SIMON CHEGOU NA DELEGACIA. A primeira pessoa que ele viu foi um policial, que apenas o encarava.
SIMON — Com licença… Bom dia.
POLICIAL — Bom dia.
O tom do homem foi seco.
SIMON — Eu gostaria de falar com o delegado.
O policial olhou para Simon da cabeça aos pés.
POLICIAL — Quer fazer uma denúncia?
SIMON — Não. Quero visitar o meu pai. Fiquei sabendo que ele foi detido aqui.
O homem assentiu com a cabeça.
POLICIAL — Me fala o nome dele completo?
Simon informou o nome completo do pai.
POLICIAL — Hum… Ele não está mais aqui.
Simon franziu a testa.
SIMON — E onde ele tá agora?
POLICIAL — Deve tá andando por aí.
SIMON — Como assim?
POLICIAL — Alguém pagou a fiança dele. Então, não fazia mais sentido ele continuar preso. Entendeu?
Simon percebeu que havia uma ironia de leve no tom do policial. Como se ele tivesse que explicar o óbvio para uma criança. Ele ficou mais em choque com a rapidez da soltura do pai, que sumiu novamente.
E ele foi embora da delegacia, montando de volta na bicicleta. Fez uma ligação, conectando os fones sem fio.
SIMON — Alô, tia? A senhora não vai acreditar. Pagaram a fiança dele, e ele sumiu de novo, por aí…
Enquanto falava, começou a pedalar devagar.
...*** ...
UM DOS HOMENS TIROU a venda dos olhos de Manfred, que estava um pouco grogue — tinha acabado de recuperar a consciência.
Vladimir deu dois tapas no rosto dele.
VLADIMIR — Acorda!
Boris fumava um cigarro.
BORIS — Será que ele não precisa de adrenalina, não?
Vladimir fuzilou o homem com os olhos.
VLADIMIR — Onde a gente vai encontrar adrenalina injetável, seu imbecil?
Boris deu de ombros.
BORIS — Não sei. Devia ter pensado nisso. Você exagerou no clorofórmio, imbecil.
IVAN — Parem vocês dois.
Ivan saiu de uma cortina preta, que separava a salinha onde os três homens estavam do outro cômodo. A voz dele tinha sido seca, mas cortante.
IVAN — E aí? Ele acordou?
Manfred grunhiu.
MANFRED — Onde é que eu tô…
Ivan fez sinal pros dois homens se afastarem. Inclinou-se para Manfred, pegando-o pelo cabelo para fazer contato visual.
IVAN — Você devia parar no inferno, sabia?
Manfred despertou um pouco mais. Manteve o olhar fixo em Ivan. O puxão dele fazia seu couro cabeludo doer.
MANFRED — Foi… Foi você que pagou a fiança.
Ivan soltou o cabelo dele com força. A cara de Manfred tombou para trás. Ele fez careta ao se recompor.
IVAN — Paguei, seu merda. Paguei!
Ivan andava para os lados, com passos firmes que faziam estalos no chão. A voz era incisiva.
IVAN — Paguei, sabe por quê? Na cadeia ficaria muito mais fácil você escapar da dívida que tem comigo.
MANFRED — Mas eu vou dar um jeito de pagar!
Manfred tentou bater o pé, mas percebeu que até as pernas estavam amarradas no pé da cadeira.
MANFRED — Afrouxa um pouco esse nó aí.
Ivan indicou com a cabeça. Vladimir pegou uma faca afiada e deslizou uma vez na corda, que desencapou facilmente.
MANFRED — O casarão tá na garantia, não tá? Qualquer coisa toma o casarão…
Ivan riu.
IVAN — Aquilo não paga nem metade da dívida e você sabe disso.
MANFRED — Então toma o casarão pra amortizar o saldo. Daí você me fala quanto…
Ivan atirou no chão, fazendo Manfred dar um sobressalto.
IVAN — Cala a boca.
MANFRED — Eu só tô tentando negociar…
IVAN — Você tem trinta dias pra me pagar.
MANFRED — Trinta?!
O desespero dele foi genuíno. Ivan deu um sorriso duro e gelado.
IVAN — Trinta. Nem um dia a mais. Contando a partir de hoje.
Ivan guardou a arma no coldre, dentro do terno.
IVAN — Ah, outra coisa… A fiança entra na dívida também.
MANFRED — Você pagou porque quis.
