Sem evidências

Lenna já havia feito esse tipo de percurso umas mil vezes, e matado coisas como aquela mais mil. Ela era o que poderia ser chamada de exterminadora. Uma vez que seus talentos se manifestaram, ainda no começo de sua infância, uma vez que ficou mais que provado que ela era capaz de causar destruição e eliminar as ameaças mesmo que ainda tivesse dez anos de idade, Alphonse, como o belo pai que era, tornou-a uma arma mortífera para se ter ao seu lado. Se haviam monstros tomando partes de seu territórios, se haviam caçadores ou cavaleiros brancos se aproximando da região e investigando-os deliberadamente, se haviam humanos civis descobrindo mais do que deveriam, Lenna era "ativada", um banho de sangue era feito, a equipe de suporte de Alphonse sumia com as provas deixadas para trás (cabeças, pernas, braços, sangue ou cinzas de cadáveres), e então, estava feito. Sem inimigos, sem vestígios. A primeira que ocorreu, foi em sua infância, quando ela partiu ao meio o corrimão da escada esquentando-o, a sensação era estranha, como se pudesse tocar suas moléculas, como se fossem algum tipo de líquido, as agitando e esfregando-as umas contra as outras até que a fricção gerasse um calor capaz de desfazer o seu formato, o problema é que ela fez isso sem precisar tocar diretamente na coisa, estava apenas sentada na escada com os pezinhos juntos e um olhar concertando para a velharia de madeira. Quase causou um incêndio. Desde então, cem anos de passaram.

Se Delta não tinha direito a ter uma vida, Lenna menos ainda, mas ela se acostumou com esse tipo de vivência a tal ponto, que já não aguardava mais por ordens ou contato de cima. Se havia uma ameaça, qualquer coisa que pudesse pôr em risco a vida de Delta ou Picle (e ninguém além delas), Lenna estava lá. 

Já que não conseguia atravessar portas ou fendas pequenas quando estava desmaterializada, Lenna se viu obrigada a voltar à sua forma corpórea uma vez que as cinzas de seu corpo se viram em frente ao endereço dado por Beny. Em um pequeno vórtex de escuridão, ela se materializou, os olhos brilhando momentaneamente em um tom de esmeralda, o vestido surgindo e se desenhando no entorno de seu pequeno corpo delgado, tão justo quanto uma segunda pele, e os cabelos esvoaçando levemente, antes que finalmente ela estivesse lá, no meio da rua deserta, olhando para aquela casa com paredes de tijolos e uma porta que parecia ter sido feita para conter coisas como ela.

Não foi suficiente, com um erguer de mão, ela reduziu a porta a um monte de escombros, que voaram estrondosamente para dentro da casa em lascas de madeira. Lenna entrou em passos curtos. A iluminação do local também era adaptada para monstros, ela conseguia enxergar perfeitamente, sem nenhum excesso de luz, nublando a sua visão. O cheiro que veio de todos os lados, deixando-a inebriada, foi de sangue, mas não o doce e atrativo sangue de humanos, era um sangue imundo e fedido, sangue de ghouls. Lenna caminhou pelos lances de corredores que mais pareciam um labirinto, guiando-se pelo seu olfato, sentiu que havia sim um aroma de sangue humano ao longe, mas não era no seu melhor estado, provavelmente, órgãos tirados de cadáveres que já haviam passado um pouco do ponto. Para a sua surpresa, enquanto vasculhava a casa, encontrou cadáveres, no corredor principal, uma mulher de cabelos avermelhados e roupas sugestivas se via sentada aos chãos com as costas escoradas na parede, uma ferida no peito e furos de bala na cabeça, os olhos ainda abertos, ganharam uma coloração enegrecida. No banheiro, de onde vinha outro aroma, dois ghouls mortos, um por cima do outro, ambos perfurados no peito. E mais ao longe, numa sala cheia de tripas sobre uma bancada, havia uma garota, faixa dos vinte anos, caída para trás com os braços abertos, um par de lágrimas ainda presas em seus olhos sem vida... Havia sido um único disparo em sua cabeça, deixando uma grande poça de sangue onde ela caiu, mas nem todo o sangue era dela.

— Mas... Que merda aconteceu aqui? — questionou para si mesma, erguendo o olhar para qualquer saída que pudesse haver ali, qualquer rota que um possível assassino pudesse ter pego. 

Quem fez aquilo, sabia exatamente o que estava fazendo, mas não parecia ser obra de um caçador, já que eles costumavam se livrar dos corpos para não causar alarde nos outros humanos. Então, talvez... Uma briga interna? Não tinha como saber. Se houvessem menos cadáveres, talvez ela pudesse experimentar o aroma dos sangues que estavam ali e guardar em seu "banco de dados", mas eram muitos, misturados, batidos, apodrecidos e já meio secos, seria impossível localizar aquele que fez isso através do sangue, o que podia fazer agora, era esperar o próximo passo, e, claro, rastrear o resto dos Thierrys, que provavelmente não estariam na propriedade principal nesse momento, e se estavam, com certeza tinham preparativos para o caso de uma invasão impensada...

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