Capítulo 11

FRITZ COÇOU A NUCA, demorando a responder. Estava sem jeito, sem saber por onde começar.

FRITZ — Então…

SIMON — Conta logo, Fritz.

Fritz se sentou ao lado de Simon, no sofá da sala de espera.

FRITZ — Vou contar.

Simon esperava, silencioso.

FRITZ — Seu pai tem uma dívida com um agiota.

SIMON — Quanto?

FRITZ — Uma dívida milionária.

Simon ficou estático.

SIMON — Ele tá devendo milhões? Sério isso?

FRITZ — Sim. Milhões. Por isso que ele abriu um cassino clandestino com a promessa de que o retorno financeiro seria rápido em um mês…

SIMON — Meu Deus…

FRITZ — E realmente o retorno seria rápido. Tava tudo indo bem. Manfred conquistou uma clientela e entrava dinheiro que nem água. Só que alguém denunciou o lugar.

Simon olhou para Fritz.

SIMON — Você tem ideia de quem foi?

FRITZ — Outro agiota que ele tava devendo. Disso eu tenho certeza. E eu já avisei pra ele ter pago logo esse cara antes de abrir esse cassino. Tinha a faca e o queijo na mão. Tem coisa muito pequena que vira grande da noite pro dia. Bastou uma ligação. Uma ligação que colocou tudo a perder.

Houve um momento de silêncio.

SIMON — Então você e meu pai faziam parte desse negócio clandestino.

Fritz deu de ombros.

FRITZ — Sim. Cada um sobrevive como pode.

Mais silêncio. A expressão de Simon era enigmática, olhando para o nada.

SIMON — Era pro meu pai ter continuado preso, se alguém não tivesse pago a fiança. Mas alguém pagou e não foi esse cara. Ele queria ferrar, dar o troco. Quem sabe ia mandar alguém terminar o serviço na cadeia…

Fritz ficou em silêncio, observando Simon ligar alguns pontos. O garoto era esperto, pensou.

SIMON — …mas não. A fiança foi paga. Meu pai saiu por aí e sumiu de novo. Até que o agiota soube, com certeza, e mandou alguém terminar o serviço.

FRITZ — O agiota tá morto.

Simon fixou o olhar em Fritz.

SIMON — Morto?

FRITZ — Foi seu pai.

Fritz contou a história de que Manfred invadiu a casa do agiota para executá-lo, levando uma mochila com bastante dinheiro. Simon não esboçava nenhuma reação, emoção.

SIMON — Foi alguém ligado a esse agiota que mandou executar meu pai. Olho por olho. Faz sentido.

Colocou a mão na têmpora, massageando com os dedos. Como se fosse duro processar tudo aquilo.

SIMON — E esse outro agiota que ele tá devendo. Você conhece?

FRITZ — Não.

SIMON — Tem certeza?

FRITZ — Não conheço. De verdade.

Fritz queria poupar Simon de algumas informações que podem ser perigosas. Tudo que envolve Ivan Lafayette é fatal.

...*** ...

VLADIMIR PAROU O CARRO em frente ao casarão quase decadente onde Simon mora. A casa que Manfred colocou como garantia. Não tinha ninguém na rua. Ivan colocou os óculos escuros.

IVAN — Fica de olho aí. Se tiver alguma coisa suspeita, me liga.

VLADIMIR — Tranquilo.

Ivan saiu do carro, seguindo até a porta do casarão. Estava tudo trancado, óbvio. Ele usou a chave mestra pra entrar pela porta da frente. Antes de abrir a porta, olhou cuidadosamente para os lados. Ninguém estava observando. Então, entrou na casa.

Usando uma lanterna, ele notou que a casa por dentro era enorme. Suntuosa, até. Mas os móveis aparentemente ultrapassados não ajudavam em nada na estética. Manfred de fato deixou a casa ruir, mas o imóvel continua habitável. Nada como uma reforma geral pra transformar esse lugar numa mansão novamente.

Ele subiu as escadas. Só acertou o quarto de Simon, porque viu uma porta entreaberta e uma cama levemente bagunçada. Abriu mais um pouco, entrando devagar no local. Em cima da cama, viu uma camiseta vermelha que já foi usada. Pegou a peça, analisando-a entre os dedos. Foi a mesma camiseta que ele estava usando no dia que o conheceu, no drive thru.

Devagar, ele colocou a camisa até o nariz. E sentiu o cheiro de perfume misturado com um pouco de suor. Em outra circunstância, Ivan acharia aquilo nojento. Mas era inexplicável a atração crescente por Simon.

Seu celular tocou. Era Vladimir.

IVAN — Fala.

No carro, Vladimir olhava para os lados discretamente.

VLADIMIR — Parece que tem alguém vindo na direção da casa.

No quarto, Ivan franziu a testa. Ainda segurava a camiseta do rapaz.

IVAN — Bicicleta?

Vladimir soltou o ar, recostando-se no banco.

VLADIMIR — O garoto anda de bicicleta, esqueceu? Heinrich não te contou?

Ivan levou a camisa consigo, deixando a porta do quarto como estava antes. Desceu as escadas.

IVAN — Tô saindo pelos fundos.

Assim que atravessou o pequeno gramado, sentou-se no banco do carona. Vladimir havia girado a chave na ignição.

IVAN — Dá partida logo.

Sem causar suspeitas, o guarda-costas saiu com o carro dali. Virando a esquina, olhou para a peça de roupa que seu chefe segurava.

VLADIMIR — O que é isso?

Ivan deu de ombros. Guardou a peça de lado, no banco do carona.

IVAN — É um troféu meu.

VLADIMIR — Hum.

IVAN — E ai? Alguém tava vindo mesmo?

VLADIMIR — Tava não. Foi um alarme falso.

Ivan revirou os olhos.

IVAN — Me fez ir embora à toa, Vladimir…

VLADIMIR — Desculpa, chefe. Mas era melhor não arriscar.

Nisso ele tinha razão.

IVAN — É. Melhor mesmo.

Houve um momento de silêncio.

VLADIMIR — Posso te fazer uma pergunta?

IVAN — Não.

Ivan soltou um pouco do ar e disse:

IVAN — Pergunta, vai.

Vladimir virou uma esquina, rumo ao complexo nobre onde Ivan reside.

VLADIMIR — Você está sentindo algo por esse menino.

Ivan não disse nada durante um minuto.

IVAN — Tô.

VLADIMIR — O quê, exatamente?

Ivan olhou para fora, sem expressão alguma.

IVAN — Vontade de executar a hipoteca daquele casarão. Do meu jeito.

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Comments

JJ Whitethorn

JJ Whitethorn

oui oui monna mi j'maple Lafayette (não sei francês)

2024-09-27

0

Angela

Angela

ulhaaaaaa...
o semideus se apaixonou por um belo mortal?????

2024-08-19

2

Anilda Alves da Cruz

Anilda Alves da Cruz

oxiiii que jeito ?/Shame/

2024-05-14

3

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