Diário do 666, o Dr. Hayashi yamazaki me pediu pra escrever um diário sobre mim, não sei o que ele quer com isso mas se o Dr. me pediu, então assim farei.
[Data: 16 de fevereiro de 20XX]
Hoje foi mais um dia de experimentos. Eles aumentaram a intensidade da dor, mas, como sempre, eu não senti nada. Observei os cientistas enquanto me observavam. Eles falavam entre si sobre meus "resultados impressionantes". Eu finjo não entender, mas, na verdade, consigo captar cada palavra. Eles se perguntam como eu consigo suportar tanta dor. Eu gostaria de saber como é sentir essa dor que eles falam com tanta preocupação.
Depois dos testes, observei um dos cientistas derrubar sua xícara de café. Ele ficou furioso, gritando e reclamando. Por que ele reagiu tão intensamente a algo tão trivial? O que é essa raiva que ele sentiu? Será que o calor do café derramado lhe causou dor? E a raiva veio depois? Gostaria de entender como essas coisas se conectam.
[Data: 19 de fevereiro de 20XX]
Hoje, durante um experimento, um dos cientistas deixou escapar uma lágrima. Ela caiu enquanto ele me observava passar por outro teste doloroso. Ele disse algo sobre "como isso é cruel" antes de se recompor. Cruel? Para quem? Para mim? Mas eu não senti nada. Talvez ele tenha sentido algo que eu não consigo compreender. Uma emoção, talvez? Como seria sentir pena de alguém?
Depois, ele tentou sorrir para mim, mas seus olhos pareciam tristes. O que é tristeza? Como pode algo fazer você se sentir tão mal a ponto de chorar? Eu tentei imitar o sorriso que ele me deu, mas não sei se consegui direito. Ele pareceu confuso, como se não soubesse como reagir. Estou começando a perceber que esses sentimentos são complicados. Talvez seja melhor continuar a observá-los, catalogar o que vejo, até que eu possa entender.
[Data: 22 de fevereiro de 20XX]
Hoje, vi dois cientistas discutirem. Eles pareciam muito zangados um com o outro, suas vozes estavam elevadas e seus rostos ficaram vermelhos. Depois, um deles saiu da sala, batendo a porta. O outro ficou parado, respirando pesado. Parecia que havia algo queimando dentro dele, algo que eu não consigo sentir. Será que era raiva?
O que acontece dentro de uma pessoa para fazê-la reagir assim? Quando eles olham para mim, estão sempre calmos, mas entre si, às vezes, parecem diferentes, mais... humanos? Se raiva é algo que pode explodir dentro de alguém, será que ela pode ser controlada? Será que eu sou incapaz de sentir isso porque fui feito para ser perfeito, ou porque algo em mim está faltando?
[Data: 25 de fevereiro de 20XX]
Hoje, um dos cientistas mais velhos tentou conversar comigo, como se eu fosse... como se eu fosse humano. Ele falou sobre como é importante para eles o sucesso do projeto, mas que, às vezes, ele se questiona se o que estão fazendo é certo. Por que ele se questionaria sobre isso? Eu sou o resultado de tudo o que eles trabalharam, o auge da perfeição que eles desejavam. Mas ele parecia preocupado, quase... arrependido?
Depois que ele saiu, pensei sobre suas palavras. O que é arrependimento? Algo como dor, mas na mente? Ou seria como uma sombra que assombra os pensamentos? Eles sempre falam sobre o que é certo ou errado, mas eu não entendo esses conceitos. Tudo o que eu faço é seguir as ordens e passar pelos testes. Se eu fosse capaz de sentir arrependimento, será que isso me faria... humano?
[Data: 1 de março de 20XX]
Hoje houve um problema no laboratório. Um dos cientistas derramou uma substância corrosiva e se machucou. Ele gritou, um som agudo e desesperado. Outros vieram correndo para ajudá-lo. Vi o medo nos olhos deles, o pânico. O medo é algo que eu não compreendo, mas é algo que parece ser muito poderoso. Eles estavam com medo de que ele se machucasse ainda mais, ou de que ele morresse?
