Capítulo 7: Entre Saltos Altos e Decisões.

Clara, com seu passo rápido e decidido, parecia sempre estar em uma corrida no shopping center. Seus saltos altos rosa ecoavam pelos corredores enquanto eu a acompanhava, às vezes diminuindo o ritmo apenas para apreciar sua reação espontânea:

— Ai, como você é lerda! Anda logo!

Ela reclamava, batendo a perna e agitando os braços, e sua expressão era impagável para mim. As pessoas ao redor olhavam surpresas, como se estivessem testemunhando uma criança birrenta.

— Estou indo! — eu respondia entre risos, enquanto carregava suas sacolas e pacotes.

À medida que eu a acompanhava pelo labirinto de lojas, uma mistura de surpresa e fascínio crescia em mim. Clara, com toda sua elegância exterior, revelava-se surpreendentemente infantil e até mesmo bizarra em suas atitudes. Era como se toda a sua beleza superficial desvanecesse quando ela abria a boca para proferir suas frases egocêntricas e caprichosas.

Enquanto carregava suas sacolas, não pude deixar de notar como sua imagem de mulher refinada se desintegrava diante dos meus olhos, substituída por um retrato de uma pessoa mimada e autoindulgente. Suas palavras, muitas vezes permeadas por um tom de superioridade, contrastavam de forma marcante com a imagem que ela projetava para o mundo.

No entanto, apesar de toda a excentricidade de Clara, havia algo cativante em sua natureza extravagante. Talvez fosse a sua autenticidade brutal ou a sua completa falta de preocupação com o que os outros pensavam dela. De qualquer forma, cada momento ao seu lado era uma experiência única. Eu estava começando a me divertir.

Ela parecia um daqueles personagens caricatos que saltam das páginas de um romance engraçado, sempre pronto para surpreender e entreter com suas tiradas inesperadas e suas atitudes excêntricas.

— Bem, terminamos nossas comprinhas para o evento da semana. Agora, quero ir na loja de roupas. Temos alguns minutos até o almoço.

Segui Clara enquanto ela caminhava com uma graça digna de uma modelo, seus passos elegantes ecoando pelo corredor movimentado do shopping. A cada passo, sua postura impecável transmitia confiança e sofisticação. Enquanto nos aproximávamos da loja de roupas, pude perceber a indecisão em seu olhar, como se estivesse ponderando entre várias opções.

Foi então que seus olhos se fixaram em uma loja de noivas, onde os vestidos brancos reluziam na vitrine, como se clamando por sua atenção. Um brilho de animação iluminou seu olhar, e um sorriso sonhador se formou em seus lábios. Era evidente que a visão dos vestidos despertava um desejo profundo dentro dela, talvez até mesmo alimentando suas fantasias mais íntimas sobre o futuro.

Sem me esperar, Clara adentrou na loja, imediatamente mergulhando na seleção das peças que despertavam seu desejo. Enquanto ela se perdia entre os vestidos, as vendedoras me lançaram olhares de cima a baixo, deixando-me momentaneamente desconfortável. Quase tive ímpeto de dizer que não estava ali para roubar nada, mas me contive.

As vendedoras, no entanto, logo voltaram sua atenção para Clara, reconhecendo nela uma cliente em potencial. Enquanto ela experimentava os vestidos, eu permanecia à margem, observando-a com um misto de desdém e resignação. Era como se estivesse testemunhando mais um capítulo da extravagância de Clara, e eu não conseguia evitar a sensação de que toda aquela busca por vestidos luxuosos e caros era apenas uma expressão de futilidade.

Enquanto isso, um sentimento irônico se instalava em mim. Vindo de um bairro onde a sobrevivência era a prioridade, era quase cômico ver como as pessoas da alta sociedade tinham esse tipo de hobby. Enquanto alguns lutavam para colocar comida na mesa, outros gastavam fortunas em vestidos extravagantes, em uma realidade paralela que parecia distante e desconectada da minha própria experiência de vida. Lembrar da minha infância com Will, com quem cresci nesse mesmo bairro, só aumentava essa sensação de ironia.

Clara observava-se no espelho, seus olhos animados refletindo uma mistura de excitação e ansiedade. 

— Você acha que estou muito gorda? — ela perguntou, com uma ponta de insegurança em sua voz.

Eu ri discretamente, conhecendo bem o jogo de autoavaliação que muitas mulheres travam consigo mesmas.

— Você está ótima — respondi sinceramente, sabendo que qualquer resposta diferente não a satisfaria.

