Capítulo 17

...TRÊS DIAS DEPOIS ...

O DIA COMEÇOU SEM SOL. Simon amanheceu no cemitério, junto com Amélie e Karl. Fritz estava do seu lado também. Enterrar o pai virou um evento estranho.

Só tinha eles ali e o padre, que fazia um discurso.

PADRE — … que Deus conceda um descanso eterno e em paz para Manfred. Ele deixa eternas saudades para os seus filhos, sua irmã, seus amigos…

Amélie estava ao lado de Karl, com a mão pousada em seu ombro. O garoto estava vidrado. Como se não acreditasse que estava ali.

KARL — Eu quero o meu pai, tia.

Ela passou a mão nos cabelos dele.

AMÉLIE — Oh, meu filho…

KARL — Eu quero o meu pai. Faz alguma coisa.

Não conseguia dizer mais nada. Simon apenas olhou para Fritz, enigmático. Também não sabia o que dizer.

Fritz encostou a cabeça de Simon em seu ombro. Permaneciam em silêncio.

Até que o padre finalizou:

PADRE — Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo…

Amélie terminou de fazer o sinal da cruz.

AMÉLIE — Amém.

SIMON — Amém.

O caixão começou a descer rumo a sete palmos, abaixo da terra. Fritz e Simon jogaram uma rosa branca. Amélie também. Ela se agachou, ficando na mesma altura de Karl.

AMÉLIE — Jogue a rosa, meu amor. Jogue…

O menino soltou a rosa, sem nenhum esforço. Observava o caixão do pai já parado lá no fundo, onde a rosa caiu.

AMÉLIE — A gente precisa ir embora.

KARL — E meu pai?

A respiração do garoto ficou entrecortada. Amélie afagava o peito dele.

AMÉLIE — Seu pai vai ficar bem. Lá em cima. Tá vendo?

Ela indicou o céu que ainda permanecia fechado. O garoto não se mexeu. Ela disse baixinho:

AMÉLIE — Vamos, filho.

...*** ...

SIMON E FRITZ CAMINHAVAM RUMO à saída do cemitério. Sua tia e seu irmão já foram pra casa.

SIMON — Vou ter que me desdobrar pra cuidar de Karl.

FRITZ — Você tem a Amélie, sua tia.

Simon soltou o ar.

SIMON — É. Pelo menos tenho a minha tia.

Eles chegaram na porta do cemitério. Fritz colocou as mãos no bolso, um pouco sem jeito para falar. Mas disse:

FRITZ — Você pode contar comigo também, se precisar.

Simon deu um sorriso fraco.

SIMON — Obrigado, Fritz. De verdade.

E abraçou o homem ali. Dessa vez, Fritz não ficou nenhum pouco surpreso. E sim ficou mais receptivo ao abraço dele. Fechou os olhos, pressionando um pouco os braços em volta do corpo dele.

Saíram do abraço logo depois.

FRITZ — Eu falei sério. Pode contar comigo, com o que precisar. Não se acanhe.

Simon tocou-lhe no rosto.

SIMON — Pode deixar.

O celular dele tocou. Era Heidi.

SIMON — Alô, Heidi?

Heidi estava em casa. Já sabia do acontecimento com o pai de Simon. Ela não conseguiu prestar apoio de forma presente ao amigo no enterro, mas queria fazer algo mesmo assim.

HEIDI — Vem aqui em casa, garoto.

Na calçada, fora do cemitério, Simon deixou os ombros caírem.

SIMON — Ai, amiga, vou sim. Me espera, que eu já tô a caminho. Beijo.

Fritz falou baixinho:

FRITZ — Vou indo nessa. Tchau.

SIMON — Tchau.

Simon acenou, sorrindo.

De longe, a vinte metros do cemitério, Ivan e Heinrich estavam no carro. Eles observaram Simon e Fritz durante esse tempo todo.

IVAN — Então aquele cara é quem fez sociedade com o Manfred, pra montar o cassino clandestino.

HEINRICH — Ele mesmo. Mas ele é café pequeno. Quem mandava e desmandava era o Manfred. Capaz desse daí não saber de nada sobre algum paradeiro relacionado ao dinheiro.

Ivan deu de ombros.

IVAN — Pois é.

Heinrich olhou para ele.

HEINRICH — E o prazo?

IVAN — O que tem o prazo?

HEINRICH — Tá correndo a partir de agora?