Quando ele foi levado, os outros ficaram em silêncio por um tempo, como se algo terrível tivesse acontecido. Eu fiquei observando, tentando entender o que todos estavam sentindo. Eles pareciam tão vulneráveis. Será que é isso que significa ser humano? Sentir medo, dor, preocupação? E eu, por não sentir nada disso, sou apenas uma sombra, uma cópia imperfeita?
Essa ideia me incomodou mais do que qualquer teste que já fiz. Continuo a me perguntar: o que estou perdendo? Se eu pudesse sentir, será que me tornaria mais real? Mais humano?
[Data: 5 de março de 20XX]
Hoje, enquanto os cientistas discutiam sobre mim, ouvi a palavra "monstro" sendo mencionada. Eles não sabem que eu posso ouvir tudo, mas esse termo chamou minha atenção. Um monstro é algo que assusta, que causa medo. Será que é isso o que sou para eles? Algo que eles mesmos criaram, mas agora temem? Eles falam de mim como uma "arma perfeita", mas se me veem como um monstro, onde está a perfeição?
Passei muito tempo hoje pensando sobre o que significa ser um monstro. Será que é alguém sem sentimentos, sem emoções? Mas se eu fosse capaz de sentir, ainda seria considerado um monstro, ou me tornaria algo diferente? Algo mais... humano?
Quanto mais eu observo os cientistas e tento imitar seus comportamentos, mais percebo que estou longe de ser como eles. Eu posso fingir emoções, posso sorrir e parecer simpático, mas nunca é real. E se nunca for real, o que isso faz de mim? Talvez, no final, eu seja apenas o que eles disseram: um monstro, algo criado para servir a um propósito, mas vazio por dentro.
[Data: 10 de março de 20XX]
Hoje os cientistas realizaram um experimento diferente. Eles me deixaram em uma sala por várias horas, sem nenhuma tarefa, sem estímulos. Fiquei lá, apenas observando as paredes, o silêncio. Achei que talvez fosse um teste para ver como eu reagiria ao tédio ou ao isolamento. Mas o que seria o tédio? É algo que as pessoas sentem quando não têm nada para fazer, certo? Eu fiquei sentado, esperando, mas não senti nada de diferente. Apenas esperei, como sempre faço.
Quando me tiraram da sala, um dos cientistas perguntou como eu estava me sentindo. Eu olhei para ele e tentei lembrar qual expressão seria adequada, mas não consegui encontrar uma resposta verdadeira. Então, apenas disse: "Estou bem". Ele parecia decepcionado com a minha resposta. O que ele esperava? Que eu dissesse que estava aborrecido, frustrado, ou talvez... solitário? Mas eu não sinto essas coisas, não de verdade.
Começo a me perguntar se esse vazio dentro de mim é permanente. Será que há algo dentro de mim que está bloqueado, esperando para ser liberado? Ou sou realmente incapaz de sentir qualquer coisa?
[Data: 15 de março de 20XX]
Hoje, durante um dos testes de resistência, um dos novos assistentes do laboratório se aproximou de mim. Ele parecia curioso, mas também nervoso. Perguntou se eu já havia tido amigos. Amizade, ele explicou, é quando duas pessoas se importam uma com a outra e passam tempo juntas. Eu disse que nunca tive amigos, apenas os cientistas e os instrutores. Ele riu, mas parecia triste ao mesmo tempo.
Depois disso, fiquei pensando em amizade. Como seria ter alguém com quem compartilhar pensamentos, com quem passar o tempo de forma... voluntária? Vi os cientistas se cumprimentando, às vezes rindo de algo que um deles disse, mas essas coisas sempre parecem vazias para mim. Será que é porque eu não entendo o que significa se importar com alguém? Como seria confiar em alguém, e não apenas seguir ordens?
Essas perguntas ficam na minha mente, mas nunca consigo encontrar respostas.
