IVAN PAROU O CARRO bem na janela do Drive Thru. Abaixou o vidro, retirando os óculos escuros. Buzinou apenas uma vez, fraco.
IVAN — Bom dia…
Prontamente, Simon foi até o posto de atendimento. O homem tinha olhos azuis bem gélidos, observou ele.
SIMON — Bom dia. O que você deseja?
Ivan deu uma olhadela rápida no rapaz, da cabeça aos pés. Interessante, pensou.
IVAN — Quero um x-tudo da casa com fritas e uma coca zero.
Heidi ouviu o pedido e já foi preparando.
SIMON — Cinco minutinhos.
IVAN — Eu espero.
Ivan colocou os óculos de volta e ficou observando Simon. Ele não queria que fosse notado.
Simon ajudava Heidi a finalizar o pedido. Heidi cochichou:
HEIDI — Ele tá te observando desde que chegou.
SIMON — Nem sei o porquê.
HEIDI — Deve tá interessado, né?
Eles colocaram o x-tudo, a batata frita e a coca zero na sacola. Heidi brinca:
HEIDI — Coloca o teu telefone aqui dentro.
SIMON — Garota!
Eles riem baixinho. Heidi entrega a sacola pra ele.
HEIDI — Você entrega.
Simon foi até Ivan, com a sacola e a maquininha de cartão. Ivan retirou da carteira um cartão preto.
SIMON — Crédito ou débito?
IVAN — Débito, por favor.
A transação foi autorizada e o pedido entregue.
IVAN — Muito obrigado.
SIMON — Por nada. Obrigado pela preferência e volte sempre.
Ivan deu uma piscadela para Simon, que sentiu um calor na espinha.
Sem perceber, Simon ficou parado e observava o carro de Ivan seguir viagem.
Heidi foi até ao lado dele e deu-lhe uma cotovelada de leve.
HEIDI — Limpa essa baba aí escorrendo no canto da boca.
SIMON — Caramba, Heidi! Que susto!
Eles riem um pouco mais alto. Porém tapam a boca.
SIMON — Tomara que ele não tenha ouvido isso.
HEIDI — Não faz diferença alguma. Falta um minuto pra gente almoçar.
...*** ...
SIMON E HEIDI tinham apenas quarenta minutos de intervalo. Era o tempo que levavam pra comer um sanduíche e bater papo.
HEIDI — Sinceramente falando…
Simon deu uma mordida no sanduíche.
SIMON — Que foi?
HEIDI — Tô pensando seriamente em sair desse emprego.
SIMON — Eu que o diga.
HEIDI — Eu já tô correndo atrás de estágio pra conseguir terminar a faculdade.
Heidi faz faculdade de moda. Estava no penúltimo período.
SIMON — Sério? Que coisa boa!
HEIDI — Semana passada, quando tirei folga, passei o dia todo entregando currículo. Literalmente tirei o dia só pra isso. Comecei de manhã, às oito. Daí parei meio-dia pra almoçar e às uma da tarde continuei entregando. Só parei às cinco. Tava quase anoitecendo e não valia mais a pena.
SIMON — Vou ter que tirar um dia inteiro pra fazer isso.
HEIDI — Se você quiser o endereço da gráfica que imprimiu vários papéis no precinho…
SIMON — Pode mandar pra mim.
Heidi digitou uma mensagem com o endereço pra Simon. Ele recebeu.
SIMON — Conheço esse lugar…
HEIDI — É bem no Centro.
Houve um momento de silêncio.
SIMON — Tomara que você consiga algo logo. De verdade. Você não merece ficar nesse lugar.
HEIDI — Nem você.
Simon suspirou.
SIMON — Eu não acharia ruim se o Gordon me colocasse pra fora logo. Tô cansado disso… Ter que chegar naquela cozinha, aguentar abuso… É triste demais.
HEIDI — Eu digo o mesmo, amigo.
Simon brinca:
SIMON — Só tô nessa escravidão até agora por causa de você. Sem a sua companhia, seria insuportável.
Heidi riu.
HEIDI — Amigo, se um dia eu sair primeiro… Sai logo, de verdade. Gordon te odeia.
Simon deu de ombros.
SIMON — Eu sei disso…
O que ninguém percebeu era que Gordon escutava toda a conversa atrás de uma parede, onde ficava um depósito de coisas velhas.
