Capítulo 16 Narrado por Bianca Rodrigues

Após a apresentação, enquanto ainda estávamos na sala, Cristian se aproxima de mim com um olhar inquisitivo.

— O que tá rolando entre você e Alice? — ele pergunta, direto ao ponto.

— Do que você está falando? — faço-me de desentendida, tentando ganhar tempo.

— Estou falando da forma como você e Alice estavam concentradas no mundinho cor-de-rosa de vocês. Pareciam prestes a se beijar dentro da sala sem nem se importar com nada ao redor. Por que você não me contou sobre isso?

— Pensei que você não estivesse interessado nos meus dramas — respondo de forma ácida.

Cristian leva a mão ao peito em um gesto dramático, como se estivesse ofendido.

— Sou o seu melhor amigo e os seus dramas são melhores do que qualquer novela. Você não pode me deixar sem atualizações, ainda mais tão importantes quanto essa.

Reviro os olhos, impaciente.

— Entendi. Mas a gente não estava quase se beijando, e nem estávamos em um mundinho cor-de-rosa. De tudo que você falou, a única parte com a qual eu concordo é que eu não me importo com nada ao meu redor.

Cristian ri da minha resposta e questiona se Alice e eu estamos bem.

Dou de ombros, indicando que, para mim, está tudo igual.

— Olha lá a sua garota. Vamos lá falar com ela — diz Cristian, praticamente me arrastando até onde Alice está.

— Ei, Alice! — Cristian chama a atenção dela, que olha sem entender.

Cristian solta minha mão e vai de encontro a Alice, tentando abraçá-la. Ela é pega completamente de surpresa e recua, parecendo super desconfortável.

Já sabendo como Cristian é e sua falta de respeito pelo espaço pessoal das pessoas, coloco-me imediatamente ao lado de Alice e sussurro um pedido de desculpas. Ela olha para mim com uma expressão confusa, buscando uma explicação para tudo que está acontecendo.

Faço um pedido mental para que Alice não me agrida e entre no jogo. Então, em um ato de coragem, entrelaço minha mão na dela. Alice me olha confusa, e aproveito o momento para beijar sua bochecha.

— Por favor, entra no jogo — peço.

Alice sorri ironicamente, e vejo que ela compreende.

— Vocês são tão lindas juntas — Cristian diz, juntando as mãos numa expressão empolgada. — Precisamos fazer algo juntos. O que vocês acham de irmos almoçar em algum restaurante aqui por perto?

— Desculpa, Cristian, hoje não vai dar. Já tinha combinado de fazer algo com a Alice para comemorar nosso bom trabalho em dupla — respondo prontamente.

Alice olha para mim, oferecendo um sorriso que gela até a alma.

— Combinamos, é? — Alice questiona, e assinto.

— Sim, combinamos. Depois, quando eu reclamo que você não presta atenção em nada do que eu falo, você acha que eu estou exagerando.

— E não está? — Alice questiona, e olho incrédula para ela.

Alice sorri e dá de ombros. Solto a mão dela e acabo dando um tapa leve em seu braço, enquanto Cristian ri.

— Vá se acostumando, Alice, porque a Bianca é a rainha do drama — Cristian fala, recebendo um revirar de olhos da minha parte.

— Já que vocês já têm compromisso, vamos deixar o nosso almoço para outro dia — diz Cristian, verificando algo no celular.

— Claro, será uma honra — Alice responde de forma ácida, mas felizmente Cristian não percebe e se despede de nós após me dar um abraço apertado. Ele tenta fazer o mesmo com Alice, mas eu o empurro, fazendo-o rir.

— Não acredito, além de dramática, é ciumenta! — Cristian fala, e eu apenas balanço a cabeça em negativa enquanto observo ele se afastar e passar pelo portão da escola.

Alice me observa com uma sobrancelha levantada.

— Então combinamos mais alguma coisa que eu deveria saber? — Alice pergunta.

— Você tinha alguma ideia melhor para se livrar dele? — questiono.

— Bom, a gente poderia contar a verdade e explicar que eu não poderia ir porque eu tenho que ir para o meu trabalho — Alice diz de forma simples, dando de ombros.

— É, talvez isso resolveria — admito enquanto começamos a caminhar tranquilamente até a saída.

No caminho, vemos Júlia encostada no tronco de uma árvore, na sombra. Assim que ela percebe nossa presença, se aproxima com um sorriso no rosto.

Ela cumprimenta Alice de forma mais contida, mas ao me cumprimentar, me abraça, me pegando de surpresa, pois Júlia não costuma agir assim.