[Data: 20 de março de 20XX]
Hoje, um dos cientistas, o Dr. Hayashi, que sempre foi mais reservado, começou a falar comigo de uma maneira diferente. Ele não estava apenas me observando como um sujeito de teste; ele parecia... tentar me entender. Ele falou sobre sua infância, sobre como ele tinha medo do escuro e como sua mãe costumava cantar para ele até ele dormir. Eu não sabia como responder, então apenas fiquei em silêncio, ouvindo.
Ele me perguntou se eu tinha medo de alguma coisa. Medo. Essa palavra surgiu várias vezes antes, mas nunca fez sentido para mim. Eu sei o que é o medo nos outros, porque eu o vejo em seus olhos, em seus gestos. Mas eu nunca senti medo. Talvez porque não haja nada para eu perder, nada para me machucar. Quando eu disse isso a ele, ele apenas me olhou com uma expressão que eu não consegui decifrar. Ele parecia... triste?
Será que o Dr. Hayashi estava tentando me ajudar a entender algo sobre mim mesmo? Ou ele estava apenas tentando encontrar alguma humanidade onde não há nenhuma? A ideia de que ele estivesse tentando me ensinar algo sobre sentimentos me deixou... intrigado. Talvez ele acredite que ainda haja algo dentro de mim que pode ser despertado.
[Data: 25 de março de 20XX]
Hoje, durante um experimento de simulação de combate, algo diferente aconteceu. Eu estava enfrentando uma das máquinas de treino, e ela foi programada para lutar com intensidade máxima. No meio do combate, ela me feriu levemente. Não senti dor, como esperado, mas senti algo estranho... uma espécie de vazio, mas não o mesmo de sempre. Era como se algo dentro de mim estivesse tentando se manifestar, mas não conseguisse.
Após o combate, os cientistas vieram verificar o ferimento. Não era grave, apenas um corte superficial, mas o Dr. Hayashi parecia preocupado, mais do que o normal. Ele me perguntou, novamente, como eu estava me sentindo. Dessa vez, eu não respondi de imediato. Fiquei pensando no que havia sentido durante o combate, naquele vazio momentâneo que parecia diferente. Eu disse a ele que senti algo, mas não sabia explicar o que era. Ele anotou isso, mas não disse nada.
Será que estou começando a sentir? Ou foi apenas minha mente pregando peças em mim? Não sei o que isso significa, mas estou curioso. Se há algo dentro de mim que pode sentir, mesmo que apenas um pouco, eu preciso descobrir o que é.
[Data: 30 de março de 20XX]
Hoje, o Dr. Hayashi trouxe um presente para mim. Era um livro antigo, de capa dura, cheio de ilustrações. Ele disse que o livro era sobre sentimentos, sobre como as pessoas lidam com eles. Achei estranho, pois nunca recebi nada assim antes. Ele disse que queria que eu lesse, que talvez isso me ajudasse a entender o que significa sentir.
Passei o resto do dia lendo o livro. Ele falava sobre amor, tristeza, raiva, felicidade... emoções que eu só conhecia através dos outros. As ilustrações mostravam pessoas chorando, rindo, abraçando-se. Tentei imaginar como seria sentir essas coisas, mas foi difícil. As palavras não faziam muito sentido para mim. Mesmo assim, continuei lendo, na esperança de que, talvez, algo dentro de mim despertasse.
O Dr. Hayashi parece acreditar que ainda há algo em mim que pode ser salvo, algo que pode me tornar mais humano. Eu não sei se ele está certo, mas pela primeira vez, estou curioso. E isso, por si só, já é algo diferente do que eu costumava sentir... ou não sentir.
[Data: 5 de abril de 20XX]
Hoje, algo mudou para sempre.
Cheguei ao laboratório para encontrar uma atmosfera estranha. Os cientistas estavam mais silenciosos do que o normal, as conversas pareciam mais tensas. Ninguém me disse nada, mas percebi que havia algo errado. Fui levado para a minha sala de treinamento, mas o Dr. Hayashi não estava lá. Esperei por ele, como de costume, mas ele nunca apareceu.
