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Case-se Comigo

Capítulo 1

Olhei para o relógio na parede imponente do meu escritório, com suas engrenagens meticulosamente trabalhadas marcando o tempo. Era apenas 2:15 da tarde, mas minha mente já estava imersa em um mar de tarefas e responsabilidades. As próximas duas reuniões com os acionistas pairavam sobre mim como nuvens escuras de exaustão iminente.

Meu escritório, um espaço que refletia minha dedicação ao trabalho, estava decorado de maneira sóbria e elegante. Prateleiras de madeira escura exibiam troféus e prêmios, testemunhos silenciosos das conquistas alcançadas ao longo dos anos. A luz filtrada pelas cortinas pesadas lançava uma aura tranquila sobre o ambiente, proporcionando um refúgio temporário da agitação do mundo exterior.

Apesar da aparente solidão, havia uma constante presença em minha vida: meu amigo de infância, Fred Hutle. Ele sempre tentava me arrastar para fora do escritório, oferecendo convites para baladas animadas ou partidas de golfe relaxantes no parque. No entanto, eu sempre recusava, mergulhado em minha devoção ao trabalho. Para mim, o escritório era mais do que um local de trabalho; era um santuário onde eu podia me perder nos números e nos relatórios, esquecendo temporariamente os problemas familiares que assombravam minha mente.

Minha residência, um lar que compartilhava com meus pais, era um oásis de tranquilidade em meio ao caos do mundo exterior. As paredes caiadas de branco emanavam uma sensação de paz, contrastando com a agitação constante do meu ambiente de trabalho. Embora eu pudesse facilmente ter meu próprio apartamento, optei por permanecer com meus pais, valorizando a familiaridade e o apoio que encontrava em sua presença reconfortante.

Recentemente, minha irmã Stefany enfrentara um divórcio doloroso, e sua dor era palpável em cada interação. Enquanto eu me afundava cada vez mais no trabalho, Stefany buscava consolo em sua dor, e eu me perguntava se minha ausência estava contribuindo para sua solidão.

Enquanto refletia sobre esses pensamentos, fui interrompido pelo som suave do telefone, trazendo-me de volta à realidade de mais uma tarde no escritório.

A voz de Mary veio através do telefone, rompendo o silêncio da minha sala.

— Sr. Coldwell? — sua voz soou através do fone, transmitindo uma calma reconfortante.

— Pois não? — respondi, levantando o olhar do meu trabalho.

— Os acionistas chegaram. Devo mandá-los entrar? — perguntou ela, sua voz transmitindo a mesma simpatia de sempre, mesmo à distância.

— Sim, por favor — respondi, confirmando minha decisão.

Mary era conhecida por sua meticulosidade impecável. Cada tarefa que ela realizava, fosse ela agendar uma reunião ou organizar documentos importantes, era feita com uma precisão extraordinária. Sua atenção aos detalhes era lendária no escritório, e sua capacidade de manter tudo em ordem era admirada por todos. Os colegas sabiam que podiam confiar em Mary para garantir que cada aspecto do trabalho fosse tratado com cuidado e eficiência.

Enquanto Mary conduzia os acionistas até a sala de reuniões, eu me preparei mentalmente para mais uma sessão com eles. O brilho dos holofotes no teto refletia a seriedade do momento, enquanto eu me via imerso no ambiente formal e solene.

A atmosfera na sala era carregada de expectativa e tensão, enquanto os acionistas ocupavam seus lugares ao redor da mesa. Anotações meticulosamente organizadas estavam dispostas à minha frente, prontas para guiar a discussão. Eu me esforçava para manter uma expressão calma e profissional, apesar da inquietação que sentia por dentro.

O som da caneta de Mary riscando o papel ecoava suavemente na sala, um lembrete constante de sua presença discreta, mas essencial. Seus olhos atentos acompanhavam cada palavra pronunciada, pronta para intervir caso necessário. Sua presença era reconfortante em meio à intensidade da situação.

