Eu nem sempre fui uma pessoa corajosa. Quando eu era pequena, costumava ter medo de tantas coisas. Antes de começar minha trilha de carnificina, quando ainda estava nos anos de inocência, o medo era meu companheiro constante. Alex, sempre me repreendia quando me via temendo algo, mas suas palavras não conseguiam dissipar os terrores que me assombravam. O mundo parecia um lugar assustador demais para uma criança de cinco anos, especialmente uma que não tinha uma figura materna para confortá-la. Me lembro do passado como se fosse em preto e branco, marcado pela sombra do medo que pairava sobre mim.
No entanto, houve um dia em que algo mudou, e os fantasmas que me atormentavam tiveram que ser enterrados. Eles foram silenciados precocemente, devido a uma necessidade maior que se impunha sobre mim. Como uma criança pobre órfã, não havia espaço para o luxo do medo em minha vida.
Era um dia atípico, quando Alex, Will e eu fomos à praia com o objetivo de roubar alguns turistas desavisados. Quando chegou a minha vez, tremi diante da perspectiva do que estava prestes a fazer. Irritado com a minha fraqueza, Alex me arrastou em direção à maré, no final do dia. Seu rosto magro não exibia nenhum traço de misericórdia quando me encarava.
"Você tem que deixar essa criatura medrosa morrer, dar lugar a uma versão mais corajosa de si. Como a fênix, precisa ressurgir das cinzas de um passado sem glória", ele dizia, sua voz mesclando-se com o som das ondas quebrando suavemente aos nossos pés. Naquela altura, estávamos um pouco afastados da praia, envolvidos apenas pelo vasto horizonte do oceano.
Então, num gesto rápido e inesperado, Alex me afundou na água. Um pânico momentâneo me dominou, pensei que ele estivesse tentando me matar, e pela última vez, senti o frio do medo me envolver. Mas estava enganada. Ele queria matar aquele sentimento de uma vez por todas, afogar o medo que me consumia e emergir com uma nova determinação.
A água envolveu meu corpo, fria e implacável, mas eu me recusei a deixar o medo me dominar. Deixei-o escapar de mim como bolhas de ar subindo à superfície, substituído pela força que eu não sabia que possuía. Lutei contra o impulso de subir à tona imediatamente, permitindo que a sensação de afogamento me consumisse por um breve instante, até que finalmente, com um esforço concentrado, empurrei-me de volta à superfície.
Ao emergir da água, tossindo e ofegante, percebi que algo dentro de mim tinha mudado. O medo ainda estava lá, mas era mais uma lembrança distante do que uma presença dominante. Olhei nos olhos de Alex e vi algo que nunca havia visto antes: orgulho. Ele sabia que havia me empurrado para além dos limites do meu medo, e eu sabia que nunca mais seria a mesma.
Desde então, ele reconheceu minha coragem e afirmou que fogo corria pelas minhas veias, como se eu tivesse renascido como uma fênix.
Alex podia ser um desgraçado ganancioso, mas naquele dia, ele me ensinou algo valioso: lutar contra a corrente do medo e fazer o que precisava ser feito.
Enquanto encarava a adaga à minha frente, a arma destinada a tirar o coração de Ivan Rodríguez, essas palavras ecoavam em minha mente. A missão era angustiante, o pensamento de destruir a vida de uma pessoa inocente assolador.
Mas não havia escolha. Era ele ou eu. Então, o herdeiro Rodríguez iria sangrar.
Respirei fundo, tentando afastar qualquer vestígio de hesitação. A missão estava definida, e eu estava determinada a cumprir meu papel. Levantei a adaga, sentindo seu peso familiar em minha mão, e tomei uma última olhada para o mar, onde havia deixado para trás os resquícios do meu antigo eu.
Meu celular começou a tocar, e vi o número de Clara piscando na tela. Ela tinha pego meu número para assuntos relacionados ao trabalho na rua, mas nunca imaginei que também teria que lidar com seus problemas pessoais.
Guardei a adaga rapidamente, e atendi.
— Alô, Samira, onde você está? Espera! Você está na praia? E o café que pedi para você buscar?
Mantendo a calma, mesmo diante da leve surpresa pela ligação inesperada, respondi com firmeza:
— Clara, na verdade, estou perto da praia porque descobri um café excelente aqui. Pensei que você iria adorar experimentar. Sobre o café que pediu, estava a caminho quando você ligou. Não se preocupe, já estou me dirigindo para buscar. Desculpe pela demora.
Esperava que minha explicação fosse suficiente para acalmar sua irritação, enquanto me preparava para resolver rapidamente a situação.
