Capítulo 10

Enquanto ponderávamos sobre nossas circunstâncias e as palavras de Fernanda, eu me questionava se ela tinha algum interesse real em mim ou se tudo não passava de um jogo. Minha mente estava turbulenta com esses pensamentos quando fomos interrompidos pela chegada de um homem de terno azul marinho e camiseta rosa. Seu sorriso parecia excessivamente galanteador, e seus olhos estavam fixos em Fernanda, o que não passou despercebido por mim. Ele se aproximou com confiança, como se já nos conhecesse, e eu instintivamente senti uma pontada de desconfiança em relação a ele. Seus modos eram um tanto exagerados, e sua atenção direcionada exclusivamente a Fernanda me deixou um pouco desconfortável.

-Olá, senhor Coldwell. - Cumprimentou, direcionando agora sua atenção para mim. - Sou Carlos Guis, acho que devem me conhecer. - Ele puxou uma cadeira e sentou ao lado de Fernanda.

Guis era um dos sócios do Senhor Garcia e um grande amigo dele.

-Olá, senhor Guis. - Respondi, puxando Fernanda um pouco mais para meu lado.

-E a senhorita? - Ele voltou-se para Fernanda.

-Me chamo Fernanda...

-Sobrenome? - Ele continuou com uma insistência desnecessária.

-Acho que você não precisa saber muito sobre minha futura esposa, senhor Guis. - Deixei escapar um pouco de irritação.

-Você é muito ciumento, senhor Coldwell. - Ele disse com um sorriso sarcástico. - Apenas queria saber.

-Acredito que não há necessidade, afinal, em breve ela terá meu sobrenome. - Respondi sem pensar muito.

-Bem, alguns casamentos não dão certo. - Carlos Guis lançou uma insinuação, deixando um clima de desconforto pairando no ar.

Apesar da provocação de Guis, mantive a compostura, tentando não deixar transparecer o desconforto que suas palavras causaram.

- Deixe-me corrigir o que disse. - Respirei fundo, tentando manter a calma. - Fernanda é uma pessoa incrível e tenho certeza de que nosso relacionamento é forte o suficiente para superar quaisquer desafios.

Fernanda permaneceu em silêncio ao meu lado, seu olhar sério revelando que as palavras de Guis a incomodaram também. Resolvi mudar de assunto, buscando amenizar a tensão.

- Então, senhor Guis, o que o traz até aqui hoje? Alguma novidade nos negócios? - Tentei direcionar a conversa para um terreno mais neutro.

- Vim saber qual motivo de Garcia dizer para todos que você é o empresário favorito dele. - ele disse, dando um sorriso sarcástico.

- Talvez eu tenha talento nos negócios. - respondi, tentando manter a calma.

- Acho que não. Você não caminha sozinho, e ainda, o papai ainda te ajuda...

- O que está querendo dizer? - digo irritado.

- Isso mesmo que você ouviu. Não montou sua empresa sozinho, herdou do papai.

- Eu ia dizer algo, na verdade, queria mesmo esmurrar a cara daquele cara, mas Fernanda agiu rapidamente.

- Amor, que tal a gente ir para a pista de dança? - disse ela, já se levantando.

- Claro, amor. - digo, levantando-me. - Até mais, senhor Guis. - digo, pegando a mão de Fernanda e nos dirigimos para a pista.

Enquanto dançávamos na pista, envolvidos pela melodia suave, senti-me cada vez mais próximo de Fernanda. Seu toque era delicado, e sua presença próxima despertava sensações que eu não esperava. Eu podia sentir o aroma de seu perfume, uma fragrância suave e envolvente que se misturava com o ar da noite. Ao nosso redor, outros casais também se moviam ao ritmo da música, criando uma atmosfera íntima e romântica. Cada passo parecia nos aproximar ainda mais, e apesar de minha mente estar ocupada com os eventos da noite, eu me permiti desfrutar daquele momento com Fernanda.

- Não sabia que queria dançar? - perguntei, fazendo-a olhar para mim.

- Eu não via a hora de você bater no senhor Guis. - ela disse, fixando seu olhar em mim.

- Ele merecia, foi muito inconveniente.

- Ainda bem que agi rápido. - ela disse, dando um sorriso que me fez concentrar em sua boca por alguns segundos.

- O que fazia antes? - perguntei curioso.

- Estou fazendo faculdade de arquitetura, estou concluindo, na verdade. Essa é minha última semana. - Ela respondeu com um leve sorriso, revelando um brilho de orgulho em seus olhos.

- Sério? - Surpreendi-me. - Isso é incrível! Parabéns! E o que pretende fazer depois?

- Pretendo focar em minha carreira, começar a trabalhar em projetos próprios e, quem sabe, até abrir meu próprio escritório. - Ela disse, demonstrando determinação em suas palavras.

Fiquei impressionado com sua ambição e determinação. Era evidente que ela tinha um futuro brilhante pela frente.

- É bom saber, talvez no futuro você possa me ajudar com alguns projetos na empresa.

- Talvez. - ela respondeu, mas percebi um certo desânimo em sua voz.

- Está tudo bem? - perguntei, preocupado com sua repentina mudança de humor.

- Está sim. - ela respondeu rapidamente, mas seus olhos transmitiam uma sensação diferente.

A música parou e nos separamos.

- Senhor Coldweel. - Guis disse no microfone, o que me deu um susto. - É um prazer imenso te receber aqui na nossa festa, aliás, sabendo que você está noivo, o que para nós é algo surpreendente, pois sempre achamos que você era apenas um filhinho de papai. - Todos riram, enquanto eu tentava disfarçar o desconforto.

