Ivan narrando...
Quando Cristine me entregou aquele cachecol vermelho, minha consciência deu uma volta e voltou ao lugar. Era um objeto meu que estava com ela, de quando viajamos juntos há muito tempo atrás. Ela tinha escolhido o pior momento para fazer isso, justo quando o anel já adornava o dedo de Clara há algumas semanas, enquanto ela o exibia alegremente para suas amigas, incluindo a própria Cristine.
Clara não tinha ideia das intenções da amiga, tampouco conhecia nosso passado. Eu optei por não revelar, não por medo de destruir meu relacionamento ou a amizade entre elas, mas porque desejava deixar o passado onde estava. Se Cristine desejasse, poderia ter revelado tudo para sua amiga, em vez de me enviar objetos que remetiam ao passado.
Era algo com o qual ela tinha dificuldade de lidar. Cristine sempre foi muito apegada ao passado, e eu esperava sinceramente que ela desistisse dessa ideia de tentar ressuscitar o que estava morto.
As coisas se complicavam ainda mais pelo fato de Cristine ser a diretora de Recursos Humanos da nossa empresa. Isso significava que tínhamos reuniões frequentes, onde eu precisava manter uma postura profissional, mesmo que minha mente estivesse repleta de lembranças e sentimentos contraditórios em relação a ela.
Eu considerava passar essas responsabilidades para Clara, afinal, ela era qualificada e capaz, mas toda vez que mencionava essa possibilidade, Clara recusava categoricamente. Insistia que preferia continuar focada no departamento de marketing, e eu respeitava sua decisão, mesmo que isso significasse enfrentar semanalmente a presença de Cristine em minha vida profissional.
Quando Cristine trouxe os currículos para minha mesa, suspirei profundamente, tentando manter a calma na voz enquanto analisava os papéis antes de voltar minha atenção para ela.
— Cristine, sinceramente, não vejo razão para trazer esses papéis até aqui. Isso é responsabilidade do departamento de RH. E o que eu faria com alguém chamado... – verifiquei o currículo em minhas mãos – Samira, 21 anos, sem experiência ou formação alguma?
Ela hesitou por um momento antes de responder.
— James me recomendou. Pensei que poderia ser do seu interesse.
— James? Bem, então já marque uma entrevista de imediato. Você sabe que ele tem passe livre aqui.
Um sorriso se formou em meus lábios ao ouvir o nome de James Stone. Ele não era apenas um colega de trabalho; era um aliado confiável, responsável pelo departamento de TI. Sua competência e dedicação eram incomparáveis. Além disso, era um amigo íntimo da família, especialmente do meu pai, Sr. Rodríguez. Sua influência e apoio eram inestimáveis, e sua recomendação era mais do que suficiente para garantir uma oportunidade na empresa.
Após concordar com a entrevista, notei o leve tom de surpresa misturado com cinismo nos olhos de Cristine.
— Ah, Ivan, sempre tão direto e eficiente, como de costume — disse ela, sua voz carregada de sarcasmo enquanto recolhia os currículos da mesa. — Parece que ainda não consigo me acostumar com essa sua abordagem tão... eficaz.
Um sorriso forçado apareceu em seus lábios, mas seus olhos permaneceram desafiadores, como se estivesse testando meus limites, provocando-me com sua atitude calculada.
Mantive minha expressão séria, decidido a não ser perturbado pela tentativa de Cristine de me desconcertar. Nossas interações sempre foram marcadas por uma tensão latente, um resquício do que havia existido entre nós no passado. No entanto, eu estava determinado a manter uma postura profissional, ignorando suas provocações.
— Bem, Cristine, como sempre, estou aqui para fazer o que é melhor para a empresa — respondi, mantendo minha voz firme e controlada. — E se a recomendação de James é sólida, então estamos no caminho certo.
— Sim, fico feliz que pense em fazer o melhor pela empresa. Mas será que faz isso por si mesmo? — ela levantou uma sobrancelha, seu tom carregado de insinuações.
Suspirei fundo, sentindo a tensão aumentar entre nós. Era evidente que Cristine estava determinada a testar minha paciência.
Seu olhar se tornou amargurado, uma mistura de ressentimento e mágoa transparecendo em seus olhos.