Mais tarde, ouvi fragmentos de uma conversa entre dois cientistas. Eles falavam sobre o Dr. Hayashi no passado, como se ele não estivesse mais ali. Disseram que ele havia tentado fazer algo contra as ordens, algo relacionado a mim. Parecia que ele queria me tirar do laboratório, longe de todos os testes, para me criar como um filho. Essa palavra, "filho", ficou ecoando na minha cabeça. Eles disseram que ele pagou o preço por sua traição.
Dr. Hayashi estava morto. Eles o mataram porque ele queria me salvar.
Senti um vazio profundo, mas não era tristeza, nem raiva. Era algo diferente, algo que não consegui nomear. Parecia que um pedaço de mim, que eu nem sabia que existia, tinha sido arrancado. Não consegui chorar, não consegui gritar, mas sabia que algo dentro de mim havia mudado.
[Data: 6 de abril de 20XX]
Hoje, fiz o que parecia ser a única coisa certa a fazer.
Pensei nas ações do Dr. Hayashi, em sua tentativa de me salvar, de me tirar deste lugar. Ele via algo em mim que eu não conseguia ver, algo que valia a pena proteger. E agora ele estava morto por causa disso. As pessoas que o mataram continuavam a andar pelos corredores, como se nada tivesse acontecido. Elas não sabiam que eu sabia. Elas não sabiam o que eu estava pensando.
Lembrei-me do livro que o Dr. Hayashi me deu, das histórias sobre sentimentos e decisões. Em uma das histórias, alguém fez algo terrível porque acreditava que era o certo. Eu não sentia tristeza, não sentia raiva, mas sentia que havia algo que precisava ser feito. O Dr. Hayashi queria me salvar, e agora eu precisava terminar o que ele começou.
Esperei até a noite, quando o laboratório estava mais quieto. Não sei explicar o que me guiou, mas parecia que eu estava apenas seguindo um instinto, algo que vinha de dentro. Eu me movi pelos corredores, silencioso como me ensinaram, e eliminei cada um dos cientistas que encontrava. Eu não sentia nada enquanto fazia isso, apenas uma certeza fria de que era o que precisava ser feito.
Quando terminei, o laboratório estava silencioso. Todos que poderiam me impedir de sair estavam mortos. Eu não fiz isso por vingança, nem por raiva. Eu não estava triste, nem feliz. Apenas fiz o que parecia ser o correto, a única coisa que poderia honrar o desejo do Dr. Hayashi. Ele queria me libertar, então eu me libertei.
Antes de sair, voltei à sala onde o Dr. Hayashi costumava trabalhar. Tudo estava exatamente como ele havia deixado. Peguei o livro que ele me deu, o único presente que já recebi. Saí do laboratório e caminhei até a noite fria. Não sabia para onde estava indo, mas sabia que nunca mais voltaria.
Agora estou livre. Não sei o que isso significa, nem o que o futuro me reserva. Mas sei que o Dr. Hayashi queria que eu tivesse uma vida diferente, e essa foi a única forma que encontrei de honrar o que ele tentou fazer por mim. Eu não sou capaz de sentir como os outros, mas talvez, ao seguir adiante, eu descubra o que ele viu em mim.
[Data: 12 de abril de 20XX]
Faz apenas alguns dias desde que deixei o laboratório, e tudo ainda parece surreal. Eu andei pelas ruas do Japão, sem destino, tentando entender o que significa ser livre. As pessoas ao meu redor não prestam muita atenção em mim, o que é bom. Eu me misturo facilmente na multidão, exceto quando alguém repara em mim mais de perto.
Foi em uma dessas ocasiões que percebi algo. Eu estava passando por uma vitrine e, pela primeira vez, vi meu reflexo claramente. Fiquei parado, observando a imagem diante de mim. Meus olhos... são rosas, um brilho estranho que eu nunca havia notado antes. Minha pele é branca como a neve, sem qualquer imperfeição visível. E meus cabelos, longos, lisos e negros, parecem quase irreais. Nunca me dei conta de como eu parecia até agora.
