Capítulo 17 Narrado por Bianca Rodrigues

Depois de alguns minutos, Alice trouxe meu pedido. Assim que tomei o primeiro gole do suco, parecia que tinham despejado meio quilo de açúcar nele, de tão doce que estava. O pior de tudo é que Alice ficou lá paradinha, me observando beber.

— E então, tá do jeitinho que você queria? — perguntou ela de forma sarcástica.

— Está exatamente como pedi, obrigada. — Falei, oferecendo meu melhor sorriso e bebendo mais um pouco daquele melado de açúcar.

Ela franziu o cenho e, aos poucos, o sorriso debochado dela se desfez. Alice começou a olhar em volta, observando com uma expressão preocupada.

— O que foi? — questionei, bebendo mais um pouco do suco.

Nossa, está realmente muito doce. Depois disso, tenho certeza que vou ter diabetes.

— Não tem nadinha de errado com o seu suco?

— Nadinha, nadinha. Está uma delícia, exatamente como eu pedi.

— Impossível. Tenho certeza absoluta que só você pediu desse suco. Não tem como eu ter trocado os pedidos... ou será que tem? — ela disse baixo, parecendo realmente preocupada.

— Tá tudo bem, Alice? Você parece meio estranha. Senta aí e bebe um pouquinho do meu suco. — Disse, entregando o copo já pela metade. Alice bebeu uma boa quantidade e fez uma careta.

— Tá bem docinho, né? — Questionei, e ela devolveu o copo à mesa com uma força que considerei desnecessária.

— Idiota. — Murmurou, saindo de perto de mim. Fiquei ali, sorrindo orgulhosa por ter conseguido que a garota provasse do próprio veneno, literalmente.

Depois de passar boa parte da tarde na padaria observando Alice, decidi que era hora de ir embora. Já tinha perturbado a garota o suficiente por um dia. Enquanto me preparava para sair, Alice se aproximou com um sorriso malicioso.

— Já vai embora? — perguntou ela, fingindo tristeza.

— Já sim. Acho que já te enjoei o suficiente. Vou ter desconto? — perguntei, e Alice me olhou de cima a baixo antes de negar.

— Realmente, Bianca, você consegue me irritar e me tirar do sério. — disse Alice.

— Sabe qual a melhor parte? É que nem preciso me esforçar muito pra isso. — Falei, orgulhosa.

— E é por isso que você não vai ganhar desconto.

— Claro, vamos fingir que é só por isso — respondi, tentando parecer indiferente.

— E quais outras razões eu teria? — perguntou Alice de forma irônica, fixando o olhar nos meus.

— Além de me odiar? — questionei de forma dramática.

— Não te odeio.

— Também não me ama, né? A menos que sua linguagem do amor seja agressões físicas e um humor ácido. — disse.

— Meu Deus, Bianca, você é tão inteligente. Parabéns, acabou de identificar minha linguagem do amor. Fico feliz porque agora posso me expressar através dela. — Disse ela, erguendo a mão e me olhando de forma sugestiva.

— Não sei se gosto disso. — Falei, fazendo uma cara de chateação e cruzando os braços. Alice riu. — Acho que prefiro a forma mais tradicional de demonstrar afeto.

— Ah é? — perguntou ela, divertida.

— É sim. Se quiser me abraçar ou, se preferir, me beijar, pode ficar à vontade. Eu não me importo. — Disse, lançando meu melhor sorriso sedutor.

Vi a expressão surpresa no rosto de Alice. Definitivamente, ela não esperava por isso. Suas bochechas ficaram um pouco avermelhadas, mas ela não desviou o olhar do meu. Apesar de ter falado na brincadeira, eu não me importaria se Alice aceitasse a sugestão.

— Vou pensar nisso. — Disse Alice, e não vou negar que fiquei surpresa. Era estranho como nossas interações mudaram tão rapidamente.

— Fico feliz por saber que você vai pensar em mim. Vou pra casa até mais contente. — Disse, entregando o dinheiro a Alice, que revirou os olhos, mas notei um pequeno sorriso no canto de seus lábios.

— Vai com cuidado, Bianca. — Ela disse.

— Pode deixar. — Falei, aproximando-me e beijando seu rosto. Ela ficou surpresa, e antes que me agredisse, afastei-me rapidamente.

Saí da padaria a passos rápidos, sentindo uma mistura de emoções. Alice definitivamente tinha uma maneira única de mexer comigo. Caminhei até o ponto de ônibus mais próximo, pensando em tudo que tinha acontecido nos últimos dias. As interações com Alice, as perguntas de Cristian, o abraço inesperado de Júlia... minha cabeça estava uma confusão.

