Capítulo 13 Não Minta Para Si

Abri meus olhos assim que todas aquelas imagens desapareceram completamente. Me sentei no sofá e afastei meus cabelos do rosto, não tinha certeza se meus amigos haviam ouvido tudo o que aconteceu, nem se eu tivesse contando todos os detalhes de tudo que vi.

Assim que tudo pareceu mais nítido para minha visão, olhei na direção de Vitória e Rafael.

Eu tinha a consciência de que aquela história teria sido bem cativante. Porém, o olhar dos dois demostrava tanto entusiasmo que parecia até que eu tinha descoberto a cura do câncer.

— O que foi? — perguntei sem entender nada.

— Isso foi louco — comentou Rafael.

Ainda sem entender olhei para Vitória.

— Amiga, acho que finalmente conseguiu as respostas que queria.

— Como assim? — indaguei.

— Não é óbvio? — comentou Rafael. — Se você tinha alguma dúvida sobre sua ligação com a Kety, dessa vez foi tudo explicado.

— Mas vocês ouviram mesmo tudo que aconteceu? — perguntei incrédula.

— Em todos os detalhes — respondeu Vitória.

— Não posso negar que está foi a que mais me abalou — admiti.

— Isso deve ser porque foi a primeira vez que a encarnação de Kety apareceu como uma garota ao mesmo tempo que você também era uma garota — explicou Vitória.

— E que ninguém morreu tragicamente — observou Rafael.

— Pois é — disse ainda tonta. — Essa foi a que eu mais gostei até agora — admiti.

— Também é a primeira que você vive algo parecido com o que vive agora — disse Vitória.

— Só por sermos ambas mulheres? — indaguei.

— É incrível como você não vê algo que está na frente da sua cara! — disse Vitória.

E Rafael concordou acenando com a cabeça.

— Por que está alterada assim? — perguntei incrédula.

— O universo acabou de explicar tudo para você. Já que no início você achava que se apaixonava pelo dono do par de olhos verdes. E não queria aceitar que desta vez ele veio como uma garota. E agora, tudo está resolvido! — disse ainda alterada. — Você acabou de ter a prova de que o amor entre ambas as almas vai além do sexo, do tempo, da cultura e das dificuldades. Acho que mesmo que vocês reencarnem mais umas trezentas vezes. Em todas elas darão um jeito de se encontrar. Isso é o que chamam almas gêmeas!

— Que bobagem. — Sorri. — Não existe isso de almas gêmeas.

— Então como você explica vocês duas se apaixonarem em todas as vidas que você viu até agora? — perguntou Rafael.

— Acaso — disse simplesmente.

— Isso é tudo menos acaso — disse Vitória. — É destino, e não se pode contra ele.

— Acho que todos temos poder em relação à nossas ações. E eu sei o que sinto em relação à Kety e não é algo intenso e avassalador como foi com a Penélope e Kate — falei.

— Você não se cansa de mentir para sí mesma? — perguntou Rafael com um sorriso bobo nos lábios. — Somos seus amigos, pode desabafar.

— Ela é teimosa de mais — reclamou Vitória.

— O que vocês querem que eu diga? Que eu a amo, que meu coração acelera só de lembrar dos poucos e maravilhosos momentos que passamos juntas. Que ela é a pessoa mais linda que já vi na vida. Que eu não suporto olhar para ela e saber que temos chance de ferir uma a outra. Que tenho medo do que pode acontecer caso eu deixar tudo seguir o curso que eu sei que é inútil tentar impedir?!

Quando terminei de falar, Vitória e Rafael me olharam surpresos e depois sorriram.

— Você acabou de admitir o obvio — disse Rafael. — Até que enfim!

— Você não precisa ter medo de gostar dela, amiga — disse Vitória preocupada, sentando-se ao meu lado. — As coisas não são mais como antigamente, agora toda forma de amor é aceita. Não tem mais toda aquela bobagem, a sociedade não é mais a mesma.

— Mesmo assim não é fácil — resmunguei. — E já que vocês querem a verdade! Sim! Eu tenho medo, na verdade eu não queria sentir o que sinto por aquela garota, mas mesmo tentando evitar com todas as minhas forças, é impossível tirar do meu peito todo o amor que sinto.

Enquanto falava senti lágrimas escorrem por meu rosto e me envergonhei por deixa-las escapar.

Rafael se levantou e também se sentou ao meu lado.

— Não precisa ter medo de amar — disse ele pegando em uma das minhas mãos, olhando em meus olhos e sorrindo. — Se sua felicidade sempre foi o amor dela, independente de tudo. Não tem porque querer evitar logo agora.

