Capítulo 16

SIMON TEVE APENAS ESCORIAÇÕES nos braços, que ajudaram a amortecer a queda. Levantou-se devagar, e sentiu alívio quando notou que não tinha quebrado nada. A chuva continuava forte.

Pegou a bicicleta do chão.

SIMON — Merda!

O guidão tinha entortado um pouco. Mas dava pra resolver. Com o estado que ele tava, não tinha mais como continuar fazendo delivery.

Começou a carregar a bicicleta, a pé.

...*** ...

DEPOIS DE ANDAR UM POUCO mais de um quilômetro a pé, Simon chegou no restaurante. Trevor franziu a testa, preocupado.

TREVOR — Mas o que houve?

Simon retirou a mochila que usava para guardar os pedidos. Fez careta de dor.

SIMON — Me arrebentei. A bicicleta caiu no buraco, fui arremessado…

TREVOR — Quebrou alguma coisa?

SIMON — Não.

TREVOR — Senta aí.

Simon sentou-se na banqueta.

TREVOR — Vou te liberar por hoje. Vai pra casa… descansar.

Simon soltou o ar.

SIMON — Meu pai morreu.

TREVOR — Quê?

Houve um momento de silêncio. Simon colocou a mão na têmpora.

SIMON — Minha tia ligou quando terminei a primeira entrega. Disse que ele morreu de parada cardiorrespiratória.

TREVOR — Isso foi agora?

SIMON — Tá com quase uma hora, sei lá. Tô sem reação até agora. Meu irmão nem sabe ainda.

TREVOR — Que tragédia, rapaz.

Simon assentiu com a cabeça.

SIMON — Vou nessa.

Simon e Trevor trocaram apertos de mão.

...*** ...

DESSA VEZ, IVAN FOI PARAR no casarão de Simon sozinho. Uma loucura, talvez. Ele foi bem cuidadoso: havia deixado o carro na rua de trás e entrou pelos fundos, usando a chave mestra. Foi parar no local de sempre: o quarto.

O lugar estava mais arrumado. Com certeza o garoto deve ter tirado um tempo e colocado as coisas no lugar. Será que ele deu falta da camiseta vermelha? Ivan ponderou. Lembrou-se de que a peça estava no seu gabinete.

Ele ouviu a porta da frente abrir e ativou o seu modo sangue-frio. Simon entrou. Precisar se esconder e rápido.

Simon entrou no quarto, nu. Tinha jogado as que tinha usado no cesto, para lavar depois. Ivan o observava, de cima do guarda-roupa. Sentiu um volume se formando entre as pernas, ao ver a bunda do rapaz à mostra. Até que ele desapareceu de vista, entrando no banheiro. Ouviu o barulho do chuveiro.

Aquele era o tempo perfeito para o mafioso sair dali. Mas não. O homem gosta de brincar com o perigo. Observou tanto a porta do quarto quanto a do banheiro, ambas entreabertas. Desceu do guarda-roupa como um gato — sem fazer barulho — e caminhou bem devagar até a porta entreaberta do banheiro.

Simon estava de costas, passando um sabonete na pele, a água deslizando pelo meio que dividia aquelas carnes protuberantes. Sua imaginação começou a brincar…

Ele abriu a porta, devagar. O rapaz ainda não tinha se virado, parecia concentrado ao tirar a espuma do corpo. A porta de vidro do boxe estava embaçada com o vapor. Até que Ivan a abriu, mantendo o olhar fixo no rapaz. Simon se assustou, virando-se de uma vez.

SIMON — O que você tá fazendo aqui…?

Ivan apenas desabotoou a camisa que usava, entrando de roupa e tudo debaixo do chuveiro. Não se importava mais.

IVAN — Quero você. Não fale mais nada.

Ivan agarrou na cintura de Simon, se molhando inteiro. Encostou a boca na orelha do rapaz.

IVAN — Quero quebrar essa resistência…

Simon suspirou.

SIMON — Você está se molhando…

IVAN — Eu não ligo.

