SIMON CHEGOU EM CASA. Aliás, um casarão meio sucateado que seu pai insiste em não vender. Um casarão suntuoso, clássico, porém precisa de múltiplas reformas.
Ele deixou a bicicleta guardada nos fundos. Certificou-se de que os portões de ferro estavam fechados e entrou, carregando o pacote.
Encontrou sua melhor amiga Margot, assistindo uma programação qualquer na televisão.
MARGOT — Você chegou…
O cansaço recaiu sobre os ombros de Simon. Ele soltou o ar.
SIMON — Tô morto de cansado. Quer?
Ele ergueu o pacote.
MARGOT — Não, não, obrigada. Vou deixar você descansar, amigo.
SIMON — Karl dormiu?
MARGOT — Tá dormindo feito uma pedra. Sua tia Amélie veio até aqui e preparou alguma coisa pra gente jantar. Seu prato tá no microondas.
SIMON — Tô morrendo de fome…
Simon deixou o pacote em cima da mesa de jantar. Uma mesa de madeira maciça enorme com dez cadeiras.
SIMON — Vou acompanhar você em casa.
Margot mora em frente à casa. Simon a acompanhou, esperando-a entrar. Assim que voltou para a casa, decidiu subir para tomar banho. Embora estivesse cansado, não via a hora de comer algo.
De banho tomado, ele desceu até a cozinha. Abriu o pacote, e viu que tinha dois pedaços grandes de pizza. A primeira mordida abriu o apetite. Ele realmente não comia desde o almoço. Devorou tudo.
Foi até o microondas ver o prato que Amélie tinha deixado para ele: macarronada. Decidiu comer. Esvaziou toda a coca-cola.
Quase uma e meia da manhã. Simon calculou que só teria mais seis horas de sono.
...*** ...
HEINRICH OLHAVA, INCRÉDULO, para o chefão da máfia: Ivan Lafayette.
HEINRICH — 10 milhões? É sério?
Ivan deu um trago no charuto cubano. Fez a fumaça densa sair pelo nariz. Balançava-se levemente na suntuosa cadeira de couro, no seu gabinete.
IVAN — Manfred é um pobre coitado que só quer se dar bem na vida.
HEINRICH — Você é muito corajoso.
Ivan deu de ombros.
IVAN — Sou mais esperto do que ele. Não tenha dúvidas disso.
HEINRICH — Não que eu tenha dúvidas. Mas com que garantia ele vai te devolver?
Ivan bebeu um gole de uísque.
IVAN — O casarão dele tá como garantia. Dei uma avaliada. Aquilo cobre grande parte da dívida.
HEINRICH — Aquele casarão sucateado?
IVAN — Nem tanto. Só uma reforma e já dar pra colocar à venda. Manfred nunca quis sair dali. Mal de homem que ficou pobre.
HEINRICH — Se ele nunca quis sair dali… Colocar o próprio imóvel como garantia é sinal de puro desespero.
IVAN — Foi desespero mesmo. Mas eu até que tô vendo resultado nesse cassino de luxo.
HEINRICH — Tá rendendo, então?
IVAN — Pelos falatórios, sim. A dívida está quase paga. Daqui um mês e meio ele consegue saldar, se continuar assim. Caso contrário…
HEINRICH — O casarão é seu.
IVAN — Exato.
Ivan deu mais um trago no charuto.
IVAN — Pelo menos alguém tá sabendo usar o dinheiro que eu emprestei. Devolvendo o que é meu, ele só tem a ganhar comigo.
Heinrich brincou:
HEINRICH — Vai querer colocá-lo na máfia?
Ivan soltou a fumaça, dando uma risadinha.
IVAN — Ele só atrapalharia as coisas. Mas quem sabe… Não estou considerando. Nem quero.
HEINRICH — Melhor não.
Ivan estendeu a caixinha na direção do homem.
IVAN — Pegue um charuto.
...***...
MANFRED ENTROU NA SALA do delegado, acompanhado por dois policiais.
