Capítulo 15: Aquarelas do Destino.

Eu me recordo nitidamente dos dias em que ansiava por uma simples caixa de giz colorido. Na infância, era um desejo tão básico, mas inalcançável. Alex negava-me esse pequeno luxo. O dinheiro que obtínhamos com nossos roubos servia apenas para sustentar seus próprios caprichos, principalmente seus jogos, deixando-nos sem recursos para extravagâncias como gizes coloridos.

Diante desse impedimento, recorria às canetas que encontrava em nossa modesta casa. Como já mencionei anteriormente, minha educação foi completamente autodidata, pois tanto Will quanto eu éramos privados da escola. Alex temia ser descoberto, temendo que suspeitassem de seu envolvimento em atividades ilegais que envolvessem menores como nós.

No entanto, a falta de acesso à educação formal não foi um obstáculo para mim. Com a chegada da tecnologia, descobri um novo mundo de aprendizado ao meu alcance, desvinculando-me da dependência dos livros roubados por Will. Aprendi a ler e escrever por conta própria, aproveitando cada recurso disponível.

Foi assim que também descobri minha paixão pela pintura. Apesar de não dominar as técnicas refinadas, encontrar beleza em uma tela em branco era uma forma de expressão libertadora. Durante o dia, minhas telas eram as paredes manchadas de sangue, testemunhas silenciosas de nossos atos. À noite, meu refúgio era o papel, onde traçava linhas e curvas com o azul das canetas, dando vida a um mundo que só existia em minha imaginação.

Hoje, finalmente tive a oportunidade de realizar um antigo desejo: comprar uma caixa de gizes coloridos. Com as ferramentas adequadas em mãos, dei início a um novo projeto que se estendia diante de mim como uma tela em branco esperando para ser preenchida. À medida que as linhas tomavam forma, um rosto magnífico começou a emergir.

Os traços que delineavam aquele rosto eram belos, porém, não apenas pela sua perfeição estética, mas também por sua masculinidade marcante. Os olhos, de um castanho-claro tão vívido, capturavam minha atenção de forma irresistível, exigindo que eu dedicasse especial cuidado a essa parte da composição.

Quando finalmente encarei minha obra, fiquei maravilhada com o resultado. O rosto de Ivan, retratado com traços de giz colorido, estava ali diante de mim, e percebi que sua beleza ultrapassava todas as expectativas que eu havia concebido anteriormente.

Seu olhar, agora eternizado em papel, transmitia uma sensibilidade e profundidade que eu não imaginava ser possível capturar. Era como se sua alma se manifestasse através daquelas tonalidades cuidadosamente escolhidas, revelando aspectos de sua personalidade que só agora eu era capaz de apreciar plenamente.

O embate entre Clara e Cristine era compreensível, afinal, Ivan era um homem de beleza impressionante e aparentemente possuía qualidades admiráveis. Naquele momento, pude vislumbrar as razões por trás da intensa disputa pelo seu afeto.

No entanto, mesmo entendendo suas motivações, não pude deixar de sentir pena das duas mulheres. Estavam lutando por um homem cujo destino já estava selado, um homem condenado à morte, e essa sentença seria executada por minhas próprias mãos, as mesmas mãos que haviam dado vida ao seu belo retrato.

Diante do retrato de Ivan, segurando a mesma adaga que eu havia escolhido para cumprir meu sombrio dever, senti um misto de emoções conflitantes. A lâmina afiada parecia pesar ainda mais em minhas mãos enquanto eu traçava uma linha com o metal no desenho, dividindo-o simbolicamente ao meio.

Ali, diante daquele desenho, a dualidade do destino de um homem se manifestava de forma palpável. Era a encruzilhada entre a misericórdia e o dever, entre poupar uma vida e cumprir uma missão. A resposta para esse dilema angustiante estava à beira de meus lábios, tão amarga quanto o fel.

Contudo, havia um sabor doce na perspectiva de cumprir meu dever. O resultado da minha ação representaria uma liberdade há muito desejada, uma libertação das correntes que me aprisionavam em uma realidade horripilante. Com o dinheiro obtido, finalmente poderia deixar para trás aquela vida de privações e perigos, nunca mais sujeitar-me àquela existência desoladora.

Pela primeira vez, vislumbrava a possibilidade de ser verdadeiramente livre, de exercer meu livre arbítrio como um ser humano plenamente autônomo. No entanto, como bem sabia, tudo tem um preço.

A decisão que eu estava prestes a tomar teria consequências irreversíveis, não apenas para mim, mas também para Ivan e aqueles que o amavam.

Enquanto as mensagens de Clara inundavam a tela do meu telefone, eu me vi abruptamente retirada do transe que me envolvia. Desviei meu olhar do desenho de Ivan para verificar as notificações, constatando uma série de mensagens não lidas. 

Clara expressava sua frustração por minha falta de resposta, utilizando todas as palavras do mundo para me repreender por minha negligência como "amiga". Em seguida, uma enxurrada de mensagens de desculpas inundou a tela, acompanhada da promessa de mudança e compreensão em relação aos meus afazeres.

À medida que eu percorria as mensagens, percebi que Clara desejava discutir uma ideia para uma festa na empresa, buscando minha contribuição para o planejamento. No entanto, diante da ausência de resposta, ela tomou a iniciativa de decidir sozinha, optando por uma festa a fantasia e me incluindo na lista de presença de forma assertiva.

Um sorriso irônico curvou meus lábios diante da determinação de Clara em garantir minha participação no evento. Com um suspiro resignado, redigi uma resposta rápida, desculpando-me pela falta de comunicação e justificando minha ausência com o ocorrido envolvendo meu pai ferido. Era uma desculpa parcialmente verdadeira, pois, embora não houvesse nenhum acidente, minha situação atual exigia total atenção e dedicação.

O peso da responsabilidade que eu carregava se tornou ainda mais opressivo quando pensei em Clara. Apesar de sua personalidade explosiva e muitas vezes irritante, não havia como negar que ela nutria sentimentos genuínos por Ivan. A ideia de que minha decisão poderia destruir seus sonhos e aspirações, especialmente seu sonho de casamento, era angustiante.

Clara, apesar de sua exuberância e às vezes irritante insistência, era humana. Ela tinha seus próprios anseios, suas próprias esperanças e sonhos. E eu estava prestes a arruinar tudo isso por um capricho do destino, pela vontade do meu chefe.

Nem sempre a vida é justa. Aprendi isso cedo demais, mas Clara está prestes a descobrir da forma mais cruel possível, quando seu noivo morrer em minhas mãos nos próximos meses.

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