Capítulo 18

Após o café, entramos em uma animada discussão sobre o projeto. Seu Garcia e eu estávamos empolgados com a perspectiva de abrir uma nova empresa e Fernanda, com sua habilidade de desenho e visão criativa, estava contribuindo com ideias incríveis para o design interior. Ela mergulhou de cabeça na pesquisa de profissionais confiáveis para colaborar conosco no empreendimento. Enquanto trabalhávamos, pude notar como Fernanda estava realmente comprometida com o sucesso do projeto. Seus olhos brilhavam com entusiasmo e sua energia contagiava a todos nós. Seu Garcia, especialmente, parecia encantado com a determinação e o talento dela.

O celular de Garcia tocou e ele logo foi atender, nos deixando a sós.

- Por que pediu um prazo de um mês? - perguntei ainda intrigado.

- Eu preciso falar com a minha família, organizar minhas coisas. Nunca fui para fora do país. - ela respondeu concentrada no desenho. - Pega o lápis para mim...

- Você poderia ter recusado. - eu disse, entregando-lhe o lápis.

- Você queria isso?

- Não, mas...

- Então pare de reclamar.

- Você está feliz com essa decisão.

- Isso importa para você?

- Sim, eu sou seu noivo, é claro que isso importa.

Ela parou de desenhar e me encarou, seu olhar estava confuso, como se estivesse tentando decifrar algo em minha expressão. Eu sabia que não devia ter deixado escapar aquelas palavras, mas dentro de mim estava ocorrendo uma batalha silenciosa, uma luta que nem mesmo eu compreendia completamente. Eu queria acreditar que não tinha sentimentos por ela, que não me importava, que ela me odiava. Mas por que eu não conseguia fazer isso?

Seu Garcia retornou e retomamos a discussão sobre o projeto. Nossos olhos raramente se encontravam, e quando o faziam, fugiam rapidamente um do outro. Passamos o restante do dia assim, conversando apenas quando necessário e focados exclusivamente no trabalho. À medida que a noite se aproximava rapidamente, enquanto eu aguardava no quarto, os minutos pareciam arrastar-se lentamente, e minha mente estava repleta de pensamentos tumultuados sobre a situação. Quando ela finalmente apareceu na porta, vestida com um roupão e com o cabelo ainda úmido, uma mistura de emoções me invadiu. Havia algo na sua expressão que eu não conseguia decifrar, uma mistura de determinação e vulnerabilidade que mexeu comigo.

- Você está bem? - perguntei, tentando disfarçar a turbulência em minha própria mente.

- Sim, estou bem. - respondeu ela, com um sorriso suave. - Só precisava de um banho para relaxar um pouco.

Eu observava enquanto ela se aproximava, cada movimento parecia amplificar a tensão entre nós. A simples presença dela no quarto fazia meu coração bater mais rápido, e eu lutava para manter a compostura.

- Eric, podemos conversar? - ela perguntou, desviando o olhar por um momento antes de encontrá-lo novamente.

- Claro, Fernanda.

- Eu não sei o que deve estar passando na sua cabeça agora, mas acredito que ambos sabemos que não podemos ficar juntos. - ela disse.

- Claro que sei, e também sei que tudo que estamos vivendo é uma farsa. - respondi.

- Você fala tão tranquilamente.

- O que queria que eu dissesse? - disse um pouco frustrado. - É a verdade, não é?

- Você não tem vergonha? - ela parecia igualmente frustrada e confusa.

- Eu? - andei pelo quarto por alguns segundos. - Por que eu teria vergonha?

Eu não estava compreendendo essa conversa e nem sabia onde ela queria chegar.

- Não sei, talvez porque estamos fingindo ser um casal quando claramente não somos. - ela respondeu, sua voz carregada de emoção.

- Não é como se estivéssemos enganando alguém além de nós mesmos. - respondi, tentando manter a calma.

- Mas estamos, Eric. Estamos enganando o senhor Garcia e a nós mesmos. - ela insistiu, seus olhos expressando toda a confusão e dor que estava sentindo.- Esses seis meses serão bons para nós dois. - disse ela, sentando na cama. - Eu mal posso esperar para ficar longe de você.