— Por que você entregou aquele anel na minha frente? Você queria me matar de vez, não é? Fez questão de fazer isso!
Cristine não estava apenas questionando minhas ações; ela estava expondo feridas antigas, reabrindo cicatrizes que eu preferia deixar no passado. Era difícil encarar a dor em seus olhos sem sentir uma pontada de culpa, mas eu sabia que não podia recuar agora.
— Você sabe muito bem por que fiz isso, Cristine. Não foi para te ferir, foi para encerrar de uma vez por todas qualquer possibilidade de voltarmos ao passado. Eu esperava que você entendesse isso.
Minhas palavras saíram mais duras do que eu pretendia, mas eu estava cansado de dançar ao redor do assunto. Cristine precisava entender que nossas vidas seguiram caminhos diferentes, e era hora de aceitar isso.
Cristine se enrijeceu diante da minha resposta, seus olhos faiscando com uma mistura de raiva e dor.
— Então é isso, não é? Você simplesmente decidiu que eu não faço mais parte da sua vida, que tudo o que tivemos não significa nada para você. Você pode fingir que não se importa, mas eu sei que isso não é verdade.
Eu engoli em seco, lutando para manter minha compostura diante do ataque emocional de Cristine. Não era fácil vê-la assim, tão vulnerável e magoada, mas eu sabia que ceder agora só prolongaria o sofrimento para ambos.
— Cristine, por favor, entenda... — comecei, mas ela me interrompeu com um gesto brusco da mão.
— Não, Ivan. Eu entendi perfeitamente. Mas saiba que, quando você se decepcionar, eu não estarei aqui para te apoiar. Eu sei que você escolheu Clara por conveniência, e não porque gosta dela. Mas saiba disso: você tenta esquecer as coisas que vivemos, mas eu lembro de tudo muito bem!
— Cristine, você está errada... — comecei a protestar, mas ela me lançou um olhar tão cheio de desdém que minhas palavras morreram na minha garganta.
— Poupe-me dos seus discursos vazios, Ivan. Eu sei a verdade, e você também. Adeus.
E com um último olhar carregado de dor e ressentimento, ela virou-se e saiu da sala, deixando-me sozinho com o peso das suas palavras e o eco do que poderia ter sido.
Lancei minha cabeça para trás e suspirei de raiva, sentindo a frustração borbulhar dentro de mim. Eu estava confuso, perdido em um mar de emoções conflitantes. Por um lado, Cristine estava certa. Eu sabia que minha relação com Clara era mais uma questão de conveniência do que de amor genuíno. Já havia gostado muito de Cristine, mas aquele amor tinha morrido há muito tempo.
Mas, apesar de reconhecer a verdade nas palavras de Cristine, eu não podia simplesmente terminar meu noivado para ficar com ela. Havia muito em jogo, compromissos que eu não podia simplesmente ignorar. E além disso, eu não nutria mais sentimentos românticos por Cristine. Qualquer resquício de amor que eu pudesse ter sentido no passado havia se dissipado com o tempo. Eu não gostava mais dela daquela forma, e não podia permitir que sentimentos passados obscurecessem meu julgamento.
Com um nó apertado na garganta, forcei-me a enfrentar a realidade. Eu tinha tomado minha decisão, e não podia me permitir ser arrastado de volta ao passado por um momento de fraqueza. Era hora de deixar Cristine para trás e focar no futuro. Era hora de seguir em frente.
No momento em que eu estava imerso em meus pensamentos, o telefone tocou, tirando-me momentaneamente da minha reflexão. Ao verificar a mensagem, vi que era de James.
"Ei, recebeu minha indicação? Por favor, considere. É uma boa menina, está começando agora. Tenho certeza que vai se mostrar muito digna de promoção."
Um sorriso discreto se formou em meus lábios enquanto lia a mensagem. James sempre tinha um bom olho para identificar talentos promissores. Eu sabia que podia confiar na sua recomendação.
Respondi rapidamente, informando a James que a vaga já estava garantida para a indicada dele. Tinha certeza de que ele tinha boas razões para confiar nela, e eu estava ansioso para ver como ela se sairia na equipe. Era reconfortante poder contar com aliados como James, pessoas em quem eu podia confiar para ajudar a construir o futuro da empresa.
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Atualizado até capítulo 35
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