ELES CHEGARAM NO CASARÃO, subindo as escadas às cegas. Degrau por degrau, as risadinhas eram soltas. Risadinhas. Beijos. O lugar estava todo envolvido na penumbra. Tateando pela parede, Simon conseguiu abrir a porta do quarto — mantendo a mão grudada na nuca de Fritz.
FRITZ — Como você consegue…
Simon brincou:
SIMON — Conheço a minha casa até no escuro.
Fritz deu uma risadinha.
Eles entraram no quarto, ainda colados. E começaram a tirar a roupa um do outro. Simon começou pela blusa dele e na sua mente passou um filme — de quando ele viu Fritz sem camisa pela primeira vez, há quinze anos, numa casa em construção.
Na época, ele e Manfred trabalhavam juntos. Como a casa em construção era perto da antiga casa onde morava antes, ele ia ver o pai e ficava por lá.
Um dia ele chegou para ver o pai, que não estava lá. Mas acabou dando de cara com Fritz suado, sem camisa, apenas de calça jeans toda surrada e que ele usava apenas para o trabalho. Com o coração pulando no peito, Simon voltou pra casa.
Assim que ele chegou no quarto, foi direto no banheiro e viu que tava de pinto duro depois de ver aquela cena. Foi aí que teve a certeza de que gostava mesmo de homens. Fritz foi o seu primeiro, mesmo não tendo se envolvido diretamente.
Só depois de quinze anos. Ele, com vinte e sete. Fritz, com trinta e nove.
Simon voltou para o presente momento quando sentiu Fritz duro dentro das calças, atrás de si, beijando seu pescoço e sua nuca, tirando sua camiseta e desabotoando a sua calça. Simon levantou os braços e sentiu a camisa passar por eles.
Fritz beijou as suas costas, seus ombros, roçando um pouco de barba que tinha ali. Ele era carinhoso. Simon se virou de frente e eles voltaram a se beijar.
Ambos tiraram as calças. Simon arriou a cueca de Fritz e viu o membro duro saltando. Fritz também tirou a dele. Foram direto pra cama.
...*** ...
IVAN E BORIS, UM DE SEUS HOMENS, fumavam no jardim que estava envolto na penumbra da noite.
IVAN — Quer dizer que você viu Simon junto com o ex-comparsa de Manfred naquele parque recém inaugurado?
BORIS — Sim. Vi os dois juntos lá, brincando no carrossel.
O olhar de Ivan era enigmático. Ele deu mais um trago no cigarro.
IVAN — E você viu também aquele tal de Kim.
BORIS — Isso mesmo. Observando os dois. Tenho pra mim que o filho do agiota que morreu ficou no comando agora.
IVAN — Hum… Deve ser o tal de Jung. Conheço o pai e o filho.
BORIS — Ele mesmo. É dono de uma boca, lá na outra zona da cidade.
IVAN — Ele deve tá mirando no Simon por causa do que o Manfred fez. Sabe aquele dinheiro que ele trouxe pra cá? Deve ser do pai dele. Manfred roubou na cara dura.
Boris deu uma risadinha.
BORIS — O malandro era frio.
IVAN — Então.
Ivan só pensava no fato de Simon estar na mira do homem. Não queria mais ninguém visando o rapaz, além dele.
...*** ...
SIMON SENTIA FRITZ CADA vez mais dentro dele. Quanto mais estocadas, uma chuva de estímulos em cada terminação nervosa. Por mais estranho que fosse, Simon sentiu que realizava um desejo que foi reprimido há muito tempo: se envolver com Fritz.
Ele havia esquecido do homem durante muito tempo e se envolveu com outros homens. Só o reencontrou há menos de um ano, de forma esporádica e rápida, o que não dava tempo para as lembranças aflorarem.
Depois que seu pai foi baleado, é que ele começou a passar mais tempo com Fritz. E um acontecimento levou a outro. Simon não fazia ideia de que um dia Fritz o chamaria para sair e que nessa ocasião rolaria um beijo e até mesmo sexo.
Eles chegaram no ápice juntos. Fritz tirou a camisinha, deu um nó, e jogou no chão. Puxou Simon para aninhá-lo em seu peitoral. Beijou-lhe a testa.
Com a respiração mais estável, Simon começou:
SIMON — Sabe o que eu tava pensando?
FRITZ — No quê?
SIMON — Da última vez que a gente se viu. Eu não fazia ideia de que seria a última. Mas eu me lembro bem.
Simon sentiu a respiração de Fritz no alto da sua cabeça.
FRITZ — Foi há dez anos?
SIMON — Sim, foi. Tinha lá pros meus dezessete anos, por aí.
FRITZ — Eu trabalhava com o seu pai na construção de um casarão. Fase final. Você costumava ir para vê-lo.
SIMON — Sim. Me lembro. Nesse dia eu procurei por ele, mas não tava.
FRITZ — Ele tinha saído para comprar o nosso almoço e demorou pra voltar. Aquele canalha.
Fritz deu uma risadinha com a lembrança.
SIMON — Sim, ele demorou mesmo.
FRITZ — Você ainda estava esperando ele?
Simon apoiou-se nos cotovelos para conversar com Fritz. Acendeu o abajur.
