Terminei de ler o livro já era de madrugada, então não tive uma grande noite de sono. Acordei com a minha mãe me chamando. Estava dormindo tanto que ela teve que entrar no meu quarto para me acordar.
Meu raciocínio estava lento, meus olhos lutavam para se manterem abertos, e eu bocejava a cada cinco minutos. Tinha certeza de que, se fechasse os olhos, dormiria de novo.
Já estava na minha segunda xícara de café e sabia que minha mãe estava falando algo importante, mas não entendia nada. Apenas concordei com a cabeça, e ela sorriu satisfeita.
Provavelmente, devo ter prometido fazer algo para ela ou concordado com alguma loucura, mas não me atrevi a perguntar com o que concordei. Primeiro, porque ela ficaria brava por eu não prestar atenção, e, de qualquer forma, não mudaria nada.
— E então, Bianca? — meu pai perguntou. Olhei para ele, seus olhos fixos em mim e um sorriso divertido no rosto.
"E então o quê?" pensei, em pânico. O olhar do meu pai era de diversão, o meu, de confusão.
Será que fiz algo errado?
Não, não deve ser isso. Eu não matei nenhuma aula semana passada, não discuti com ninguém, não fiz nada de errado ainda.
Olhei para o Ricardo, que estava sentado à minha frente comendo um misto-quente. Ele me olhou com compreensão e disse:
— Você vai querer carona? O pai disse que vai passar perto da sua escola e pode te deixar lá.
— Claro, eu quero — disse, levantando-me e tombando um pouco da xícara de café quente, que respingou na minha mão.
O café estava muito quente e minha mão ficou vermelha. Corri até a pia e deixei a água fria cair sobre a queimadura. A água fria aliviava um pouco a dor.
— Queimou muito? — minha mãe perguntou, tirando minha mão da água e analisando o local vermelho.
— Um queimadinho de nada — Ricardo disse, se aproximando com uma pomada.
— Porque não foi em você, né? — retruquei, esticando a mão para o meu irmão.
Ele revirou os olhos, mas passou a pomada cuidadosamente sobre a queimadura.
Após isso, peguei um pano e voltei à mesa para limpar a bagunça, mas meu pai pegou o pano da minha mão e ele mesmo limpou a mesa, depois lavou minha xícara.
— Você vai para a escola? — meu pai perguntou.
— Vou sim, só vou lá buscar a minha mochila.
— Está no seu quarto? — ele questionou, e eu confirmei. — Tem mais alguma coisa para pegar?
— Só o celular.
— Pode ir para o carro que eu pego suas coisas — meu pai disse, entregando-me a chave do veículo. Ele não esperou por nenhum tipo de confirmação, apenas caminhou rapidamente em direção ao corredor.
Despedi-me da minha mãe e do Ricardo e fui direto para o carro. Sentei-me no banco do passageiro.
O carro do meu pai era bem maior e mais confortável que o do Ricardo. O carro do meu pai era preto e sempre reluzente. Meu pai devia lavar esse carro pelo menos uma vez por semana; era o verdadeiro xodó dele.
Sentei-me no banco do carona. Todo o interior do carro era marrom, não sei se era de fábrica ou se meu pai mandou customizar. A única coisa que sei é que meu pai adorava esse carro e ninguém além dele o dirigia.
Meu pai não demorou a aparecer. Ele me entregou a mochila e o celular, e, após ligar o rádio, deu partida no carro. A viagem toda levou cerca de trinta minutos, passados em silêncio. Acho que meu pai ligou o rádio justamente para evitar qualquer tipo de conversa.
De vez em quando, ele olhava para mim, para minha mão, mas não dizia nada.
Assim que ele parou perto do portão principal, desvencilhei-me do cinto, pronta para descer.
— Tchau, pai — disse, já abrindo a porta do carro.
— Toma — ele falou, tirando do bolso uma pomada e uma cartela de comprimidos e me entregando. — O comprimido é para se doer muito e, se não se sentir bem, ligue para sua mãe que ela vem te buscar — meu pai disse, olhando para frente.
— Obrigada, pai — falei, beijando o rosto dele. Ele sorriu de forma tímida.
A primeira coisa que fiz ao entrar na escola foi procurar pela Alice. Queria contar para ela que já terminei de ler o livro e já tenho uma opinião formada sobre ele.