- Eu também não vejo a hora. - murmurei.

Ela deitou na cama e apagou seu abajur. Desta vez, ela não colocou a muralha de travesseiros; acho que estava nervosa e nem pensou nessa possibilidade. Eu deitei do outro lado, mas não consegui fechar os olhos. Fiquei pensando em algo, algo que parecia infantil da minha parte. Será que ela gosta de mim?

Já era de manhã quando senti algo pesado agarrado sobre mim. Abro os olhos lentamente e vejo um cabelo loiro sobre meu peitoral. Levanto a cabeça um pouco e vejo que ela estava agarrada em mim. Seus cabelos loiros caíam de forma delicada sobre meu peito. Ela parecia tranquila e serena, como se estivesse tendo um sono profundo e tranquilo. Eu não conseguia evitar o pensamento de como ela ficava bonita mesmo quando dormia.

Por um momento, fiquei parado, observando-a. Uma sensação estranha tomou conta de mim. Era uma mistura de calma e inquietação, como se estivesse diante de uma encruzilhada emocional. Não sabia o que fazer, mas também não queria perturbá-la. Permaneci ali, contemplando a cena por mais alguns minutos, perdido em meus próprios pensamentos. A luz suave da manhã começava a entrar pelo quarto, iluminando sutilmente o ambiente e destacando os traços suaves do rosto de Fernanda.

Por mais que tentasse negar, uma parte de mim não podia deixar de se sentir atraída por ela. Era como se houvesse uma conexão inexplicável entre nós, algo que transcendia a simples relação de noivos de fachada.

No entanto, também havia uma dose de incerteza e medo. O que isso significaria para o nosso acordo com Garcia? E se eu estivesse apenas imaginando coisas, deixando-me levar por ilusões?

Antes que pudesse refletir mais profundamente sobre o assunto, notei que Fernanda começava a se mover lentamente, despertando do sono.

- O que? - disse ela, levantando-se rapidamente. - Como?

- Eu não queria te acordar. - sussurrei para ela.

- Cadê os travesseiros?

- Você não colocou ontem à noite, achei que precisava.

- Você aproveitou, não é, senhor Coldwell? - ela disse, batendo em mim. - Seu safado.

- Ei, espera aí. - disse, pegando suas mãos e colocando-as sobre sua cabeça. Meu corpo foi para cima do dela, nossas respirações estavam ofegantes. O quarto estava inundado com a tensão do momento, cada respiração parecia carregada de eletricidade. Eu podia sentir o calor de seu corpo tão perto do meu, e isso desencadeou uma mistura de emoções dentro de mim.

- Eric... - ela murmurou, sua voz suave, mas cheia de incerteza.

Minha mente estava uma bagunça de pensamentos contraditórios. Por um lado, eu sabia que não deveria estar agindo assim, que isso era errado em muitos níveis. Mas por outro lado, havia uma parte de mim que não conseguia resistir à atração que sentia por ela, à intensidade do momento.

Eu estava prestes a dizer algo quando ouvimos passos se aproximando do quarto, e num instante nos afastamos abruptamente, como se fossemos pegos em flagrante. Era como se uma repentina onda de realidade tivesse nos atingido, dissipando o encanto do momento.

- Eric, Fernanda, estão aí? - era a voz de seu Garcia.

Olhamos um para o outro, nossos olhares compartilhando um misto de constrangimento e confusão.

- Sim, senhor Garcia, estamos. - Respondo, tentando disfarçar o desconforto.

- O café já está na mesa. - Escutei passos dele saindo.

- Antes que ela fale alguma coisa, não aconteceu nada entre a gente. - Digo rapidamente, evitando seu olhar, enquanto me afasto e começo a calçar os sapatos, sentindo-me tenso e confuso diante da situação.

Enquanto me preparo para sair do quarto às pressas, minha mente está uma bagunça de pensamentos, tentando entender o que aconteceu e como lidar com isso.

- Essa mulher vai me deixar louco. - Sussurrei para mim mesmo, percebendo que as coisas entre nós estavam ficando cada vez mais complicadas.

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