Apesar de encontrar as reuniões com os acionistas entediantes e cansativas, eu reconhecia sua importância para o sucesso da empresa. Cada palavra dita e decisão tomada tinha um impacto significativo no futuro da organização. E, no final do dia, eu sabia que o esforço valeria a pena, mesmo que o caminho até lá fosse árduo.

Quando finalmente ergui os olhos do relógio, marcando 7:25 da noite, percebi que a noite havia chegado sem que eu percebesse. Decidi encerrar o dia de trabalho e seguir para casa, sabendo que o amanhã traria consigo mais uma carga de responsabilidades.

Ao entrar em casa, fui recebido por um clima tenso que pairava no ar. Ao observar minha mãe, Michelly, de pé na sala, percebi os vincos de preocupação em sua testa. Seus olhos expressavam uma mistura de ansiedade e cuidado maternal, enquanto ela mantinha os braços cruzados em um gesto protetor. Michelly sempre fora o pilar emocional da família, pronta para oferecer apoio e orientação em momentos de incerteza. Por outro lado, meu pai, Augusto, sentado no sofá, emanava uma aura de seriedade e determinação. Seu olhar penetrante revelava uma mente analítica e pragmática, características que o tornavam um líder nato em todos os aspectos de sua vida. Augusto era conhecido por sua integridade inabalável e sua capacidade de tomar decisões difíceis quando necessário, embora sua abordagem muitas vezes contrastasse com a sensibilidade emocional de minha mãe.

- Olá pra vocês?! - eu cumprimento, tentando dissipar a atmosfera carregada com um sorriso forçado.

- Oii meu filho! Estava já preocupada, o que aconteceu? - ela responde, com uma mistura de alívio e preocupação em sua voz.

- Não foi nada, mãe! Você sabe que sempre saio neste horário - eu respondo, tentando tranquilizá-la, embora sinta que algo mais está errado.

- Michelly, deixa o Eric em paz! - interveio meu pai, Augusto, em um tom firme, mas calmo. Parece que ele é o único na casa que não se incomoda tanto com minha dedicação ao trabalho. Essa diferença de opiniões muitas vezes resulta em discussões entre meus pais.

- Ai, Augusto! Nosso filho anda trabalhando demais. Acho que ele deveria tirar umas férias para descansar um pouco. - expressa Michelly, com preocupação evidente em sua voz.

- Mas eu não estou cansado, mãe. Até gosto de ir trabalhar.... - eu rebato, defendendo minha dedicação ao trabalho.

- Viu Michelly, deixa o menino em paz e vamos jantar. - interveio novamente Augusto, tentando amenizar a tensão crescente no ambiente.

- E a Stefany, mamãe? - pergunto, mudando o foco da conversa para minha irmã.

- Ela não vem, meu filho. Disse que estava sem fome... - responde Michelly, desviando o olhar por um momento.

O jantar transcorreu em um silêncio constrangedor. Enquanto minha mãe e meu pai trocavam algumas palavras sobre o desempenho da empresa, eu podia sentir a preocupação latente no ar, especialmente vinda da minha mãe. Seus olhos não conseguiam disfarçar a ansiedade que sentia em relação a Stefany, e o fato de minha irmã não ter aparecido para jantar só aumentou sua inquietação. Após o jantar, retirei-me para o meu quarto, buscando um momento de paz para mim mesmo. Tomei um banho relaxante e, em seguida, decidi ouvir música clássica. Beethoven sempre foi meu refúgio, suas composições profundas e emotivas me faziam refletir sobre os diversos aspectos da minha vida.

Enquanto as notas suaves ecoavam pelo quarto, permiti-me mergulhar em meus próprios pensamentos. Apesar de minha dedicação ao trabalho, sabia que havia mais na vida do que apenas minha carreira. No entanto, a ideia de diminuir minhas horas de trabalho para me envolver emocionalmente com alguém sempre me assombrava. Eu estava no auge da minha carreira, e compromissos românticos pareciam ser um fardo que eu não estava disposto a carregar no momento. O tempo passou sem que eu percebesse, e quando finalmente me dei conta, era 3:45 da madrugada. Desliguei o som suavemente e decidi tomar um copo de água antes de voltar para a cama. Ao chegar à cozinha, deparei-me com minha irmã, Stefany, que estava lá, sozinha, em meio à escuridão da noite.

