O pé de plástico

Teresa girava a xícara, segurando-a pela asa, e vendo o café preto se mover em um pequeno redemoinho lá dentro. Nessa manhã, ela estava tão enjoada, que colocou apenas duas colheres de chá de açúcar em seu café, o que eram quatro colheres a menos do que o costumeiro. Na noite anterior, ela acabou dormindo junto de Samanta, que se recusou a deixa-la sozinha com aquela fanfarra de explosivos. Apesar de tudo, sua noite ainda foi permeada por lágrimas e pesadelos, assim como todas as outras, desde que perdera a sua perna. Quando acordou, às oito e meia, pelo cântico de um pardal na janela, ela viu que seus parentes já tinham pegado a estrada, eles sempre saíam cedo no primeiro dia do ano, antes mesmo de ela acordar. Teresa pegou as muletas e se arrastou até o banheiro, no espelho, viu que seu rosto estava inchado e a gaze estava encharcada de lágrimas, o que a obrigou a olhar novamente para o ferimento horrível em seu rosto, enquanto a substituía por uma gaze nova. A imagem daquilo cicatrizando, selando seu ferimento, foi responsável por matar o seu apetite naquela manhã.

— Você tá sem fome, amor? — Samanta perguntou, ao outro lado da mesa. Ela tomava um dos seus shakes de Abacate com limão, e beliscava uns biscoitos integrais.

— Uhum — ela murmurou, alternando o olhar entre a xícara e Samanta.

— Tenta beber ao menos o café — Samanta disse em um tom amável.

— Acho que eu não quero – ela disse.

— Bebe o café, Teresa, você precisa — Samanta insistiu.

— Não, mãe, eu tô enjoada.

— Ao menos tenta!

— Eu não vou beber essa merda de café! — ela elevou subitamente a voz, tomada por uma nova raiva, uma raiva ardente, vinda dos confins de sua alma, que lhe lembrou, não somente do trauma da noite passada, mas toda a vergonha que aquilo lhe causou.

— Você quem sabe... — Samanta disse, dando-se por vencida.

— Quando que a prótese de perna vai ficar pronta? — Teresa perguntou, deixando a xícara de lado, o café ainda ondulava lá dentro, em um pequeno e redemoinho.

— Eu não sei, eles disseram que iam levar menos de um mês — Samanta respondeu, e a incerteza, mais uma vez, lhe trouxe uma onda de insatisfação borbulhante.

— Ah, tô vendo que isso vai é demorar — Teresa disse, sem um pingo de calma em sua voz.

— Você vai ter que ser paciente, filha.

— Aham, e até lá, eu faço o quê?

— Eu não sei, a gente podia fazer uma viagem, respirar uns ares diferentes — Samanta disse.

— Não, obrigada, eu não vou sair daqui com esse cotoco — Teresa respondeu, e foi impossível não sentir a sua voz trêmula.

— Tê...

— Não, mãe, eu não vou viajar com você.

— Tá, então... A gente podia ir no cinema, ou no shopping, alguma coisa assim — Samanta disse.

— As pessoas iam rir de mim — ela respondeu, apoiando a mão na bochecha e voltando a fitar o café, que já tinha se acalmado na xícara.

— Rir? Elas iam rir do quê? Teresa, não tem motivo pra rir — Samanta disse, erguendo levemente a voz.

— Tem, tem motivo — Teresa disse — Sério, por que você chamou eles pra passar o ano novo aqui? — ela emendou, referindo-se à sua família, todos os que a viram pagando aquele mico com os fogos de artifício, ela sabia o que eles deviam estar falando dela a essas horas.

— Foi o combinado — Samanta respondeu em um tom de voz afetado — Eu pensei que você iria se sentir melhor com eles aqui.

— Eu não senti, mãe, eu só passei vergonha, eu passei muita vergonha!

— Tê, não, eles entendem que você tá passando por um estado complicado — Samanta disse.

— Ah, entendem, a cara deles era super de quem entende — ela retrucou.

— Desculpa, Teresa, mas eles são sua família! — Samanta ergueu a voz novamente, visivelmente irritada.

