Capítulo 5

IVAN PASSAVA PARA o lado as fotos que Heinrich tirou de Simon. Deu um zoom, ficando mais o rosto e ficou ali olhando por um tempo. Assentiu com a cabeça, devolvendo a câmera.

IVAN — Fez um bom trabalho.

HEINRICH — Enviei também pro teu celular. Chegou a ver?

IVAN — Vi. Vi sim.

Heinrich entregou um envelope para o homem.

HEINRICH — Eu consegui revelar todas em ótima qualidade também.

Ivan tirou do envelope e viu que tinha mais fotos inéditas.

IVAN — Você andou vasculhando a vida do rapaz?

HEINRICH — Como o senhor pediu. Vasculhei tudo.

Ele entregou outro envelope.

HEINRICH — Tá tudo aqui também.

Ivan tirou um arquivo impresso. Era uma espécie de relatório que Heinrich redigiu.

IVAN — Vou ler tudo com calma depois.

HEINRICH — É a vida dele completa, até onde achei.

Ivan assentiu com a cabeça.

IVAN — Interessante.

Houve um momento de silêncio. Heinrich, que estava de pé, olhou para o relógio.

HEINRICH — Vou indo. Preciso resolver aquele problema lá, no alto escalão.

Ivan apenas faz um gesto afirmativo com a cabeça.

IVAN — Depois me conte detalhes do que foi resolvido. Ah… Chama o Boris e Vladimir.

HEINRICH — Beleza.

Heinrich saiu.

Ivan leu a primeira página do relatório que o seu braço direito lhe entregou.

IVAN — Simon Russell, vinte e cinco anos…

Reconheceu o endereço do casarão. Viu que o rapaz trabalha num drive thru e faz bico para uma pizzaria. Falava para si mesmo:

IVAN — Manfred é um pilantra... Deixa a casa na garantia, onde mora os dois filhos. Enfim…

Os dois homens entraram.

BORIS — Mandou chamar a gente, doutor?

IVAN — Sim. Preciso que vocês fiquem de olho em alguém por mim.

VLADIMIR — Manda vê.

Ele entregou a foto de Simon para os dois homens olharem.

IVAN — Ele.

...*** ...

MANFRED BATE NA PORTA da casa de Fritz. Ouviu a voz dele, dentro da casa, dizendo: “já vou”.

MANFRED — Vem logo, fujão do caralho.

A porta se abriu.

FRITZ — Manfred?

Manfred entrou sem pedir licença. Fritz fechou a porta.

FRITZ — É sério que você conseguiu fugir?

Manfred deu um soco de leve no ombro dele.

FRITZ — Ai!

MANFRED — Lógico que não. Como é que foge de uma delegacia como aquela?

Fritz passou a mão no ombro.

FRITZ — Conta aí essa história.

MANFRED — Alguém pagou a minha fiança. Sabe quem?

FRITZ — Quem?

MANFRED — Chuta.

Fritz franziu a testa.

FRITZ — Tá brincando… Ivan?

MANFRED — O próprio. E ainda fez um sequestro relâmpago pra dizer que a fiança conta como dívida também.

FRITZ — Que filho da puta.

Manfred foi até a mesa da cozinha para se sentar. Fritz o acompanhou.

MANFRED — O desgraçado não deixa nada barato.

FRITZ — Claro que ele não ia te deixar na cadeia sem pagar o empréstimo.

MANFRED — Ele queria continuar me fodendo, isso sim.

Houve um momento de silêncio.

FRITZ — Você vai fazer o quê?

Manfred acendeu um cigarro.

MANFRED — Vou pensar aqui com os meus botões…

Fritz deu de ombros e pegou um cigarro.

FRITZ — Acende aí.

Manfred encostou o cigarro no dele, devolvendo-o aceso.

FRITZ — Valeu.

Manfred soltou a fumaça pelo nariz, e disse:

MANFRED — Já sei onde vou descobrir quem dedurou a gente.

FRITZ — Olha lá o que você vai fazer.

MANFRED — Relaxa.

Ele deu mais uma tragada no cigarro, o olhar enigmático.

...***...

SIMON ENTROU NA cozinha do Drive Thru onde trabalha durante o dia. Heidi, sua amiga e colega de trabalho, olhou para os lados disfarçadamente enquanto ele vestia o avental e colocava o boné na cabeça.