Deslizando o rosto, Ivan encontrou a boca do rapaz e o beijou em cheio. Rendendo-se, Simon começou a desabotoar a camisa ensopada de Ivan, jogando-a no chão, enquanto se beijavam.

O chuveiro desligado interrompeu os devaneios de Ivan. A passos silenciosos, ele sai do quarto. Simon tinha a impressão de que estava sendo observado durante o banho, mas quando abriu a porta do banheiro não encontrou ninguém ali no quarto.

...*** ...

IVAN ENTROU NA MANSÃO, pela porta da frente. Heinrich apareceu no exato momento em que o mafioso se servia de conhaque.

HEINRICH — Por onde andou? Fiquei te procurando pela casa toda.

Ivan bebeu um gole, erguendo uma sobrancelha.

IVAN — Por aí, pensando. Alguma coisa importante?

HEINRICH — Tem, mas não pra agora. Só daqui a três meses.

IVAN — É o que eu tô pensando?

Heinrich lhe entrega um papel. É uma carta. Ivan assente com a cabeça.

IVAN — A Conferência em Berlim. A de sempre.

HEINRICH — Parece que não é a de sempre.

IVAN — Membro novo na área?

HEINRICH — Provavelmente sim. Ou não. Não deram detalhes.

Ivan apenas deu de ombros.

IVAN — Que seja. Vamos descobrir no dia mesmo…

E bebeu mais um gole de rum.

A Conferência em Berlim é um evento sazonal e secreto que acontece na Alemanha. Reúne alguns mafiosos para discutir os alinhamentos de sigilo para manter tudo funcionando dentro dos conformes. É como se fosse um acordo coletivo para que todos os envolvidos respeitem o território de cada um e prestem algum auxílio em casos extremos.

Ivan geralmente achava esse tipo de evento bem chato, mas dessa vez sentiu que vinha algo diferente. Vai deixar a curiosidade falar mais alto no dia.

...*** ...

SIMON ESTAVA RECOSTADO na parede branca do hospital, sozinho no corredor. Ele já havia recebido o comunicado formal da enfermeira de plantão. Até que Fritz apareceu.

FRITZ — Oi.

SIMON — Oi.

Meio sem jeito, Fritz encostou-se na parede ao lado dele.

FRITZ — E aí. O que falaram contigo?

SIMON — Vão fazer a autópsia para liberar o corpo logo depois.

Simon suspirou, deixando os ombros caírem. Deixou a cabeça cair no ombro de Fritz. Fechou os olhos, deixando uma lágrima escorrer.

SIMON — Eu sinceramente não sei como vou contar pro meu irmão. Tadinho, sem mãe e agora sem o pai…

Fritz passou o braço em volta do ombro dele.

FRITZ — Deixa que a sua tia cuida disso. Você já tem coisa demais pra cuidar até aqui. Melhor assim.

Simon passou um dedo para limpar a lágrima que escorreu.

SIMON — Tá bom. Obrigado por ter vindo.

FRITZ — Imagina…

Fritz pegou a mão de Simon. Entrelaçou os dedos nos dele.

...*** ...

KIM ENTROU NO CASEBRE de madeira onde morava Heiko, mas agora foi ocupado por Jung — o único filho do gângster.

Assim que Kim entrou no pequeno escritório, que só tinha uma lâmpada suspensa no teto, o homem se virou de frente.

JUNG — E aí. Deu certo?

KIM — Tudo certo. Deu pra passar despercebido.

JUNG — Ótimo. Conseguiu as informações da família do safado que está morto?

KIM — Só consegui uma foto. Do filho dele.

JUNG — Mostra aí.

Kim tirou uma foto do bolso e entregou a Jung. Era uma foto 3x4 de Simon.

JUNG — É esse que é o filho?

KIM — O próprio.

Jung assentiu com a cabeça, olhando para a foto.

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Comments

Sofi ♥️

Sofi ♥️

Ficaria tão fofinhos esses dois juntos 😍

2024-05-26

1

Anilda Alves da Cruz

Anilda Alves da Cruz

vamos desenrolar

2024-05-15

1

Ver todos

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