O dia da admissão finalmente chegou, e eu estava reunindo meus documentos falsificados em meu modesto novo apartamento. Tive que me contentar com um lugar mais simples do que minha residência anterior, para evitar chamar atenção. Além disso, abri mão do conforto do meu carro. Decidi optar pelo transporte público, embarcando em ônibus como uma jovem inexperiente que estava genuinamente começando sua jornada profissional.
Inicialmente, achei a ideia absurda, mas James insistiu. Ele tinha um ponto válido: era crucial me dedicar completamente ao personagem que estava prestes a interpretar. Bem, não totalmente, levando em consideração minha essência. Eu era uma assassina, não uma atriz. Portanto, minha autenticidade permaneceria intacta. Obviamente, não iria carregar minhas armas por aí, mas também não aceitaria ser desrespeitada.
Lembro-me de Alex contando sobre sua experiência trabalhando em uma dessas fábricas, como assistente de produção. Era uma montadora de carros, e ele voltava para casa todos os dias sujo e desanimado, suportando uma carga pesada de humilhação. Will e eu ouvíamos essas histórias enquanto nos alimentávamos apenas com arroz, algo que ele tinha conseguido roubar no mercadinho local. O dono da loja já estava começando a desconfiar do meu irmão, e naquela época, eu temia que ele fosse preso a qualquer momento.
A ameaça de prisão era real para nós três, uma vez que nossas escolhas não eram as mais sensatas. Talvez as coisas fossem diferentes se Alex tivesse permanecido naquela empresa. Eu poderia ter frequentado uma escola e obtido uma educação adequada desde cedo. Mas a realidade era outra. Se não fosse pela minha determinação, continuaria analfabeta. Sorte minha que, além de comida, Will também conseguia roubar alguns itens valiosos, incluindo livros.
Os livros sempre foram minha âncora, desde os primeiros passos na alfabetização até acalmar minha mente inquieta e sanguinária. Durante os anos difíceis da infância, as páginas dos livros roubados iluminaram meu caminho, aliviando o peso das vidas que eu havia tirado.
Ao descer do ônibus, me deparei com a logo do meu novo emprego, "Smash!", representada por uma mesa de fliperama. Achei a escolha criativa, com suas cores vívidas que capturavam minha atenção. Talvez pudesse adotar essa paleta de cores para o meu hobby de pintura.
Ao entrar, fui recebida por Cristine. Ela me deixou esperando por um bom tempo, como se quisesse me testar, e depois de decidir que meu tempo de espera havia sido suficiente, voltou sua atenção para o notebook à sua frente, mantendo-se em silêncio e anotando os dados que estavam nos documentos falsos. Enquanto esperava, aproveitei para observar o ambiente ao redor. As paredes vibrantes em tons chamativos continuavam a chamar minha atenção, contrastando com o aroma persistente de café que pairava no ar. Uma das paredes era totalmente envidraçada, oferecendo uma visão panorâmica de várias plantas do lado de fora, cujas folhas se moviam suavemente ao sabor do vento.
Depois de um longo tempo de espera, finalmente Cristine começou minha integração. Seus olhos transmitiam um desprezo evidente, como se estivesse constantemente julgando minha presença ali.
Se ao menos ela soubesse com quem estava lidando! Imploraria para não enfrentar a fúria contida por trás da minha calma aparente. Ah, como eu sonhava em arrancar aqueles olhos tão cheios de desdém!
Nossa integração foi abruptamente interrompida quando uma mulher entrou na sala, envolvendo o ambiente com o aroma excessivamente doce de seu perfume. Ela estava vestida de maneira impecável, com roupas sociais onde o rosa predominava. Seu cabelo loiro repicado caía em cascata ao redor dos ombros, e sua maquiagem era intensa, como se tentasse compensar algo. Meus olhos não puderam evitar notar o enorme anel de diamante em seu dedo, brilhando com uma ostentação desnecessária.
Cristine também pareceu perceber a entrada da mulher, e seus olhos se fixaram instantaneamente no anel, por um breve momento de reconhecimento. Ela disfarçou sua reação com um sorriso forçado.
