Ao terminar de assinar os documentos mais importantes, uma sensação de mal-estar começou a se instalar em mim. Decidi que era melhor não ignorar esse sinal do meu corpo e optei por ir para casa mais cedo naquele dia. Minha cabeça latejava e uma sensação de cansaço incomum me dominava.
Após me despedir dos colegas de trabalho e garantir que tudo estava em ordem para o dia seguinte, peguei minhas coisas e saí do escritório. Cada passo parecia exigir um esforço maior do que o normal, e eu me sentia cada vez mais fraco à medida que me aproximava do carro.
- Eric! - minha irmã veio ao meu encontro quando eu abri a porta - ..O que aconteceu?
- Nada, não!
- Vai, me diga! - sentamos na sala.
- Sabe a Melissa...
- A namorada do Fred? - ela me olhou espantada.
- Ela mesma. Hoje ela foi até o escritório... - Ela se levantou e me encarou com uma cara feia - ...e começou a dar em cima de mim.
- E o que você fez?
- Pedi para ela se afastar e que eu contaria tudo para o Fred. - Ela sentou novamente no sofá e estava mais calma - ...Mas ela me disse que o Fred não vai acreditar em mim!
- E você já contou para ele?
- Não!
- Então como você vai saber se não contar para ele?
- Eu não sei... Se conto. O Fred está tão feliz...
- Eric, você é amigo dele, e se ele tiver confiança em você, vai acreditar..
Balancei a cabeça, ainda tentando entender a confusão em que me encontrava.
-Por que ela faria isso? - Perguntei, perplexo.
-Por que você é lindo, charmoso, e com certeza ela quer dinheiro. - Ela respondeu, sua expressão se transformando em uma mistura de desgosto e indignação.
- Mas eu sou amigo do Fred, Stef. Isso não é certo. Não consigo nem imaginar como ele reagiria se soubesse. - Eu estava angustiado, tentando entender o que fazer em uma situação tão delicada.
- E é exatamente por isso que você precisa contar a ele, Eric. A lealdade é mais importante do que qualquer coisa. Ele merece saber a verdade, e você também merece paz de espírito. - Stefani falava com convicção, seus olhos transmitindo uma mistura de preocupação e determinação.
Suspirei, sabendo que ela estava certa, mas ainda lutando com a decisão. A ideia de machucar meu amigo era difícil de aceitar, mas esconder a verdade também não parecia certo.
- Eu sei que você está certa. Só não sei como começar a contar a ele. - Admiti, sentindo-me sobrecarregado pela situação.
- Você encontrará as palavras certas, Eric. Mas lembre-se, é melhor que ele saiba por você do que descobrir por outra pessoa. Você pode contar comigo para o que precisar. - Stefani ofereceu seu apoio, colocando sua mão sobre a minha.
Eu liguei para ele, mas estava dando na caixa postal. Mais tarde, ele mandou uma mensagem dizendo que estava viajando e que só voltaria daqui a duas semanas, mas afirmou que se fosse algo importante, voltaria rapidamente. Respondi que não era tão urgente e que ele deveria aproveitar a viagem. E assim, eu tinha duas semanas para reunir coragem e contar a verdade a ele.
Já era sábado e a semana tinha passado voando. Não tive notícias do Fred, da chata da Melissa e muito menos da Fernanda. Me levantei e fui para a cozinha, onde escutei minha irmã e minha mãe conversarem animadamente sobre o almoço em família que estava planejado para aquele dia. Eles estavam preparando uma refeição especial para celebrar o aniversário da minha mãe.
- Mãe, estou querendo ir ao shopping fazer algumas compras, mas não quero ir sozinha. - disse minha irmã, com um tom de desânimo.
- E suas amigas, filha? - perguntou minha mãe, preocupada.
- Pelo incrível que pareça, todas elas hoje estão ocupadas... - respondeu ela, frustrada.
- Mas por que você não vai outro dia, filha? - sugeriu minha mãe, tentando encontrar uma solução.
- A não, mãe... eu quero ir hoje!- Minha irmã continuava determinada. - Vamos comigo, mãe?
- Minha filha, eu já sou bem velha para isso. - lamentou minha mãe, com um sorriso gentil.
- Eu irei! - entrei na cozinha no momento certo para ouvir a conversa.
- Sério, Eric? - perguntou minha mãe, surpresa com minha resposta.