Enquanto todos riam, senti o peso das palavras de Guis. Ele estava claramente tentando me diminuir na frente de todos os presentes, e eu me senti encurralado. Olhei para Fernanda, que parecia desconfortável com a situação também. Precisávamos sair dali o mais rápido possível.

- Eu só espero que esse casamento saia, Senhor Coldwell, assim você toma juízo. - disse Guis com um tom desdenhoso.

- Agradeço pelas palavras, Senhor Guis. - respondi, tentando manter a compostura, embora por dentro estivesse furioso. - Mas acho que já está ficando tarde. Talvez seja hora de irmos embora.

- Oh, claro, claro! - disse Guis, como se tivesse acabado de lembrar que tínhamos que sair. - Não quero segurar vocês por mais tempo. Tenham uma boa noite!

Com isso, puxei gentilmente o braço de Fernanda e nos encaminhamos para a saída, enquanto os olhares curiosos dos outros convidados nos seguiam. Eu estava quase perto do carro quando deixei minha raiva me dominar, começando a me xingar interiormente. Eu estava com raiva de mim mesmo, com raiva de ouvir aquilo, de dizerem que eu não lutei para chegar em lugar nenhum. Eu me apoiei no carro e acabei dando um soco. Fernanda, que estava ao meu lado, veio e segurou meu rosto, fazendo com que eu olhasse para ela.

- Eu sei que é difícil para você ser humilhado daquela forma, e é isso que eles querem que você faça, fique com raiva. Mas não deixe isso dominar você.

- Me desculpa por isso, eu te coloquei numa situação horrível. - digo.

- Eu até que me diverti, nunca fui em uma festa assim. - Ela respondeu com um leve sorriso.

- Peço desculpas novamente, sei que agora não devo mais te procurar.

- Sim, combinado é combinado.

- Tem alguma coisa que eu possa fazer por você?

- Queria tomar sorvete.

- Sorvete?

- Sim. - Disse ela, afastando-se e entrando no meu carro. - Vamos?

- Ok, vamos. - Concordei, ligando o carro e seguindo para a sorveteria mais próxima

Chegamos à sorveteria mais próxima e escolhemos nossos sabores: ela de morango e eu de chocolate. Sentamos em uma pracinha próxima.

- Esse é o pedido mais inusitado que já me fizeram? - Digo sorrindo.

- Quando estou com raiva, tomo sorvete. - Ela respondeu com um sorriso leve.

- Você estava com raiva? - Indaguei, surpreso.

- Sim, não esperava que o senhor Guis faria isso com você. - Seus olhos refletiam a seriedade da situação.

- Nem eu sabia que ele faria isso. - Suspirei profundamente. - Mas pelo menos isso já passou.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, absorvendo a gravidade do que ela acabara de dizer.

- Este será nosso último encontro. - Ela afirmou com um tom de resignação.

- Eu sei, nós combinamos isso. - Respondi, sentindo um peso no peito.

- E depois? - Ela perguntou, buscando entender o que viria em seguida.

- Ainda não tenho certeza. Acho que vou dizer que era imaturo demais e terminei com você. - Admiti, com um nó na garganta.

- Ser empresário é uma coisa complicada. - Ela comentou, sua voz carregada de compreensão.

Olhei para ela, tentando encontrar as palavras certas para expressar o que estava pensando.

- Às vezes, sinto que estou sempre tentando equilibrar minha vida pessoal com o trabalho, mas acabo falhando em ambos os aspectos. - Confessei, sentindo um peso ainda maior sobre meus ombros.

Fernanda assentiu compreensivamente, parecendo entender a luta interna que eu travava. Era reconfortante ter alguém ali que compreendia as pressões e desafios que eu enfrentava diariamente.

- Acho que todos nós estamos tentando descobrir como navegar nesse mar de responsabilidades e expectativas. - Ela disse, com uma expressão tranquila.

- Essa vida é bem complicada. - ela olha para mim e logo dá uma risada. - O que foi?

Você está todo sujo de chocolate.

- Onde? - digo, passando a mão no meu rosto.

O chocolate estava espalhado em meu rosto. Eu o limpei rapidamente com um guardanapo, mas parecia que apenas piorava a situação, espalhando-o ainda mais. Fernanda continuava a rir, e sua risada era contagiante. Acabei rindo também, percebendo o quão ridícula e ao mesmo tempo divertida era aquela situação.

- Aqui. - ela disse, pegando o guardanapo da minha mão e se aproximando para me ajudar a limpar.

Meu coração estava acelerado, eu nunca tinha me sentido assim. Ela estava tão próxima, nossos olhares se encontravam intensamente, e por um momento, esqueci de tudo ao meu redor. Nos separamos quando o celular havia tocado, interrompendo o momento que parecia ter uma conexão especial entre nós. Era o Senhor Garcia ligando.

Inicialmente, pensei em não atender, mas Fernanda balançou a cabeça, fazendo um sinal afirmativo. Respirei fundo e atendi. O Senhor Garcia expressava sinceras desculpas pelo que Guis havia feito. Ele explicou que não estava presente quando tudo aconteceu, mas ainda assim queria se desculpar comigo. Além disso, ele me convidou para um almoço no dia seguinte para conversarmos pessoalmente sobre o assunto.

Quando me virei para falar com Fernanda, ela já não estava mais lá. Senti uma pontada de preocupação e frustração. Ela tinha desaparecido tão repentinamente quanto havia surgido em minha vida.

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