Case-se Comigo

Case-se Comigo

Capítulo 1

Olhei para o relógio na parede imponente do meu escritório, com suas engrenagens meticulosamente trabalhadas marcando o tempo. Era apenas 2:15 da tarde, mas minha mente já estava imersa em um mar de tarefas e responsabilidades. As próximas duas reuniões com os acionistas pairavam sobre mim como nuvens escuras de exaustão iminente.

Meu escritório, um espaço que refletia minha dedicação ao trabalho, estava decorado de maneira sóbria e elegante. Prateleiras de madeira escura exibiam troféus e prêmios, testemunhos silenciosos das conquistas alcançadas ao longo dos anos. A luz filtrada pelas cortinas pesadas lançava uma aura tranquila sobre o ambiente, proporcionando um refúgio temporário da agitação do mundo exterior.

Apesar da aparente solidão, havia uma constante presença em minha vida: meu amigo de infância, Fred Hutle. Ele sempre tentava me arrastar para fora do escritório, oferecendo convites para baladas animadas ou partidas de golfe relaxantes no parque. No entanto, eu sempre recusava, mergulhado em minha devoção ao trabalho. Para mim, o escritório era mais do que um local de trabalho; era um santuário onde eu podia me perder nos números e nos relatórios, esquecendo temporariamente os problemas familiares que assombravam minha mente.

Minha residência, um lar que compartilhava com meus pais, era um oásis de tranquilidade em meio ao caos do mundo exterior. As paredes caiadas de branco emanavam uma sensação de paz, contrastando com a agitação constante do meu ambiente de trabalho. Embora eu pudesse facilmente ter meu próprio apartamento, optei por permanecer com meus pais, valorizando a familiaridade e o apoio que encontrava em sua presença reconfortante.

Recentemente, minha irmã Stefany enfrentara um divórcio doloroso, e sua dor era palpável em cada interação. Enquanto eu me afundava cada vez mais no trabalho, Stefany buscava consolo em sua dor, e eu me perguntava se minha ausência estava contribuindo para sua solidão.

Enquanto refletia sobre esses pensamentos, fui interrompido pelo som suave do telefone, trazendo-me de volta à realidade de mais uma tarde no escritório.

A voz de Mary veio através do telefone, rompendo o silêncio da minha sala.

— Sr. Coldwell? — sua voz soou através do fone, transmitindo uma calma reconfortante.

— Pois não? — respondi, levantando o olhar do meu trabalho.

— Os acionistas chegaram. Devo mandá-los entrar? — perguntou ela, sua voz transmitindo a mesma simpatia de sempre, mesmo à distância.

— Sim, por favor — respondi, confirmando minha decisão.

Mary era conhecida por sua meticulosidade impecável. Cada tarefa que ela realizava, fosse ela agendar uma reunião ou organizar documentos importantes, era feita com uma precisão extraordinária. Sua atenção aos detalhes era lendária no escritório, e sua capacidade de manter tudo em ordem era admirada por todos. Os colegas sabiam que podiam confiar em Mary para garantir que cada aspecto do trabalho fosse tratado com cuidado e eficiência.

Enquanto Mary conduzia os acionistas até a sala de reuniões, eu me preparei mentalmente para mais uma sessão com eles. O brilho dos holofotes no teto refletia a seriedade do momento, enquanto eu me via imerso no ambiente formal e solene.

A atmosfera na sala era carregada de expectativa e tensão, enquanto os acionistas ocupavam seus lugares ao redor da mesa. Anotações meticulosamente organizadas estavam dispostas à minha frente, prontas para guiar a discussão. Eu me esforçava para manter uma expressão calma e profissional, apesar da inquietação que sentia por dentro.

O som da caneta de Mary riscando o papel ecoava suavemente na sala, um lembrete constante de sua presença discreta, mas essencial. Seus olhos atentos acompanhavam cada palavra pronunciada, pronta para intervir caso necessário. Sua presença era reconfortante em meio à intensidade da situação.

Apesar de encontrar as reuniões com os acionistas entediantes e cansativas, eu reconhecia sua importância para o sucesso da empresa. Cada palavra dita e decisão tomada tinha um impacto significativo no futuro da organização. E, no final do dia, eu sabia que o esforço valeria a pena, mesmo que o caminho até lá fosse árduo.

Quando finalmente ergui os olhos do relógio, marcando 7:25 da noite, percebi que a noite havia chegado sem que eu percebesse. Decidi encerrar o dia de trabalho e seguir para casa, sabendo que o amanhã traria consigo mais uma carga de responsabilidades.