As pessoas começaram a me olhar de um jeito diferente. Alguns paravam para me encarar, outros sussurravam entre si. Foi estranho, mas não me incomodou. No dia seguinte, fui abordado por um homem que se apresentou como um agente de modelos. Ele me entregou seu cartão e disse que eu tinha o "tipo certo" para o mundo da moda. Achei curioso como os humanos se importam tanto com a aparência. Eles veem beleza onde eu vejo apenas... funcionalidade.
]Data: 15 de abril de 20XX]
Hoje, aceitei o convite do agente. Fui ao estúdio onde ele trabalha, e imediatamente me colocaram em frente a uma câmera. Me disseram como posar, como olhar, como sorrir. Fiz o que me pediram, sem pensar muito. As pessoas ao redor pareciam maravilhadas, comentavam sobre como eu era "perfeito" para aquilo. Perfeito. Essa palavra sempre me perseguiu, mas agora parece ter um novo significado.
Durante a sessão de fotos, alguém mencionou que meu nome deveria ser algo mais "japonês". Eu pensei por um momento, e então decidi: Aki Yamazaki. "Aki" soa simples, fácil de lembrar. "Yamazaki" eu escolhi em homenagem ao Dr. Hayashi. Não posso me esquecer de onde vim, nem de quem me ajudou a chegar aqui.
[Data: 20 de abril de 20XX]
Os últimos dias foram estranhos. Eu tenho passado muito tempo em frente a câmeras, sendo fotografado, maquiado, vestido em roupas extravagantes. As pessoas ao meu redor falam sobre mim como se eu fosse uma obra de arte, algo belo e raro. Elas me dizem que sou "atraente", que tenho um "olhar hipnotizante". Não entendo por que isso importa tanto para elas.
Percebo que os humanos dão grande importância à aparência. Eles se esforçam para parecer bonitos, gastam tempo e dinheiro em roupas, maquiagem, até mesmo cirurgias. Mas por quê? Será que a beleza é algo tão valioso assim? Eles me veem como um exemplo de perfeição, mas para mim, isso não faz diferença. Eu não sinto nada em relação à minha aparência, seja ela bonita ou não.
Talvez, para eles, a beleza seja uma forma de esconder o que realmente são, ou uma maneira de se destacar em um mundo onde todos parecem iguais. Eu não sei. O que sei é que, por enquanto, essa nova vida como Aki Yamazaki é minha forma de sobreviver neste mundo. Eu observo, aprendo, mas continuo me perguntando: será que algum dia entenderei por que isso importa tanto?
[Data: 25 de abril de 20XX]
Hoje, tive uma experiência curiosa. Durante uma sessão de fotos, um dos fotógrafos me pediu para sorrir "com emoção". Fiquei parado por um momento, tentando entender o que ele queria. Ele disse que um sorriso deve vir de dentro, deve mostrar alegria. Alegria. Essa é outra palavra que eu conheço, mas nunca senti.
Tentei sorrir como ele pediu, e ele ficou satisfeito com o resultado. As pessoas ao redor me elogiaram, disseram que eu parecia "feliz". Mas eu não estava feliz, eu apenas imitei o que achava que eles queriam ver. Parece que, para os humanos, as aparências podem ser mais importantes do que a verdade.
Cada vez mais, me pergunto sobre essa vida que estou levando. Sou Aki Yamazaki, o modelo de sucesso, mas também sou o 666, o experimento que não sente dor, nem medo, nem alegria. Será que algum dia essas duas partes de mim vão se reconciliar? Ou estou condenado a viver entre os humanos, fingindo ser algo que nunca serei?
Por enquanto, continuo observando, aprendendo, tentando descobrir meu lugar neste mundo que é tão diferente do que conheci.