Ela veio até mim, me deu um beijo no rosto e saiu toda animada para o quarto, enquanto minha mãe continuava me perguntando o que tinha acontecido para eu estar tão animado. Eu apenas disse que estava me sentindo bem. Tomamos café juntos e descemos para a garagem para pegar o carro.
- Irmão? - disse ela quando estava dando partida no carro - O que deu em você?
- Como assim? - perguntei, fingindo inocência.
- Algo te mordeu, senhor ocupado? - ela insistiu.
- Não! - sorri, tentando disfarçar.
- O Eric está mudando então, saindo em pleno sábado e ao shopping comigo... algo aconteceu...
- Olha, se você quiser, eu volto - ofereci, percebendo que ela estava desconfiada.
- Não!! - ela gritou, antes que eu pudesse sugerir isso.
Ficamos calados por alguns instantes, absorvendo o peso das palavras que havíamos trocado.
-Falou com o Fred? - ela quebrou o silêncio.
-Não, ele está viajando - respondi, lembrando-me da mensagem que ele havia enviado.
-Mas vai contá-lo?
-Sim, o Fred não pode ficar com uma louca - ambos rimos, aliviando um pouco a tensão do momento.
Fazia um bom tempo desde que a Sthefani se casou que não conversávamos assim, de forma tão aberta e sincera. Percebi que nós dois precisávamos disso, de um escutar o outro, de um irritar o outro; havíamos perdido essa essência de sermos irmãos, de cada um cuidar do outro. Às vezes, ficamos tão absorvidos com nossas responsabilidades e afazeres que esquecemos da coisa mais importante: a família. Foi conversando com minha irmã que percebi que estava distante demais, mas também entendi que ainda tinha tempo para voltar e consertar o que eu tinha perdido.
Chegamos ao shopping, que estava lotado como de costume. Não sou muito fã de lugares assim, mas minha irmã estava tão contente e animada que nem questionei. O ruim de acompanhar mulheres no shopping é que elas não sabem entrar em apenas uma loja, mas em várias. Entramos em umas dez lojas e eu já estava exausto. Minha irmã disse que entraria em apenas mais uma loja e depois iríamos embora. De repente, olhei para o lado e vi uma mulher admirando um vestido preto de cetim em uma vitrine. Me aproximei dela e, quando percebi quem era, fiquei surpreso.
- Lindo vestido, né? - comentei.
- Sim, muito lindo... - respondeu ela, sem olhar para mim.
- Fernanda? - chamei.
Ela virou-se para mim, surpresa.
- Ah, não, você de novo! O que faz aqui? - perguntou, claramente incomodada.
- Não está dando para notar? - brinquei mostrando a sacolas, tentando aliviar a tensão.
Ficamos em silêncio por alguns segundos.
- Que vestido lindo, não é? - comentou Fernanda para si mesma, sem saber que a mulher ao seu lado já estava planejando comprá-lo.
A mulher concordou, revelando seus planos de adquiri-lo para uma ocasião especial. Fernanda elogiou sua escolha, mas logo expressou sua própria admiração pelo vestido.
- Deve ficar incrível em você! - disse Fernanda, sorrindo.
A resposta da mulher, no entanto, foi inesperadamente condescendente.
- Esses vestidos não são para qualquer um. Eles têm um preço bem salgado. - ela pontuou, deixando implícito que Fernanda não estava no mesmo patamar financeiro.
- Eu um dia queria ter um...
- Você? Com um vestido desse preço? Acho que é melhor você se contentar com algo mais simples. - disse a mulher com um sorriso sarcástico.
Fernanda ia falar algo, mas eu intervim e mudei toda a situação.
- Se você quiser, meu amor, eu compro para você. - digo e faço com que Fernanda olhe para mim, a moça também olha totalmente assustada.
- Senhor Coldwell. - a moça disse espantada.
- Sim, sou eu. - eu disse sem tirar meus olhos dos olhos de Fernanda.
- Não sabia que você namorava... - ela olhou Fernanda de baixo para cima.
- Eu não namoro, estou noivo.
Minha irmã, que estava próxima, deu um grito, não sei se era de espanto ou felicidade. Todos olharam para mim confusos, inclusive Fernanda, que sabia que aquilo era uma verdadeira mentira.
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Atualizado até capítulo 47
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