— Mas eu quero ficar sozinha, dá pra entender isso?! Você pode fazer suas festas e sair pra fazer farra o quanto quiser, mas dá pra parar de trazer gente pra cá? Eu nem falo só deles; sabia que eu vi o seu último namorado pelado um dia desses? — Teresa disse, conforme falava, mais fatos surgiam, fatos que saltavam de sua boca, como uma avalanche. Teresa tinha visto um homem de cueca na cozinha há uns três meses, enquanto descia para beber água, o mais frustrante é que ela não fazia ideia de quem era aquele sujeito.

— S-Sério?! Quem era, o Marcos? — Samanta perguntou, arregalando os olhos em sua direção; ela já tinha olhos arredondados, e quando fazia isso, parecia uma coruja cara-de-lua.

— Eu não sei, e não tô nem aí — Teresa respondeu — Marcos, Marcio, não importa, eu quero um pouco de privacidade, mãe, você tá velha, dá pra aquietar essa bunda um pouquinho?!

— Eu achava que o problema era a família...

— O problema sou eu, mãe! — ela gritou, batendo na mesa, deixando sua raiva sair. Nos segundos que se seguiram, Samanta não disse mais nada, e ambas ficaram com os olhos úmidos de lágrimas.

— O problema sou eu... — Teresa repetiu.

Teresa não soube se Samanta falou com Adenes, ou se era apenas a sua típica responsabilidade paterna, mas ele não apareceu para vê-la nas próximas semanas, descumprindo com sua promessa; isso era ótimo, a última coisa que ela queria ver, naquele momento, era a cara de pau dele. Nas semanas que se seguiram, o único progresso que ela pôde ver, foi o de cicatrização de seus ferimentos, que selaram e se transformaram e marcas angustiantes. Seu rosto continuou com um rombo na região da bochecha, agora, fechado por uma fina camada de pele deformada, a ponta do seu coto ganhou uma espécie de estrela enrugada e mal cicatrizada, e sua perna fantasma lhe deu adeus uns dias depois, assim como os pesadelos macabros com o rosto carcomido de Gustavo, até porque, aos poucos, ela começou a se esquecer do rosto dele. Pessoas morrem, e essas pessoas são esquecidas em algum momento. Em seu isolamento, embora tenha evitado se olhar no espelho, Teresa sabia que estava definhando, que ela também estava morrendo, e logo, também seria esquecida. Ninguém foi visita-la nesses dias, nem família, nem amigos; apenas alguns profissionais fardados da Brasilegs, a corporação responsável pela sua prótese, que foram lá para medir o seu peso e tirar as medidas de seu corpo. Uns dois dias depois, Samanta lhe apareceu com um catálogo com várias cores de prótese, e ela pôde ter um vislumbre de sua futura perna, a parte da coxa era onde ela deveria encaixar o seu coto, e então, teria acesso à fina panturrilha que nada mais era do que uma barra de ferro, aquilo não lembrava nem de longe uma panturrilha humana.

— Então, você acha que fica melhor uma cor rosa? — Samanta perguntou — Ou roxo, azul?

— Não sei — ela disse, foleando o catálogo, haviam diversas cores e arranjos diferentes para a coxa, mas nada que fizesse a panturrilha parecer menos fina, menos inumana.

— Lilás, então, pode ser? Olha essa flor aqui, que linda — Samanta disse, indicando um modelo de uma cor lilás, com uma flor tulipa branca estampada.

— Pode ser — ela disse apenas, não importava mesmo.

Na terceira semana de janeiro, em uma segunda-feira, Teresa e Samanta foram ver o doutor Julho Cezar, o médico especializado em próteses que tinha ficado responsabilizado pela sua perna. Elas levantaram cedo, tomaram café e pegaram o caminho. O consultório particular de Julho Cezar ficava na rua Prudente de Morais, no centro de Ipanema, em um prédio de três andares. Quando chegaram lá, ainda esperaram por cerca de uma hora, ouvindo a enfermeira atendente, uma mulher meio gordinha, com rabo de cavalo, falando sobre uma tal de Patrícia no telefone do balcão, e sobre como ela (Patrícia) era uma piranha que roubava os maridos alheios, furava filas, comprava medicamentos errados e ainda tentava seduzir os pacientes. Ela ainda se aprofundou no assunto, falando em detalhes sobre como Patrícia dormiu com um tal de Gabriel, que tinha uma esposa chamada Janaína, e que era uma idiota por nunca perceber o que estava acontecendo bem debaixo do seu nariz.

