Capítulo 8: Amor Platônico.

As lembranças da minha infância, cheias de livros, ecoavam em minha mente enquanto eu enfrentava esta missão desafiadora. Aquelas palavras sobre sucesso ressurgiam, agora mais relevantes do que nunca: “Para obter sucesso, você primeiro precisa saber o que fazer primeiro”.

Isso era algo que faltava. Eu não sabia o que fazer primeiro.

Não se tratava simplesmente de eliminar Ivan. Não. O verdadeiro desafio residia em penetrar nas camadas de sua existência, desvendar os segredos de sua mente e coração e, então, desmantelá-los peça por peça. Contudo, até o momento, meus esforços para coletar informações haviam sido frustrantes e insuficientes. Clara, minha principal fonte de informações, parecia mais preocupada com as trivialidades de sua própria vida, deixando-me com migalhas de conhecimento.

Apesar de sua competência indiscutível no mundo do marketing, Clara falhava em separar as fronteiras entre o profissional e o pessoal. Sua amizade com Cristine, por exemplo, parecia motivada por interesses egoístas, um fato que não passava despercebido por mim. No entanto, eu sabia que precisava colocar de lado minha aversão pessoal e usar Cristine como mais uma peça nesse intricado quebra-cabeça.

A cada interação com a diretora de recursos humanos, minha repulsa por sua falsidade crescia exponencialmente. No entanto, eu sabia que deixar que minhas emoções se sobrepusessem ao meu objetivo seria um erro fatal. Cristine representava uma fonte valiosa de informações, e eu não podia me dar ao luxo de ignorar essa oportunidade, por mais desagradável que fosse.

Mas abordar Cristine diretamente para uma conversa franca sobre Ivan não seria uma estratégia viável. Ela certamente interpretaria isso como uma violação de sua confiança e poderia até mesmo considerar medidas extremas, como minha demissão. Era claro que ela preferia manter uma distância segura de pessoas como eu - ou pelo menos daquelas que ela pensava que éramos.

Enquanto os dias se arrastavam, essa questão continuava a me consumir. Enquanto cumpria as tarefas impostas por Clara, eu mastigava essa pergunta incessantemente: como poderia obter uma pista sem comprometer minha posição ou a relação frágil que tinha com Cristine?

Um dia, enquanto entregava papéis na sala de Cristine conforme as ordens de Clara, percebi um clima pesado pairando no ar. Minha chefe estava visivelmente irritada, deixando claro que não queria ver o rosto de sua amiga naquele momento. Algo que Cristine havia dito claramente havia tocado em um nervo sensível, deixando Clara emburrada pelo restante do dia.

Ao abrir a porta da sala de Cristine, deparei-me com uma cena inesperada: Cristine estava visivelmente descontrolada, tentando beijar um homem que claramente não correspondia ao seu avanço. Seus movimentos eram reprimidos, e ele a segurava com firmeza, claramente desconfortável com a situação. No entanto, mesmo em sua agitação, não pude deixar de notar a beleza do homem diante de mim.

— Por favor, pare com isso, você está fora de si! — sua voz soava firme, mas também tingida de preocupação, enquanto ele tentava conter os impulsos de Cristine.

— Ah, Ivan! Por favor, ninguém está vendo! Não precisa fugir de mim — Cristine suplicava, ignorando os sinais claros de desconforto do homem.

Eles não notaram que eu abri a porta, e eu permanecia discreta, escutando a conversa atrás da porta.

— Isso é incoveniente, Cristine. Eu só vim saber de uma informação, e já disse que não estou interessada em você! Chega disso! — A voz de Ivan soava firme, deixando claro seu desagrado com a situação.

Cristine pareceu ignorar o apelo de Ivan, persistindo em sua tentativa de aproximação enquanto eu observava em silêncio, sentindo-me como uma intrusa em uma cena íntima e desconfortável.

— Você sempre age assim, Ivan. Está sempre fugindo de qualquer coisa que esteja relacionada a nós. Mas eu sei que você sente algo por mim. Por que não admitir? — Cristine insistia, sua voz misturando desespero e determinação.

Ivan soltou um suspiro frustrado, sua expressão endurecendo com cada palavra de Cristine.

