Capítulo 2

SIMON CHEGOU EM CASA. Aliás, um casarão meio sucateado que seu pai insiste em não vender. Um casarão suntuoso, clássico, porém precisa de múltiplas reformas.

Ele deixou a bicicleta guardada nos fundos. Certificou-se de que os portões de ferro estavam fechados e entrou, carregando o pacote.

Encontrou sua melhor amiga Margot, assistindo uma programação qualquer na televisão.

MARGOT — Você chegou…

O cansaço recaiu sobre os ombros de Simon. Ele soltou o ar.

SIMON — Tô morto de cansado. Quer?

Ele ergueu o pacote.

MARGOT — Não, não, obrigada. Vou deixar você descansar, amigo.

SIMON — Karl dormiu?

MARGOT — Tá dormindo feito uma pedra. Sua tia Amélie veio até aqui e preparou alguma coisa pra gente jantar. Seu prato tá no microondas.

SIMON — Tô morrendo de fome…

Simon deixou o pacote em cima da mesa de jantar. Uma mesa de madeira maciça enorme com dez cadeiras.

SIMON — Vou acompanhar você em casa.

Margot mora em frente à casa. Simon a acompanhou, esperando-a entrar. Assim que voltou para a casa, decidiu subir para tomar banho. Embora estivesse cansado, não via a hora de comer algo.

De banho tomado, ele desceu até a cozinha. Abriu o pacote, e viu que tinha dois pedaços grandes de pizza. A primeira mordida abriu o apetite. Ele realmente não comia desde o almoço. Devorou tudo.

Foi até o microondas ver o prato que Amélie tinha deixado para ele: macarronada. Decidiu comer. Esvaziou toda a coca-cola.

Quase uma e meia da manhã. Simon calculou que só teria mais seis horas de sono.

...*** ...

HEINRICH OLHAVA, INCRÉDULO, para o chefão da máfia: Ivan Lafayette.

HEINRICH — 10 milhões? É sério?

Ivan deu um trago no charuto cubano. Fez a fumaça densa sair pelo nariz. Balançava-se levemente na suntuosa cadeira de couro, no seu gabinete.

IVAN — Manfred é um pobre coitado que só quer se dar bem na vida.

HEINRICH — Você é muito corajoso.

Ivan deu de ombros.

IVAN — Sou mais esperto do que ele. Não tenha dúvidas disso.

HEINRICH — Não que eu tenha dúvidas. Mas com que garantia ele vai te devolver?

Ivan bebeu um gole de uísque.

IVAN — O casarão dele tá como garantia. Dei uma avaliada. Aquilo cobre grande parte da dívida.

HEINRICH — Aquele casarão sucateado?

IVAN — Nem tanto. Só uma reforma e já dar pra colocar à venda. Manfred nunca quis sair dali. Mal de homem que ficou pobre.

HEINRICH — Se ele nunca quis sair dali… Colocar o próprio imóvel como garantia é sinal de puro desespero.

IVAN — Foi desespero mesmo. Mas eu até que tô vendo resultado nesse cassino de luxo.

HEINRICH — Tá rendendo, então?

IVAN — Pelos falatórios, sim. A dívida está quase paga. Daqui um mês e meio ele consegue saldar, se continuar assim. Caso contrário…

HEINRICH — O casarão é seu.

IVAN — Exato.

Ivan deu mais um trago no charuto.

IVAN — Pelo menos alguém tá sabendo usar o dinheiro que eu emprestei. Devolvendo o que é meu, ele só tem a ganhar comigo.

Heinrich brincou:

HEINRICH — Vai querer colocá-lo na máfia?

Ivan soltou a fumaça, dando uma risadinha.

IVAN — Ele só atrapalharia as coisas. Mas quem sabe… Não estou considerando. Nem quero.

HEINRICH — Melhor não.

Ivan estendeu a caixinha na direção do homem.

IVAN — Pegue um charuto.

...***...

MANFRED ENTROU NA SALA do delegado, acompanhado por dois policiais.

DELEGADO — Sente-se.

