MANFRED PUXOU O AR DEVAGAR, soltando da mesma forma em seguida.
SIMON — É melhor não fazer muito esforço.
MANFRED — Eu tô de boa. Só preciso te passar o caminho certo.
SIMON — Beleza. Começa aí.
Manfred explicou como ele vai até o local — fica num determinado quilômetro assim que ele pegar a autoestrada; é uma chácara abandonada, mas que está trancada.
MANFRED — Fritz tem a chave do lugar. Peça a ele. Se ele perguntar, fala que fui eu que mandei. Se quiser contar com ele, pode. Ele é um dos poucos amigos que restou, e que eu confio.
Simon falou baixinho, pensativo:
SIMON — Eu sei.
MANFRED — Você entendeu o que eu disse?
SIMON — Sim, entendi tudo.
MANFRED — Se algo ruim acontecer, vai nesse lugar.
Simon não sabia como reagir: se falaria pra Manfred que nada aconteceria ou se perguntaria pra ele o que pode acontecer de ruim, se a cirurgia foi um sucesso.
SIMON — É melhor eu deixar você descansar.
Quando ele fez menção de sair, o homem segurou Simon pelo pulso.
MANFRED — Cuide bem de Karl. A todo custo. Faça o que for preciso pra se manter cuidando dele.
SIMON — Eu já faço isso há bastante tempo. Gasto energia, tempo, e saúde… Ocupando o papel que deveria ser seu.
Manfred soltou o ar.
MANFRED — Espero que um dia você me desculpe.
SIMON — Só o tempo vai dizer.
MANFRED — Melhor você ir.
Simon assentiu com a cabeça. E foi embora.
...*** ...
AMÉLIE E KARL ESTAVAM do lado de fora do hospital, esperando um táxi.
KARL — Cadê Simon?
AMÉLIE — Seu irmão vai ficar por aqui, de olho no seu pai.
Houve um momento de silêncio.
KARL — Tia.
AMÉLIE — Diga, meu amor.
KARL — Meu pai vai ficar bem?
Amélie soltou o ar devagar, antes de responder. E ficou na mesma altura que ele ao se agachar.
AMÉLIE — Seu pai vai ficar bem sim, tá? Ele tá melhorando devagar, mas tá tudo indo bem. Não se preocupe.
KARL — Ele me disse uma coisa estranha.
AMÉLIE — Que coisa?
KARL — Obedecer meu irmão, porque ele vai cuidar de mim.
Amélie ficou pensativa. E assentiu com a cabeça.
KARL — Seu irmão já está cuidando de você, não está? Eu também tô. Sou sua tia, né?
Ela abriu um sorriso rápido. E desejou acabar com a raça do próprio irmão, por ter soltado um pressentimento de que algo ruim aconteceria para uma criança sensível como Karl.
AMÉLIE — Sempre vou cuidar de você, tá? Eu, seu irmão…
KARL — Margot.
AMÉLIE — Você gosta da Margot?
KARL — Sim. Ela me leva pro parque, me deixa brincar muito. Faz bolo pra mim…
Amélie passou a mão na camiseta de desenho animado do menino, como quem fazia um carinho maternal.
AMÉLIE — Nosso carro chegou. Vamos pra casa?
KARL — Vamos. Tô com fome.
AMÉLIE — Chegar em casa eu vou preparar um lanchinho.
KARL — Tá bom.
...*** ...
IVAN CONTOU PARA HEINRICH sobre o que aconteceu entre ele e Simon. Estavam no fumódromo, cada um com seu charuto.
HEINRICH — E você mentiu o nome.
IVAN — Mentir é uma palavra muito forte. Eu omiti. É isso.
HEINRICH — Mas por que mesmo?
Ivan deu de ombros.
IVAN — Sei lá. Saiu “Carlo” ao invés de Ivan.
Heinrich balançou a cabeça, rindo.
HEINRICH — Você vai deixar o rapaz em choque quando ele souber quem realmente é “Carlo”.
IVAN — Pois é.
HEINRICH — Pretende contar a verdade quando?
IVAN — Qual verdade, exatamente?
HEINRICH — A do casarão. O pai dele entregou o casarão como garantia, perdeu todo o dinheiro… e agora vai ter que pagar.
