Capítulo 13

SIMON FRANZIU A TESTA ao reconhecer o homem que outro dia havia comprado um lanche no drive thru.

SIMON — Oi.

Ele ouviu o barulho da porta destrancando.

IVAN — Entra aí! Te dou uma carona.

Como não tinha muita escolha, Simon sentou-se no banco da frente. O homem subiu o vidro fumê de volta. O carro estava em baixa temperatura, bem refrescante até.

E o cheiro que vinha de Ivan Lafayette era bastante amadeirado. Um amadeirado bom, exuberante. Exalando luxo e perigo. Simon reparou no decote V que a camisa social azul marinho fazia, com dois botões pra fora. Não sabia se aquilo era proposital.

Se fosse, estava quase funcionando.

IVAN — Onde você mora?

Simon deu o endereço. Ivan já tinha dado partida no carro, um pouco abaixo do limite da velocidade. Ele não queria que aquele momento passasse tão rápido.

IVAN — Nem me apresentei primeiro, me desculpe. Meu nome é Carlo.

Ivan preferiu não dizer o nome dele. Não soube dizer o porquê.

SIMON — Prazer, Carlo. Meu nome é Simon.

Ivan sorriu.

IVAN — Simon…

E apertaram as mãos.

IVAN — Você ainda trabalha naquele drive thru?

SIMON — Não. Fui demitido.

IVAN — Sério?

SIMON — Sim. Isso foi hoje.

IVAN — Caramba… Sinto muito.

SIMON — Não sinta.

Houve um momento de silêncio.

IVAN — Por quê?

SIMON — Eu queria sair de lá mesmo. Ele me fez um favor de me colocar pra fora.

IVAN — Tava tão ruim assim?

Simon começou a se simpatizar com aquele estranho — muito bonito — que só viu uma vez na vida, que estava dando-lhe uma carona, praticamente ajudando no pior momento da sua vida. Então, decidiu se abrir mais. Começou a contar sobre a forma como Gordon agia e explorava os funcionários.

Ivan ouvia tudo, atentamente. Era uma forma de conhecer Simon. Notou que o rapaz era bem diferente de Manfred, o que era um milagre. Notou também, através das histórias dele, que o rapaz não pretendia seguir o exemplo do pai.

Simon era o tipo de rapaz perfeito que ele queria: com ar de ingenuidade, inocência… mas que já viu muito da vida, mesmo faltando meia década para chegar aos trinta.

Aquilo era atraente demais pra ele. Foi a gota d’água para investir de vez.

IVAN — Seu patrão é um tremendo babaca.

SIMON — Ex.

IVAN — Ex-patrão. Desculpe.

Simon deu um sorriso fraco, acompanhado de uma risadinha.

SIMON — Relaxa.

Ivan gostou de ver aquilo.

SIMON — Agora é a sua vez.

Eles chegaram no endereço de Simon. Ivan parou o carro, mas manteve o ar ligado. Os vidros fechados, a rua envolta numa penumbra. Somente os dois ali.

IVAN — Minha vez?

SIMON — Sim, sua vez. O que você viu em mim que te chamou atenção?

Simon foi certeiro na pergunta.

...*** ...

AMÉLIE ENCONTROU FRITZ no hospital, cumprimentando-o apenas com um aperto de mão cordial.

AMÉLIE — Você ficou aqui o tempo todo?

FRITZ — Não, não. Cheguei agora há pouco. Simon foi no trabalho resolver umas coisas e vim até aqui pra saber mais notícias.

Amélie assentiu com a cabeça.

AMÉLIE — Então ele saiu da UTI.

FRITZ — Saiu. Daqui a pouco o enfermeiro vem até aqui pra saber se pode ver ele.

A mulher cruzou os braços.

AMÉLIE — Só vim aqui pelo Karl. O garoto não para de perguntar pelo pai. Sabe como é.

FRITZ — Sei sim. É uma pena. O garoto é quem sofre mais, né.

AMÉLIE — É.

Houve um breve momento de silêncio.

AMÉLIE — Posso te perguntar uma coisa?

Fritz deu de ombros.

FRITZ — Pergunte.

AMÉLIE — Você parece ser um rapaz tão gente boa, tão do bem… Por que você ainda tem amizade e ajuda o canalha do Manfred?

Fritz comprimiu os lábios, como quem pensa na resposta.

FRITZ — Bem, eu faço isso pelo Simon. E pelo garoto, também.

AMÉLIE — É. Pensando por esse lado, até ajuda. Manfred merece quebrar a cara por fazer tanta coisa errada, sem pensar nos filhos… Acho que você poderia largar a mão dele de vez e seguir a vida.

Fritz ficou em silêncio. O enfermeiro chegou logo depois.

ENFERMEIRO — Você é…?

AMÉLIE — Irmã do paciente. Amélie.

FRITZ — Ela quer ver ele, doutor. Será que pode agora?

ENFERMEIRO — Pode. Pode sim. Vem comigo.

Amélie olha pra Fritz.

AMÉLIE — Vou lá ver ele.

