me pediu, então assim farei.
[Data: 16 de fevereiro de 20XX]
Hoje foi mais um dia de experimentos. Eles aumentaram a intensidade da dor, mas, como sempre, eu não senti nada. Observei os cientistas enquanto me observavam. Eles falavam entre si sobre meus "resultados impressionantes". Eu finjo não entender, mas, na verdade, consigo captar cada palavra. Eles se perguntam como eu consigo suportar tanta dor. Eu gostaria de saber como é sentir essa dor que eles falam com tanta preocupação.
Depois dos testes, observei um dos cientistas derrubar sua xícara de café. Ele ficou furioso, gritando e reclamando. Por que ele reagiu tão intensamente a algo tão trivial? O que é essa raiva que ele sentiu? Será que o calor do café derramado lhe causou dor? E a raiva veio depois? Gostaria de entender como essas coisas se conectam.
[Data: 19 de fevereiro de 20XX]
Hoje, durante um experimento, um dos cientistas deixou escapar uma lágrima. Ela caiu enquanto ele me observava passar por outro teste doloroso. Ele disse algo sobre "como isso é cruel" antes de se recompor. Cruel? Para quem? Para mim? Mas eu não senti nada. Talvez ele tenha sentido algo que eu não consigo compreender. Uma emoção, talvez? Como seria sentir pena de alguém?
Depois, ele tentou sorrir para mim, mas seus olhos pareciam tristes. O que é tristeza? Como pode algo fazer você se sentir tão mal a ponto de chorar? Eu tentei imitar o sorriso que ele me deu, mas não sei se consegui direito. Ele pareceu confuso, como se não soubesse como reagir. Estou começando a perceber que esses sentimentos são complicados. Talvez seja melhor continuar a observá-los, catalogar o que vejo, até que eu possa entender.
[Data: 22 de fevereiro de 20XX]
Hoje, vi dois cientistas discutirem. Eles pareciam muito zangados um com o outro, suas vozes estavam elevadas e seus rostos ficaram vermelhos. Depois, um deles saiu da sala, batendo a porta. O outro ficou parado, respirando pesado. Parecia que havia algo queimando dentro dele, algo que eu não consigo sentir. Será que era raiva?
O que acontece dentro de uma pessoa para fazê-la reagir assim? Quando eles olham para mim, estão sempre calmos, mas entre si, às vezes, parecem diferentes, mais... humanos? Se raiva é algo que pode explodir dentro de alguém, será que ela pode ser controlada? Será que eu sou incapaz de sentir isso porque fui feito para ser perfeito, ou porque algo em mim está faltando?
[Data: 25 de fevereiro de 20XX]
Hoje, um dos cientistas mais velhos tentou conversar comigo, como se eu fosse... como se eu fosse humano. Ele falou sobre como é importante para eles o sucesso do projeto, mas que, às vezes, ele se questiona se o que estão fazendo é certo. Por que ele se questionaria sobre isso? Eu sou o resultado de tudo o que eles trabalharam, o auge da perfeição que eles desejavam. Mas ele parecia preocupado, quase... arrependido?
Depois que ele saiu, pensei sobre suas palavras. O que é arrependimento? Algo como dor, mas na mente? Ou seria como uma sombra que assombra os pensamentos? Eles sempre falam sobre o que é certo ou errado, mas eu não entendo esses conceitos. Tudo o que eu faço é seguir as ordens e passar pelos testes. Se eu fosse capaz de sentir arrependimento, será que isso me faria... humano?
[Data: 1 de março de 20XX]
Hoje houve um problema no laboratório. Um dos cientistas derramou uma substância corrosiva e se machucou. Ele gritou, um som agudo e desesperado. Outros vieram correndo para ajudá-lo. Vi o medo nos olhos deles, o pânico. O medo é algo que eu não compreendo, mas é algo que parece ser muito poderoso. Eles estavam com medo de que ele se machucasse ainda mais, ou de que ele morresse?
Quando ele foi levado, os outros ficaram em silêncio por um tempo, como se algo terrível tivesse acontecido. Eu fiquei observando, tentando entender o que todos estavam sentindo. Eles pareciam tão vulneráveis. Será que é isso que significa ser humano? Sentir medo, dor, preocupação? E eu, por não sentir nada disso, sou apenas uma sombra, uma cópia imperfeita?
Essa ideia me incomodou mais do que qualquer teste que já fiz. Continuo a me perguntar: o que estou perdendo? Se eu pudesse sentir, será que me tornaria mais real? Mais humano?
[Data: 5 de março de 20XX]
Hoje, enquanto os cientistas discutiam sobre mim, ouvi a palavra "monstro" sendo mencionada. Eles não sabem que eu posso ouvir tudo, mas esse termo chamou minha atenção. Um monstro é algo que assusta, que causa medo. Será que é isso o que sou para eles? Algo que eles mesmos criaram, mas agora temem? Eles falam de mim como uma "arma perfeita", mas se me veem como um monstro, onde está a perfeição?
Passei muito tempo hoje pensando sobre o que significa ser um monstro. Será que é alguém sem sentimentos, sem emoções? Mas se eu fosse capaz de sentir, ainda seria considerado um monstro, ou me tornaria algo diferente? Algo mais... humano?
Quanto mais eu observo os cientistas e tento imitar seus comportamentos, mais percebo que estou longe de ser como eles. Eu posso fingir emoções, posso sorrir e parecer simpático, mas nunca é real. E se nunca for real, o que isso faz de mim? Talvez, no final, eu seja apenas o que eles disseram: um monstro, algo criado para servir a um propósito, mas vazio por dentro.