— Eu sei — disse mais tranquila.

— Sei que pode parecer bem difícil e talvez você não esperasse por isso. Mas algo incrível aconteceu com você. Nem todo mundo tem a oportunidade de saber quem é o amor de sua vida e ter certeza que se deve arriscar ou não.

— Não tenho certeza se devo arriscar ou não, assim como você diz — falei. — Não é tão simples assim, não sei como minha família reagirá com a notícia é também não sei se Kety realmente gosta de mim. Na verdade, nem eu sei realmente o que sinto. Estou confusa e assustada com tudo isso — admiti.

— Não precisa ter medo, amiga — disse Vitória amavelmente, acariciando meu ombro. — E quanto a Kety, não precisa se preocupar, pois está mais do que óbvio que ela está apaixonada por você. Não é, Rafa?

— Todo mundo já sabe que vocês se gostam. Menos vocês — disse ele sorridente. — Por isso você tem que parar logo de fazer doce e aceitar que ama aquela garota que também é louca por você!

Vitória e Rafael seguraram em minhas mãos e sorrimos olhando um para o outro.

Naquela noite, dormir não foi algo tão simples. Era como se eu não lembrasse como é sentir sono. Minha mente martelava constantemente os mesmos pensamentos. Não conseguia parar de pensar que havia admitido que amava Kety. No fundo eu sempre soube que isso era verdade, desde o momento que a vi. Mas algo me forçava a mentir para mim mesma, e eu sabia bem quem era. O medo havia criado um abismo entre nós. E ainda não havia me deixado, sentia medo de que tudo entre nós desce errado. Que ela não gostasse de mim depois de ser uma otária, que eu não fosse suficiente para ela, que nossas famílias e amigos não aceitassem nosso amor. Enfim, eu era a personificação do medo.

Quando olhei a hora no celular, depois de rolar na cama por um longo tempo. Eram 03:16 da madrugada. O que não era nada bom, porque eu tinha que acordar às 06:00 da manhã. Ou seja, no dia seguinte seria uma zumbi. Irritada rolei na cama mais uma vez até que me deitei de barriga para cima e fiquei olhando para o teto parcialmente iluminado. Foi então, que aos poucos eu adormeci.

Comecei a sonhar com algo estranhamente nítido de mais para ser um sonho. Me via andando em um casarão muito bonito e muito bem decorado no estilo vitoriano. Passei por um corredor que me levou até uma porta que abri lentamente.

Dentro da saleta havia uma mulher muito elegante, estava sentada em um elegante sofá de frente a uma lareira e lia um livro de capa vermelha. Era possível ver que era jovem e bonita e usava um longo e enfeitado vestido verde.

Ao me aproximar, aquela imagem foi parando de ser algo estranho para mim, fui me lembrando de que já estive ali antes e sabia quem era a moça de cabelos castanhos e ondulados. Era Penélope Holly.

Não podia acreditar que estava frente a frente com ela e tinha sérias dúvidas se ela podia me ver ou não.

— Estive lhe esperando há algum tempo — disse Penélope ainda de costas.

Instigada, andei até ela e parei em sua frente.

— Está falando comigo? — perguntei.

— E com quem mais seria, minha cara — disse ela sorrindo amavelmente. — Sente-se por favor.

Penélope olhou para o sofá que estava à frente e eu me sentei.

Fiquei à observando enquanto segurava algo que parecia um bordado, ela era tão elegante e delicada. Seu rosto era angelical e sereno. Tudo indicava que era feliz e bem resolvida.

— Por que estou aqui? — perguntei.

— Não é óbvio? Precisamos conversar.

— Pensei que a regressão já havia me dado as respostas que preciso.

— E você ainda continua confusa, não é? — perguntou sorrindo, enquanto olhava para o bordado em seu colo.

— Acho que a confusão já faz parte de mim. — Sorri.

— Estou me referindo à confusão que sente em relação ao amor que sente pela reencarnação de minha amada Kate.

— Ah, isso é. Eu ainda estou confusa com muitas coisas que estão acontecendo e o que vão acontecer. Sabe? Eu queria ser como você. Quando estive dentro da sua mente em nenhum momento senti incerteza, mesmo que você tivesse muitos motivos para sentir até mais medo que eu porque seu tempo era muito ruim para duas mulheres se amarem.

Penélope achou graça do que eu disse e sorriu discretamente.

— Você é uma graça — disse ela. — Mas está enganada em relação aos meus sentimentos. Na regressão você presenciou os melhores momentos, mas não os de angústia. Havia sim, momentos que me via em desespero só de pensar no que poderia acontecer se alguém descobrisse meu romance com Kate. No que a sociedade inglesa pensaria, afinal, eu era da nobreza. Um escândalo como aquele poderia arruinar a reputação de toda minha família.