Entendi, aqui está uma versão com descrições mais vívidas:
— Ai, não precisava exagerar assim! Não devia ter ido ao melhor café da cidade, está parecendo Cristina me adulando. Eu odeio isso, Samira! Odeio me sentir bajulada. Você sabe que prefiro as coisas simples, sem toda essa pompa e circunstância. E mais, não gosto de ser tratada como se fosse uma rainha. Só quero que as coisas sejam feitas do meu jeito, sem enrolação. Entendeu?
Suspirei profundamente, sentindo a frustração de Clara reverberar através do telefone. Ergui os olhos para o céu em busca de serenidade, enquanto suas palavras ecoavam em meus ouvidos.
— Bem, Clara, se eu soubesse que você gostava de café mais simples, teria feito eu mesma. Desculpa pela demora, mas eu não sou nada parecida com Cristina e não gosto de ser comparada a ela.
— Ah, tá bom, Samira. Desculpa por me exaltar desse jeito. É que às vezes me sinto tão... tão... tão... incompreendida, sabe? Mas você está certa, não devia ter ficado tão brava por causa de um café. Eu sei que você não é igual a Cristina, ela é toda cheia de si, e você é muito mais legal. Prometo que vou tentar não surtar tanto da próxima vez. Só não demore, ok? Odeio café frio.
Enquanto ouvia a resposta de Clara, não pude conter um sorriso. Mais uma vez, ela se mostrava uma verdadeira montanha-russa de emoções, completamente imprevisível.
— Ah, você sempre me surpreende! — respondi com uma leve risada. — Não se preocupe, da próxima vez vou tentar ser mais rápida. Não quero ser responsável por um café frio e por uma Clara enfurecida!
Apesar da situação tensa, não pude deixar de achar graça da forma como Clara conseguia mudar de humor tão rapidamente. Era sempre uma aventura lidar com ela.
Antes que eu pudesse me despedir e desligar o telefone, Clara continuou, revelando mais uma vez sua imprevisibilidade.
— Ah, espera, Samira! Antes que você vá, tem uma coisinha que esqueci de mencionar... — disse Clara, com um tom hesitante.
— O que foi, Clara? — perguntei, curiosa para saber o que mais ela tinha em mente.
— Sabe, a avó do meu noivo está internada no hospital há alguns meses e... bem, o Ivan me pediu para resolver algumas coisas lá. Será que você pode passar no hospital e pagar a conta da internação dela? Eu sei que é um pedido meio estranho, mas eu não consigo lidar com hospitais e essas coisas... — explicou Clara, sua voz soando um pouco mais séria agora.
Fiquei surpresa com o pedido, mas percebi um tom de urgência. Respirei fundo antes de responder:
— Claro, Clara, eu vou passar lá e resolver isso para você. Já, já chego aí.
— Uau, você é mesmo incrível, Samira! Obrigada por sempre me ajudar, mesmo com esses pedidos malucos. Eu realmente não sei o que seria de mim sem você! — comentou Clara, com um toque de sinceridade infantil em sua voz.
Eu me limitei a rir, embora por dentro uma sensação estranha me consumisse. Ah, se ela soubesse o que se passava no meu coração! Não diria tais palavras. Ela não tinha ideia do quão sombrias eram as minhas intenções. Era como se estivéssemos em lados opostos de uma linha tênue entre a amizade e a escuridão.
Desliguei o telefone e peguei minha agenda. Ao analisar a extensa lista de tarefas que me aguardava, não pude deixar de sentir um leve aperto no peito. Respirando fundo, transferi os compromissos para um pedaço de papel à minha frente:
Lista de Tarefas de Samira:
Comprar café.
Pagar a conta da internação da avó de Ivan no hospital.
Enviar relatório para o cliente sobre o progresso do projeto.
Preparar a apresentação para a reunião da tarde.
Responder e-mails pendentes.
Confirmar o horário da consulta médica para amanhã.
Fazer uma pausa para o almoço.
Com a lista em mãos, sei que estaria pronta para cumprir minhas obrigações e manter minha fachada, enquanto continuo a operação.
Anotando minhas responsabilidades, minha mente se inquietou. Ivan tinha uma avó, e ela estava internada. Será que isso não poderia ser outro ponto para ser investigado? Afinal, eu deveria acabar com Ivan. E não o há nada que destrua alguém mais profundamente do que a perda de um ente querido.
Talvez essa situação pudesse ser explorada de alguma forma para atingir meu objetivo final de eliminar Ivan de uma vez por todas.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 35
Comments