Capítulo 8

IVAN OLHOU PRA MANFRED de cima abaixo, até que fixou os olhos na mochila no chão.

IVAN — Pode me dizer o que é isso?

MANFRED — Nessa mochila tem cem mil. Já dá pra adiantar alguma coisa. Pelo menos a fiança que você pagou e uma parte do que eu devo.

Ivan deu uma risadinha, balançando a cabeça para os lados. E deu mais uma tragada forte no charuto.

IVAN — Você sabe que esse dinheiro não chega a ser dez por cento do valor total que me deve, não é?

MANFRED — Eu sei. Mas eu tô pagando pelo menos a fiança.

Ivan ironizou:

IVAN — Esse dinheiro aqui dá pra pagar pelo menos umas dez fianças. E eu paguei só uma, que eu saiba. Não vou pagar de novo. Eu só te soltei pra você pagar o que me deve.

Manfred permaneceu em silêncio.

IVAN — Eu vou aceitar essa mixaria que você deu. Mas ainda falta muito, viu? Falta bastante. Eu acho que vou ficar com aquele casarão que você não pensou duas vezes antes de penhorar pra mim, onde mora seus dois filhos que não tem a culpa de ter um pai miserável e viciado feito você.

Ivan deu mais um trago no charuto, soltando a fumaça densa pelo nariz. E continuou:

IVAN — Eu não sei o que você vai fazer para me devolver esses dez milhões, mas saiba que o tempo está correndo. Te dei um mês, não esquece.

MANFRED — Um mês é muito pouco.

Ivan riu.

IVAN — Não foi isso que você me disse quando me pediu essa bolada toda, lembra?

Manfred deu de ombros. Mesmo tremendo que nem vara verde, ele se mostrava impassível. Sangue frio.

MANFRED — Se eu tivesse um cassino, dava pra te devolver tudo em um mês. Mas você sabe o resto da história.

Ivan cortou:

IVAN — E você sabe que eu não tenho nada a ver com essa história. Você prometeu. Vai ter que cumprir. Quero meu dinheiro de volta.

Agora foi a vez de Manfred ironizar, com um meio sorriso de desprezo:

MANFRED — Nós aqui sabemos muito bem que esse dinheiro é troco pra você.

Ivan fechou a cara, batendo com os dentes.

IVAN — Acho melhor você parar por aí. Tô tendo paciência demais. Eu só não mandei dar cabo de você, porque…

O mafioso fez uma pausa dramática. Sádico, concluiu:

IVAN — … porque é muito bom ver você quebrando a cabeça em mil pedaços para conseguir juntar, por conta própria, um dinheiro que nunca mais vai ver de novo nessa vida.

MANFRED — Pode ser que eu veja mais rápido do que você imagina.

Ivan riu.

IVAN — Se você não fosse tão burro assim, trabalharia pra mim. Mas é corajoso, descarado…

Manfred viu a última oportunidade e aproveitou:

MANFRED — Por que você não me coloca para trabalhar contigo? Eu faço qualquer coisa.

Ivan franziu a testa.

IVAN — Qualquer coisa?

MANFRED — Sim. Qualquer coisa. Não tenho mais nada a perder.

O mafioso assentiu com a cabeça, considerando o que o homem disse.

IVAN — Acho que você devia ir embora. Agora.

Com um olhar de Ivan, Vladimir e Boris foram na direção de Manfred.

Enquanto era arrastado pelos dois homens, ele insistiu:

MANFRED — Peraí! Pensa na minha proposta, vai lá. Eu faço qualquer coisa pra você. Qualquer coisa! Pensa bem! Você tem a faca e o queijo na mão.

Ivan apenas fez um sinal para que seus homens afastassem Manfred da sua casa.

Mas o que ele falou fizera o mafioso ter uma ideia.

...***...

IVAN TERMINOU DE CONTAR O ÚLTIMO bolo de notas de cem, dentro do seu gabinete suntuoso. Sua habilidade com dinheiro era histórica. Assentiu com a cabeça, após prender o bolo com o elástico e jogar em cima da enorme mesa de marfim. Heinrich o observava.

