Capítulo 4

SIMON CHEGOU NA DELEGACIA. A primeira pessoa que ele viu foi um policial, que apenas o encarava.

SIMON — Com licença… Bom dia.

POLICIAL — Bom dia.

O tom do homem foi seco.

SIMON — Eu gostaria de falar com o delegado.

O policial olhou para Simon da cabeça aos pés.

POLICIAL — Quer fazer uma denúncia?

SIMON — Não. Quero visitar o meu pai. Fiquei sabendo que ele foi detido aqui.

O homem assentiu com a cabeça.

POLICIAL — Me fala o nome dele completo?

Simon informou o nome completo do pai.

POLICIAL — Hum… Ele não está mais aqui.

Simon franziu a testa.

SIMON — E onde ele tá agora?

POLICIAL — Deve tá andando por aí.

SIMON — Como assim?

POLICIAL — Alguém pagou a fiança dele. Então, não fazia mais sentido ele continuar preso. Entendeu?

Simon percebeu que havia uma ironia de leve no tom do policial. Como se ele tivesse que explicar o óbvio para uma criança. Ele ficou mais em choque com a rapidez da soltura do pai, que sumiu novamente.

E ele foi embora da delegacia, montando de volta na bicicleta. Fez uma ligação, conectando os fones sem fio.

SIMON — Alô, tia? A senhora não vai acreditar. Pagaram a fiança dele, e ele sumiu de novo, por aí…

Enquanto falava, começou a pedalar devagar.

...*** ...

UM DOS HOMENS TIROU a venda dos olhos de Manfred, que estava um pouco grogue — tinha acabado de recuperar a consciência.

Vladimir deu dois tapas no rosto dele.

VLADIMIR — Acorda!

Boris fumava um cigarro.

BORIS — Será que ele não precisa de adrenalina, não?

Vladimir fuzilou o homem com os olhos.

VLADIMIR — Onde a gente vai encontrar adrenalina injetável, seu imbecil?

Boris deu de ombros.

BORIS — Não sei. Devia ter pensado nisso. Você exagerou no clorofórmio, imbecil.

IVAN — Parem vocês dois.

Ivan saiu de uma cortina preta, que separava a salinha onde os três homens estavam do outro cômodo. A voz dele tinha sido seca, mas cortante.

IVAN — E aí? Ele acordou?

Manfred grunhiu.

MANFRED — Onde é que eu tô…

Ivan fez sinal pros dois homens se afastarem. Inclinou-se para Manfred, pegando-o pelo cabelo para fazer contato visual.

IVAN — Você devia parar no inferno, sabia?

Manfred despertou um pouco mais. Manteve o olhar fixo em Ivan. O puxão dele fazia seu couro cabeludo doer.

MANFRED — Foi… Foi você que pagou a fiança.

Ivan soltou o cabelo dele com força. A cara de Manfred tombou para trás. Ele fez careta ao se recompor.

IVAN — Paguei, seu merda. Paguei!

Ivan andava para os lados, com passos firmes que faziam estalos no chão. A voz era incisiva.

IVAN — Paguei, sabe por quê? Na cadeia ficaria muito mais fácil você escapar da dívida que tem comigo.

MANFRED — Mas eu vou dar um jeito de pagar!

Manfred tentou bater o pé, mas percebeu que até as pernas estavam amarradas no pé da cadeira.

MANFRED — Afrouxa um pouco esse nó aí.

Ivan indicou com a cabeça. Vladimir pegou uma faca afiada e deslizou uma vez na corda, que desencapou facilmente.

MANFRED — O casarão tá na garantia, não tá? Qualquer coisa toma o casarão…

Ivan riu.

IVAN — Aquilo não paga nem metade da dívida e você sabe disso.

MANFRED — Então toma o casarão pra amortizar o saldo. Daí você me fala quanto…

Ivan atirou no chão, fazendo Manfred dar um sobressalto.

IVAN — Cala a boca.

MANFRED — Eu só tô tentando negociar…

IVAN — Você tem trinta dias pra me pagar.

MANFRED — Trinta?!

O desespero dele foi genuíno. Ivan deu um sorriso duro e gelado.

IVAN — Trinta. Nem um dia a mais. Contando a partir de hoje.

Ivan guardou a arma no coldre, dentro do terno.

IVAN — Ah, outra coisa… A fiança entra na dívida também.

MANFRED — Você pagou porque quis.