FRITZ — Vá.

Assim que Amélie dobrou para o outro corredor, Fritz recostou-se na parede. Pensou em Simon.

...*** ...

SIMON ESPERAVA UMA RESPOSTA de Ivan, que olhava pensativo para o horizonte já escuro.

IVAN — Bom… Você é um rapaz bem interessante e senti vontade de falar contigo. Sem segundas intenções, claro.

Simon deu um meio sorriso.

SIMON — Sei. Agora me fale um pouco mais de você. Quem é Carlo?

IVAN — Sou diretor de uma companhia global, levo uma vida reservada… E gosto de pessoas interessantes.

Ivan recostou-se no banco, com a sombra de um sorriso no rosto.

SIMON — Você deve ter uma memória de elefante.

IVAN — Você acha?

SIMON — Acho.

Simon ajeitou-se no banco, e continuou:

SIMON — Acho que não faz uma semana que você foi naquele drive thru, me viu pela primeira vez, e hoje me deu uma carona com base na primeira impressão…

Ivan soltou o ar pelo nariz. Sentiu vontade de acender um charuto, mas não tinha um no carro.

IVAN — Você tá certo. Eu tenho uma memória de elefante.

Os dois deram uma risadinha curta. Não foi combinado.

SIMON — Você mora longe daqui?

IVAN — Na zona nobre.

Simon assentiu com a cabeça.

SIMON — É… Bem longe.

Houve um momento de silêncio. O celular de Simon tocou. Era Amélie.

SIMON — Alô, tia? Acabei de chegar em casa. Aconteceu alguma coisa?

...*** ...

AMÉLIE ESTAVA FORA DO quarto onde Manfred foi transferido.

AMÉLIE — Simon, meu filho. Teu pai acordou. Acordou chamando por ti e pelo teu irmão. Eu deixei Karl na casa de Margot… Isso… Traz ele pra cá, por favor.

***

SIMON ENCERROU A LIGAÇÃO, soltando o ar. E tirou o cinto de segurança.

SIMON — Vou precisar ir. Aconteceu um problema de família.

IVAN — Tranquilo. Quando a gente se vê de novo?

SIMON — Não sei, honestamente falando.

Ivan pegou um papel e caneta, escrevendo seu número de telefone. Simon pegou.

IVAN — Qualquer coisa, só falar comigo.

SIMON — Tá bom.

Simon sorriu, saindo do carro.

...*** ...

SIMON AGUARDAVA DO LADO de fora, na sala de espera. Karl estava com o pai no quarto, com Amélie acompanhando. Fritz estava ali perto dele.

FRITZ — Por que você não entrou junto com o garoto?

SIMON — Melhor não. Deixa Karl ficar mais à vontade com o pai.

FRITZ — Ele vai querer falar com você.

Simon deu de ombros.

SIMON — Eu não tenho nada de importante pra falar com ele.

Momentos depois, Amélie sai do quarto conversando com Karl.

KARL — Meu pai vai melhorar. Não vai, tia?

AMÉLIE — Vai sim, meu amor. Vai sim.

Ela se aproxima de Simon.

AMÉLIE — Manfred quer falar com você, filho. Ele disse que é importante.

Simon soltou o ar.

...*** ...

MANFRED ESPERAVA SIMON COM um papel dobrado na mão. Assim que viu o rapaz passar pela porta, deu uma sombra de um sorriso.

MANFRED — Eu sei que você não queria falar comigo. Mas eu precisava falar. Se não fosse importante…

Ele ainda parecia um pouco fraco, mas era bom o suficiente para manter o esforço. Simon sentou-se na beira da cama, sustentando o olhar dele.

SIMON — Fala.

MANFRED — Primeiro não quer saber se o seu pai está bem…?

SIMON — Tô vendo que você tá vivo, pai. Karl te viu? Viu, não é? Então. Eu já me acostumei com o fato de você sumir do nada e reaparecer também do nada. Mas o garoto não. Sabe o que é ter que aguentar vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana ouvindo a mesma pergunta de um garoto de quase nove anos de idade? “Cadê meu pai…?” Não. Você não faz a porra de uma ideia. Tô me virando nos trinta pra colocar comida na mesa, sobreviver naquele casarão quase caindo aos pedaços…

Manfred ergueu a mão com o papel dobrado.

MANFRED — Pegue.

Simon franziu a testa.

SIMON — O que é isso aí?

MANFRED — Isso vai resolver os seus problemas por um tempo.

Simon desdobrou o papel.

SIMON — Um mapa?

MANFRED — Isso. São as coordenadas que vão te levar para a solução dos problemas.

SIMON — E o que tem nesse mapa?

MANFRED — Dinheiro.

Simon fixou o olhar no papel.

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Comments

Sofi ♥️

Sofi ♥️

Cê não me engana não viu "Carlo" kskssksks

2024-05-26

4

Anilda Alves da Cruz

Anilda Alves da Cruz

pega o dinheiro pelo menos mudar de vida vom o irmão de preferência longe daí

2024-05-14

1

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