— Mas eu falo pra ela, eu falo todo dia, mas quem disse que ela liga? — a enfermeira dizia animadamente, com quem quer que estivesse do outro lado da linha — Sabe o que é que ela me disse? Disse que isso é coisa de gente velha, cê acha? Aham, pois é.

Teresa e Samanta olhavam uma para a outra, rindo baixinho a cada comentário afiado que a enfermeira fazia, ou dos risos extravagantes quando a pessoa do outro lado soltava o que provavelmente era a piada mais engraçada do mundo. Pessoas com risos extravagantes sempre irritaram-na, mas ela estava até um pouco otimista com a ideia de finalmente firmar seus dois pés nos chãos, ainda que um desses pés não fosse exatamente seu.

— Maria Teresa Cavalcante! — uma voz grave e alta, que provavelmente pertenceria ao seu doutor, a chamou do outro lado do corredor. Teresa se levantou, com a ajuda de Samanta, se apoiando em suas muletas e galgando em direção da sala do doutor Julho Cezar, no final do corredor. Samanta a acompanhou até lá, com as mãos envolta dela, como se ainda temesse que ela fosse cair a qualquer momento e ganhar um rombo ainda maior no meio da cara. Teresa ainda ouviu mais uma explosão de risos da enfermeira do telefone, e imaginou o que poderia ser tão engraçado.

O doutor Julho Cezar era um homem de meia idade, usava um par de óculos de grau que faziam seus olhos parecerem enormes, e o pouco cabelo que tinha nas laterais da cabeça, estavam ficando grisalhos, ainda assim, ele não era exatamente feio. Quando a viu entrar na sala, Julho Cezar lhe mostrou um sorriso brilhante e sincero, como se estivesse muito satisfeito em vê-la.

— Aqui, a mãe ajuda ela a se sentar? — ele disse, levantando-se de sua cadeira e indicando os bancos onde elas deveriam ficar, como se isso não fosse óbvio. Samanta recolheu as suas muletas e a amparou, enquanto ela sentava no banco com o máximo de cuidado possível.

— Bom dia — Julho Cezar acrescentou, quando viu que ambas estavam acomodadas, ao menos, o mais próximo que podiam disso.

— Bom dia — elas responderam em uníssono.

— Então, você lembra quando tiraram suas medidas, né? — ele perguntou.

— Eu não lembro de ter sido você — Teresa disse de forma seca.

— É, não fui eu — Julho Cezar sorriu de leve, revelando a brancura chamativa de seus dentes — Então, você ganhou ou perdeu muito peso dês de aquela época? Ou tá tudo do mesmo jeito?

— Do mesmo jeito, eu acho — ela respondeu.

— Ela não tá comendo muito, mas não chegou a perder peso — Samanta disse, o que a deixou irritada, Teresa não queria ouvir a sua mãe falando sobre o seu processo auto destrutivo, aliás, por que gastar dinheiro com uma prótese para alguém que já está tentando morrer? Vai saber.

— Pois é, mas tem que comer, viu? — Julho Cezar disse, como se falasse para uma criancinha — Coma e beba muita água, pro seu corpo se recuperar mais rápido do tombo.

— Eu acho meio difícil ele se recuperar disso — ela disse, erguendo o coto de sua perna e exibindo a cicatriz, ela tinha nojo de si mesma, e esperava ver uma expressão penosa no rosto de Julho Cezar, mas ele nem piscou.

— Não tem como recuperar, mas dá pra se adaptar — ele disse — Eu recebo dezenas de pacientes por ano que acham que ficaram inválidos, que a vida deles já era, que não tem mais jeito pra eles; mas quase todos, Teresa, quase todos, voltam à normalidade quando se acostumam com a prótese.

— Foi o que eu disse pra ela, é só ela se acostumar — Samanta disse, e Teresa revirou os olhos, quase os fazendo suas pupilas sumirem.

— Tá bom, mas e a prótese, terminou ou não? — ela perguntou, sem paciência alguma para aquela falação toda otimista e esperançosa, de pessoas que nunca tinham passado pelo que ela estava passando.

