Capítulo 6

IVAN PAROU O CARRO bem na janela do Drive Thru. Abaixou o vidro, retirando os óculos escuros. Buzinou apenas uma vez, fraco.

IVAN — Bom dia…

Prontamente, Simon foi até o posto de atendimento. O homem tinha olhos azuis bem gélidos, observou ele.

SIMON — Bom dia. O que você deseja?

Ivan deu uma olhadela rápida no rapaz, da cabeça aos pés. Interessante, pensou.

IVAN — Quero um x-tudo da casa com fritas e uma coca zero.

Heidi ouviu o pedido e já foi preparando.

SIMON — Cinco minutinhos.

IVAN — Eu espero.

Ivan colocou os óculos de volta e ficou observando Simon. Ele não queria que fosse notado.

Simon ajudava Heidi a finalizar o pedido. Heidi cochichou:

HEIDI — Ele tá te observando desde que chegou.

SIMON — Nem sei o porquê.

HEIDI — Deve tá interessado, né?

Eles colocaram o x-tudo, a batata frita e a coca zero na sacola. Heidi brinca:

HEIDI — Coloca o teu telefone aqui dentro.

SIMON — Garota!

Eles riem baixinho. Heidi entrega a sacola pra ele.

HEIDI — Você entrega.

Simon foi até Ivan, com a sacola e a maquininha de cartão. Ivan retirou da carteira um cartão preto.

SIMON — Crédito ou débito?

IVAN — Débito, por favor.

A transação foi autorizada e o pedido entregue.

IVAN — Muito obrigado.

SIMON — Por nada. Obrigado pela preferência e volte sempre.

Ivan deu uma piscadela para Simon, que sentiu um calor na espinha.

Sem perceber, Simon ficou parado e observava o carro de Ivan seguir viagem.

Heidi foi até ao lado dele e deu-lhe uma cotovelada de leve.

HEIDI — Limpa essa baba aí escorrendo no canto da boca.

SIMON — Caramba, Heidi! Que susto!

Eles riem um pouco mais alto. Porém tapam a boca.

SIMON — Tomara que ele não tenha ouvido isso.

HEIDI — Não faz diferença alguma. Falta um minuto pra gente almoçar.

...*** ...

SIMON E HEIDI tinham apenas quarenta minutos de intervalo. Era o tempo que levavam pra comer um sanduíche e bater papo.

HEIDI — Sinceramente falando…

Simon deu uma mordida no sanduíche.

SIMON — Que foi?

HEIDI — Tô pensando seriamente em sair desse emprego.

SIMON — Eu que o diga.

HEIDI — Eu já tô correndo atrás de estágio pra conseguir terminar a faculdade.

Heidi faz faculdade de moda. Estava no penúltimo período.

SIMON — Sério? Que coisa boa!

HEIDI — Semana passada, quando tirei folga, passei o dia todo entregando currículo. Literalmente tirei o dia só pra isso. Comecei de manhã, às oito. Daí parei meio-dia pra almoçar e às uma da tarde continuei entregando. Só parei às cinco. Tava quase anoitecendo e não valia mais a pena.

SIMON — Vou ter que tirar um dia inteiro pra fazer isso.

HEIDI — Se você quiser o endereço da gráfica que imprimiu vários papéis no precinho…

SIMON — Pode mandar pra mim.

Heidi digitou uma mensagem com o endereço pra Simon. Ele recebeu.

SIMON — Conheço esse lugar…

HEIDI — É bem no Centro.

Houve um momento de silêncio.

SIMON — Tomara que você consiga algo logo. De verdade. Você não merece ficar nesse lugar.

HEIDI — Nem você.

Simon suspirou.

SIMON — Eu não acharia ruim se o Gordon me colocasse pra fora logo. Tô cansado disso… Ter que chegar naquela cozinha, aguentar abuso… É triste demais.

HEIDI — Eu digo o mesmo, amigo.

Simon brinca:

SIMON — Só tô nessa escravidão até agora por causa de você. Sem a sua companhia, seria insuportável.

Heidi riu.

HEIDI — Amigo, se um dia eu sair primeiro… Sai logo, de verdade. Gordon te odeia.

Simon deu de ombros.

SIMON — Eu sei disso…

O que ninguém percebeu era que Gordon escutava toda a conversa atrás de uma parede, onde ficava um depósito de coisas velhas.