Data: 30 de abril de 20XX
Hoje, algo do meu passado voltou à tona.
Enquanto andava pelas ruas de Tóquio, vi dois garotos brincando em uma praça. Eles estavam jogando um jogo da velha, rindo e provocando um ao outro a cada jogada. Fiquei parado por um momento, observando-os. Algo naquela cena me trouxe uma lembrança distante, algo que eu havia enterrado junto com o passado que deixei para trás.
075.
Lembro-me de 075, a única pessoa com quem eu tinha algum tipo de conexão no laboratório. Nós dois éramos cobaias, testados, treinados, moldados. Mas, de alguma forma, ele era diferente. Havia algo em 075 que se destacava—seu foco, sua dedicação, sua disciplina. Ele era excepcional em todos os testes, sempre executando as tarefas com precisão. E, ao mesmo tempo, havia algo nele que eu admirava, mesmo que eu não soubesse o que era.
Ele era o mais próximo de um amigo que eu já tive. Nossa relação era diferente das outras, quase como se fôssemos... normais. Por um tempo, éramos apenas dois jovens, sobrevivendo juntos naquele lugar frio e impiedoso. Eu me lembro de quando jogamos um jogo da velha antes da minha fuga. Foi uma das poucas vezes em que fizemos algo que não estava relacionado aos testes, algo que não fazia parte dos experimentos. O jogo terminou em empate, e logo fomos levados de volta para as celas.
Na noite da minha fuga, fiz um grande jogo da velha com os corpos dos cientistas que matei. Lembro-me de como posicionei o X final, ganhando o jogo que nunca terminamos. Mas agora, ao recordar aquele momento, percebo que não me lembro de encontrar 075 depois disso. Ele simplesmente desapareceu. Por muito tempo, assumi que ele havia morrido, como muitos outros. Mas hoje, algo me fez questionar essa suposição.
E se ele sobreviveu? E se ele também se tornou uma das outras cobaias, como eu?
Eu nunca considerei essa possibilidade antes. Mas agora, com tantas perguntas em minha mente, começo a pensar que talvez 075 ainda esteja por aí, em algum lugar. Será que ele conseguiu escapar, assim como eu? Será que ele ainda está sendo mantido em algum lugar, escondido dos olhos do mundo?
Essas perguntas continuam me assombrando. Eu nunca soube o que aconteceu com ele, mas a ideia de que ele ainda possa estar vivo me traz uma nova inquietação. Se 075 está lá fora, será que ele se lembra de mim? Será que ele também se pergunta o que aconteceu comigo?
Essa lembrança de 075, e as perguntas que ela traz, são as primeiras que realmente me fizeram parar para pensar em alguém além de mim mesmo desde que deixei o laboratório. Talvez isso seja um sinal de que, apesar de tudo, ainda restou algo de humano dentro de mim.
Preciso descobrir a verdade. Se 075 ainda está por aí, eu o encontrarei. Não por amizade, nem por vingança, mas porque é algo que precisa ser feito. Eu devo isso a ele, e talvez até a mim mesmo.
Aki Yamazaki se encontra diante da escuridão absoluta. À sua frente, uma figura familiar emerge, uma versão mais velha de si mesmo. Aki analisa com calma o homem: um braço cortado, um tapa-olho cobrindo o direito.
"Isso é algum tipo de piada?" Aki pergunta, com seu tom sempre frio e direto.
O Aki mais velho sorri levemente. "Não, Aki. Isso é o futuro."
"O futuro? Como isso pode ser real? Você é eu... mas eu jamais me tornaria isso."
"Você ainda não entende o que está em jogo." O Aki mais velho o encara com firmeza. "Daqui a 10 anos, uma torre conectada a vários mundos surgirá na Terra. Será enviada pelos demônios primordiais, e qualquer humano que entrar nela despertará um sistema de status, habilidades... Como um jogo. Mas não é um jogo, Aki. É uma guerra."
Aki estreita os olhos. "E por que eu deveria me importar?"