— Terminei, filha, terminei — ele disse, sem demonstrar a menor afobação com o seu jeito.

— Então vai pegar — ela disse.

Julho Cezar assentiu, se levantou e foi até um depósito na parte de trás de sua sala, talvez, depois de se dar conta que ele era um médico de próteses, e não um psicólogo, não tinha nada que ele dissesse para anima-la que já não tivesse passado pela sua cabeça, absolutamente nada.

— Grossa — Samanta sussurrou, mas ela não respondeu.

— Aqui — Julho Cezar voltou, trazendo a prótese projetada em mãos, enrolada em plástico bolha. A superfície roxa e lilás podia ser vista através da transparência.

— Olha, Tê, é linda — Samanta disse, abrindo um grande sorriso e indo buscar a prótese com o doutor. Teresa ficou onde estava, não somente por não ter escolhas, mas por não querer tocar naquela coisa. Uma hesitação fria e súbita surgia de suas vísceras, subindo pelo tórax como nitrogênio líquido.

— Esse é um modelo de prótese transfemural, o joelho é feito de fibra de carbono, e simula um movimento de uma perna real, quase com perfeição — o doutor disse, entregando-a nas mãos de Samanta.

— Certo — Samanta disse.

— O encaixe foi feito com um sistema inovador, as bordas dela são feitas de silicone, pra não machucar a Teresa quando ela for fazer exercícios, e o pé tem um formato humano, com uma sola antiderrapante, assim, ela não corre risco de escorregar quando for andar em uma superfície muito lisa.

— Ah, viu aí, Teresa? Você vai poder até fazer exercícios — Samanta olhou-a por cima do ombro — Quer testar?

— É, se eu vou ter que ficar à mercê disso pra sempre — ela respondeu com um aspecto conformado, pegando as muletas e fazendo um esforço para se levantar. Samanta rasgou o plástico bolha, jogando-o de lado e revelando a prótese. Ela era como no catálogo, encaixe lilás, com algumas flores tropicais brancas nas laterais, o joelho de fibra, a canela que era uma simples barra de ferro, e o pé, que era a parte mais humana dela. Ver aquela coisa pessoalmente era ainda mais terrível do que pelo catálogo, mas ela aguentou firme, enquanto Samanta se inclinava para baixo, encaixando a prótese em seu coto e erguendo-a até onde conseguiu.

— Agora você força pra baixo, até sentir o coto tocar o final do encaixe — Julho Cezar a instruiu. Teresa fez como ele disse, empurrando o coto através da silicone e do plástico que revestiam a sua coxa, até sentir a ponta do conto, um pouco dormente, chegar ao final do encaixe. Ela largou as muletas com Samanta, um pouco hesitante, e tentou se equilibrar sobre seu novo pé. Ela não tentou caminhar, ainda não tinha confiança para isso, mas não pôde deixar de sentir um certo alívio em ver que sua perna esquerda não estava mais responsável por todo o peso de seu corpo.

— E então? — o doutor Julho Cezar perguntou.

— É... Vai servir — ela disse, e ele riu, um pouco sem graça.

— Vai, eu tenho certeza que vai servir — ele disse.

— E no caso do treinamento, ela aprende a andar com o tempo, ou tem alguma coisa a mais? — Samanta perguntou.

— A gente vai enviar uma terapeuta pra acompanhar ela nos primeiros dias — Julho Cezar disse.

A ideia de ter uma fisioterapeuta lhe parecia ainda mais humilhante a essas alturas, mas Teresa estava em um estado de aceitação da desgraça que já não questionava se ela vinha aos poucos ou toda de uma vez. Ela voltou para casa mais tarde, e tentou caminhar com a sua prótese, mas seus passos foram lentos e desengonçados como os de um bebê, quando acaba de descobrir as pernas. Sua terapeuta se chamava Raquel, era uma mulher baixinha, com os cabelos loiros em corte Chanel; ela tinha uma fala tão mansa que causava sono, e sempre mascava um chiclete sabor melão, sempre, sempre, tanto que passou a dar enjoo em Teresa depois de um tempo, e só o cheiro enjoativo de melão fazia-a lembrar-se de toda a tortura física que sofria nas mãos de Raquel; Abaixa, levanta, um passo, dois passos. Por uma semana, Teresa treinou marcha, equilíbrio e coordenação; por uma semana, ela reaprendeu a andar. Teresa se saiu bem em todas as seções, seu equilíbrio e flexibilidade não deixavam a desejar, ainda havia algo da bailarina que ela foi um dia, algo que não era tão valioso, mas que serviria bem por hora.