...*** ...

IVAN DECIDIU COMER o lanche no jardim. Depois da primeira mordida, ele assentiu com a cabeça de leve como forma de avaliação.

IVAN — Até que não é ruim…

Bebeu um gole da coca zero que foi servida num copo de 300ml, com tampa e canudo. Ainda estava gelada.

Ele ouviu passos de alguém se aproximando. Era Greta.

GRETA — Com licença, senhor. Pensei que iria almoçar em casa.

Ivan a olhou, com uma sobrancelha arqueada.

IVAN — O almoço ficou pronto?

Greta meio que ficou desconcertada.

GRETA — O almoço ficou pronto no horário da casa, como o senhor prefere. Não imaginava que quisesse almoçar mais cedo.

Ivan abanou a mão com o ar.

IVAN — Não se preocupe com isso. Cadê meus homens?

GRETA — Heinrich está trabalhando no escritório. Vladimir e Boris… estão na casa dos fundos.

Ivan soltou o ar.

IVAN — Sirva o almoço para eles. Sem mim. Eu tô bem aqui.

GRETA — Ok…

A mulher saiu.

Ivan sugou mais um gole de coca zero.

Pensou em Simon e na tentativa mal sucedida dele de continuar observando-o dentro do carro.

...*** ...

MANFRED TRAGOU FORTE o cigarro, soltando a fumaça pelo nariz. Fritz o observava, bebendo um gole de cerveja na mesa.

FRITZ — E aí, descobriu alguma coisa?

MANFRED — Descobri. E não queria ter descoberto dessa forma, não.

Fritz notou que o homem estava com ódio.

FRITZ — O que rolou?

Manfred deu mais um trago no cigarro. Foi até a mesa pegar o copo de cerveja que tinha deixado ali. Bebeu tudo num gole só.

MANFRED — Descobri quem dedurou a gente pra polícia.

FRITZ — Sabia que tinha sido isso.

MANFRED — Pois é. Vou pegar o filho da puta.

FRITZ — Quem?

MANFRED — Heiko.

Fritz franziu a testa.

FRITZ — O agiota? Sério?

MANFRED — Falei que ia pagar com juros… Não esperou. Decidiu sujar meu nome. Ele vai ver só.

FRITZ — Vai fazer o quê?

Manfred olhou para o nada. Os olhos glaciais.

MANFRED — Espera pra ver.

...*** ...

HEIDI E SIMON conversavam mais à vontade na cozinha, já que Gordon tinha ido embora. E o movimento era mais tranquilo. Aproveitaram pra lavar uma pilha de louça.

HEIDI — E aí, você conseguiu falar com seu pai?

SIMON — Nada. Consegui nada.

HEIDI — Sumiu de novo?

SIMON — Alguém pagou a fiança dele. E ele aproveitou pra sumir.

HEIDI — Caramba.

SIMON — Cheguei lá, na delegacia, pra falar com o delegado e ver como está a situação dele. Nem cheguei a entrar na sala, pra você ter ideia.

HEIDI — Ele já tinha sido solto.

SIMON — Praticamente eu cheguei um tempo depois dele ter saído.

HEIDI — Acho que não dá pra chamar de desencontro.

SIMON — Não. Não dá. Ele nem sabia que eu ia pra lá.

HEIDI — E você nem tem ideia de onde ele tá, né.

Simon secou mais uma louça.

SIMON — Ele tem um talento pra sumir… Enfim. Deixa ele sumido.

HEIDI — O foda é que seu irmãozinho sente falta.

SIMON — Também acho. Espero que um dia ele se acostume com a ausência do pai…

...*** ...

HEIKO ENTROU NO CASEBRE de madeira, escondido. Carregava uma mochila, usava boné para se manter discreto. Olhos para os lados e fechou as janelas.

Acendendo a única luz da cozinha, ele colocou a mochila em cima da mesa e abriu o zíper.

Manfred apareceu de repente, atrás da parede, apontando um revólver para Heiko — que ficou sem reação.

MANFRED — Surpresa, otário.

Manfred disparou três tiros à queima roupa na direção do peito de Heiko. O revólver estava com um silenciador.

De olhos arregalados, Heiko caiu no chão com a mão sobre o peito.

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Comments

Anilda Alves da Cruz

Anilda Alves da Cruz

é assim acerto de contas com certeza

2024-05-14

3

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