Capítulo 12

SIMON ABRIU OS OLHOS e viu que já era de manhã. Olhou o relógio de pulso: cinco minutos para as sete. Ajeitou-se na cadeira da sala de espera, um pouco dolorido.

Virar a noite no hospital, dormindo de mau jeito, era a última coisa que ele queria.

FRITZ — Bom dia…

SIMON — Bom dia.

FRITZ — Trouxe pra você. Amélie mandou.

Fritz trouxe pão de queijo e café pra ele. O cara é muito gentil. Era tudo o que ele queria agora. Simon bebeu um gole de café.

SIMON — Obrigado. De verdade.

Era tudo o que ele precisava.

SIMON — Você passou a noite aqui?

Fritz sentou-se na cadeira de frente.

FRITZ — Não. Fui até a sua tia conversar um pouco, dar notícias… E trazer o seu café.

Simon continuava tomando o café, mordiscando o pão de queijo.

SIMON — E como ela tá?

FRITZ — Preocupada, né. O menino não sabe ainda. Nem sabe por onde começar. Prefere não falar nada por enquanto.

Karl. A maior preocupação de Simon. Ele deve perguntar pelo irmão e pelo pai quase o tempo todo.

SIMON — É complicada essa parte.

Fritz cruzou as mãos e falou:

FRITZ — Manfred saiu da UTI.

SIMON — Sério?

FRITZ — Era quase de madrugada quando ele deu a notícia. Você dormiu e eu ainda tava por aqui. Daí sua tia me ligou e eu fui até lá.

Simon não sabia o que sentir. De tanto o próprio pai sumir, ele ficou indiferente a respeito de quase tudo dele. Ele estava ali por Karl, que sentia muita falta do pai. Simon já passou pelo que o irmão está passando agora. É difícil.

Seu celular apitou. Tinha várias mensagens.

Era Gordon. Mandou um áudio:

“Simon, eu espero que você apareça no trabalho hoje! Ontem tivemos uma demanda cheia e você deixou todo mundo na mão! Isso não se faz!”

Ele respondeu com outro áudio:

SIMON — Bom dia, Gordon. Passei a noite no hospital, porque meu pai está acidentado. Eu ainda vou hoje no trabalho para prestar esclarecimentos e tudo mais.

Revirou os olhos.

FRITZ — Se você quiser ir, pode ir. Eu fico aqui.

Simon se espreguiçou. Sentia-se duro.

SIMON — Ai…

Fritz brincou:

FRITZ — Cuidado.

Simon deu uma risadinha curta. E pegou nas mãos dele. Os olhos claros de Fritz sustentaram os seus.

SIMON — Muito obrigado, Fritz. Você é tão gente boa, mais do que o Manfred até. Não vou esquecer do quanto me ajudou até aqui.

Manfred deu um sorriso, que revelou um pouco os pés de galinha no rosto. Simon achou aquilo bem charmoso.

Quê? Ele tá reparando no amigo do pai, que vez por outra participava dos cambalachos? É isso mesmo?

Fritz pressionou as mãos sobre as dele, gerando calor.

FRITZ — Faço isso porque você é um garoto bom. Manfred é um canalha que não merece ser chamado de pai.

Isso é verdade.

Eles ficaram sustentando o olhar do outro por mais uma fração de meio minuto.

SIMON — Enfim, tenho que ir…

Simon levantou-se.

...*** ...

IVAN JÁ ESTAVA ACORDADO. Terminou de se arrumar para descer pro café. Viu a camisa vermelha de Simon, que ficou ao lado direito da sua cama. Tinha passado a noite ali.

Greta apareceu na soleira da porta entreaberta.

GRETA — Sr? Com licença.

Ivan se vira lentamente. Apenas arqueou uma sobrancelha, como quem pede para continuar.

GRETA — O café tá na mesa.

IVAN — Tá bom, Greta. Já já desço.

Greta olhou a camiseta vermelha que estava em cima da cama.

GRETA — O sr. quer que eu lave essa camiseta? Não me lembro de ter recolhido…

IVAN — Não.

Ivan sorriu. Continuou:

IVAN — Não precisa. E não deixe que ninguém pegue nesta peça de roupa.

Mesmo sem entender, Greta assentiu com a cabeça.

GRETA — Com licença…

Ela saiu.

Ivan pegou a camiseta de Simon. Pensava agora no casarão, no extenso gramado que ia da calçada até a porta. Quando entrou pela casa… seguindo até o quarto do rapaz.

Não imaginava que o rapaz lhe seria tão interessante.

...*** ...

SIMON APARECEU NO DRIVE TRHU faltando cinco minutos para começar o turno. Notou que Heidi não estava lá, e sim outra garota. Novata, com certeza.

GAROTA — Bom dia. Você que é o Simon?

Simon terminava de colocar o avental.

SIMON — Bom dia. Sim, sou eu.

GAROTA — Gordon está te esperando na sala dele.

Ela olhou pro avental de Simon.

GAROTA — Melhor você não ir assim. Ele me disse pra você ir direto lá.

Simon apenas assentiu com a cabeça, tirando o avental. Antes de sair da cozinha, ele apenas acenou pra garota.

SIMON — Bom trabalho aí.

GAROTA — Obrigada. Boa sorte.

Simon respirou fundo, rumo à sala de Gordon.

...*** ...