— Muito bem, mais dois passos pra frente — Raquel disse, caminhando para trás e deixando-a seguir por conta própria. Teresa deu dois orgulhosos passos para a frente, arrastando sua prótese pelo piso de cerâmica da sala de estar.

— Olha só, parabéns — Samanta disse, sem omitir o orgulho em sua voz. Ela costumava assistir às seções do sofá, vibrando com a mesma intensidade com a qual assistia a novela das oito, torcendo por Teresa.

— Tenta levantar um pouco mais a prótese, lembra de caminhar com naturalidade — Raquel disse.

— Naturalidade — Teresa repetiu, dando mais dois passos para frente, erguendo bem os joelhos, quase como um soldado britânico em uma marcha real.

— Isso não foi muito natural também, não suba muito os joelhos.

— Não subir muito os joelhos — ela repetiu, repetindo os dois passos, atenta aos erros passados, realizando-o tão perfeitamente, que sentiu uma sensação agridoce de orgulho surgir em seu interior pela primeira vez desde o acidente.

— Parabéns — Raquel disse, mostrando um dos seus raros sorrisos, e Teresa viu orgulho em seus olhos. Isso seria gratificante, não fosse o cheiro enjoativo e artificial de melão.

— Eu disse pra você, isso não ia ser problema pra uma ex bailarina — Teresa respondeu, não contendo o seu sorriso.

Aqueles primeiros passos foram seguidos de muitos, embora a sensação de estar à mercê de um pouco de metal e plástico fosse sufocante às vezes, Teresa gostou de dominar aquela prótese, pisar com ela, se locomover pelas extremidades de sua casa e explorar todo o ambiente, como fazia quando ainda era uma criança, explorando a si mesma, descobrindo uma pequena fagulha de luz em meio ao seu mundo de trevas murmurantes, não grande o suficiente para deixa-la feliz, mas não pequena o suficiente para deixa-la morrer.

Já era Fevereiro, na manhã em que Samanta entrou em seu quarto, enquanto Teresa repaginava mais um dos velhos álbuns de fotos, sem sequer ter decido para o café. No momento, ela estava olhando atentamente para uma imagem de Adenes quando tinha a sua idade, em um porto de pesca do rio negro, no Amazonas, com uma calça jeans e um peixe enorme que ele supostamente tinha pescado. Teresa perguntava para si mesma: o que tinha acontecido com esse rapaz sorridente? Será que Gustavo teria se tornado um mala, assim como ele?

— Teresa! — Samanta praticamente gritou pelo seu nome. Ela tinha uma caixa branca em mãos.

— Ai, que susto! — ela disse em um sobressalto, fechando o álbum, como se estivesse vendo algo que não devia.

— De novo fuçando esses álbuns, Teresa? — Samanta perguntou, indo até ela e se sentando ao seu lado.

— Eu só tava vendo umas fotos suas — ela respondeu secamente, deixando o álbum de lado — O que é?

— Olha, abre — Samanta pôs a caixa em seu colo, dobrando as mãos e roendo as unhas de tanta empolgação, ela não esperava que não tivesse algo impactante lá dentro, mas o que era impactante para a sua mãe, nem sempre era para ela.

— O que é isso? — ela perguntou, enquanto abria a caixa, e seu queixo caiu no momento em que seus olhos foram golpeados pelo molde que repousava no interior. Era como o pé da sua prótese, mas ao invés de uma postura horizontal imutável, esse molde se via quase completamente na vertical, equilibrado perfeitamente em uma pequena área de apoio, exatamente como o pé de uma bailarina.

— E então? — Samanta perguntou.

— Isso é um... — Teresa tentou falar, enquanto várias memórias abriam caminho pela sua mente, várias possibilidades inexploradas. Ela se lembrou da conversa que tiveram na mesa de jantar, pessoas com próteses não podem...

— Você ainda pode ser uma bailarina, filha — Samanta disse.

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