IVAN — Paguei pra você me pagar depois. Olha aí… Facilitei a tua vida. Devia me agradecer.

Ivan olhou para Vladimir e Boris.

IVAN — Tirem ele daqui. Vocês sabem como.

Vladimir pegou um lenço e a garrafa de clorofórmio.

MANFRED — Peraí, o que vocês vão fazer…

Boris segurou a cabeça dele. Vladimir pressionou o lenço no nariz de Manfred, que se debateu. Segundos depois, ele apagou de novo.

...*** ...

SIMON ENTROU NA casa da tia Amélie. Colocou o capacete e as braçadeiras de lado, numa mesinha.

SIMON — Tia?

Amélie veio da cozinha.

AMÉLIE — Oi, meu querido. Pensei que tivesse ido direto pro trabalho.

SIMON — Só vou entrar daqui a uma hora e meia.

AMÉLIE — Entendi. Você tomou café?

SIMON — Tomei, tia. Obrigado.

Eles foram até a cozinha. Sentaram-se na mesa. Amélie se serviu de café puro e sem açúcar.

AMÉLIE — Quer dizer que seu pai saiu da prisão…

SIMON — Saiu. Alguém foi lá e pagou a fiança dele.

Amélie bebeu um gole de café, depois de soprar um pouquinho.

AMÉLIE — Teu pai se envolve com tanta gente, filho… Duvido nada que ele tenha conseguido recorrer a alguém que pudesse ajudar na soltura.

SIMON — Foi muito rápido.

AMÉLIE — Essa criatura que pagou a fiança ou é um amigo de confiança ou é alguém que fez um favor esperando algo em troca.

SIMON — Praticamente todo mundo que meu pai conhece e pede favor espera algo em troca. Nem que demore um pouco a fechar a conta.

AMÉLIE — Verdade. Quer café?

SIMON — Só dois dedinhos.

Simon se serviu de uma xícara de café.

AMÉLIE — Tem açúcar aí.

SIMON — Não, não… Enfim. Quem sofre com esse sumiço todo, essa história toda, é Karl.

Amélie assentiu com a cabeça.

AMÉLIE — Tadinho dele. Ele pergunta muito?

SIMON — Perguntou hoje mais cedo.

Houve um momento de silêncio.

AMÉLIE — Anelise chamou ele pra brincar no parque com o irmão caçula dela.

Anelise é a vizinha de Amélie. Simon a conhece bem.

SIMON — Só assim ele se distrai.

Simon olhou o relógio. E virou a xícara inteira de café.

SIMON — Preciso ir.

AMÉLIE — Pode buscar ele só amanhã mesmo.

SIMON — Obrigado, tia. Até amanhã, então.

Simon se levanta e dar um beijo na testa de Amélie.

AMÉLIE — Não esqueça o capacete e as braçadeiras. Tome cuidado nesse trânsito.

SIMON — Pode deixar.

Lá fora, ele colocou os equipamentos de segurança e conferiu os bolsos. Mais de duas vezes, apalpando.

SIMON — Merda!

Notou que esqueceu o crachá. Faltava exatamente uma hora pra ele começar o turno. Tinha que voltar pra casa e pegar o bendito.

Nunca pedalou tão rápido na vida.

...*** ...

UM CARRO PRETO estava parado no outro lado da rua. Simon chegou de bicicleta, abriu os portões rápido e entrou correndo casa a dentro.

Heinrich, no banco do motorista, tinha conseguido tirar vários cliques com a câmera profissional. Decidiu esperar mais um pouco.

Simon saiu com o crachá no pescoço, levando a bicicleta. Simplesmente deixou ao lado da entrada, enquanto fechava de volta os portões. Assim que montou de volta, pedalou mais rápido.

HEINRICH — Garoto apressado…

Tinha conseguido o que queria.

Ligou para Ivan.

HEINRICH — Ivan?

No outro lado da linha, o mafioso tentava relaxar um pouco fumando um charuto. Estava sentado atrás da suntuosa mesa, no gabinete. Os pés repousados sobre a mesa.

IVAN — Heinrich. Espero que seja notícia boa, por Deus.

Heinrich girou a chave na ignição, depois de guardar a câmera profissional cuidadosamente no banco do carona.

HEINRICH — É notícia boa. Acabei de conseguir o que você queria.

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Anilda Alves da Cruz

Anilda Alves da Cruz

o que será?

2024-05-14

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