ELE ENTROU NA SALA DE GORDON, que estava sentado atrás da mesa com um envelope do lado. Também tinha uma papelada pronta pra ser assinada.

SIMON — Me disseram pra vir até aqui.

GORDON — Sente-se.

Simon sentou-se na cadeira de frente pra ele.

GORDON — Vou ser bem direto ao ponto.

Simon deu de ombros.

SIMON — Seja.

Gordon indicou com a cabeça a papelada e o envelope.

GORDON — A partir de hoje não vou mais precisar dos seus serviços aqui. Tá aí a folha de demissão e o dinheiro das suas contas.

Simon pegou uma caneta do bolso e assinou as vias. Assim que terminou, empurrou o papel em direção ao então ex-chefe. Pegou o envelope.

Gordon debochou:

GORDON — Esperava mais de você.

Simon terminou de assinar. Fixou o olhar nele.

SIMON — Esperava o quê?

GORDON — Que você implorasse pra ficar.

SIMON — Por quê?

Gordon deu de ombros. Continuou o deboche:

GORDON — Porque você tem um pai quase morto? Até onde eu sei, ele tá na UTI porque levou um tiro de outro bandido. E como você fica sem dinheiro?

Simon sustentou o olhar dele por meio minuto.

SIMON — Eu jamais faria uma coisa dessas: implorar pra ficar num emprego ruim com esse, que explora, suga… ainda mais tendo que lidar com alguém feito você: um babaca. Consigo arranjar coisa melhor.

Ele foi em direção à porta.

SIMON — Passar bem.

Gordon ficou com o cenho franzido, sem reação.

...*** ...

IVAN E HEINRICH ESTAVAM num fumódromo do casarão, jogando conversa fora. O lugar parece uma estufa, mas é arejado o bastante pra levar a fumaça pra longe.

HEINRICH — Vladimir me disse uma coisa.

IVAN — Que coisa?

Heinrich, depois de dar um trago, soltou a fumaça.

HEINRICH — Que você pegou um “troféu” no casarão do Simon.

Ivan deu uma risadinha.

HEINRICH — Você pegou mesmo?

IVAN — Peguei. Peguei sim.

HEINRICH — Pra quê?

O mafioso deu de ombros.

IVAN — Ora, pra quê… E precisa ter motivo?

HEINRICH — Acho que você deu bandeira com isso. Um pouco, mas deu.

IVAN — Aquele casarão vai ser meu. Manfred não vai conseguir pagar, muito menos o garoto… Então, tava só dando uma olhadinha.

HEINRICH — Hum…

Houve um momento de silêncio.

HEINRICH — Vai fazer o quê com essa camisa?

IVAN — Não sei.

Um minuto depois, ele largou o charuto no cinzeiro.

IVAN — Vou dar uma volta.

Heinrich apenas o olhou saindo do fumódromo.

HEINRICH — Aí tem.

...*** ...

SIMON CONTOU TUDO pra Heidi o que aconteceu na sala do Gordon. Eles estavam numa lanchonete um pouco longe do drive thru. Terminaram um milk shake.

HEIDI — Então você falou tudo, né?

SIMON — Falei, viu. E falei mesmo. Calei a boca dele, depois de vir pra cima de mim com deboche. Queria que eu me humilhasse pra ficar, acredita?

Heidi balançou a cabeça para os lados.

HEIDI — Esse cara é maluco. Ainda bem que ele me colocou pra fora também, sem mais. Só deixei meu avental, peguei o envelope e assinei a demissão. E fui embora.

SIMON — Comigo ele queria humilhar. Mas não dei esse gostinho, não.

HEIDI — Fez bem, garoto. Fez bem!

Simon olhou o relógio.

SIMON — Ih, tá na minha hora.

HEIDI — Pois é, também tô indo nessa.

Lá fora, Simon acompanhou Heidi entrar no Uber.

HEIDI — Tchau, amigo. Até a próxima. Fica bem!

SIMON — Até!

Simon observou o carro partir. Assim que virou a esquina, ele foi até o bicicletário. E não encontrou a bicicleta.

SIMON — Ué. Deixei a minha bicicleta aqui…

Ele começou a perguntar para as pessoas mais próximas dali se viram alguém pegando a bicicleta dele. Um comerciante, que ficava ali próximo, disse:

COMERCIANTE — Ih, meu filho, alguém deve ter pego quando ninguém tava observando. É comum isso acontecer por aqui, infelizmente.

A onda de frustração atingiu-lhe em cheio.

SIMON — Merda!

Da lanchonete até a sua casa levaria quase meia hora de caminhada. O dinheiro estava dentro das calças. Seria muito arriscado andar por aí sozinho. Mas ele começou, bem devagar. Mais pela frustração do que pelo cansaço.

Até que um carro parou ao lado dele, quando alcançou a primeira esquina.

“Ei!” Alguém disse, buzinando uma vez.

Simon olhou para o lado. Era Ivan.

IVAN — Tá perdido, rapaz?

O mafioso sorria abertamente.

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Comments

Keu Sorella

Keu Sorella

Ivan cuida bem desse fofo ele é tudo de bom, e precisa ser muito amado 💞😍!

2024-07-01

3

Sofi ♥️

Sofi ♥️

Aí que fofo,se ele ficasse com o Fritz seria legal❤️

2024-05-26

2

Anilda Alves da Cruz

Anilda Alves da Cruz

roubou à bicicleta do garoto aff

2024-05-14

1

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