Decidi que não perguntaria mais nada. Eu não queria cair nos braços daquele homem gigante outra vez, porque ele me fazia sentir pequena e indefesa. Embora eu estivesse morrendo de curiosidade sobre o lugar para onde iríamos, eu resisti à tentação de questionar. Eu não queria pagar o preço de um beijo por cada dúvida.
Ficar em silêncio até que foi bom. Descobri que ele tinha uma picape preta e que seria nela que viajaríamos. Christophe colocou minha mochila na caçamba e abriu a porta do passageiro para eu entrar.
— Vai trabalhar até tarde hoje, menina? — Seu Geraldo espiou pela janela da portaria quando me viu esperando ele abrir. Naquele instante pensei sobre minha vida por alguns segundos e reparei que Geraldo era o porteiro do meu prédio desde o momento que terminaram as obras e liberaram para os moradores se mudarem. Ele sempre me cumprimentava com simpatia. Senti uma pontada no coração ao deixar aquilo da minha rotina para trás.
— Hoje não, seu Geraldo. Estou de férias e vou viajar com meu namorado. — Eu menti e o homem franziu a testa. Ele parecia não acreditar no que eu estava dizendo.
— Você tem namorado? — eu também ficaria surpresa, já que nunca levava ninguém para o meu apartamento. Era muito reservada e até solitária. Geraldo olhou para o grandalhão me aguardando no carro e Christophe acenou para o homem após colocar seus óculos escuros. — Bem espero que se divirtam. Até a volta, então.
— Até.
Ele abriu o portão para que eu saísse e dei meu último aceno ao velho da portaria antes de entrar no carro.
Christophe trancou a minha porta com um clique, contornou o carro com passos largos, entrou no lado do motorista e ligou o rádio. Ele escolheu um funk com uma batida eletrônica no fundo e logo começou a cantar junto, mexendo os ombros no ritmo. Eu o olhei confusa, sentindo uma curiosidade crescer em mim sobre seu gosto musical e o nosso destino. Mordi os lábios enquanto ele parecia perceber que eu estava me segurando e ria da minha agonia, mostrando os seus dentes brancos. Ele me lançou um olhar provocante e disse:
— Vai ficar quieta ou vai se animar um pouco?
— Vou ficar quieta. — Ele sorriu e acelerou em direção ao nosso destino.
Durante a viagem eu me recostei na janela e peguei no sono. Os farejadores invisíveis tomaram meu sonho, assombrando-me. Eles me perseguiam pela floresta escura e úmida, atrás do meu cheiro de medo. Eu corria desesperadamente, tropeçando nas raízes e nos galhos até que me cercaram, eu conseguia ouvir as patas batendo em todas as direções. Seus rosnados ecoavam pelo ar e eu sabia que eles estavam prontos para me devorar.
Acordei com um solavanco. Christophe tinha parado o carro em um posto de gasolina. Ele me olhou com um sorriso gentil.
— Bom dia, namorada. Dormiu bem?
Eu senti um arrepio na espinha e um nó na garganta. Não conseguia esquecer o pesadelo. Forcei um sorriso fraco e respondi:
— Sim. Onde estamos? — Perguntei, curiosa, e Christophe se inclinou na minha direção, abrindo a minha porta com um gesto cavalheiresco. Em um ágil movimento, ele me roubou um beijo ardente, fazendo-me sentir completa por alguns segundos até ele se afastar, ofegante.
— Uma dúvida graças a Deus — ele comemorou, com um brilho malicioso nos olhos azuis, e eu me xinguei internamente por ter esquecido o jogo dele. Ele farejou o ar, como se buscasse algum perigo, e depois me olhou contente, com um sorriso que iluminava o seu rosto bronzeado. — Estamos a meia hora do local.
— Pode me dar uma resposta melhor, essa não vale um beijo desse. — Eu reclamei, fazendo um bico. — O que? Um selinho tinha pago tudo.
Christophe riu, se inclinou novamente em minha direção e sussurrou no meu ouvido.
— Não me lembro de ter estipulado como seriam os beijos. — Ele mordeu levemente o meu lóbulo, me fazendo arrepiar. — Você quer mais?
— Não — falei, gaguejando, sem conseguir olhar nos seus olhos. Deixei um suspiro escapar, me sentindo frustrada. — Podemos criar regras para esse jogo? Não é justo que eu simplesmente não possa fazer algumas perguntas.
— Outra pergunta — ele disse, com um sorriso vitorioso, e voltou a me beijar, suas mãos se apoiavam no banco ao meu redor, me prendendo contra ele, enquanto sua língua brincava com a minha, me provocando e me enlouquecendo. — Sem acordos. Eu estou gostando de como está.
Ele disse contra minha boca e inferno, ele beijava tão bem que eu não conseguia afastá-lo.
— Crédito ou débito? — o frentista nos interrompeu e eu o agradeci baixinho por isso.
— Débito — rosnou Christophe.
— aproximação — o rapaz perguntou, com um sorriso educado, mas o rosto do meu lobo enorme não parecia ser muito amigável. Ele franziu a testa, como se não gostasse da pergunta.
— Sim — eu intervi, sem nem saber se o cartão dele tinha essa função liberada. Mas precisava fazer algo. Christophe voltou a me olhar profundamente, com seus olhos penetrantes, enquanto sua mão segurava o cartão na direção da maquininha que o frentista carregava. Ele parecia impaciente, querendo sair logo dali.
Quando a máquina imprimiu o comprovante, o frentista nos entregou com seu simpático sorriso e um aceno de cabeça. Christophe fechou minha porta com cuidado e deu a volta no carro, entrando no banco do motorista. Ele ligou o motor e me lançou um olhar cúmplice, como se estivesse ansioso para continuar a nossa viagem.
Eu estava reconhecendo o trajeto. Tínhamos saído do caos de São Paulo, com seu trânsito caótico e seus prédios gigantes, em direção ao interior do estado, onde a paisagem se tornava mais verde e tranquila. A cada quilômetro percorrido, chegávamos mais perto de Botucatu, a cidade onde morava minha família. Eu até conseguia ouvir minha mãe desesperada me gritando para ajudá-la com algo, com sua voz aguda e preocupada.
Christophe… — o chamei, com um nó na garganta, assim que saímos da estrada e entramos em um caminho de terra muito conhecido. Eu reconhecia cada curva, cada árvore, cada pedra daquele lugar. Olhei para ele, buscando apoio, e vi que ele me olhava com carinho e compreensão.
— Heleninha!
Minha mãe gritou se levantando da cadeira que havia colocado na frente do seu portão e eu engoli em seco.
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Atualizado até capítulo 91
Comments
Rosaria TagoYokota
kkkk e seria um beijo cada duvida dela kkk
2025-03-06
0
Sherry_Amirah
ele simplesmente ansioso pra que ela fizesse uma pergunta/Smirk/
2025-01-07
1
Suna
“colocou um funk” mds que castigo viajar ouvindo isso kkk
2024-10-08
4