DELEGADO — Sente-se.
MANFRED — Doutor, eu sou inocente.
DELEGADO — É o que todo mundo é. Sente-se.
A voz dura e ríspida do homem fez com que Manfred sentasse de imediato.
DELEGADO — Recebemos uma denúncia anônima de que havia um cassino clandestino em operação no endereço que você estava.
Manfred franziu a testa.
MANFRED — Cassino clandestino? Deve ter sido um engano. Estava acontecendo uma festa entre amigos e toda aquela roda de pôquer era por diversão.
O delegado manteve a postura impassível.
DELEGADO — Quer dizer então que todos aqueles que fugiram de imediato são seus amigos?
Todos fugiram? Até Fritz? O pensamento de Manfred ficou a mil.
POLICIAL — Doutor, só conseguimos capturar este indivíduo aqui. Teve um apagão e todo mundo praticamente sumiu.
Manfred se lembrava de que teve um apagão na hora da voz de prisão. O lugar virou um pandemônio. Certamente todo mundo fugiu pra não ter que prestar esclarecimentos na polícia.
DELEGADO — Pelo visto, sobrou pra você. E você vai passar pelo menos a noite toda por aqui, pra amanhã a gente decidir o teu rumo… Levem ele.
MANFRED — Na-não, doutor. Peraí… Deixa eu explicar melhor…
DELEGADO — Já ouvi o suficiente. Levem-no daqui.
...*** ...
SIMON ACORDOU, GROGUE, com o som do despertador. Por meio minuto, ele pensou duas vezes antes de voltar a dormir. Depois de ter passado meio minuto, sentou-se na cama e esfregou os olhos.
Foi até o banheiro, abriu a torneira e jogou a água gelada no rosto. Olhou-se no espelho. Seu aspecto era de quem foi atropelado, analisou. Tirou a roupa de dormir, largando na pia grande, e foi para debaixo do chuveiro.
Era irônico pensar que um rapaz morava com o irmão mais novo, num casarão que suplicava por reforma, e tentava se manter com dois empregos. Se não fosse Manfred, Simon com certeza venderia o casarão e com o dinheiro moraria com o irmão em uma casa bem menor.
Assim que terminou de lavar o cabelo e o corpo, Simon cobriu-se com uma toalha branca e foi até o quarto. Viu que o seu celular tocava.
Número Desconhecido
Ele ignorou a ligação.
Assim que acabou de se vestir, foi até o quarto de Karl. Ele ainda estava dormindo. E sussurra:
SIMON — Karl… Karl…?
O garoto se move, meio grogue.
KARL — Hum?
SIMON — Eu vou comprar o nosso café da manhã. Aproveita pra tomar banho e se arrumar, que eu te levo na escola.
KARL — Hoje não tem aula.
Simon ficou surpreso.
SIMON — Não?
KARL — É feriado estadual. Não tem aula hoje.
Simon lembrou-se do feriado de hoje. Assentiu com a cabeça.
SIMON — Certo, então pode voltar a dormir. Vou no mercado e já volto.
O garoto simplesmente voltou a dormir.
...*** ...
MANFRED BATEU O TELEFONE no gancho, usava um dos cinco orelhões da prisão onde estava.
MANFRED — Merda!
Simon não atendia ele. O carcereiro se aproximou.
CARCEREIRO — Você só tem mais dois minutos para tentar contato com alguém.
Manfred fez careta.
MANFRED — Dois?
O carcereiro cruzou os braços.
CARCEREIRO — Acho melhor você aproveitar logo. O tempo está correndo.
Manfred soltou o ar. Tirou o telefone do gancho novamente, discando para o número que seria a sua última opção não muito desejada.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Anilda Alves da Cruz
que pai é esse ?
2024-05-14
2
Raquel Alves Pedrosa Rachel Alves
Esse maldito deixa os filhos passando necessidade, ainda tem a cara de pau de ligar pedindo ajuda.
2024-05-11
2