Mesmo assim, havia um sorriso em meu rosto. Fazia tanto tempo que eu não me sentia assim, e acho que, apesar das nossas diferenças, estou começando a apreciar o jeito irritante de ser de Alice.

Chegando em casa, encontrei minha mãe na cozinha, preparando o jantar. Ela olhou para mim com um sorriso acolhedor.

— Como foi o dia, querida? — perguntou ela. — A Júlia me disse que você estava com uma amiga. Você poderia ter avisado. — Minha mãe falou, e eu sorri de forma culpada.

— Desculpa, mãe, eu me esqueci.

— Percebi. Mas me conta, quem é essa amiga que te distraiu tanto assim? — minha mãe pediu.

— Acompanhei Alice até o trabalho dela e acabei passando a tarde lá. Inclusive, eu avisei a Júlia, pensei que ela contaria para a senhora. — Disse, indo até a geladeira e pegando um copo de água.

— A Júlia não mencionou o nome da Alice. Ela só disse que você estava com uma amiga. Júlia não parecia muito bem-humorada hoje, então preferi não fazer muitas perguntas. Tadinha, acho que ela está passando mal. — minha mãe falou, preocupada. — Pedi para ela ir descansar, e ela só foi depois de me ajudar com algumas coisas. A Júlia é uma boa garota. — minha mãe disse.

— Então ela já foi embora? — questionei, sentando-me à mesa.

— Não, né, Bianca? Ela está no quarto do seu irmão. Eu disse que ela poderia descansar um pouco lá. Como Ricardo não está em casa, não vejo problema. — minha mãe disse.

Ah, se ela soubesse o quanto Júlia e Ricardo já aprontaram naquele quarto.

De qualquer forma, isso não era problema meu. Os dois já são bem grandinhos e sabem exatamente o que fazem.

Fiquei na cozinha por um tempo, provando tudo que minha mãe estava fazendo, até que ela se irritou e me expulsou de lá, mandando-me tomar banho.

Saí da cozinha rindo e fui tomar meu banho.

Depois de um longo banho, estava completamente relaxada. Saí secando meus cabelos com a toalha e, quando abri a porta do meu quarto, a porta do quarto de Ricardo também se abriu. Uma Júlia com os cabelos um pouco despenteados e o rosto amassado, denunciando que ela estava dormindo, passou pela porta e sorriu para mim.

— Está melhor? — questionei, e ela balançou a cabeça em confirmação.

— Acho que só estava cansada. — Disse, dando de ombros.

— Tem certeza? — questionei, não muito convencida da resposta dela, e ela deu de ombros.

— Como foi seu encontro com Alice? — perguntou, mudando de assunto, e um sorriso involuntário surgiu assim que as lembranças da minha tarde vieram à mente. — Por esse sorriso aí, já respondeu minha pergunta. — disse Júlia, com uma empolgação que parecia fingida. Sei disso porque já fiz muito isso.

— Não foi um encontro. Apenas acompanhei-a até o trabalho. — Falei. A verdade é que nunca fui a um encontro, não que também quisesse ir a um.

Mas acho que não sou muito adepta do convencional.

— Imagino que o trabalho dela seja bem longe, porque você demorou para voltar. — Júlia disse, cruzando os braços, e eu a encarei cética.

— O trabalho dela realmente é um pouco longe, mas demorei porque estava conversando, aproveitando um pouco a tarde com ela. Foi uma tarde agradável e também uma forma de conhecer um pouco mais dela, da rotina dela. — Disse, colocando a toalha nos meus ombros.

— Me fala mais sobre ela, sobre vocês. Somos amigas, mas você não conta nada. — reclamou Júlia, e eu revirei os olhos.

— O que você quer saber? — questionei, e Júlia me encarou de um jeito estranho.

— Vocês estão juntas? — perguntou, sem desviar o olhar.

— Estamos apenas nos conhecendo melhor. — Falei, optando por uma resposta que considerei segura.

— Entendo. Só toma cuidado, Bianca. Não sei, essa Alice não me transmite boas energias. Ela parece ser bem ciumenta. Me olhou de um jeito muito estranho hoje. Só estou te dando um conselho de amiga.

— Tudo bem, Júlia, obrigada pelo conselho. Mas tenho uma opinião muito diferente em relação a Alice e acho que temos muito em comum. Nossas energias se completam bem. Vamos jantar. — Chamei, já me virando e dando as costas para ela.

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