Numa noite fria e deserta, um uivo estridente ecoou pela vila adormecida, anunciando a presença da fera. O aroma de sangue fresco misturado ao gelo da noite aguçava as suas narinas.
Pelas ruas vazias, uma jovem caminhava apressada, envolta em uma capa de pele que escondia os seus longos cabelos negros como a noite. O vento levantava a capa, revelando a calça de couro de onça que ela mesma havia caçado dias antes. Ela acelerou o passo, sentindo o salto bater com força no chão e o bebê no seu ventre se mexer com o desconforto.
O som de garrafa quebrando veio do beco à sua frente, fazendo o seu coração disparar. Ela quis gritar por socorro, mas os seus lábios permaneceram selados. Ninguém viria ajudá-la, pois todos temiam a noite e seus mistérios, temiam os uivos que pareciam sair de dentro dos seus ouvidos.
De repente, um pequeno cachorro branco e sujo surgiu da escuridão, trazendo um alívio momentâneo para o coração da jovem de vinte anos. O pobre animal não parecia ter dono, e tremia de medo a cada uivo que rasgava o silêncio da noite. A jovem o pegou em seus braços, tirou os sapatos e voltou a correr. O filhote olhava assustado para a montanha distante, de onde saíam vultos que voavam em sua direção.
A morena avistou a igreja a poucos metros e correu para dentro, buscando o refúgio do senhor. As lendas diziam que os profanos não podiam entrar na casa do criador, mas ela não se sentia segura ali. Ela encolheu-se no altar, onde jazia a réplica do Cristo redentor, coberto por um pano. Os seus olhos fixaram-se na porta, esperando o pior.
O ambiente estava iluminado por velas espalhadas pelo local, dando uma visão sombria a ela. Era possível observar os desenhos e estátuas que representavam cada santo e cada momento da história da criança concebida por uma mulher virgem. Então, as portas escancararam-se com um estrondo, e a luz da lua cheia invadiu o local.
Os bancos da igreja foram arremessados para todos os lados, anunciando que os cachorros do inferno haviam entrado na casa de Deus.
Apavorada, a jovem apertou o filhote contra o peito e correu de novo, procurando uma saída. Ela encontrou a porta atrás do altar e entrou, trancando-a em seguida. Era a sala do padre. Havia uma mesa perto da janela, com três cadeiras. Duas delas estavam na frente, e a outra estava virada para elas.
O carpete vermelho era macio como pelo de coelho, mas machucava os pés feridos da jovem. Ela foi até a janela e abriu as cortinas vermelhas com uma das mãos, tentando ver algo do lado de fora. Mas a criatura que a perseguia era invisível. A jovem abriu a janela, pensando em fugir e tentar chegar ao seu quarto de hotel, protegido por símbolos estranhos que impediam aquela coisa de entrar. Ela entendeu por que o padre não ficava até tarde na igreja. Ali não havia proteção.
Com a janela finalmente aberta, a garota soltou o animalzinho do lado de fora e apoiou-se no parapeito para pular. Mas a porta foi escancarada por algo que agarrou a sua perna, rasgando a sua calça e a sua pele. Ela soltou um grito estridente, mas se lançou para fora com os braços envolvendo a sua barriga de oito meses, para proteger o bebê.
O cachorrinho latiu e se esfregou na jovem, tentando fazê-la levantar. Mas a sua perna ardia tanto que ela sentia como se alguém estivesse tentando arrancá-la. O cachorro branco lambeu o arranhão profundo, causando um formigamento no ferimento.
Um latido veio de dentro da igreja, e uma enorme criatura da cor da escuridão surgiu, saltando pela janela. Ela parou em pé, revelando-se à moça de cabelos negros. Era um lobo de dois metros e meio, talvez. Ela levantou-se com pressa, pegando a criaturinha no colo e deixando a dor de lado. Correu cambaleante, arrastando a sua perna machucada, ainda formigando pela lambida.
O lobo negro a seguia de perto, brincando com a sua comida. Era possível ouvir um som sair da garganta do monstro, como se ele estivesse rindo.
O som das patas sumiram no ar, e isso fez a morena olhar para trás, procurando a criatura. Nada. Não havia nem sombras de um ser, nem rastros. Mesmo assim, a jovem não parou, pois, já entendera que a fera conseguia ficar invisível, escondida nas sombras das casas que o luar iluminava.
Depois de alguns minutos, a jovem avistou o seu lar. Atravessou a praça que ficava na frente das portas do hotel e tocou o grande objeto de madeira. O filhote em seus braços grunhiu, e o corpo da moça foi lançado ao ar, antes mesmo que ela pudesse abrir a porta. A árvore foi a única coisa que a fez parar de voar. Seu corpo acertou com força o galho grosso do carvalho branco e caiu no chão.
O som das patas retornou, e a morena se desesperou, olhando em todas as direções. A criatura estava envolta na escuridão, e o pequeno cachorro branco latia sem parar para o nada, como se ele estivesse vendo algo. A garota tentou se levantar, mas foi inútil. Seu corpo havia batido tão forte que um líquido quente escorria por suas pernas. Sua bolsa havia estourado.
Um uivo alto acelerou o coração da moça. Estava tão perto que quase era possível sentir o vento da respiração do animal soprar os seus cabelos. O pequeno cachorro não parou de latir, até que algo o arremessou contra um muro no beco do hotel. Um bufar fez os pelos da morena se eriçarem.
O grito ecoou pelos céus, um grito de pavor e súplica. Os roncos se mesclaram à dor e ao desespero. E, por fim, a criatura havia sumido da mesma forma que surgira. Do nada.
O corpo gélido jogado ao chão mostrava as marcas da brutalidade dos cachorros infernais. E a criança no ventre da jovem havia desaparecido.
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Atualizado até capítulo 91
Comments
carol wisch
nossa agora a lembrei da invocação do mal a freira kkkkk não gostei disso.
2024-12-14
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Rosaria TagoYokota
credo que horror acontecer isso na igreja e as crescas contadas
2025-03-06
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Lena Lima Lima
Aí credoooooo.
2025-02-06
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