Juntos, eles iam saindo da White Flag. Delta sabia desde o começo que aquilo não era, nem de longe, uma boa ideia, mas, por consideração ao pedido de Duque, ela foi mesmo assim, e bem, deu no que deu. Sabia bem que essa ridícula bravata de Beny era mais uma forma de chamar sua atenção, uma forma de se mostrar digno e merecedor de apoio, ou simplesmente de tentar provar aos outros que ela não era apta à posição que tinha como filha de Alphonse e descendente do Drácula, um tema que, notou ela, era bem sensível de ser tratado na presença dele. O maior problema de Beny, provavelmente, era com Lenna, que era, de um certo modo, a verdadeira herdeira de tudo aquilo, já que era a mais velha, e também, uma figura feminina que exercia poder "físico" e aquisitivo acima dele. Vampiros do velho mundo, ou ao menos aqueles que foram criados com eles, não conseguiam aceitar muito bem essa ideia.
— Isso foi simplesmente patético, cara — Duque disse em um tom repreensivo uma vez que o pequeno grupo havia se afastado do movimento de pessoas, agora, em uma praça, na avenida de trás da White Flag. Mais cedo, haviam sido expulsos do local pelos guardas. E enquanto Beny e Ardroxux soaram a camisa na briga, Alinna segurou duas inimigas e saiu de lá ilesa.
— Não enche — Beny murmurou ranzinza, limpando o sangue que havia no canto da boca e olhando novamente para Duque com uma expressão mordaz em seu rosto — Você acha que eu não vi você mandando um humano pelos ares? Mandou bem, senhor grandão.
— Eu tava afastando ele da bagunça que você criou!
— Que coisa mais heróica — Beny retrucou em um tom de deboche.
— Aí, Beny, você mandou mal — Ardroxux disse, dando um tapinha no ombro do amigo.
— Ele não só "mandou mal"! — Delta disse finalmente, cansada deles e cansada de toda aquela confusão sem fim — Ele colocou em risco tudo que construímos aqui, tudo que a nossa organização construiu! E fez isso por motivos egoístas.
— Ah, qual é, motivos egoístas? Eu tava literalmente combatendo o inimigo — Beny respondeu — Será que eu sou único aqui que sabe do perigo de deixar esses comedores de cadáver chegarem perto do nosso território? Sou o único aqui que tem um cérebro funcional?
— Não é essa a questão, cara — Duque falou.
— Olha, vocês estão perdendo o fio da meada — Alinna se meteu finalmente, enquanto os acompanhava, caminhando equilibrada sobre o meio fio como se fosse uma criança, embora todas as tatuagens e o estilo punk lembrassem mais uma adolescente revoltada.
— Não, eu acho que o fio é exatamente esse — Beny insistiu — O assunto que não cala, é que a princesinha aqui não é capaz liderar nada, ela vê uma situação difícil e treme na base.
— Beny... — Delta disse seu nome como um aviso.
— E quer saber? Tá tudo bem, nem todo mundo nasceu pra esse lance — Beny dizia, implacável, parando de caminhar e tomando a frente do grupo para que parassem também — Mas me diz uma coisa, Delta, se fosse a Helena lá, a sua irmã linda e baixinha, ela teria hesitado em mandar todos aqueles merdinhas pro inferno? Não, ela teria me ajudado e acabado de vez com essa porra!
— É melhor calar essa boca, Beny — Duque falou novamente, mais uma vez, tentando alertá-lo que, nesse momento, ele pisava sobre ovos — Sério, só... Cala a boca ...
Beny soltou um longo suspiro, sorrindo com um aspecto misto de decepção e deboche enquanto abria levemente os braços; como se os indicasse, como se falasse "não acredito nesse grupo". Ele balançou a cabeça negativamente, deixando os braços caírem aos lados de si, ainda sustentando aquela maldita expressão de desapontamento, então, assentiu em seguida, se virando para seguir em frente, sem eles, mas não chegou a caminhar nem dois passos.