IVAN — Cem mil. O miserável não mentiu no valor.

HEINRICH — Se ele conseguir esse valor todo dia, nem chega perto da metade.

Ivan deu uma risadinha.

IVAN — Pelo visto, aquele casarão vai ser meu mesmo.

Heinrich tamborilou com os dedos na mesa.

HEINRICH — Você não tem pena dos meninos, não? Com certeza eles não tem onde cair morto…

Ivan fechou a cara, ao olhar para o homem que é seu braço direito.

IVAN — Aí eu te pergunto: Manfred teve pena em colocar aquele casarão como garantia? Sabendo que tem dois filhos ainda morando nela?

HEINRICH — Eu, particularmente, só sinto pena deles. Quero que Manfred se foda.

Ivan deu de ombros.

IVAN — Fique à vontade pra fazer caridade, então. Acho… bonito, sabia? Você pode ganhar alguns pontinhos com alguma entidade superior caso tiver fadado a ir pro inferno.

Heinrich balancou a cabeça com a ironia de Ivan, que riu. E brincou:

HEINRICH — Você não perde uma.

IVAN — Ué? Eu menti em alguma coisa?

Heinrich mudou de assunto.

HEINRICH — Falando no rapaz, quer que eu faça mais algum levantamento?

Ivan guardava os bolos de dinheiro no seu cofre, atrás de um quadro do Van Gogh.

IVAN — Só fica de olho na rotina dele. E depois me conta qual é o padrão que ele segue todo dia.

...***...

AMÉLIE COLOCAVA KARL PARA dormir no quartinho que ela tinha reservado só pra ele, terminando de cobri-lo com o lençol.

KARL — Tia.

AMÉLIE — Oi, meu amor.

KARL — Posso perguntar uma coisa?

Amélie juntou as mãos no colo.

AMÉLIE — Pergunte.

Karl demorou um pouco, como quem estava formulando as palavras certas.

AMÉLIE — Meu pai vai aparecer um dia?

De todas as respostas prontas que Amélie tinha, essa estava em falta. Ela suspirou.

AMÉLIE — Eu sei que você sente muita falta do seu pai. Espero muito que ele apareça algum dia pra ver vocês.

Karl bocejou.

AMÉLIE — Está na hora de dormir. Boa noite.

O garoto fechou os olhos. Após dar um beijo na testa do menino, Amélie sai do quarto com uma pontinha de culpa por ter se esquivado o mínimo possível da pergunta dele.

Sentia pena do menino ter um pai tão cretino.

...*** ...

MANFRED VOLTOU PARA A casa de Fritz. Os dois bebiam um shot de tequila. Quem virava mais shots era Manfred.

FRITZ — Então você peitou o semideus da máfia, assim, na coragem?

Manfred fez careta ao sentir a bebida rasgando. E tragou o cigarro aceso, entre os dedos.

MANFRED — Desafiei. Em tempo de levar um ou mais tiros ali, porque aqueles dois guarda-costas dele são dois rottweiler em forma de gente. Mas eu vi que ele pensou no que eu disse.

FRITZ — E o que você disse, exatamente?

MANFRED — Que eu faria qualquer coisa pra ele. Não tinha nada a perder mesmo. E nem tenho.

FRITZ — Daí ele te mandou embora.

MANFRED — Fui literalmente jogado na calçada. Mas aluguei um apartamento na cabeça dele.

FRITZ — Será que ele teve uma ideia?

Manfred bebeu mais um shot de tequila. E olhou, enigmático, para o nada.

MANFRED — Não sei. Provavelmente sim.

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Comments

nãotenhocriatividadepraisso

nãotenhocriatividadepraisso

pelo menos tem um bom gosto pra decoração

2024-07-19

1

Anilda Alves da Cruz

Anilda Alves da Cruz

coitado dos filhos

2024-05-14

2

Ver todos

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