— Clara, meu amor, ainda não terminei. Assim que eu concluir a integração, ela é toda sua.
Clara, com uma voz infantil e petulante, interrompeu, balançando os braços como uma criança mimada.
— Não, eu quero ela agora! Eu estou entediada esperando!
Seu comportamento contrastava estranhamente com sua aparência adulta e elegante, como se fosse uma criança mimada presa em um corpo de mulher sofisticada.
Cristine lançou um olhar surpreso para Clara, claramente desconcertada pela interrupção. Ela tentou manter a compostura, mas uma leve franzida de sobrancelhas denunciou sua irritação.
— Clara, meu amor, você sabe que tenho procedimentos a seguir. Não podemos pular etapas. Por favor, tenha um pouco de paciência.
Clara revirou os olhos de forma exagerada, como se fosse uma adolescente contrariada.
— Mas é tão chato esperar! Eu não tenho tempo para isso. Eu tenho coisas mais importantes para fazer.
Sua voz tinha um tom agudo e petulante, que contrastava estranhamente com sua aparência.
Cristine respirou fundo, tentando manter a paciência diante da atitude infantil de Clara. Enquanto isso, meus pensamentos oscilavam entre o choque e o divertimento diante da cena surreal que se desenrolava diante de mim.
— Eu entendo, minha linda, mas é necessário seguir o protocolo. Por favor, aguarde mais um pouco. Eu prometo que será rápido.
Clara, no entanto, parecia determinada a não ceder. Com um tom petulante e um olhar desafiador, ela dirigiu suas palavras a Cristine, enquanto eu observava atentamente, surpreendida com a insolência da minha nova chefe.
— Cristine, você é minha melhor amiga, mas é muito burra às vezes. Eu disse que quero ela agora, e acabou! Preciso fazer compras, ninguém pode me ajudar nesse momento. E agora temos uma assistente, não temos? Então! Quero ajuda agora.
A situação era, de fato, curiosa e eu me pegava tentando conter um sorriso diante do embate entre as duas mulheres. Observava o rosto de Cristine, que ficava cada vez mais vermelho de raiva, enquanto tentava manter a compostura diante das exigências de Clara. Mantendo a aparência calma, ela se virou para mim.
— Samira, esta é Clara, sua nova chefe. Você ajudará toda a empresa como assistente, mas ela será a sua principal superior. Sua primeira tarefa é ajudá-la hoje.
Meus pensamentos começavam a borbulhar em minha mente, questionando se realmente estava preparada para lidar com uma chefe tão autoritária e imprevisível como Clara sem apelar para violência. Me perguntava se seria capaz de manter minha própria serenidade diante das demandas absurdas da mulher, enquanto observava a troca de olhares tensos entre Cristine e Clara.
Cristine se virou para Clara, tentando apaziguar a situação, mas Clara parecia determinada a ter sua vontade atendida imediatamente.
— Espere um momento, eu vou pegar o uniforme. Só isso, Clara. Por favor.
Clara, no entanto, ignorou as tentativas de Cristine e continuou com sua postura exigente, deixando-me ainda mais perplexa com a situação.
— Não! Eu já disse que quero agora. Além disso, a roupa dela já é simples, qualquer pessoa na rua vai olhar para ela ao meu lado e pensar que é minha assistente. Agora, com licença, Clarice! Temos muito trabalho a fazer.
Ela pegou bruscamente no meu braço, levantando-me da cadeira com um gesto brusco. Se não fosse pela minha agilidade, teria caído.
Sendo liderada por Clara, minha mente começava a trabalhar em ritmo acelerado. Em que território eu teria me metido? Não imaginava que seria algo tão... degradante. Eu só esperava que Clara não me irritasse, pois se isso acontecesse, eu não responderia por mim. Minha mão iria direto na sua cara, e eu terminaria de tirar toda sua maquiagem. Ela não sabia com quem estava lidando.
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Atualizado até capítulo 35
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