- Oi, ocupado...

- Oi!

- Sua vida agora é só trabalho, né? Nunca tem tempo para a irmã e nem para a família!

- Affs! Tá, não enche...

- Mas é a pura verdade, Eric. Desde que eu vim morar aqui, você nem me dá um ombro amigo. E ainda diz que é meu irmão, o trabalho está te obcecando...

- Chega! - Gritei, sentindo a frustração transbordar. - Já não basta a mamãe e o papai, agora você. Eu trabalho sim e gosto disso, e não vai mudar minha opinião...

Ela me encarava com uma expressão de choro, e percebi que estava magoando-a mais do que imaginava. Era verdade, desde que ela chegou, minha atenção estava quase exclusivamente voltada para o trabalho. Ela tinha razão em se sentir negligenciada, e eu não tinha desculpas para isso.

- Boa Noite, Eric! - Ela disse com a voz embargada, saindo do cômodo sem olhar para trás.

Senti um aperto no peito ao vê-la partir, mas não tive coragem de correr atrás dela naquele momento. Fui para o meu quarto, deixando-me envolver pelo cansaço que me atingia. Amanhã seria outro dia cheio de compromissos, mas eu sabia que teria que enfrentar as consequências das minhas prioridades mal direcionadas.

Capítulo 2

Depois daquela noite conturbada, tudo o que eu desejava era um pouco de paz. Ao chegar na empresa na manhã seguinte, pedi à minha secretária que não deixasse ninguém me interromper. Precisava de um momento para colocar meus pensamentos em ordem e focar no trabalho que tinha pela frente.

Ao longo do dia, mergulhei em uma pilha de papéis para assinar, ocupando minha mente com as tarefas do escritório e deixando de lado as reflexões sobre os acontecimentos do dia anterior. A monotonia dos documentos burocráticos era um refúgio bem-vindo, permitindo-me escapar momentaneamente das preocupações familiares e das tensões emocionais.

No entanto, como dizem, tudo que é bom dura pouco. Assim que eu comecei a me sentir imerso na rotina do escritório, meu amigo Fred, sempre tão cheio de energia e entusiasmo, irrompeu no meu escritório sem cerimônia. Seu sorriso cativante e sua personalidade extrovertida eram como um furacão que abalava a calmaria que eu havia construído.

- Oi, Mickey!! - Fred exclamou com uma risada contagiante.

Ele me chamava assim por causa de um antigo apelido que minha ex costumava usar. Desde então, Fred adotou o hábito de me chamar dessa forma, uma lembrança constante de um período da minha vida que preferia deixar para trás. Apesar de suas intenções serem amigáveis, esse apelido trazia à tona lembranças dolorosas, e eu não conseguia evitar um leve desconforto toda vez que o ouvia.Fred, com seus cabelos negros, destacava-se em qualquer ambiente. Sua estatura de um metro e setenta e três o tornava imponente, enquanto sua força física evidente inspirava respeito. Sempre vestindo uma camisa social, com as mangas habilmente arregaçadas até os cotovelos, ele combinava uma aparência elegante com um toque casual. Sua escolha de calça jeans completava o visual, adicionando uma vibe descontraída à sua presença confiante.

- Fred, estou ocupado!

- Está bem, senhor Ocupado. Parece que não tem mais tempo para os amigos!- ele respondeu com um tom de brincadeira.

- Aqui vamos nós de novo com esse papo...

- Fred, estou ocupado!

- Está bem, senhor Ocupado. Parece que não tem mais tempo para os amigos! - ele respondeu com um tom de brincadeira.

- Aqui vamos nós de novo com esse papo...