IVAN — Paguei pra você me pagar depois. Olha aí… Facilitei a tua vida. Devia me agradecer.
Ivan olhou para Vladimir e Boris.
IVAN — Tirem ele daqui. Vocês sabem como.
Vladimir pegou um lenço e a garrafa de clorofórmio.
MANFRED — Peraí, o que vocês vão fazer…
Boris segurou a cabeça dele. Vladimir pressionou o lenço no nariz de Manfred, que se debateu. Segundos depois, ele apagou de novo.
...*** ...
SIMON ENTROU NA casa da tia Amélie. Colocou o capacete e as braçadeiras de lado, numa mesinha.
SIMON — Tia?
Amélie veio da cozinha.
AMÉLIE — Oi, meu querido. Pensei que tivesse ido direto pro trabalho.
SIMON — Só vou entrar daqui a uma hora e meia.
AMÉLIE — Entendi. Você tomou café?
SIMON — Tomei, tia. Obrigado.
Eles foram até a cozinha. Sentaram-se na mesa. Amélie se serviu de café puro e sem açúcar.
AMÉLIE — Quer dizer que seu pai saiu da prisão…
SIMON — Saiu. Alguém foi lá e pagou a fiança dele.
Amélie bebeu um gole de café, depois de soprar um pouquinho.
AMÉLIE — Teu pai se envolve com tanta gente, filho… Duvido nada que ele tenha conseguido recorrer a alguém que pudesse ajudar na soltura.
SIMON — Foi muito rápido.
AMÉLIE — Essa criatura que pagou a fiança ou é um amigo de confiança ou é alguém que fez um favor esperando algo em troca.
SIMON — Praticamente todo mundo que meu pai conhece e pede favor espera algo em troca. Nem que demore um pouco a fechar a conta.
AMÉLIE — Verdade. Quer café?
SIMON — Só dois dedinhos.
Simon se serviu de uma xícara de café.
AMÉLIE — Tem açúcar aí.
SIMON — Não, não… Enfim. Quem sofre com esse sumiço todo, essa história toda, é Karl.
Amélie assentiu com a cabeça.
AMÉLIE — Tadinho dele. Ele pergunta muito?
SIMON — Perguntou hoje mais cedo.
Houve um momento de silêncio.
AMÉLIE — Anelise chamou ele pra brincar no parque com o irmão caçula dela.
Anelise é a vizinha de Amélie. Simon a conhece bem.
SIMON — Só assim ele se distrai.
Simon olhou o relógio. E virou a xícara inteira de café.
SIMON — Preciso ir.
AMÉLIE — Pode buscar ele só amanhã mesmo.
SIMON — Obrigado, tia. Até amanhã, então.
Simon se levanta e dar um beijo na testa de Amélie.
AMÉLIE — Não esqueça o capacete e as braçadeiras. Tome cuidado nesse trânsito.
SIMON — Pode deixar.
Lá fora, ele colocou os equipamentos de segurança e conferiu os bolsos. Mais de duas vezes, apalpando.
SIMON — Merda!
Notou que esqueceu o crachá. Faltava exatamente uma hora pra ele começar o turno. Tinha que voltar pra casa e pegar o bendito.
Nunca pedalou tão rápido na vida.
...*** ...
UM CARRO PRETO estava parado no outro lado da rua. Simon chegou de bicicleta, abriu os portões rápido e entrou correndo casa a dentro.
Heinrich, no banco do motorista, tinha conseguido tirar vários cliques com a câmera profissional. Decidiu esperar mais um pouco.
Simon saiu com o crachá no pescoço, levando a bicicleta. Simplesmente deixou ao lado da entrada, enquanto fechava de volta os portões. Assim que montou de volta, pedalou mais rápido.
HEINRICH — Garoto apressado…
Tinha conseguido o que queria.
Ligou para Ivan.
HEINRICH — Ivan?
No outro lado da linha, o mafioso tentava relaxar um pouco fumando um charuto. Estava sentado atrás da suntuosa mesa, no gabinete. Os pés repousados sobre a mesa.
IVAN — Heinrich. Espero que seja notícia boa, por Deus.
Heinrich girou a chave na ignição, depois de guardar a câmera profissional cuidadosamente no banco do carona.
HEINRICH — É notícia boa. Acabei de conseguir o que você queria.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Anilda Alves da Cruz
o que será?
2024-05-14
4