Procurei meu pai pela casa, mas ele não estava em lugar nenhum. Eu sabia exatamente onde encontrá-lo. Ignorei minha mãe, que se derretia toda por Christophe, e escapei pela porta dos fundos. O jardim se estendia à minha frente, enorme e verde. Atravessei o campo, sentindo o cheiro da grama e o vento no rosto. Lá no fundo, avistei a horta que ele cultivava com tanto carinho desde que meus pais vieram morar com o vovô. Meu pai estava lá, caminhando entre as plantas com a mangueira na mão. Ele usava um chapéu de palha para se proteger do sol, que já se punha no horizonte.
Eu não tinha certeza se papai sabia que estávamos ali, nem se ele estava informado sobre a história que todos da casa comentavam sobre o brutamontes que começou a me perseguir por todo lado, mas a preocupação com o meu pai foi mais forte do que qualquer outra coisa e eu me lancei em direção ao homem de roupas simples.
— Ei, moço. Quanto custa as alfaces? — perguntei, aproximando-me da plantação de verduras. Ele ergueu seu chapéu, revelando seus olhos castanhos e sua barba grisalha.
— Nada, minha senhora, pode levar o que quiser — respondeu ele, com um sorriso gentil. Eu reconheceria sua voz familiar e seu jeito brincalhão em qualquer lugar. Meu pai já estava de braços abertos para mim e eu corri para abraçá-lo.
Embora eu o tivesse visto no natal, parecia que fazia anos que não nos víamos. Tanta era a saudade que eu sentia. Abracei-o, sentindo seu cheiro de café e terra molhada, o aroma que ele adquiriu depois de se dedicar às verduras.
Antes, ele exalava areia e sal, quando trabalhava vendendo bebidas na praia, em um quiosque que ele mesmo construiu.
— Como vai, minha filha? — ele perguntou, tentando disfarçar sua preocupação. — Você não parece muito feliz com esse casamento, né?
— Pai, eu não quero me casar! — Eu protestei. — Eu saí de casa para fugir da pressão da mamãe, falando do casamento das dezenas de sobrinhas. E agora ela me arruma um noivo que eu nem conheço!
— Ela não teve escolha, florzinha. Esse destino já estava traçado para vocês dois antes mesmo de vocês nascerem. É um pacto muito antigo, entre as famílias dos lobos e dos humanos, mas eu sei o quanto é difícil para você aceitar isso.
— Só que ele fala que nossas almas estão ligadas e que somos feitos um para o outro, mas isso me dá medo. Agora vejo que era feliz cuidando da rotina do hotel e me atrapalhando com os quartos, recebendo os hóspedes e surtando com a máquina de sucos que o Senhor Silva insistia em manter lá porque era muito chique. Mas agora tenho que me casar com esse cara para salvar o mundo de uma revolta dos lobos gigantes. Ah, e também tem criaturas invisíveis atrás de mim que querem arrancar a minha cara. — Eu desabafei, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
Meu pai me abraçou apertado, como se quisesse me proteger de tudo. Eu senti seu calor e seu amor, e me aconcheguei em seu peito. Ele me beijou na testa e disse:
— Eu sei que isso é difícil para você, minha filha. Mas você não está sozinha. Estamos aqui com você, e vamos te apoiar em qualquer decisão que você tomar. Sua mãe pode ficar um pouco apavorada no começo, mas ela é sua mãe. Vai dar tudo certo.
Eu olhei em seus olhos e vi a sinceridade em seu olhar. Ele parecia ser o único que me entendia e que respeitava o meu desespero. Eu sorri e disse:
— Obrigada, pai. Você é o melhor pai do mundo.
Ele sorriu de volta e me abraçou ainda mais forte. Nós ficamos assim por um tempo, sem dizer mais nada. Apenas sentindo a presença um do outro, e agradecendo por termos um ao outro.
Foi nesse instante que percebi que não poderia deixar nada de ruim acontecer com ele, nem com minha mãe ou com meu avô. Recusar Christophe implicava em colocar todos que amo em risco e eu jamais conseguiria fazer isso. Um casamento não seria nada demais. Christophe nem era tão ruim assim. Ele era bonito e educado até certo ponto. Sem contar que me tratou bem durante os dias que aparecia do nada na minha casa. E eu não podia negar que ele tinha um efeito forte sobre mim. Algo que eu não sabia explicar, mas que sempre me paralisava quando suas mãos me tocavam. Eu sentia um arrepio na pele sempre que ele estava muito perto. Algo inexplicável me atraía para ele, mesmo que eu não quisesse. Christophe me olhava com uma paixão intensa, como se eu fosse a mulher da sua vida.
E aparentemente ele era perdidamente apaixonado pela minha versão do passado, pois também não tinha controle sobre os seus sentimentos, nem sobre os seus impulsos. Christophe me beijava com fervor, me abraçava com força e me prendia a ele.
A história de amor das nossas vidas passadas, embora ainda fosse um mistério para mim, parecia algo bonito até certo ponto e era óbvio que ele me amava como a minha versão do passado, a mulher que ele perdeu e que ele nunca esqueceu. Ele me amava como sua alma gêmea, a sua companheira e a sua destinada. Mas eu não era mais elas. Eu era eu. E eu não o amava. Além disso, tinha os meus próprios sonhos, que nada tinham a ver com ele.
Na verdade, eu não tinha sonhos surpreendentes. Eu queria limpar meu nome no Serasa, terminar de pagar meu apartamento, conseguir um cartão de crédito do mercado do meu bairro e talvez conhecer Salvador. Nada que precisasse depender da vida de alguém para conseguir. A menos que eu pegasse dinheiro com um agiota para fazer tudo ao mesmo tempo. Aí sim teria uma vida em risco caso eu não pagasse.
Mas, ainda assim, seria a minha vida e se eu fizesse qualquer merda com ela, ninguém pagaria pelo meu erro.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 91
Comments
Rosaria TagoYokota
que tds deveriam ter uma vida confortavel que neste pais e muito dificil
2025-03-06
1
carol wisch
/Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm/ sonho de tod brasileiro limpar o nome no Serasa kkkkkkagora me senti menos mal kkkkkkkk
2024-12-14
0
Suna
/Whimper/
2024-10-08
0