— Então como você lidou com isso? Com o medo? — indaguei.

— Com o amor — respondeu sorrindo convencida.

— Não entendi.

— Somente o amor ultrapassa o tempo e a morte. É besteira tentar evita-lo — disse Paloma.

— Está dizendo que devo me entregar à este amor?

— Com todas suas forças. Só assim você saberá como é sentir a verdadeira felicidade. Então, só então, você vai saber como é não temer a nada nem ninguém — afirmou.

— Espero um dia ser tão forte quanto você foi — admiti.

— Toda minha força veio do amor que sentia, não só por Kate, e sim por minha família e todos que me importavam — disse ela.

— Está falando de seus filhos?

— Meus filhos foram um presente de Deus, assim como o pai deles.

— Pensei que você não gostasse dele.

— Ora, que bobagem. — Ela sorriu. — Admito que de início pensei que meu casamento com Lorde Holland me afastaria de Kate Watson para sempre. Porém, ambas fomos inteligentes o bastante para mantermos um caso secreto. E em relação ao meu marido. Com o tempo passei a ama-lo também. Não tanto quanto amava Kate, mas sim outro tipo de amor. Holland se mostrou um bom homem e me respeitava, ficamos grandes amigos e eu o amava como tal.

— Isso que eu chamo de triângulo amoroso — comentei animada.

Penélope Holly sorriu.

— Minha querida, sei que você precisa ouvir algo encorajador, ou então o universo não permitiria esta nossa conversa — comentou ela.

— Sei que posso acreditar em você, afinal, somos praticamente a mesma pessoa.

— A mesma pessoa em tempos diferentes — observou ela, e em seguida levantou-se, sentou ao meu lado e pegou em minhas mãos. — É neste assunto que devo lhe aconselhar. Você e eu, temos semelhança e diferenças. Assim como no passado e no presente. Creio que no seu tempo o amor entre duas mulheres ainda cause escalados. Porém, são melhores aceitos do que em meus tempos. E é neste ponto que quero chegar. Aproveite, menina! Aproveite a chance que não tive assim como muitas outras vidas passadas. Não recuse à você mesmo o que seu coração pede desesperadamente. Não tenha medo dos pensamentos alheios, não tenha medo de ser feliz, de amar.

— Seguirei meu coração — afirmei.

Penélope Holly sorriu antes de que toda aquela angústia parecia deixar meu peito para sempre. Ao poucos aquela sala luxuosa foi desaparecendo, se convertendo à uma névoa onde eu estava perdida. Não conseguia ver nada, olhava para os lados em busca de algo que pudesse me apoiar, mas estava no limbo acidentado.

Foi então que apareceu uma borboleta branca, que começou a dar voltas ao meu redor. E em seguida saiu voando em uma direção.

Sem mais nenhuma alternativa eu a seguir. Ela voava de pressa e tive que correr. Quando me dei conta estava em uma floresta, onde só se podia ouvir uma cachoeira. Parei e olhei para os lados, eu conhecia aquele lugar.

A borboleta continuou voando, dessa vez mas devagar. A segui até que o som indicava que estava mais perto da cachoeira. Então a borboleta voou muito rápido à ponto de eu não conseguir acompanhar. Foi então que vi alguém próximo a cachoeira, era uma garota de logos cabelos castanhos claros, estava sentada na margens e a borboleta voava ao seu redor.

Andei lentamente até ela, aquilo me parecia muito familiar mas eu não sabia de onde. Então quando me aproximei o bastante, a garota virou-se para mim e sorriu. Era Kety.

— Oi, Paloma — disse amavelmente. — Você não sabe a eternidade que venho esperado por você.

Fiquei sem reação em vê-la, era como reviver o mesmo momento em que nos beijamos, só que eu não queria correr. Porém infelizmente, aquele sonho desapareceu quando acordei, com Amanda pulando em cima de mim.

Acordei irritada e a primeira coisa que vi foi o sorriso sapeca da minha irmãzinha.

— Estava sonhando? — perguntou ela.

— Sim — disse esfregando a mão nos olhos sonolentos.

— Está na hora de levantar, tem aula hoje, preguiçosa — disse sorridente, pulou da minha cama e saiu do meu quarto. — Levanta logo!

Me atirei na cama e encarei o teto, aqueles sonhos foram mais do que significativos para mim, eu deveria seguir os conselhos que recebi. E também deveria levantar da cama.

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