Após correr por muito tempo pelo túnel escuro e úmido, Christophe reduziu a velocidade e eu achei que ele estivesse cansado.
Aproveitei a sua habilidade de se comunicar comigo com apenas um toque e apertei firme em seu pelo macio, enquanto sugeria em pensamento que parássemos um pouco para descansar. Ele me deu um bufido, sem tirar os olhos do caminho, como se me dissesse que não podíamos perder tempo.
Parecia estar incomodado com alguma coisa, e eu sentia a tensão em seus passos. Ele deu um rosnado para o nada e pulou no ar tão rápido que eu não entendi o que acontecia. Ficamos separados por um instante e logo depois ele me abraçou forte com suas mãos grandes. Seu corpo amortizou a queda no chão e deslizou pela lama comigo. Percebi que estava nu e me perguntei onde raios ele tinha colocado suas roupas.
— Preciso que corra — sussurrou em meu ouvido, retirando-me daquele devaneio. — Estão aqui.
— Mas e você —, ele colocou a mão na minha boca e negou com a cabeça, me pedindo para não falar nada.
— Não sabem quem estou levando, mas suspeitam que seja a escolhida. Você precisa correr e virar à direita na bifurcação.
Eu afirmei e Christophe tirou suas mãos de mim para me deixar partir. Ainda ousei olhar em sua direção uma última vez, mas vi seu corpo se contorcer como se estivesse se quebrando e me assustei ao ponto de deixar a lanterna cair. Ele uivou quando já estava de volta à sua forma de lobo.
Tentando ser rápida, peguei a lanterna do chão e iluminei o caminho escuro à minha frente, procurei por algo além de um enorme túnel de terra, mas era só isso. Havíamos acabado de passar por um corredor repleto de túneis interligados e acreditei que o inimigo estava vindo de um deles. Respirei fundo e corri na direção oposta do meu lobo branco.
Meu coração batia desesperadamente enquanto a mochila ricocheteva em minhas costas. Senti meu ar escapar do corpo, mas não deixei meus pés pararem.
Não demorou muito para o caminho se abrir em dois e o vento soprava forte e gelado ali. Um uivo agudo e sinistro me assustou me motivando a seguir o caminho que Christophe me orientara, pois temia ser surpreendida por qualquer coisa a qualquer momento.
Nas minhas costas, ainda ouvi um estrondo vindo da parede que acabara de deixar para trás, o que me fez acelerar mais o passo. As patas batendo atrás de mim já estavam quase me alcançando e, quando tentei iluminar minhas costas, não vi nada lá.
Eram as coisas invisíveis.
Percebi uma luz ao longe e me concentrei nela, em busca da saída. Até que ouvi o gemido esganiçado da criatura atrás de mim. Foi então que tropecei em uma pilha de terra e me estabaquei.
Arrastei o corpo no chão frio e úmido, sentindo o pânico tomar conta de mim. Mas nada me machucou ou me pegou. Quando arrisquei iluminar a escuridão atrás de mim, vi apenas Christophe com seu pelo sujo de terra e sangue, assim como sua boca de onde o líquido pingava.
Ele me olhou com ternura com seus olhos azuis e eu percebi a sua preocupação. Rapidamente, fiz um sinal positivo com os polegares abrindo um sorriso amigável, mostrando que estava tudo bem, e ele acenou com a cabeça para a luz que brilhava no fim do túnel.
Levantei-me do chão e tentei limpar um pouco da lama. Minhas calças jeans estavam rasgadas e encharcadas de lama, iriam para o lixo. Depois de respirar fundo, me virei e continuei andando.
Finalmente cheguei ao final daquele martírio e, por incrível que pareça, o túnel desembocava em um arco majestoso formado por duas árvores enormes, onde se abria uma floresta gigantesca.
Olhei para dentro e, em seguida, para fora, tentando entender como a casa do meu avô havia se tornado aquela extensão toda de terra.
Duas silhuetas grandes haviam surgido das árvores, caminhando lentamente em minha direção. Eles pareciam estar vindo de algum tipo de festa com ternos chiques e, naquele instante, senti meu corpo estremecer de medo.
— Chefe! — o maior deles gritou e Christophe soltou um bufar que eu suspeitei ser de cumprimento. Mas, antes que eu pudesse dizer ou fazer algo, uma garra afiada agarrou meu lobo branco, arrastando-o com violência para o túnel.
— Christophe! — Eu gritei sem conseguir conter a voz. Mais uma vez, ouvi um grunhido esganiçado e diversas patas baterem na escuridão.
Uma angústia em meu peito me dizia que era o meu lobo branco que estava em perigo. Os dois estranhos que vieram das árvores correram até mim com habilidades semelhantes às de Christophe. Um deles me segurou firmemente pelos braços impedindo-me de ir até o caos enquanto o outro se lançava para dentro do túnel, soltando um uivo alto e tirando suas roupas pelo caminho. Não demorou muito para diversos lobos surgirem de todos os lados, em direção à escuridão.
— O que está acontecendo? — perguntei para aquele que me segurava e ele limpou a garganta.
— Preciso que se acalme, Luna — disse o rapaz. — Vão trazê-lo para você. Eu prometo.
Meu peito ardia naquele instante, como se um desespero me tomasse, ao ponto de me fazer querer ir até lá. Não fosse pelo garoto me segurando, acho que realmente teria ido, mesmo que minha cabeça insistisse que tudo aquilo era uma loucura.
Os sons medonhos haviam ecoado sem parar. Lobos uivando e se destruindo me faziam ficar ainda mais angustiada. Tentei conter a dor, mas ela só me deixou quando tudo se calou. E isso me alarmou por um instante.
Pensei que tinha perdido todos os sentidos, porque ele havia morrido naquele confronto e a última coisa que eu queria era alguém morrendo por mim. Quando as pessoas saíram de dentro do túnel carregando o corpo de Christophe, meu coração parou por um momento.
“Se um coração parar, o outro também para”.
Se isso fosse verdade, e, nessa hora, eu torcia para que realmente fosse, então ele ainda estava vivo. Eu estava viva e bem. Ele estava vivo e bem.
O rapaz afrouxou suas mãos, soltando-me para que eu corresse até o corpo que aquelas pessoas colocaram no chão. Haviam homens e mulheres ali, mas nenhuma peça de roupas e Christophe estava no chão. Deitado na relva com mordidas e arranhões profundos.
— Aí, meu Deus — abracei-me ao seu corpo e ele não fez nada.
Nem uma piada, nem um bufar engraçado, nem me roubou um beijo e nem reagiu.
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Atualizado até capítulo 91
Comments
Rosaria TagoYokota
ora o que foi aquilo tudo
2025-03-06
0
●○Feng Flávia Crys○●
🥺💔
2025-04-01
0
Cinthia Merces
😔
2025-02-02
0