- Mas eu só mencionei isso agora... - ele rebateu, lançando-me um olhar divertido.

- Não, não é por isso, Fred. É que ontem eu briguei com meus pais... Esquece. - murmurei, tentando evitar entrar em detalhes.

- Fala, cara? - ele insistiu, sua expressão mostrando preocupação genuína.

- Não...

- Então fica aí, ignorante! - ele brincou, mas havia uma ternura em seu tom de voz que me fez sorrir apesar da minha relutância em compartilhar.

Nós dois éramos como duas crianças, Fred e eu. Ele era meu melhor amigo desde a infância, e eu sempre podia contar com ele para tudo, mesmo quando talvez não devesse. Lembrei-me do tempo em que fui o "vela" no primeiro encontro dele com uma garota, e também quando ele quebrou a perna e eu o ajudei a superar os desafios que isso trouxe. Fred e eu sempre estivemos juntos, enfrentando os altos e baixos da vida lado a lado.Mas eu só mencionei isso agora...", ele rebateu, lançando-me um olhar divertido.

- Então, fala logo o que você quer. - eu disse, interrompendo sua tentativa de me convencer.

- Quero que você me ajude. - Fred respondeu, sua expressão séria indicando que ele estava falando sério.

- Com o que? - perguntei, curioso para saber qual era o pedido dessa vez.

- Quero que você vá em uma festa comigo! - ele anunciou, seu rosto iluminando-se com a animação.

- Me desculpe, mas não irei. - respondi firmemente, já antecipando a confusão que isso poderia causar.

- Se vai sim. - ele insistiu, com determinação evidente em sua voz.

- Não, eu não vou. - rebati, resistindo à ideia de me envolver em uma situação que claramente não me interessava.

- Vai, Eric, me ajuda?! Vou ver uma garota lá... - ele tentou apelar para minha simpatia, sabendo que eu tinha dificuldade em dizer não quando se tratava de ajudá-lo em assuntos amorosos.

- Está bem, eu irei - cedi finalmente, cedendo à sua insistência.

- Está bem! Vou passar na sua casa amanhã, ok? - ele disse, satisfeito por finalmente ter me convencido.

- Ok! - concordei, resignado, enquanto ele saía empolgado com seus planos.

Assim, mais uma vez, me vi envolvido em uma situação desconfortável por causa de Fred. Mas, como sempre, eu estava disposto a ajudá-lo, mesmo que isso significasse sair da minha zona de conforto. O tão esperado dia da festa se aproximava, e Fred não parava de me enviar mensagens, demonstrando sua empolgação contagiante. Estava marcado para as 8:00 da noite, e quando olhei no relógio eram apenas 7:15. O sol ainda lançava seus últimos raios sobre a cidade, tingindo o céu de tons alaranjados enquanto as ruas começavam a se encher com a agitação típica do início da noite.

Fred chegou pontualmente, como sempre, e começou a tagarelar sobre estarmos atrasados, mesmo que ainda tivéssemos quase uma hora antes do horário combinado. Às vezes, sua ansiedade excessiva conseguia me tirar do sério, mas eu sabia que fazia parte de quem ele era. Chegamos ao local marcado, um dos melhores bares da região, conhecido por sua atmosfera animada e sua seleção variada de bebidas. A música pulsante podia ser ouvida desde a entrada, convidando os frequentadores a se entregarem à diversão da noite.

Fred estava com sua típica camisa social, as mangas arregaçadas até os cotovelos, e sua postura descontraída contrastava com a agitação de sua mente inquieta. Seus cabelos negros estavam penteados para trás, e seus olhos brilhavam com excitação enquanto observava o ambiente ao nosso redor. Eu, por outro lado, optei por uma camisa casual e uma calça jeans, mantendo-me confortável para a ocasião. Minha expressão era mais reservada do que a de Fred, refletindo minha relutância em participar daquela festa, mas também uma certa resignação diante das circunstâncias.

- Mickey, hoje nem eu nem você saímos solteiros... - Fred deu um tapa no meu ombro, soltando uma risada estrondosa.