IVAN — Vamos com calma. Deixa o garoto viver a vida normalmente…
HEINRICH — Quer pegar desprevenido?
Ivan deu um trago no charuto, soltando uma fumaça densa pelo nariz.
IVAN — Sempre é bom. Gera desespero. E o desespero faz com que uma pessoa consiga as coisas mais rápido.
HEINRICH — Muito bem articulado da sua parte.
Quem soltou a fumaça densa dessa vez foi Heinrich.
IVAN — Colocar desespero em alguém faz com que a gente consiga o que quer de um jeito mais rápido. Nada melhor do que ver uma pessoa se virando, por exemplo, pra não morrer…
HEINRICH — Que nem o Manfred.
IVAN — Eu não pretendo dar cabo em Manfred. Ele é bem insignificante até nisso. Só vou tomar o casarão, que ainda vale uma fortuna. Só fazer uma reforma, que vai voltar a valer o preço.
HEINRICH — E você quer fazer o quê com Simon?
Ivan olhou para o nada, enigmático.
IVAN — Coisa minha.
...*** ...
SIMON CHEGOU NA PIZZARIA de Trevor, para iniciar mais um turno de Delivery.
TREVOR — Fiquei sabendo do seu pai. Como ele tá?
SIMON — Tá se recuperando. Saiu da UTI hoje, foi transferido pro quarto, e precisa de muito repouso no momento.
Houve um momento de silêncio.
TREVOR — Tomara que ele fique bem.
SIMON — Pois é. Não por mim, mas pelo Karl.
TREVOR — Seu irmão deve sentir muita falta dele né.
SIMON — Ele foi visitar hoje. Depois de um bom tempo sem ver o pai. É muito irresponsável da parte de Manfred…
Trevor apenas assente com a cabeça, demonstrando compreensão.
TREVOR — Você tem certeza que tá bem pra trabalhar hoje? Se quiser… te dou uma folga por hoje.
SIMON — Relaxa, Trev. Preciso da diária. Sério.
TREVOR — Se é assim… Tudo bem. E a sua bicicleta, cadê?
SIMON — Furtaram, sabia?
TREVOR — Tem problema, não. Tenho uma de reserva aqui.
SIMON — Sério?
Trevor foi na pequena garagem ao lado e voltou com uma bicicleta tão melhor do que a de Simon.
TREVOR — Você pode levar pra casa. Só tomar cuidado mesmo.
SIMON — Poxa, valeu mesmo. Pode deixar que eu vou tomar cuidado.
TREVOR — Já tem aqui umas entregas pra fazer.
Simon esfregou a palma das mãos uma na outra.
SIMON — Manda ver…
...*** ...
...TRÊS DIAS DEPOIS ...
MANFRED ESTAVA PRESTES DE abrir os olhos para tomar uma nova medicação intravenosa. Ele sentiu que a enfermeira se aproximou, preparando a medicação. Disse para si mesmo que só abriria os olhos se ela o chamasse. A mulher era bonita demais; prometeu a si mesmo que, se conseguisse sair vivo deste hospital, iria procurar por ela.
Era o tipo de mulher que fazia qualquer homem querer tomar rumo na vida. Depois de quase morrer, era o que Manfred queria. E vai ser com essa enfermeira loiraça que sempre o medicava na veia durante as manhãs.
Sentiu a medicação passando pelas veias. Ele abriu um meio sorriso para surpreendê-la e dar um bom dia. Mas assim que abriu os olhos…
Seu sorriso sumiu.
Reconheceu Kim, o comparsa de Heiko. O homem tinha abaixado a máscara, exibindo um sorriso diabólico.
KIM — Bom dia, sr. Manfred. Espero que esteja bem. Logo logo seu café da manhã será servido…
O homem colocou a máscara de volta. Manfred já não tinha mais forças para falar. Só observou o comparsa saindo tranquilamente com a bandeja de medicação, enquanto os batimentos cardíacos desaceleravam.
Meio minuto depois o frequencímetro exibiu a linha reta, junto com o beep contínuo.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Tania Maria Rufino
O caçula não merecia isso 😞
2024-07-28
0
Tania Maria Rufino
Poxa 😕. O caçula não merecia isso.
2024-07-28
0
Anilda Alves da Cruz
achando que era a loira /Sob/
2024-05-14
3