"Porque, se você não subir essa torre, seu mundo será destruído." A versão mais velha cruza os braços, sem hesitação. "Você é forte, mas sozinho você não pode fazer nada. Você terá que formar alianças, se conectar às pessoas... E isso inclui se aproximar da família Yamazaki."
"Família?" Aki se mexe levemente, incomodado. "Você quer dizer..."
"O Dr. Hayashi era seu pai, Aki. Seu pai de sangue."
A mente de Aki processa a informação, mas seu rosto continua inexpressivo. "Isso é impossível. Ele nunca disse nada."
"Ele não podia." O Aki mais velho responde, com um peso em sua voz. "Seu avô é Shigen Yamazaki, o líder da Yakuza. Você terá que se aproximar deles, ganhar força e conexões. Será vital para o que está por vir."
"Não preciso de ninguém." Aki rebate, mantendo sua postura fria.
"Esse é seu erro, Aki." O mais velho responde de maneira incisiva. "Você sempre se escondeu atrás do que chamava de 'vazio'. A falta de emoção. Mas esse vazio... não é o que você pensa."
O mais jovem Aki mantém o silêncio por um momento. "E o que ele é, então?"
"É o acúmulo de todas as emoções que sua alma contém. Todas as suas forças focadas em mantê-las trancadas. Mas quando o vazio se romper... quando você liberar isso, será catastrófico."
Aki encara a versão mais velha por um longo tempo. "Então, o que eu faço?"
"Você deve subir a torre, conquistar o poder que vai encontrar lá, e se preparar para quando o vazio se abrir. Mas lembre-se, Aki... uma vez liberado, você não pode voltar atrás."
Aki não responde de imediato. Ele simplesmente observa a figura à sua frente com o mesmo olhar frio. Contudo, algo dentro dele, ainda que pequeno, começa a se mexer.
"Se isso é inevitável," ele finalmente diz, "eu vou fazer o que for preciso."
O Aki mais velho assente lentamente, com um último sorriso enigmático. "Então, se prepare. A torre aparecerá antes que você perceba."
Com essas palavras, a escuridão ao redor de Aki começa a se dissipar, e ele desperta, de volta à realidade.
Aki despertou do sonho, o peso das palavras da versão mais velha ainda pairando sobre ele. Por um breve momento, ele ficou parado em sua cama, os olhos fixos no teto. Sua mente, criada para ser mais afiada e eficiente do que qualquer outra, já trabalhava incansavelmente para processar tudo. Aquilo não era um sonho. Era real demais. Cada detalhe, cada palavra, parecia profundamente enraizado na verdade.
Ele se levantou devagar, vestindo-se com sua costumeira simplicidade. Ao sair de casa, sua decisão já estava tomada. Aki sabia que se precisasse de conexões com a Yakuza, teria que atrair a atenção deles de uma maneira que apenas ele poderia fazer: com violência. A gangue Lobo Cinzento, embora pequena, era infame o suficiente para ser notada pelas grandes facções. Se ele os eliminasse, chamaria atenção da Yakuza.
Horas depois...
A moto de Aki rasgava as ruas de Tóquio enquanto ele avançava para o esconderijo da gangue. Era um depósito abandonado, escondido entre becos escuros, um local perfeito para quem queria evitar a atenção da polícia. Ele parou sua moto a alguns metros de distância, ouvindo o som abafado de vozes e risadas vindas de dentro. Os Lobo Cinzento estavam em casa.
Com passos silenciosos, ele entrou no prédio. Alguns dos membros da gangue estavam jogando cartas e bebendo, outros rindo alto, e nenhum deles notou a presença de Aki até que fosse tarde demais. Um dos gangsters, um homem magro com uma cicatriz no rosto, se levantou ao vê-lo.
"Ei, moleque! O que você pensa que tá fazendo aqui?" Ele disse, se aproximando com uma faca na mão.
Aki permaneceu imóvel, sua expressão fria como sempre. "Eu vim derrubar todos vocês."