Ao entrar em casa, fui recebido por um clima tenso que pairava no ar. Ao observar minha mãe, Michelly, de pé na sala, percebi os vincos de preocupação em sua testa. Seus olhos expressavam uma mistura de ansiedade e cuidado maternal, enquanto ela mantinha os braços cruzados em um gesto protetor. Michelly sempre fora o pilar emocional da família, pronta para oferecer apoio e orientação em momentos de incerteza. Por outro lado, meu pai, Augusto, sentado no sofá, emanava uma aura de seriedade e determinação. Seu olhar penetrante revelava uma mente analítica e pragmática, características que o tornavam um líder nato em todos os aspectos de sua vida. Augusto era conhecido por sua integridade inabalável e sua capacidade de tomar decisões difíceis quando necessário, embora sua abordagem muitas vezes contrastasse com a sensibilidade emocional de minha mãe.

- Olá pra vocês?! - eu cumprimento, tentando dissipar a atmosfera carregada com um sorriso forçado.

- Oii meu filho! Estava já preocupada, o que aconteceu? - ela responde, com uma mistura de alívio e preocupação em sua voz.

- Não foi nada, mãe! Você sabe que sempre saio neste horário - eu respondo, tentando tranquilizá-la, embora sinta que algo mais está errado.

- Michelly, deixa o Eric em paz! - interveio meu pai, Augusto, em um tom firme, mas calmo. Parece que ele é o único na casa que não se incomoda tanto com minha dedicação ao trabalho. Essa diferença de opiniões muitas vezes resulta em discussões entre meus pais.

- Ai, Augusto! Nosso filho anda trabalhando demais. Acho que ele deveria tirar umas férias para descansar um pouco. - expressa Michelly, com preocupação evidente em sua voz.

- Mas eu não estou cansado, mãe. Até gosto de ir trabalhar.... - eu rebato, defendendo minha dedicação ao trabalho.

- Viu Michelly, deixa o menino em paz e vamos jantar. - interveio novamente Augusto, tentando amenizar a tensão crescente no ambiente.

- E a Stefany, mamãe? - pergunto, mudando o foco da conversa para minha irmã.

- Ela não vem, meu filho. Disse que estava sem fome... - responde Michelly, desviando o olhar por um momento.

O jantar transcorreu em um silêncio constrangedor. Enquanto minha mãe e meu pai trocavam algumas palavras sobre o desempenho da empresa, eu podia sentir a preocupação latente no ar, especialmente vinda da minha mãe. Seus olhos não conseguiam disfarçar a ansiedade que sentia em relação a Stefany, e o fato de minha irmã não ter aparecido para jantar só aumentou sua inquietação. Após o jantar, retirei-me para o meu quarto, buscando um momento de paz para mim mesmo. Tomei um banho relaxante e, em seguida, decidi ouvir música clássica. Beethoven sempre foi meu refúgio, suas composições profundas e emotivas me faziam refletir sobre os diversos aspectos da minha vida.

Enquanto as notas suaves ecoavam pelo quarto, permiti-me mergulhar em meus próprios pensamentos. Apesar de minha dedicação ao trabalho, sabia que havia mais na vida do que apenas minha carreira. No entanto, a ideia de diminuir minhas horas de trabalho para me envolver emocionalmente com alguém sempre me assombrava. Eu estava no auge da minha carreira, e compromissos românticos pareciam ser um fardo que eu não estava disposto a carregar no momento. O tempo passou sem que eu percebesse, e quando finalmente me dei conta, era 3:45 da madrugada. Desliguei o som suavemente e decidi tomar um copo de água antes de voltar para a cama. Ao chegar à cozinha, deparei-me com minha irmã, Stefany, que estava lá, sozinha, em meio à escuridão da noite.

- Oi, ocupado...

- Oi!

- Sua vida agora é só trabalho, né? Nunca tem tempo para a irmã e nem para a família!

- Affs! Tá, não enche...

- Mas é a pura verdade, Eric. Desde que eu vim morar aqui, você nem me dá um ombro amigo. E ainda diz que é meu irmão, o trabalho está te obcecando...

- Chega! - Gritei, sentindo a frustração transbordar. - Já não basta a mamãe e o papai, agora você. Eu trabalho sim e gosto disso, e não vai mudar minha opinião...

Ela me encarava com uma expressão de choro, e percebi que estava magoando-a mais do que imaginava. Era verdade, desde que ela chegou, minha atenção estava quase exclusivamente voltada para o trabalho. Ela tinha razão em se sentir negligenciada, e eu não tinha desculpas para isso.

- Boa Noite, Eric! - Ela disse com a voz embargada, saindo do cômodo sem olhar para trás.

Senti um aperto no peito ao vê-la partir, mas não tive coragem de correr atrás dela naquele momento. Fui para o meu quarto, deixando-me envolver pelo cansaço que me atingia. Amanhã seria outro dia cheio de compromissos, mas eu sabia que teria que enfrentar as consequências das minhas prioridades mal direcionadas.

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Comments

Mileninha

Mileninha

vamos ver como será né...

2024-02-13

2

andreinha

andreinha

adorei, o texto bem escrito, descreve os ambientes de forma detalhada.

2024-02-12

2

Ver todos

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