— Cristine, isso é inaceitável. Você sabe que estou comprometido com Clara. Não há nada entre nós, e nunca haverá. Por favor, respeite isso e me deixe em paz — sua voz, embora firme, carregava uma nota de exasperação diante da persistência de Cristine.

— Ivan, eu... — Cristine começou a dizer, mas foi interrompida pela ação brusca do homem.

Ele perdeu a paciência e, com um movimento decidido, afastou Cristine, fazendo-a desequilibrar-se e precisar se apoiar na mesa para não cair.

— Chega dessa palhaçada! — sua voz ressoou pela sala, carregada de frustração. Ele arrumou o cabelo com impaciência. — A partir de hoje, nunca mais dirija sua palavra a mim novamente. Quando quiser falar algo com você, mandarei recado. Paciência tem limite.

Ajustando o terno, ele dirigiu-se à porta, prestes a sair. Enquanto ele a abria, nossos olhares se encontraram por um breve momento, e pude sentir a intensidade em seus olhos castanhos claros. Então, esse era o meu alvo.

Eu me ajeitei, simulando que estava chegando naquele momento, guardando as informações recém-adquiridas e preparando-me para o próximo passo em minha missão.

Mantendo minha compostura diante da cena caótica diante de mim, fiz o que me foi pedido, entregando os documentos a Cristine com um sorriso discreto.

— Olá, Cristine. Clara pediu para te enviar esses documentos.

No entanto, ao mencionar o nome de Clara, vi a expressão de Cristine se contorcer em raiva. Ela pegou os papéis da minha mão e os arremessou no chão com violência, seus olhos faiscando de ódio.

— Diga a Clara para ir se ferrar, junto com esses documentos, e você também pode ir — sua voz estava carregada de ressentimento e amargura.

Mantive minha expressão neutra diante da explosão de raiva de Cristine, embora por dentro encontrasse certo humor na situação. Era fascinante como uma simples menção ao nome de Clara podia desencadear uma tempestade de emoções naquela mulher.

— Entendido, Cristine. Vou transmitir sua mensagem a Clara — respondi com calma, ignorando o desdém em suas palavras.

Recuei um passo, pronta para deixar a sala e encerrar aquela interação carregada de tensão.

— Não, menina, volte aqui! Não fale nada! Esqueça o que eu disse! Se eu souber que você falou alguma dessas palavras, você vai se ver comigo!— a voz de Cristine soava ameaçadora, mas eu não podia deixar de notar uma pontada de desespero em suas palavras.

— Você mesma pediu para avisar-lhe. Seria muita insubordinação da minha parte não fazer isso – minha resposta foi impregnada de ironia, mas mantive minha postura firme diante da mulher enfurecida à minha frente.

Diante da minha resposta irônica, notei uma mudança sutil na expressão de Cristine. Seus olhos faiscavam menos de raiva e mais de astúcia, como se estivesse repensando sua abordagem.

— Você tem razão, querida. Fui impulsiva. Apenas esqueça o que eu disse, por favor. Não quero causar problemas para você — sua voz soava agora suavizada, quase cativante, como se ela estivesse tentando me envolver em sua teia de manipulação.

Por um momento, considerei a possibilidade de ceder à sua aparente mudança de tom, mas minha intuição me alertava para permanecer vigilante. 

— Compreendo, Cristine. Farei como me pediu. Se precisar de mais alguma coisa, estarei à disposição — minha resposta foi cuidadosamente neutra, mantendo uma distância segura diante da tentativa de manipulação da diretora de recursos humanos.

Com isso, deixei a sala de Cristine, refletindo sobre o que acabara de acontecer. Naquele dia, obtive uma informação bastante interessante: a diretora de RH estava completamente apaixonada por Ivan, mas ele negava suas investidas. Era um aspecto intrigante do quebra-cabeça que eu estava montando.

Enquanto ponderava sobre as possíveis implicações dessa descoberta, percebi que essa poderia ser uma boa linha de investigação para explorar. A dinâmica entre Cristine e Ivan certamente escondia mais segredos do que eu imaginava, e talvez desvendar essa relação fosse o primeiro passo para chegar mais perto de atingir meus objetivos.

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Comments

Aldeir Rodrigues

Aldeir Rodrigues

muitos pensamentos e pouco diálogo pensei q tivesse mais ação

2024-03-01

1

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