— Fala, idiota — ao ouvir a voz e ver o rosto bravo de Lenna, ele deu um passo pra trás, engasgando o gritinho que quase saiu da garganta.
— L-Lenna?! — ele disse hesitante, em um falsete.
— O que faz aqui? — Delta perguntou.
— Cala a boca! — Lenna disse em um grunhindo, empurrando Beny para fora do caminho e indo até ela.
— Sujou — Duque sussurrou ao seu lado, coçando a nuca e fingindo desviar inocentemente o olhar.
— Eu achei que a gente já tinha conversado sobre isso, Delta, sobre você sair assim pro meio dos humanos, e pior, com esse bando de incompetentes! — Lenna disse bruscamente, ninguém ousou se defender das acusações.
— Lenna, eu ...
— Foi ideia minha, eu chamei ela — Duque disse em sua defesa, sendo o único a se manifestar.
— É mesmo? E o que você tem na cabeça, Duque? — Lenna o perguntou, fuzilando-o com o olhar. Por incrível que pudesse parecer pelo aspecto dela, Duque era, provavelmente, a figura que Lenna mais respeitava, o que não significava muito no fim das contas. Se fosse outro a fazer isso, ela o queimaria ali mesmo.
— Eu achei que a Delta precisava sair um pouco, ver o mundo, acho que foi uma ideia ruim no final das contas.
— Foi uma ideia péssima! — Lenna disse, dando uma ênfase gigantesca que quase soou infantil na última palavra, "pes-si-ma!!", enquanto encarava Duque, ficando quase na ponta dos pés para isso, ele com dois metros e ela com um e meio.
— Ela está bem — ele tentou argumentar com seu tom de voz aveludado, famoso por acalmar situações como aquela — Nem se arranhou, eu juro.
— Se já terminaram a DR, eu tenho que relatar sobre o encontro com os ghouls, que bom que você chegou aqui, toda poderosa — Beny disse, o tom levemente mordaz, após passar o choque inicial, se virando de lado para elas, com os braços cruzados sobre o peito.
— Ghouls? Do que você está falando? Do que ele está falando? — Lenna perguntou, ansiosa, primeiro a Beny e depois a Duque.
— Ainda não temos certeza de quem são exatamente, mas sim, são uma família de Ghouls — Delta disse.
— Estão no nosso território, caçando humanos — Beny emendou por cima de sua fala.
— Ótimo — Lenna disse, o tom de voz irritado e impaciente — E você sabe onde eles moram? Fala!
— Eles são uns caras sigilosos — Beny disse, arqueando uma sobrancelha com um sorriso dissimulado no rosto...
— Mas? — Lenna perguntou, já sabendo que, quando ele usava esse tom e fazia essa cara idiota, era porque, muito provavelmente, tinha algum trunfo para revelar.
— Eu sou um cara observador — ele disse, tirando um guardanapo do bolso da jaqueta, onde havia anotado um endereço — Considere como um favor, você fica me devendo essa — ele emendou, jogando o guardanapo pra ela.
— Eu? Devendo a você? — Lenna perguntou, mostrando um sorriso de escárnio — Se enxerga... — ela emendou, se virando e caminhando um pouco para longe dali, já deixando o grupo pra trás sem dizer mais nada, clássico da sua irmã mais velha.
— Lenna — Delta a chamou, um quê de dúvida em sua voz, já devia imaginar que, sendo quem era, a sua irmã iria partir direto pra briga, sem esperar ou fazer planos, tal qual Beny descreveu.
— Você, pra casa — Lenna disse, apontando o indicador para Delta — E, Duque, depois nós vamos ter uma longa conversa... Ouviu? — foi tudo que ela disse, antes que suas moléculas enegrecessem, sumindo na bruma que soprou na praça, junto às suas roupas e acessórios, uma desmaterialização completa, algo que só ela e Alphonse sabiam fazer.
— Ótimo — Duque silvou em um suspiro.
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Atualizado até capítulo 69
Comments
elenice ferreira
imagina um negão 😄😄, lindo e 😋 sendo chamado a atenção, por uma tampinha,? hilário 🤣🤣
2024-08-10
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