FRITZ COÇOU A NUCA, demorando a responder. Estava sem jeito, sem saber por onde começar.
FRITZ — Então…
SIMON — Conta logo, Fritz.
Fritz se sentou ao lado de Simon, no sofá da sala de espera.
FRITZ — Vou contar.
Simon esperava, silencioso.
FRITZ — Seu pai tem uma dívida com um agiota.
SIMON — Quanto?
FRITZ — Uma dívida milionária.
Simon ficou estático.
SIMON — Ele tá devendo milhões? Sério isso?
FRITZ — Sim. Milhões. Por isso que ele abriu um cassino clandestino com a promessa de que o retorno financeiro seria rápido em um mês…
SIMON — Meu Deus…
FRITZ — E realmente o retorno seria rápido. Tava tudo indo bem. Manfred conquistou uma clientela e entrava dinheiro que nem água. Só que alguém denunciou o lugar.
Simon olhou para Fritz.
SIMON — Você tem ideia de quem foi?
FRITZ — Outro agiota que ele tava devendo. Disso eu tenho certeza. E eu já avisei pra ele ter pago logo esse cara antes de abrir esse cassino. Tinha a faca e o queijo na mão. Tem coisa muito pequena que vira grande da noite pro dia. Bastou uma ligação. Uma ligação que colocou tudo a perder.
Houve um momento de silêncio.
SIMON — Então você e meu pai faziam parte desse negócio clandestino.
Fritz deu de ombros.
FRITZ — Sim. Cada um sobrevive como pode.
Mais silêncio. A expressão de Simon era enigmática, olhando para o nada.
SIMON — Era pro meu pai ter continuado preso, se alguém não tivesse pago a fiança. Mas alguém pagou e não foi esse cara. Ele queria ferrar, dar o troco. Quem sabe ia mandar alguém terminar o serviço na cadeia…
Fritz ficou em silêncio, observando Simon ligar alguns pontos. O garoto era esperto, pensou.
SIMON — …mas não. A fiança foi paga. Meu pai saiu por aí e sumiu de novo. Até que o agiota soube, com certeza, e mandou alguém terminar o serviço.
FRITZ — O agiota tá morto.
Simon fixou o olhar em Fritz.
SIMON — Morto?
FRITZ — Foi seu pai.
Fritz contou a história de que Manfred invadiu a casa do agiota para executá-lo, levando uma mochila com bastante dinheiro. Simon não esboçava nenhuma reação, emoção.
SIMON — Foi alguém ligado a esse agiota que mandou executar meu pai. Olho por olho. Faz sentido.
Colocou a mão na têmpora, massageando com os dedos. Como se fosse duro processar tudo aquilo.
SIMON — E esse outro agiota que ele tá devendo. Você conhece?
FRITZ — Não.
SIMON — Tem certeza?
FRITZ — Não conheço. De verdade.
Fritz queria poupar Simon de algumas informações que podem ser perigosas. Tudo que envolve Ivan Lafayette é fatal.
...*** ...
VLADIMIR PAROU O CARRO em frente ao casarão quase decadente onde Simon mora. A casa que Manfred colocou como garantia. Não tinha ninguém na rua. Ivan colocou os óculos escuros.
IVAN — Fica de olho aí. Se tiver alguma coisa suspeita, me liga.
VLADIMIR — Tranquilo.
Ivan saiu do carro, seguindo até a porta do casarão. Estava tudo trancado, óbvio. Ele usou a chave mestra pra entrar pela porta da frente. Antes de abrir a porta, olhou cuidadosamente para os lados. Ninguém estava observando. Então, entrou na casa.
Usando uma lanterna, ele notou que a casa por dentro era enorme. Suntuosa, até. Mas os móveis aparentemente ultrapassados não ajudavam em nada na estética. Manfred de fato deixou a casa ruir, mas o imóvel continua habitável. Nada como uma reforma geral pra transformar esse lugar numa mansão novamente.
Ele subiu as escadas. Só acertou o quarto de Simon, porque viu uma porta entreaberta e uma cama levemente bagunçada. Abriu mais um pouco, entrando devagar no local. Em cima da cama, viu uma camiseta vermelha que já foi usada. Pegou a peça, analisando-a entre os dedos. Foi a mesma camiseta que ele estava usando no dia que o conheceu, no drive thru.
Devagar, ele colocou a camisa até o nariz. E sentiu o cheiro de perfume misturado com um pouco de suor. Em outra circunstância, Ivan acharia aquilo nojento. Mas era inexplicável a atração crescente por Simon.
Seu celular tocou. Era Vladimir.
IVAN — Fala.
No carro, Vladimir olhava para os lados discretamente.
VLADIMIR — Parece que tem alguém vindo na direção da casa.
No quarto, Ivan franziu a testa. Ainda segurava a camiseta do rapaz.
IVAN — Bicicleta?
Vladimir soltou o ar, recostando-se no banco.
VLADIMIR — O garoto anda de bicicleta, esqueceu? Heinrich não te contou?
Ivan levou a camisa consigo, deixando a porta do quarto como estava antes. Desceu as escadas.
IVAN — Tô saindo pelos fundos.
Assim que atravessou o pequeno gramado, sentou-se no banco do carona. Vladimir havia girado a chave na ignição.
IVAN — Dá partida logo.
Sem causar suspeitas, o guarda-costas saiu com o carro dali. Virando a esquina, olhou para a peça de roupa que seu chefe segurava.
VLADIMIR — O que é isso?
Ivan deu de ombros. Guardou a peça de lado, no banco do carona.
IVAN — É um troféu meu.
VLADIMIR — Hum.
IVAN — E ai? Alguém tava vindo mesmo?
VLADIMIR — Tava não. Foi um alarme falso.
Ivan revirou os olhos.
IVAN — Me fez ir embora à toa, Vladimir…
VLADIMIR — Desculpa, chefe. Mas era melhor não arriscar.
Nisso ele tinha razão.
IVAN — É. Melhor mesmo.
Houve um momento de silêncio.
VLADIMIR — Posso te fazer uma pergunta?
IVAN — Não.
Ivan soltou um pouco do ar e disse:
IVAN — Pergunta, vai.
Vladimir virou uma esquina, rumo ao complexo nobre onde Ivan reside.
VLADIMIR — Você está sentindo algo por esse menino.
Ivan não disse nada durante um minuto.
IVAN — Tô.
VLADIMIR — O quê, exatamente?
Ivan olhou para fora, sem expressão alguma.
IVAN — Vontade de executar a hipoteca daquele casarão. Do meu jeito.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
JJ Whitethorn
oui oui monna mi j'maple Lafayette (não sei francês)
2024-09-27
0
Angela
ulhaaaaaa...
o semideus se apaixonou por um belo mortal?????
2024-08-19
2
Anilda Alves da Cruz
oxiiii que jeito ?/Shame/
2024-05-14
3