MANFRED — Doutor, eu sou inocente.

DELEGADO — É o que todo mundo é. Sente-se.

A voz dura e ríspida do homem fez com que Manfred sentasse de imediato.

DELEGADO — Recebemos uma denúncia anônima de que havia um cassino clandestino em operação no endereço que você estava.

Manfred franziu a testa.

MANFRED — Cassino clandestino? Deve ter sido um engano. Estava acontecendo uma festa entre amigos e toda aquela roda de pôquer era por diversão.

O delegado manteve a postura impassível.

DELEGADO — Quer dizer então que todos aqueles que fugiram de imediato são seus amigos?

Todos fugiram? Até Fritz? O pensamento de Manfred ficou a mil.

POLICIAL — Doutor, só conseguimos capturar este indivíduo aqui. Teve um apagão e todo mundo praticamente sumiu.

Manfred se lembrava de que teve um apagão na hora da voz de prisão. O lugar virou um pandemônio. Certamente todo mundo fugiu pra não ter que prestar esclarecimentos na polícia.

DELEGADO — Pelo visto, sobrou pra você. E você vai passar pelo menos a noite toda por aqui, pra amanhã a gente decidir o teu rumo… Levem ele.

MANFRED — Na-não, doutor. Peraí… Deixa eu explicar melhor…

DELEGADO — Já ouvi o suficiente. Levem-no daqui.

...*** ...

SIMON ACORDOU, GROGUE, com o som do despertador. Por meio minuto, ele pensou duas vezes antes de voltar a dormir. Depois de ter passado meio minuto, sentou-se na cama e esfregou os olhos.

Foi até o banheiro, abriu a torneira e jogou a água gelada no rosto. Olhou-se no espelho. Seu aspecto era de quem foi atropelado, analisou. Tirou a roupa de dormir, largando na pia grande, e foi para debaixo do chuveiro.

Era irônico pensar que um rapaz morava com o irmão mais novo, num casarão que suplicava por reforma, e tentava se manter com dois empregos. Se não fosse Manfred, Simon com certeza venderia o casarão e com o dinheiro moraria com o irmão em uma casa bem menor.

Assim que terminou de lavar o cabelo e o corpo, Simon cobriu-se com uma toalha branca e foi até o quarto. Viu que o seu celular tocava.

Número Desconhecido

Ele ignorou a ligação.

Assim que acabou de se vestir, foi até o quarto de Karl. Ele ainda estava dormindo. E sussurra:

SIMON — Karl… Karl…?

O garoto se move, meio grogue.

KARL — Hum?

SIMON — Eu vou comprar o nosso café da manhã. Aproveita pra tomar banho e se arrumar, que eu te levo na escola.

KARL — Hoje não tem aula.

Simon ficou surpreso.

SIMON — Não?

KARL — É feriado estadual. Não tem aula hoje.

Simon lembrou-se do feriado de hoje. Assentiu com a cabeça.

SIMON — Certo, então pode voltar a dormir. Vou no mercado e já volto.

O garoto simplesmente voltou a dormir.

...*** ...

MANFRED BATEU O TELEFONE no gancho, usava um dos cinco orelhões da prisão onde estava.

MANFRED — Merda!

Simon não atendia ele. O carcereiro se aproximou.

CARCEREIRO — Você só tem mais dois minutos para tentar contato com alguém.

Manfred fez careta.

MANFRED — Dois?

O carcereiro cruzou os braços.

CARCEREIRO — Acho melhor você aproveitar logo. O tempo está correndo.

Manfred soltou o ar. Tirou o telefone do gancho novamente, discando para o número que seria a sua última opção não muito desejada.

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Comments

Anilda Alves da Cruz

Anilda Alves da Cruz

que pai é esse ?

2024-05-14

2

Raquel Alves Pedrosa Rachel Alves

Raquel Alves Pedrosa Rachel Alves

Esse maldito deixa os filhos passando necessidade, ainda tem a cara de pau de ligar pedindo ajuda.

2024-05-11

2

Ver todos

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