Eu sabia que provavelmente ela não estava nem aí e só se importava com a nota dela. A única coisa que queria era não ter que ficar com todo o trabalho e dividir a nota, mas eu me sentia desafiada e queria mostrar a ela que eu era capaz de realizar um bom trabalho sozinha.
Procurei por essa garota no pátio, no refeitório, nos corredores, na nossa sala, na quadra e atrás da escola, mas não a encontrei.
Continuava a procurar por ela, mas a escola era grande e, enquanto passava apressadamente pelo pátio, esbarrei sem querer na Júlia, derrubando um de seus livros.
— Que mania é essa que você tem, Bianca — ela reclamou, abaixando-se para pegar o livro.
— Desculpa, sério, não fiz de propósito — falei, aproveitando para olhar em volta, procurando Alice.
— O que está acontecendo? Está procurando alguém? — ela perguntou, olhando nas mesmas direções que eu. Parecia curiosa ou talvez só estivesse perguntando por perguntar.
— Estou sim, estou procurando uma garota, mas parece que ela está se escondendo de mim — falei, começando a querer desistir.
— E quais motivos ela teria para se esconder de você? — Júlia perguntou sorrindo, e eu a encarei.
— Ainda não sei, mas quando eu encontrar, vou perguntar — disse, olhando as horas. Ainda faltavam uns quinze minutos para o sinal tocar.
— E por que você está procurando essa garota? É alguém que eu conheço? — Júlia perguntou, arrumando uma mecha de cabelo por trás da orelha.
— É a Alice, mas não sei se você conhece — disse, tentando pensar onde uma garota como Alice poderia estar.
Ela era inteligente, um pouco estressada, não curtia bagunça nem tumulto. Gostava de ler.
Pensando bem, fui idiota. O lugar ideal para uma pessoa como Alice estar era a biblioteca. Quase ninguém ia lá, era silencioso, e na sexta ela sugeriu começarmos a fazer o trabalho lá.
Assim que meus pensamentos clarearam, um sorriso involuntário surgiu em meu rosto e comecei a andar, animada para confirmar minha suspeita, mas não dei dois passos e logo meu braço foi puxado.
— Ei, onde você vai? — Júlia perguntou.
— Acho que sei onde ela está, vou lá conferir.
— Sério? — Júlia perguntou incrédula.
— Sim, fui estúpida por não ter pensado nisso antes. Alice não é o tipo de pessoa que fica zanzando por aí — disse, sentindo-me idiota por ter perdido tanto tempo.
— Ah, não? Então que tipo de pessoa ela é? É daquelas que chegam atrasadas e ficam esbarrando e derrubando as pessoas pelo corredor? — Júlia perguntou com uma sobrancelha arqueada, e eu sorri.
— Não, esse é o tipo de pessoa que eu sou e acho que você estava me descrevendo — disse, pensando no tipo de pessoa que Alice era. Não a conhecia bem, então julgava apenas pelo que sabia e supunha dela.
Porque só podemos enxergar aquilo que a pessoa está disposta a mostrar e todos sabemos que oceanos são muito mais profundos do que conseguimos mergulhar.
— Alice é muito inteligente, tem um humor um pouco ácido e ainda é uma incógnita para mim, mas sem sombra de dúvida ela é muito interessante — falei, lembrando-me da primeira vez que vi Alice entrar na sala com um ar angelical, uma voz doce e suave, com uma postura tímida que logo se transformou em aversão à minha pessoa. Ela deixou de ser adorável para se tornar chata e insuportável.
— Nossa, você e essa garota devem se dar muito bem mesmo, hein? — Júlia disse, um pouco ríspida.
— Com certeza, a gente se adora — disse, sorrindo ao lembrar que Alice não parecia satisfeita em fazer o trabalho comigo. — Vou lá. Tenho certeza de que ela vai ficar muito contente em me ver. Depois a gente se fala — disse, despedindo-me da Júlia e praticamente correndo em direção à biblioteca.
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Atualizado até capítulo 98
Comments
A.Maysa
fala sério Júlia agora você quer sentir ciúmes dela...vai atrás da sua futura namorada Bianca e deixa a Júlia aí
2024-06-23
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