Mas Clara recusou aceitar minha resposta tão facilmente.

— Mentira! Eu estou gorda! — ela insistiu, sua expressão agora se transformando em frustração.

Eu observei, sentindo-me incomodada com essa atitude tão prejudicial a si mesma. Era irritante ver alguém tão bonito e bem-sucedido se depreciar dessa forma.

— Se você já tem uma opinião formada, por que perguntou para mim? — minha resposta foi direta, sem rodeios, refletindo meu descontentamento. Eu não iria me intimidar com as atitudes de Clara; pelo contrário, estava determinada a confrontá-la quando necessário, mesmo que isso significasse enfrentar sua resistência.

Clara arregalou os olhos, e quase ficou roxa. Li em sua fisionomia seus pensamentos: "Como ela ousa falar assim comigo? Quem ela pensa que é?". Mas mantive minha postura inabalável. Como disse anteriormente, não iria mudar minha essência.

Eu me recusei a ceder à pressão silenciosa de sua indignação, mantendo-me firme em minha convicção. Não me importava com os olhares desafiadores ou com as palavras não ditas que pairavam no ar; eu estava determinada a permanecer fiel a mim mesma, mesmo que isso significasse enfrentar a tempestade de desaprovação de Clara.

Observando-a de soslaio, notei uma mudança sutil em sua expressão. Seus traços tensos pareciam relaxar momentaneamente, substituídos por um brilho de admiração misturado com incredulidade. Aquela reação direta, sem medo, talvez fosse algo que a intrigasse, mesmo que contrariasse seu ego inflado.

Apesar de sua infantilidade e egocentrismo, Clara não podia ignorar completamente a audácia de minha resposta. Um sorriso travesso começou a se formar em seus lábios, um sinal de que, de alguma forma, ela apreciava a minha coragem de desafiá-la. Era como se meu confronto a desafiasse a repensar seu comportamento, mesmo que apenas por um momento.

Entre uma onda de irritação e um lampejo de admiração, Clara finalmente cedeu, soltando uma risadinha nervosa antes de voltar ao seu habitual comportamento egoísta.

— Você é uma peça, Samira! — ela exclamou, balançando a cabeça com um misto de diversão e desdém, mas secretamente apreciando o fato de que, pelo menos dessa vez, alguém tinha tido a coragem de confrontá-la. — Além disso, talvez não seja ruim ficar gorda. Quero dar um filho para Ivan — ela continuou, acariciando a barriga com um gesto quase maternal — Embora ele não queira, pois diz que é muito cedo. Acho que engordar faz parte do processo.

Abaixei meus olhos, sentindo um aperto no peito ao ouvir as suas palavras.

Então, como eu imaginava, ela era a noiva de Ivan, a qual tinha sido relatada pelo meu chefe.

Ela seria viúva de Ivan há alguns meses. Eu mesma o mataria, cumprindo minha missão. Talvez fosse melhor ter um filho dele, mesmo. Poderia diminuir a dor, pensava eu, enquanto lutava para conter as emoções que se agitavam dentro de mim

— Clara, você merece ser feliz — afirmei, buscando seus olhos com sinceridade, ao mesmo tempo em que meus pensamentos ressoavam com a consciência pesada do que eu estava prestes a fazer.

Clara franziu o cenho, desconfiada. — Isso soa como uma fala de puxa-saco — respondeu, sua voz carregada de desconfiança.

Enquanto eu lutava para manter minha expressão séria, os pensamentos turbulentos ecoavam em minha mente. Este era o máximo que eu poderia fazer por Clara, mesmo que ela nunca soubesse. Afinal, eu estava prestes a tirar a vida de seu noivo.

Balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos sombrios, e mantive minha expressão inabalável. — Não sou fã de ser puxa-saco, Clara. Se eu quisesse, já teria mandado você ir pro inferno há muito tempo.

Ela pareceu momentaneamente surpresa com minha franqueza, mas logo soltou uma risadinha irônica. — Você tem lá suas qualidades, Samira — concedeu, antes de voltar sua atenção para o espelho.

O resto da manhã terminou em várias conversas vazias, enquanto eu tentava não enlouquecer ao seu lado. No entanto, em meio a todas as suas excentricidades, eu não pude deixar de admirar a naturalidade de Clara. Era refrescante estar ao lado de alguém tão genuíno, tão diferente da falsidade ostensiva de Cristine. Mesmo que às vezes fosse uma montanha-russa emocional, a autenticidade de Clara era algo que eu aprendia a valorizar.

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