Capítulo 18 Revolução Silenciosa

Abri meus olhos nublados por lágrimas que haviam se acumulado involuntariamente enquanto vivia as memórias de Paula.

Quando voltei à vida real, me sentei no sofá e afastei os cabelos do rosto. Eu sempre ficava um pouco desorientada depois que saía de uma regressão e aquela em questão me deixou mais abalada do que eu poderia imaginar.

— Você está bem, Paloma? — perguntou Vitória, preocupada se levantando rapidamente e se sentando ao meu lado.

— Sim, estou — afirmei.

— Acho que desta vez a regressão não foi uma boa ideia — disse Vitória. — Era para te ajudar a ficar mais tranquila, mas duvido que a história que você acabou de nos contar tenha ajudado nisso.

— Na verdade ajudou mais do que você imagina — falei animada.

— Como assim? — perguntou Rafael. — Essa foi uma das histórias mais cruéis que eu já ouvi.

— Aí está! E o que causou tanta crueldade?

— O preconceito — completou Kety pensativa. — Não posso negar que o que eu mais gostei na história foi saber que eu era um moreno sensual. Mas você, Paloma. — Se levantou e sentou-se ao meu lado. — Essa Paula era uma mulher fantástica, a frente do seu tempo, com um pensamento repleto de tolerância e amor. Ela não via os escravos como inferiores, ela se sentia como se fosse uma escrava também. O que parando para pensar faz sentido, pois a mulher era muito subjugadas naquela época. Mas ela foi forte e decidida. Isso que me fascinou nela. Na sua primeira oportunidade de mudar a sua realidade e a de muitas pessoas, ela não pensou duas vezes. E é uma pena saber que ela não pode ser feliz por muito tempo. Se essa história ficasse famosa, tenho certeza que até hoje ela seria um exemplo. Uma mulher que lutou contra o machismo e o racismo!

— Falando assim eu até me sinto importante — falei sorrindo timidamente. — Mas eu sei o motivo de ela ter tanta coragem, eu pude sentir tudo o que ela sentia. E o motivo dela lutar sempre foi o amor que ela sentia por Khalid.

— Que era eu. — Kety beijou meus lábios rapidamente.

— Sim, e é por isso que eu vou continuar a lutar contra as injustiças que entrarem no nosso caminho — falei olhando nos olhos verdes e cheios de esperanças dela.

— Você tem algo em mente, seu olhar já diz tudo — disse Vitória, sorrindo.

— Já senti que vem confusão por aí — comentou Rafael.

Kety e eu nos olhamos e sorrimos. Eu tinha um plano e acho que ela já sabia do que se tratava.

Decidi colocar meu plano em prática em uma segunda-feira, só para aquela semana ser completa.

Minha ideia era acabar com as injustiças naquela escola, e principalmente com a homofobia. Depois que Kety me contou a história do garoto que se suicidou porque a escola o humilhou por estar beijando alguém, sendo que todos faziam o mesmo. E depois de passar o mesmo, senti que aquele comportamento da vice-diretora tinha que acabar, porque mesmo depois de uma pessoa se matar por sua imprudência, ela continuava a agir da mesma forma.

— Por que a escola não chamava a atenção de todos, exato os homossexuais que muitas vezes são os mais discretos? Por que somos excluídos e marginalizados desta forma? Ela deve pensar que esta mantendo o pudor na escola, então por que não chama a atenção de todos, sem exceção?

— Você está certa, Paloma!

Foi a frase que eu mais ouvi naquela segunda-feira. Quando Kety usou sua popularidade de jogadora para no intervalo reunirmos atrás de um arvoredo nos fundos da escola, de lá tínhamos certeza que nenhum professor nos veria. Kety e seus amigos conseguiram reunir cerca de vinte alunos, era pouco mas era o suficiente. Muitos deles eram amigos do garoto que havia suicidado, e como eu, estavam inconformados. Porém, naquela época ninguém tinha coragem para enfrentar a vice-diretora, mas eu tinha.

— E como vamos enfrentar aquela bruxa? — perguntou uma garota loira e pequena.

— Bem — comecei. — Meu plano inicial era fazer uma manifestação pacífica para que ninguém seja expulso. E também penso que esse movimento não deveria ter um líder, pois queremos igualdade, sendo assim. Todos somos responsáveis igualmente e todas as boas ideias são bem vindas.

— E se a gente colar fotos e panfletos do Samuel por toda a escola? E em todos eles tiver estiver escrito o que aconteceu com meu amigo? — sugeriu a menina loira.

— É uma ótima ideia — comentou Kety.

— Ele era meu melhor amigo — lamentou a menina. — E o que fizeram para ele foi algo destrutivo que nenhum ser humano deveria passar. Sei que meu amigo não vai voltar, mas se ninguém mais passar pelo o que ele passou, já vou me sentir melhor por ele.

— Eu ainda não acredito que ninguém procurou justiça na época. O que aconteceu foi muito sério — falei.

— Você ainda não conhece aquela mulher — alertou Felipe.

— Não tenho medo dela — afirmei.

— Então você deve ser a única — disse Eduarda. — Ela é o próprio demônio.

— O que ela pode fazer de tão ruim, nos expulsar? — perguntei olhando para todos.

Um silêncio absoluto tomou conta.

— Vocês não precisam ter medo dela, pessoal. Ela não é a maior alteridade do mundo, nem da escola ela é. E se nosso movimento conseguir mostrar a verdade à todos. Tenho certeza que muitas coisas irão melhorar nesta escola. Não só a questão da homofobia. Quero que todos tenham coragem, não por mim, nem pela Kety. E sim pelo menino que não teve a mesma sorte que nós duas e pelas próximas pessoas que irão frequentar essa escola. Vamos fazer uma revolução silenciosa, até que a verdade se torne barulhenta!

— Você foi maravilhosa, amiga — disse Vitória, enquanto subíamos a escadaria da escola de volta à nossa sala.

— Foi mesmo, nunca pensei que você pudesse ser tão convincente — disse Kety. — Você sempre foi tão tímida.

— Também não sei o que aconteceu comigo — admiti. — Acho que injustiças me deixam com raiva, e a raiva me dá coragem.

— Espero que todos tenham coragem como você — disse Kety, sorrindo convencida.

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Comments

Maria Do Carmo Andrade

Maria Do Carmo Andrade

infelizmente a nossa sociedade e hipócrita dizem que aceita más lá no fundo criticam são homofóbico isso e a vdd

2024-05-07

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