- Pare de me chamar assim... E cara, já conversamos sobre isso, eu não quero ninguém, ok? - respondi, um pouco irritado com sua insistência.

- Pare de graça, Mickey...

- Pare de me chamar assim! - Irritado, levantei-me. "Sabe de uma coisa? Eu vou embora."

Ele me olhou com a cara fechada e não disse mais nada, apenas resmungou:

- Deixa pra lá, mano!

Decidi ficar, apesar do incômodo da situação. Ficamos em silêncio por um tempo, até que a mulher chegou. Alta, com longos cabelos pretos e usando um vestido vermelho colado, ela era impressionante. Fred ficou todo animado e foi até ela, abraçando-a e dando um beijo em sua bochecha antes de vir em minha direção.

- Eric, quero te apresentar Melissa. Melissa, este é Eric, meu amigão.

Cumprimentamo-nos e ela me deu uma piscadela, deixando-me sem saber se era um tique nervoso ou se ela estava flertando comigo. Sentamo-nos, e Fred começou a falar sobre ela, dizendo que ela morou nos Estados Unidos e que havia se mudado para cá recentemente.

Ele perguntou a ela se queria algo para beber, e ela aceitou. Quando ele saiu para buscar as bebidas, Melissa puxou papo comigo.

- Seu amigo é muito lindo, não é? - ela comentou.

- Sim! - concordei, embora para mim sua beleza não fosse tão impressionante assim.

- Mas não tão lindo quanto você, gato!

Engoli em seco, surpreso com a situação. Aquilo era a última coisa que eu esperava: a mulher do meu melhor amigo estava dando em cima de mim. Enquanto tentava processar o que estava acontecendo, ela continuou com suas investidas.

- Então, gato, tenho alguma chance com você?

Naquele momento, tudo o que eu queria era pedir que o tempo parasse para que eu pudesse reunir meus pensamentos. A mulher do meu melhor amigo estava claramente flertando comigo, e eu me sentia desconfortável e confuso diante da situação.

Antes que ela pudesse continuar, Fred voltou com as bebidas. Eu me levantei abruptamente e disse a ele que não estava me sentindo muito bem e que precisava ir embora. Ele não insistiu e ficou com a moça, enquanto eu me afastava rapidamente, desejando estar em qualquer lugar, menos ali.

Caminhei pelo estacionamento, lamentando ter aceitado essa ideia absurda do Fred. Não deveria ter vindo. Talvez, se eu tivesse recusado, estaria em casa agora, desfrutando da tranquilidade e da música de Beethoven. Mas, em vez disso, me vi preso em uma situação desconfortável e embaraçosa, tudo por causa de uma decisão impulsiva e mal pensada.

O impacto foi repentino e assustador. Não tinha percebido que o sinal havia fechado e, distraído, atravessara a faixa de pedestres. Para meu azar, uma mulher passou na frente do carro no exato momento em que avancei, e o inevitável aconteceu: eu a atingi.

Capítulo 3

O impacto foi como um soco no estômago, um turbilhão de adrenalina misturado com puro terror. Quando finalmente recobrei um pouco de consciência do que havia acontecido, desci do carro num instinto automático, minhas pernas tremendo com cada passo. A mulher estava lá, estendida no chão, imóvel. Meu coração batia tão forte que parecia prestes a explodir do meu peito. Corri até ela, um misto de pânico e desespero me consumindo. Com mãos trêmulas, ajoelhei-me ao lado dela, observando-a de perto. Ela não se movia, não emitia som algum. Um arrepio percorreu minha espinha quando percebi a gravidade da situação.

Sem pensar, ergui-a cuidadosamente em meus braços, sentindo o peso de sua inconsciência. Aproximei-a de mim, como se pudesse, de alguma forma, transmitir-lhe minha própria vida. "Por favor, acorde", sussurrei, mas não houve resposta. Ela permanecia imóvel, frágil em meus braços.