Ela cochichou:

HEIDI — Por pouco ele não te pega.

Simon começou a atender o próximo cliente que chegou no carro. Assim que registrou o pedido, começou a preparar o lanche.

SIMON — Cheguei um minuto depois.

HEIDI — Eu sei. Mas sabe como é o cretino, né? Procura um motivo pra reclamar.

Houve um momento de silêncio. Simon entregou o pedido pro cliente, que fez o pagamento em dinheiro em espécie e seguiu viagem.

Gordon, o chefe, chegou na cozinha. O tom era seco e firme:

GORDON — Bom dia, pessoal.

HEIDI — Bom dia.

Ela agradeceu por tê-lo chamado de cretino minutos antes dele se materializar ali, na soleira da porta. Torcia para que ele nem estivesse por perto.

Gordon deu um pigarro forte.

GORDON — Simon.

SIMON — Pois não, senhor?

GORDON — Pode vim até a minha sala?

SIMON — Sim, senhor. Um momento.

Gordon saiu da cozinha.

HEIDI — Pode ir. Eu dou conta por enquanto.

Simon engoliu em seco e saiu.

...*** ...

Na pequena saleta de Gordon, Simon estava parado diante dele — que estava sentado na cadeira de couro desgastado. Gordon é um homem alto, rosado, muito corpulento e rechonchudo; a barriga era tão grande quanto o próprio ego, que o botão da blusa escapava.

GORDON — Você chegou atrasado hoje.

SIMON — Foi só um minuto.

Gordon franziu a testa.

GORDON — Você acharia ruim se eu atrasasse o seu pagamento por um minuto?

Simon ficou em silêncio.

SIMON — Peço desculpas e isso não vai se repetir. Houve um imprevisto pessoal, mas já foi resolvido.

Gordon dá um sorriso desdenhoso, sem escrúpulos.

GORDON — Fiquei sabendo. Passou até na TV.

Simon permaneceu em silêncio. O homem continuou:

GORDON — Deve ser complicado ter que lidar com um pai que se envolve em esquema duvidoso ser preso quando não sabe fazer direito.

Filho da puta, xingou Simon. Mentalmente.

GORDON — Espero que isso não respingue na imagem da empresa. Afinal, você é filho dele e podem te achar aqui pra dar entrevistas.

Ninguém vai se dar ao trabalho de chegar nesta lanchonete de merda, pensou Simon.

Gordon concluiu:

GORDON — Do contrário, vou ser obrigado a te colocar pra fora. Enfim, pode voltar às suas funções e não atrase mais.

...*** ...

SIMON FOI ATÉ A bancada da cozinha. Heidi preparava um pedido.

HEIDI — Pode me ajudar aqui?

SIMON — Na hora.

Heidi notou que o amigo estava com a mandíbula firme, o olhar fixo.

HEIDI — O que ele disse?

Eles começaram a cochilar. Simon contou tudo, inclusive a parte que Gordon foi debochado.

HEIDI — Que babaca.

SIMON — Queria voar na cara dele.

Simon soltou o ar.

HEIDI — Não liga para o que ele diz. Sei que é difícil, mas tenta não absorver.

SIMON — Pode deixar.

Ele bebeu um copo de água.

...***...

IVAN DIRIGIU SOZINHO pela cidade. Seu carro é um volvo prata de vidro fumê. Com o celular ajustado no suporte, ele dita um endereço e a melhor rota.

Quase que instantaneamente, o mapa deu a sua melhor coordenada.

IVAN — Interessante… Não vai demorar muito.

Minutos depois, ele conseguiu avistar o Drive Thru após virar uma esquina.

O mesmo onde Simon trabalha.

Mais populares

Comments

🌟OüTıß🌟

🌟OüTıß🌟

Boris & Vlafimir:ele quem,karalho?
fala direito porra!

2024-10-11

0

Angela

Angela

sr autor, conhecendo sua criatividade pela primeira vez, escreve muito bem...
estou gostando desses primeiros capítulos 😁

2024-08-19

2

Sofi ♥️

Sofi ♥️

Eu pensei nele bem assim 😃

2024-05-26

2

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!