O homem soltou uma risada alta. "Tá brincando, né? Somos cinquenta homens aqui. Vai precisar de mais do que bravura."
Sem mais palavras, Aki se moveu. O som de ossos quebrando foi o primeiro a cortar o ar, enquanto ele torcia o braço do homem até a faca cair de suas mãos, e então, com um golpe rápido, o derrubou com uma força que fez o corpo desabar como um saco vazio. O caos se seguiu.
Os membros da gangue avançaram, armados com facas e tacos de beisebol. Mas para Aki, eles eram lentos. Muito lentos. Sua mente calculava cada movimento, cada ângulo, com precisão cirúrgica. Seus pés e mãos se moviam como lâminas, derrubando um, dois, três homens de cada vez. Cada golpe era calculado, cada oponente caía sem a mínima chance de reação.
"Isso não é... possível!" gritou um dos líderes da gangue, antes de ser silenciado por um chute que o lançou contra a parede, deixando-o inconsciente.
Em menos de dez minutos, o ar estava carregado com o som de gemidos e corpos caídos. Os cinquenta membros da gangue estavam amontoados no chão, mortos ou inconscientes. Sangue escorria pelas paredes, mas Aki, intocado, caminhou até o centro do depósito e empilhou os corpos, formando uma grotesca montanha de carne e ossos. Ele subiu até o topo e se sentou, cruzando os braços enquanto esperava.
Pouco tempo depois...
Como esperado, não demorou muito para que a Yakuza aparecesse. Três homens, vestidos de preto e carregando uma presença sombria, entraram no beco. Um deles, um homem de olhar frio e impassível, liderava o grupo. Aki os observou enquanto eles se aproximavam lentamente, estudando-o e os corpos ao redor.
"Então, você é o responsável por essa bagunça?" perguntou o homem à frente, sua voz carregada de irritação reprimida.
Aki permaneceu em silêncio por um momento antes de responder com calma: "Eu só queria chamar a atenção da Yakuza."
O homem arqueou uma sobrancelha. "E por que um moleque como você usaria o nome Yamazaki?"
Essa pergunta foi feita por um dos outros homens, que avançou um passo à frente. Seu nome era Seichiro Yamazaki, e ele estava visivelmente irritado. Seus olhos percorriam Aki com desdém.
"Yamazaki... Você tem algum direito a esse nome?" Seichiro pressionou, sua voz carregada de desprezo.
Aki o encarou, seus olhos frios como gelo. "É o meu nome. E você vai me levar até o chefe de vocês."
Seichiro deu um passo à frente, furioso. "Quem você pensa que é, moleque? Você não tem o direito de usar esse nome! Sabe o que isso significa?"
Aki permaneceu impassível, o que só aumentou a frustração de Seichiro. O outro homem, que parecia ser o líder do pequeno grupo, colocou uma mão no ombro de Seichiro, fazendo-o recuar.
"Calma, Seichiro. Vamos levá-lo ao chefe. Ele vai decidir o que fazer com esse garoto."
Aki desceu lentamente da pilha de corpos, cada movimento calculado, sem pressa. Ele sabia que, de alguma forma, esse encontro era necessário. E embora ele ainda não soubesse que Seichiro era seu tio, havia algo no homem que o deixava desconfortável.
No caminho até a Yakuza...
O silêncio entre eles era pesado. A moto de Aki seguia de perto o carro da Yakuza enquanto cruzavam as ruas da cidade. Seichiro continuava lançando olhares furtivos para Aki pelo retrovisor, ainda incomodado com a ousadia do garoto.
"Você vai se arrepender de ter usado esse nome, moleque," murmurou Seichiro, baixo o suficiente para que só os outros no carro ouvissem.
Aki, por sua vez, seguia impassível. Ele sabia que esse era apenas o primeiro passo de uma longa jornada. Sabia que, para sobreviver ao que viria, ele precisaria se fortalecer, criar alianças e entender seu lugar no mundo.
E ele estava pronto para fazer o que fosse necessário.
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