Foi então que peguei meu celular, minhas mãos tremendo tanto que mal conseguia discar o número de emergência.

- Alô, por favor, mandem uma ambulância imediatamente. Há um acidente, uma mulher foi atingida por um carro...- consegui pronunciar com dificuldade, a voz embargada pelo medo.

Não demorou muito para que as sirenes soassem ao longe, anunciando a chegada dos paramédicos. Eles se aproximaram rapidamente, profissionais em ação, enquanto eu permanecia ali, congelado pelo choque do que havia feito. O mundo ao meu redor parecia em câmera lenta, e eu me sentia afogado em culpa e desespero.

Eis que um dos enfermeiros chama um dos policiais, apontando em minha direção com expressão grave, enquanto murmurava algo em seu ouvido. Percebi que a conversa era sobre mim, e meu estômago se revirou com a expectativa do que viria a seguir. O policial se aproximou com passos firmes, sua postura autoritária indicava que não estava ali para amenizar a situação. Seus olhos escrutinadores fixaram-se em mim, como se procurassem por respostas em minha expressão assombrada. Engoli em seco, pronto para enfrentar as consequências do meu descuido.

- Você pode nos explicar o que aconteceu aqui? - perguntou ele, sua voz séria ecoando no ar tenso ao nosso redor. Eu me esforcei para manter a compostura, reunindo minhas palavras em meio ao caos que se desenrolava diante de mim.

Engoli em seco, sentindo-me como se estivesse em julgamento diante do olhar inquisitivo do policial. Limpei a garganta, tentando reunir minhas ideias em meio ao turbilhão de pensamentos que assaltavam minha mente.

- Eu... Eu estava dirigindo e... Eu não vi o sinal fechar... Engoli em seco, sentindo-me como se estivesse em julgamento diante do olhar inquisitivo do policial. Limpei a garganta, tentando reunir minhas ideias em meio ao turbilhão de pensamentos que assaltavam minha mente.

O policial observou-me atentamente, sem demonstrar qualquer sinal de compaixão.

- Você estava distraído? - perguntou ele, sua voz dura como aço.

Balancei a cabeça em concordância, sentindo o peso do arrependimento pesar sobre meus ombros.

- Sim, eu estava... Eu sinto muito... - murmurei, as palavras escapando de meus lábios em um sussurro angustiado.

O policial assentiu, parecendo avaliar minhas palavras com cautela.

- Precisaremos de seu depoimento formal na delegacia. Por favor, acompanhe-me. - ordenou ele, indicando com um gesto firme em direção à viatura policial estacionada nas proximidades.

- Pelo menos eu posso ir com ela para ver se ela está bem? - perguntei, tentando manter minha voz firme, apesar da crescente ansiedade.

O policial me encarou por um momento, parecendo avaliar minhas palavras com uma expressão de desconfiança. Seu sorriso malicioso sugeriu que ele estava se divertindo com minha aflição.

- Está com medo de ela lhe denunciar, rapaz? - ele respondeu, sua voz carregada de sarcasmo.

Respirei fundo, controlando minha frustração diante da insinuação.

- Não se trata disso! - respondi rapidamente, querendo dissipar qualquer dúvida sobre minhas intenções. - Só quero garantir que ela esteja bem.

O policial não disse mais nada, mas seu olhar perscrutador parecia penetrar até minha alma. Ele se virou para seu parceiro, com quem trocou algumas palavras em um murmúrio confidencial, antes de voltar sua atenção para mim. Sua decisão era clara.

Enquanto nos dirigíamos para o hospital, uma sensação de culpa e preocupação pesava em meu peito. Eu precisava ter certeza de que ela estava bem, de que não havia sofrido ferimentos graves por minha causa. No entanto, uma pergunta persistia em minha mente, uma sombra de dúvida sobre o que viria a seguir.

Chegando ao hospital, fui abordado por um funcionário que me perguntou sobre minha relação com a mulher acidentada. A preocupação imediata de evitar problemas legais me levou a tomar uma decisão rápida.