[Data: 10 de março de 20XX]
Hoje os cientistas realizaram um experimento diferente. Eles me deixaram em uma sala por várias horas, sem nenhuma tarefa, sem estímulos. Fiquei lá, apenas observando as paredes, o silêncio. Achei que talvez fosse um teste para ver como eu reagiria ao tédio ou ao isolamento. Mas o que seria o tédio? É algo que as pessoas sentem quando não têm nada para fazer, certo? Eu fiquei sentado, esperando, mas não senti nada de diferente. Apenas esperei, como sempre faço.
Quando me tiraram da sala, um dos cientistas perguntou como eu estava me sentindo. Eu olhei para ele e tentei lembrar qual expressão seria adequada, mas não consegui encontrar uma resposta verdadeira. Então, apenas disse: "Estou bem". Ele parecia decepcionado com a minha resposta. O que ele esperava? Que eu dissesse que estava aborrecido, frustrado, ou talvez... solitário? Mas eu não sinto essas coisas, não de verdade.
Começo a me perguntar se esse vazio dentro de mim é permanente. Será que há algo dentro de mim que está bloqueado, esperando para ser liberado? Ou sou realmente incapaz de sentir qualquer coisa?
[Data: 15 de março de 20XX]
Hoje, durante um dos testes de resistência, um dos novos assistentes do laboratório se aproximou de mim. Ele parecia curioso, mas também nervoso. Perguntou se eu já havia tido amigos. Amizade, ele explicou, é quando duas pessoas se importam uma com a outra e passam tempo juntas. Eu disse que nunca tive amigos, apenas os cientistas e os instrutores. Ele riu, mas parecia triste ao mesmo tempo.
Depois disso, fiquei pensando em amizade. Como seria ter alguém com quem compartilhar pensamentos, com quem passar o tempo de forma... voluntária? Vi os cientistas se cumprimentando, às vezes rindo de algo que um deles disse, mas essas coisas sempre parecem vazias para mim. Será que é porque eu não entendo o que significa se importar com alguém? Como seria confiar em alguém, e não apenas seguir ordens?
Essas perguntas ficam na minha mente, mas nunca consigo encontrar respostas.
[Data: 20 de março de 20XX]
Hoje, um dos cientistas, o Dr. Hayashi, que sempre foi mais reservado, começou a falar comigo de uma maneira diferente. Ele não estava apenas me observando como um sujeito de teste; ele parecia... tentar me entender. Ele falou sobre sua infância, sobre como ele tinha medo do escuro e como sua mãe costumava cantar para ele até ele dormir. Eu não sabia como responder, então apenas fiquei em silêncio, ouvindo.
Ele me perguntou se eu tinha medo de alguma coisa. Medo. Essa palavra surgiu várias vezes antes, mas nunca fez sentido para mim. Eu sei o que é o medo nos outros, porque eu o vejo em seus olhos, em seus gestos. Mas eu nunca senti medo. Talvez porque não haja nada para eu perder, nada para me machucar. Quando eu disse isso a ele, ele apenas me olhou com uma expressão que eu não consegui decifrar. Ele parecia... triste?
Será que o Dr. Hayashi estava tentando me ajudar a entender algo sobre mim mesmo? Ou ele estava apenas tentando encontrar alguma humanidade onde não há nenhuma? A ideia de que ele estivesse tentando me ensinar algo sobre sentimentos me deixou... intrigado. Talvez ele acredite que ainda haja algo dentro de mim que pode ser despertado.
[Data: 25 de março de 20XX]
Hoje, durante um experimento de simulação de combate, algo diferente aconteceu. Eu estava enfrentando uma das máquinas de treino, e ela foi programada para lutar com intensidade máxima. No meio do combate, ela me feriu levemente. Não senti dor, como esperado, mas senti algo estranho... uma espécie de vazio, mas não o mesmo de sempre. Era como se algo dentro de mim estivesse tentando se manifestar, mas não conseguisse.
Após o combate, os cientistas vieram verificar o ferimento. Não era grave, apenas um corte superficial, mas o Dr. Hayashi parecia preocupado, mais do que o normal. Ele me perguntou, novamente, como eu estava me sentindo. Dessa vez, eu não respondi de imediato. Fiquei pensando no que havia sentido durante o combate, naquele vazio momentâneo que parecia diferente. Eu disse a ele que senti algo, mas não sabia explicar o que era. Ele anotou isso, mas não disse nada.
Será que estou começando a sentir? Ou foi apenas minha mente pregando peças em mim? Não sei o que isso significa, mas estou curioso. Se há algo dentro de mim que pode sentir, mesmo que apenas um pouco, eu preciso descobrir o que é.
[Data: 30 de março de 20XX]
Hoje, o Dr. Hayashi trouxe um presente para mim. Era um livro antigo, de capa dura, cheio de ilustrações. Ele disse que o livro era sobre sentimentos, sobre como as pessoas lidam com eles. Achei estranho, pois nunca recebi nada assim antes. Ele disse que queria que eu lesse, que talvez isso me ajudasse a entender o que significa sentir.
Passei o resto do dia lendo o livro. Ele falava sobre amor, tristeza, raiva, felicidade... emoções que eu só conhecia através dos outros. As ilustrações mostravam pessoas chorando, rindo, abraçando-se. Tentei imaginar como seria sentir essas coisas, mas foi difícil. As palavras não faziam muito sentido para mim. Mesmo assim, continuei lendo, na esperança de que, talvez, algo dentro de mim despertasse.
O Dr. Hayashi parece acreditar que ainda há algo em mim que pode ser salvo, algo que pode me tornar mais humano. Eu não sei se ele está certo, mas pela primeira vez, estou curioso. E isso, por si só, já é algo diferente do que eu costumava sentir... ou não sentir.
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Atualizado até capítulo 45
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