Ivan encarava Simon, que mexia no celular — aguardando o Cabify que solicitou.

IVAN — Está correndo desde muito antes de Manfred morrer…

...*** ...

SIMON E HEIDI ESTAVAM NO quarto, fofocando, ao mesmo tempo que assistiam à TV. A série One Tree Hill passava na plataforma de streaming. Os dois amam a série. Heidi fez pipoca, hambúrguer e smoothie de morango.

HEIDI — Fazia um tempão que eu não parava na minha cama e assistia a uma série.

SIMON — Nem eu.

HEIDI — Bem que você tava precisando mesmo. Tirar um dia pra si.

Simon ficou pensativo.

SIMON — Preciso concordar. Eu não sabia mais o que era parar e focar em mim, pelo menos por um tempo.

HEIDI — Se você pudesse viajar… Você faria isso?

Heidi se apoiou nos cotovelos, olhando para Simon.

SIMON — Viajaria. Levaria Karl junto, talvez.

HEIDI — Mas você sozinho iria mesmo assim?

SIMON — Iria, claro. Se tivesse a oportunidade de ir sozinho.

Simon mordeu o último pedaço de hambúrguer.

HEIDI — Eu sei que vai ser difícil ter que cuidar do seu irmão até ele atingir a maioridade. Mas nunca se esqueça de si mesmo. De tirar um tempo pra você. E, sempre que puder, ensine Karl a andar com os próprios pés para que ele consiga seguir com a própria vida. Assim como você.

SIMON — É o que eu vou fazer, sabe…

HEIDI — Isso é bom. Mudando de assunto…

Heidi bebeu um gole de smoothie.

HEIDI — Posso te fazer uma pergunta?

Simon deu de ombros.

SIMON — Pode, ué.

HEIDI — Aquele rapaz que te trouxe do hospital pra casa é o amigo do teu pai, né?

SIMON — O Fritz?

HEIDI — Isso. Ele mesmo.

SIMON — O que tem ele?

Heidi deu de ombros. E brincou:

HEIDI — Sujeito bonito… Não tirava os olhos de você.

SIMON — Ah, para.

Simon riu pela primeira vez depois de dias. Apesar de ter sido uma risada curta.

HEIDI — Você não reparou?

SIMON — Sei lá. Fiquei com a cabeça tão aérea esses dias que qualquer coisa já passou despercebido.

HEIDI — Ele te ajuda muito? Fica por perto?

SIMON — Sim, ajuda. Fica por perto…

HEIDI — Eu acho que ele quer você…

Heidi joga uma almofada em Simon, que joga de volta. Ambos rindo.

SIMON — Eu só não quero inventar coisa na minha cabeça.

HEIDI — Por quê? Já tá querendo…

SIMON — Não… Quer dizer. Sei lá!

Simon começou a olhar o lado da história com outro prisma.

HEIDI — Eu acho que você poderia pensar numa possibilidade…

Simon riu.

SIMON — Que possibilidade, garota? Eu hein…

Heidi riu também.

HEIDI — Não seria nada mal! O cara é gente boa, bonito…

SIMON — Mas se envolve em negócios duvidosos. Não viu o meu pai? Foi preso por ter criado um cassino clandestino. Ele era o sócio. Não foi preso, porque escapou.

HEIDI — Sério? Passada…

SIMON — Pois é.

Simon brincou com a remota possibilidade de se envolver com Fritz. Era bem remoto mesmo.

...*** ...

ANOITECEU. SIMON TINHA SAÍDO da casa de Heidi pela tarde. Trevor tinha lhe dado alguns dias de folga para cuidar do irmão. Ele estava sozinho em casa, se arrumando para dormir. Vestiu uma calça moletom, e revirou o guarda-roupa procurando a camisa vermelha de algodão.

SIMON — Droga… cadê essa camisa.

A campainha toca.

SIMON — Quem é a essa hora…

Sem camisa, desceu as escadas até a porta. Assim que atendeu, teve uma leve surpresa.

SIMON — Fritz?

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Comments

Sofi ♥️

Sofi ♥️

Ah,eu queria,como eu já disse, seria um casal bem fofo,lindo, maravilhoso ou simplesmente perfeito ❤️

2024-05-26

1

Anilda Alves da Cruz

Anilda Alves da Cruz

ais ajuda vêm aí /Right Bah!/

2024-05-15

1

Ver todos

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