- Eu sou o noivo dela... - menti para a enfermeira, sabendo que era uma mentira deslavada, mas naquele momento eu estava disposto a fazer qualquer coisa para evitar complicações com a polícia.

A enfermeira, sem levantar suspeitas, acenou com a cabeça e me levou até a sala onde ela estava sendo atendida. Com mãos trêmulas, assinei os documentos apresentados, tentando imitar a caligrafia de um noivo preocupado.

Logo depois, fui conduzido até ela. Estava deitada na maca, sua expressão evidenciando o desconforto e a confusão após o acidente. Enquanto me aproximava, uma onda de culpa e preocupação me atingiu com força. Mesmo que minhas intenções fossem inicialmente egoístas, ver o estado em que ela se encontrava despertou em mim um desejo genuíno de garantir que estivesse bem.

Quando o médico mencionou que seu "noivo" havia chegado, ela retrucou imediatamente, negando a existência de qualquer relacionamento. Seu olhar confuso e suas palavras cortantes deixaram claro que ela não reconhecia a mim como seu noivo. Num impulso, eu tive que dizer algo para remediar a situação e evitar suspeitas ainda maiores. Com um sorriso forçado nos lábios e um tom de confiança fingida, me dirigi a ela:

- Oi meu amor!! - falei, tentando manter a farsa. - Pode deixar doutor que eu irei cuidar dela...

O médico, aparentemente satisfeito com minha presença, concordou e se retirou da sala, deixando-nos sozinhos.

A tensão no ar era quase palpável enquanto ela me encarava com uma mistura de raiva e desconfiança. As palavras que ela soltou eram um golpe direto, me lembrando da gravidade do que aconteceu.

- Sou Eric Coldweel, o cara que te atropelou..- eu respondi, tentando manter a calma diante de sua fúria.

- A seu cretino!! Filho da mãe!! - ela berrava, sua voz ecoando pelas paredes da sala de emergência. - Você podia ter me matado sabia?!

- Desculpe, eu estava distraído... - minhas palavras saíram como um sussurro, quase engolidas por sua explosão de raiva.

- Sua sorte é que estou com muita dor para sair desta cama, senão iria voar na sua cara!! - ela continuava, sua voz carregada de fúria e dor.

Tentei manter a compostura diante de suas acusações, focando na preocupação genuína que começava a surgir em mim.

- Onde está sentindo dor? - perguntei, me aproximando lentamente, tentando não parecer uma ameaça.

- Em lugar nenhum! - ela retrucou, sua resposta áspera e cheia de desconfiança.

- T...tem certeza? - minha voz saiu um pouco trêmula, refletindo minha própria incerteza sobre como lidar com essa situação delicada.

Meu corpo congelou quando ela gemeu sob o toque das minhas mãos, indicando a sensibilidade em suas pernas. Uma onda de pânico me atingiu enquanto eu imaginava o pior cenário se desdobrando diante de mim. Minhas mãos começaram a tremer, gotas de suor se formaram em minha testa, e senti como se o chão tivesse sumido sob meus pés. Desmoronei, me afastando dela e me sentando com uma mistura de choque e culpa.

- Ei? - ela chamou, sua voz quebrando o silêncio tenso entre nós. Eu olhei para ela, sem saber o que esperar. - Não precisa ficar com medo, eu sinto as minhas pernas.. - seu tom era calmo e reconfortante, e um pequeno sorriso se formou em seus lábios.

- Me... desculpe, sério... eu não queria... e por que... - tentei articular, mas minhas palavras foram cortadas quando o médico entrou na sala e se aproximou de mim. Ele olhou para mim com uma expressão séria, esperando uma explicação.

- Devemos fazer mais alguns exames. - disse ele, olhando para sua prancheta. - Você deve passar a noite aqui.

- Eu tenho que ir embora. - ela disse, tentando se levantar.

A paciente tentou se erguer, mas imediatamente gemeu de dor e recuou para o travesseiro, uma expressão de desconforto estampada em seu rosto.