...*** ...
IVAN DECIDIU COMER o lanche no jardim. Depois da primeira mordida, ele assentiu com a cabeça de leve como forma de avaliação.
IVAN — Até que não é ruim…
Bebeu um gole da coca zero que foi servida num copo de 300ml, com tampa e canudo. Ainda estava gelada.
Ele ouviu passos de alguém se aproximando. Era Greta.
GRETA — Com licença, senhor. Pensei que iria almoçar em casa.
Ivan a olhou, com uma sobrancelha arqueada.
IVAN — O almoço ficou pronto?
Greta meio que ficou desconcertada.
GRETA — O almoço ficou pronto no horário da casa, como o senhor prefere. Não imaginava que quisesse almoçar mais cedo.
Ivan abanou a mão com o ar.
IVAN — Não se preocupe com isso. Cadê meus homens?
GRETA — Heinrich está trabalhando no escritório. Vladimir e Boris… estão na casa dos fundos.
Ivan soltou o ar.
IVAN — Sirva o almoço para eles. Sem mim. Eu tô bem aqui.
GRETA — Ok…
A mulher saiu.
Ivan sugou mais um gole de coca zero.
Pensou em Simon e na tentativa mal sucedida dele de continuar observando-o dentro do carro.
...*** ...
MANFRED TRAGOU FORTE o cigarro, soltando a fumaça pelo nariz. Fritz o observava, bebendo um gole de cerveja na mesa.
FRITZ — E aí, descobriu alguma coisa?
MANFRED — Descobri. E não queria ter descoberto dessa forma, não.
Fritz notou que o homem estava com ódio.
FRITZ — O que rolou?
Manfred deu mais um trago no cigarro. Foi até a mesa pegar o copo de cerveja que tinha deixado ali. Bebeu tudo num gole só.
MANFRED — Descobri quem dedurou a gente pra polícia.
FRITZ — Sabia que tinha sido isso.
MANFRED — Pois é. Vou pegar o filho da puta.
FRITZ — Quem?
MANFRED — Heiko.
Fritz franziu a testa.
FRITZ — O agiota? Sério?
MANFRED — Falei que ia pagar com juros… Não esperou. Decidiu sujar meu nome. Ele vai ver só.
FRITZ — Vai fazer o quê?
Manfred olhou para o nada. Os olhos glaciais.
MANFRED — Espera pra ver.
...*** ...
HEIDI E SIMON conversavam mais à vontade na cozinha, já que Gordon tinha ido embora. E o movimento era mais tranquilo. Aproveitaram pra lavar uma pilha de louça.
HEIDI — E aí, você conseguiu falar com seu pai?
SIMON — Nada. Consegui nada.
HEIDI — Sumiu de novo?
SIMON — Alguém pagou a fiança dele. E ele aproveitou pra sumir.
HEIDI — Caramba.
SIMON — Cheguei lá, na delegacia, pra falar com o delegado e ver como está a situação dele. Nem cheguei a entrar na sala, pra você ter ideia.
HEIDI — Ele já tinha sido solto.
SIMON — Praticamente eu cheguei um tempo depois dele ter saído.
HEIDI — Acho que não dá pra chamar de desencontro.
SIMON — Não. Não dá. Ele nem sabia que eu ia pra lá.
HEIDI — E você nem tem ideia de onde ele tá, né.
Simon secou mais uma louça.
SIMON — Ele tem um talento pra sumir… Enfim. Deixa ele sumido.
HEIDI — O foda é que seu irmãozinho sente falta.
SIMON — Também acho. Espero que um dia ele se acostume com a ausência do pai…
...*** ...
HEIKO ENTROU NO CASEBRE de madeira, escondido. Carregava uma mochila, usava boné para se manter discreto. Olhos para os lados e fechou as janelas.
Acendendo a única luz da cozinha, ele colocou a mochila em cima da mesa e abriu o zíper.
Manfred apareceu de repente, atrás da parede, apontando um revólver para Heiko — que ficou sem reação.
MANFRED — Surpresa, otário.
Manfred disparou três tiros à queima roupa na direção do peito de Heiko. O revólver estava com um silenciador.
De olhos arregalados, Heiko caiu no chão com a mão sobre o peito.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Anilda Alves da Cruz
é assim acerto de contas com certeza
2024-05-14
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