SIMON — Eu tinha voltado um tempo depois, mas…
FRITZ — Mas…?
SIMON — Sem querer vi você tomando banho. Peladão. No banheiro enorme do casarão.
Fritz deu uma risadinha gutural.
FRITZ — Sério que você me viu pelado antes?
SIMON — Só de costas. Foi rápido. Fui embora logo.
Fritz falou num tom baixinho, sugestivo:
FRITZ — E o que você achou do que viu?
SIMON — Honestamente, queria ter visto mais um pouco…
Fritz deu outra risadinha. Pegou na mão de Simon, apertando firme. E disse:
FRITZ — Se você fosse um ano mais velho naquela época, sua primeira vez seria comigo naquele banheiro.
SIMON — Sério?
FRITZ — Sério. Eu gostaria de ter sido o seu primeiro homem.
Simon já tinha brincado com essa possibilidade — Fritz tirando a sua virgindade. A sensação era de lhe causar uma ereção. Mas ouvir aquilo da boca dele era diferente. Fazia diferença. A sensação era duas vezes mais potente.
SIMON — Eu também queria que você fosse o meu primeiro homem.
FRITZ — Uma pena que você sumiu.
SIMON — Não fui eu. Manfred me colocou pra morar longe e sumiu.
Eles encostaram a testa, uma na outra.
FRITZ — Eu sei. Senti a sua falta por um tempo. Mas aí tive que seguir a minha vida.
SIMON — Eu também.
Eles ficaram ali, naquela posição, durante um tempo. Até que se aninharam de novo.
SIMON — O que você fez enquanto estava sumido por aí?
FRITZ — Minha vida nos últimos dez anos foi bem maluca. Continuei trabalhando na construção civil. Namorei e me casei com uma dona aí, mas não deu muito certo não. Daí eu me divorciei…
SIMON — Você tem filhos?
FRITZ — Que eu saiba, nenhum.
Simon riu.
FRITZ — Enfim… Reencontrei seu pai e depois te vi novamente. Você, todo homem feito, pensei que tinha casado e tudo mais. Me surpreendi com o fato de você ainda ser solteiro. Daí pensei que um dia teria uma chance, quem sabe…
Simon brincou:
SIMON — Acho que teve chance, né.
Fritz riu.
FRITZ — E você?
SIMON — Meus últimos dez anos? Me relacionei com alguns caras. Trabalhei feito um cão. Comecei a faculdade e tranquei e destranquei duas vezes. Agora pretendo voltar de novo pra me formar, quem sabe.
FRITZ — Você vai conseguir. Acredito.
Fritz beijou o rosto dele.
SIMON — Nunca passou pela minha cabeça que você tivesse interesse em homens. Não que isso seja da minha conta. Mas gostei de saber da melhor forma…
FRITZ — Eu tinha mais interesse em você, do que em outros homens. Já me envolvi com alguns casualmente… Coisa de momento. Mas eu queria mesmo era ter me envolvido com você.
SIMON — Hum…
Simon começou a beijar o rosto dele, o pescoço, o lóbulo da orelha…
FRITZ — O que foi…
SIMON — Acho que estamos quites. Não estamos?
Fritz pegou firme na cintura de Simon.
FRITZ — Ainda não.
Simon deu uma risadinha.
SIMON — Por quê?
Enquanto falava, Fritz beijava o rapaz no pescoço… no rosto, nos ombros… nos braços…
FRITZ — A gente precisa tirar o atraso desses anos todos…
SIMON — Concordo…
Fritz ficou por cima dele de novo.
...*** ...
AMANHECEU O DIA. IVAN tomava seu primeiro gole de café, enquanto aguardava Heinrich sentar-se à mesa junto.
HEINRICH — Bom dia…
IVAN — Bom dia. Trouxe o que eu pedi?
HEINRICH — Sim, trouxe.
Ele mostrou uma pasta para Ivan.
HEINRICH — Essa é uma cópia da notificação de hipoteca do casarão. Logo logo o destinatário estará recebendo.
Ivan bebeu mais um gole de café.
IVAN — Ótimo.
HEINRICH — Não seria bom dar mais tempo pro rapaz?
Ivan deu de ombros.
IVAN — Ele vai ter um mês. Tempo suficiente.
...*** ...
A CAMPAINHA TOCOU. E SIMON foi atender. Era um oficial de Justiça.
SIMON — Bom dia…
OFICIAL — Bom dia. Simon Von Brenner?
SIMON — Sou eu. Pois não?
OFICIAL — Assine este documento aqui.
SIMON — O que é isso…?
Simon leu que era uma Notificação de Hipoteca.
OFICIAL — Só preciso que assine. Você vai ter a cópia para ler com calma.
Simon assinou.
OFICIAL — Tenha um bom dia.
O homem saiu.
Simon ficou ali parado, lendo o documento.
Ele perderia o casarão dentro de um mês.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 49
Comments
nãotenhocriatividadepraisso
eu queria o Simon com o Ivan/Frown/
2024-07-20
1
Sofi ♥️
Falam que casal perfeito não existe, mas isso e prova que existe,lindos👏👏👏❤️❤️❤️
2024-05-27
1
Anilda Alves da Cruz
Frits pode ajudá-lo?
2024-05-15
1