- Eu tenho que ir embora. - Ela insistiu, apesar da óbvia dificuldade em se mover.

O médico a olhou com compreensão, mas também com firmeza.

- Eu entendo, mas no seu estado, é melhor você ficar sob observação esta noite. Precisamos ter certeza de que não há lesões internas ou complicações.

Ela suspirou, claramente frustrada, mas finalmente assentiu resignada.

- Tudo bem, eu fico.

O médico assentiu satisfeito e saiu da sala, deixando-nos a sós. Um silêncio pesado pairou entre nós enquanto eu lutava para encontrar as palavras certas para dizer.

- Eu sinto muito.- Murmurei finalmente, minha voz soando fraca no ambiente silencioso.

Ela virou o rosto para mim, seus olhos refletindo uma mistura de emoções. - Você devia.- Foi tudo o que ela disse antes de desviar o olhar.

Queria dizer mais, pedir perdão ou explicar, mas as palavras pareciam presas na minha garganta. Em vez disso, apenas me sentei ao lado dela em silêncio, consumido pela culpa e pelo remorso.

A noite foi longa e silenciosa. Apesar dos seus esforços para me retirar e dar-lhe espaço, ela continuava a insistir para que eu fosse embora. Seus olhos, entretanto, denotavam uma mistura de desconfiança e vulnerabilidade, como se estivesse lutando contra uma enxurrada de emoções contraditórias. A enfermeira, uma figura gentil e prestativa, fez sua ronda noturna, verificando os sinais vitais dela e trocando as medicações. Enquanto isso, eu permanecia ali, sentado em um canto do quarto, observando a respiração dela, às vezes tranquila, às vezes irregular.

No entanto, pela manhã, fui despertado pela chegada da enfermeira, que estava realizando uma avaliação matinal. Ela me lançou um olhar simpático, reconhecendo a presença constante de um rosto conhecido naquele quarto.

- Desculpe acordá-lo.- Ela murmurou gentilmente, movendo-se suavemente pelo espaço.

Levantei-me com um aceno, permitindo-lhe realizar seu trabalho sem interrupções. Enquanto ela examinava a paciente, meu olhar se fixou nela, observando atentamente cada movimento, desejando ardentemente que ela se recuperasse completamente.

- Bem senhora, acredito que daqui alguns dias você vai ser liberada. - disse a enfermeira.

- Daqui alguns dias? - disse ela, com uma expressão preocupada.

- Sim, até essas cicatrizes se curarem.

- Eu preciso ir, não posso ficar. - disse ela, tentando se levantar da cama. Vestia a roupa do hospital, que mal cobria seu corpo. Sua presença era cativante e involuntariamente me vi encarando-a. Ela percebeu meu olhar e rapidamente se cobriu, corando levemente.

- Senhora, por favor, você precisa se deitar de novo. - insistiu a enfermeira, preocupada com seu bem-estar.

- Eu estou bem, preciso ir embora. Se algo acontecer, vou procurar o hospital. - afirmou, enquanto amarrava o cabelo loiro em um rabo de cavalo com uma liguinha.

Assinei os papéis enquanto ela foi trocar de roupa para irmos embora. Quando saímos do hospital, ela estava procurando um táxi para ir embora e eu me ofereci para levá-la.

- Eu te levo! - sugeri.

- Pra ter outra oportunidade de me matar, não obrigada... - ela respondeu com sarcasmo.

- Não, senhorita...- comecei a dizer.

- Para de me chamar de senhorita, eu tenho nome, sabia?

- Sei, é que eu não sei seu nome...- admiti.

- Você se passou pelo meu noivo e não sabe meu nome? - ela disse, com uma mistura de surpresa e ironia.

- Eu estava tão nervoso que acabei não lendo... - expliquei, observando um táxi parar para ela. - Pode me dizer seu nome pelo menos?

- Fernanda Gar. - ela respondeu, entrando no táxi. - Até mais, senhor Coldwell. Espero não te ver nunca mais.

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