Alice cruza os braços e ergue uma sobrancelha para mim. Embora eu não esteja fazendo nada de errado, engulo em seco e afasto Júlia suavemente. Ela olha para mim confusa por essa breve rejeição.

— Tá esperando o Ricardo? — pergunto, tentando mudar de assunto.

— Na verdade, eu estava te esperando — Júlia responde, me deixando confusa. — É que eu vou para sua casa. Sua mãe me pediu ajuda com algumas coisas, e pensei que poderíamos ir juntas já que você também está indo para lá.

Alice segura minha mão e entrelaça nossos dedos, observando Júlia.

— Sabe o que é, Júlia? A Bianca não está indo para casa. Na verdade, ela fez questão de me acompanhar até meu trabalho, e estamos atrasadas — Alice diz, olhando para o celular.

Júlia olha para mim, esperando uma confirmação. Alice aperta minha mão, e tento reprimir um sorriso enquanto penso o quão autoritária Alice consegue ser.

— Desculpa, Júlia, mas já combinei de levar a Alice até o trabalho. Ela tem um péssimo senso de direção, e eu não quero que ela se perca — digo brincando, arrancando uma risada de Júlia e um sorriso debochado de Alice.

— Então, eu já vou indo — diz Júlia, virando-se de costas e seguindo pela calçada.

— Até mais tarde, Júlia! — grito, e Júlia se vira, dando um tchauzinho antes de continuar andando.

Alice solta minha mão e me empurra.

— Da próxima vez que você falar algo assim, vou te mostrar meu senso de direção com minha mão indo de encontro à sua cara — Alice fala, e eu rio.

— Você ficou bravinha só por causa disso? — zombo, colocando a mão na cintura dela, mas solto ao receber outro tapa.

— Você é muito violenta, sabia? — questiono, examinando o braço. — Acho que vai ficar marcado, olha para você ver.

— Então, deveria ficar feliz por eu não ter batido na sua cara — Alice responde, acelerando o passo, e eu a acompanho.

— O que você tá fazendo? — Alice pergunta, vendo que a estou seguindo.

— Tô te acompanhando, ué — respondo, olhando ao redor, observando o movimento dos carros.

— Isso eu já percebi. O que quero saber é por quê? — Alice pergunta.

— Ora, como assim por quê? Aparentemente, insisti em te acompanhar até o trabalho. Combinamos, lembra? — digo, dando de ombros.

— Não precisa me acompanhar, eu só... Enfim, não precisa mesmo — Alice diz, e eu sorrio.

— Sei que você quer minha companhia, Alice. Não precisa se fazer de rogada. E outra, estou curiosa para saber onde você trabalha. Tomara que seja em algum lugar onde eu possa pedir desconto — brinco .

— Pode pedir — disse Alice, e meu sorriso se alargou.

— Sério mesmo?

— Claro. Você só não vai ganhar, mas isso não te impede de pedir — disse ela, sorrindo.

— Falta muito pra chegar? — perguntei, com expressão cansada.

— Estamos chegando — disse Alice, pegando minha mão para atravessar a rua.

Finalmente chegamos a uma padaria.

— Você trabalha aqui? — perguntei, e ela assentiu.

— Não sei se esse é o melhor ou o pior trabalho do mundo — disse, e Alice sorriu.

— Por quê?

— É muita tentação. Se eu trabalhasse em um lugar assim, meu salário ficaria todo aqui — respondi, e Alice sorriu.

Ela me puxou para dentro e apresentou-me aos três funcionários que estavam lá. Sentei-me em uma das mesas disponíveis enquanto Alice foi vestir o uniforme.

Ela não demorou a voltar e começou a atender alguns clientes, distribuindo sorrisos para todos. Parecia até um ser humano tranquilo, educado e receptivo.

Quando Alice passou perto da mesa, a chamei.

— O que foi, Bianca? — perguntou ela, imparcial.

— Quero fazer meu pedido — disse, e Alice pegou o bloquinho de notas.

— Pode fazer.

— Quero que você seja educada e me trate tão bem quanto os outros clientes — pedi rindo de um jeito sarcástico, e Alice respirou fundo.

— Sua sorte é que estou no meu local de trabalho, senão... — deixou a ameaça no ar.

— Quem vê de longe vai achar que está me ameaçando — falei, dando de ombros.

— E quem vê de perto vai ter certeza — disse ela, começando a se afastar.

— Não esquece hein, suco natural de laranja sem açúcar e um pedaço de torta — gritei. Alice parou e me fuzilou com o olhar antes de sair a passos rápidos, enquanto eu sorria, satisfeita por tê-la irritado.

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