Capítulo 16

À medida que a noite avançava, Fernanda se dedicava a ajudar Marcia na preparação do jantar, enquanto eu e o Senhor Garcia discutíamos negócios. Embora nossa conversa estivesse fluindo bem, minha mente continuava voltada para Fernanda e para a proposta dos seis meses. Seria benéfico para nós dois encerrar essa farsa? Se ela passasse seis meses fora, talvez fosse mais fácil para nós dois terminarmos esse noivado falso e seguirmos em frente.

Quando a mesa estava posta e Marcia nos chamou para jantar, sentamos para apreciar a deliciosa refeição. Estranhamente, Garcia não mencionou nada sobre a proposta durante o jantar, o que me deixou um pouco intrigado. Talvez ele estivesse nos dando espaço para pensar, ou talvez estivesse apenas observando nossa reação. Enquanto nos acomodávamos no sofá após a refeição, Marcia se aproximou de nós com uma expressão gentil no rosto, provavelmente pronta para iniciar uma conversa ou oferecer mais uma dose de hospitalidade.

- Eric, Fernanda. - Marcia disse, sentando ao lado de Garcia. - O quarto de vocês está pronto. - Ela parecia animada com a ideia.

- O quarto? - Fernanda perguntou, um pouco surpresa.

- Sim, vocês dois vão dormir juntos, não é? - Garcia agora perguntava, fazendo com que eu e Fernanda nos olhássemos.

- Eu achei que dormiríamos em quartos separados. - Fernanda disse, visivelmente envergonhada.

- Ué, vocês são um casal bem moderno, hoje em dia os casais dormem juntos. - Garcia riu.

- Não tem problema, Senhor Garcia. - Intercedi rapidamente, sentindo-me obrigado a responder. - A gente não tem medo de dividir o mesmo quarto. - Essa afirmação pareceu surpreender Fernanda, que me encarou, claramente perplexa com minha decisão.

Fernanda e eu nos levantamos do sofá, seguindo Marcia até o quarto que ela havia preparado para nós. Enquanto caminhávamos pelo corredor, percebi a tensão no ar. Fernanda parecia desconfortável com a situação, e eu também estava um pouco nervoso, mas tentei manter a compostura. Quando chegamos ao quarto, Marcia abriu a porta e acendeu a luz, revelando um ambiente aconchegante e bem decorado. Havia uma cama de casal no centro, com lençóis limpos e macios, e ao redor, móveis de madeira elegantes complementavam a decoração.

- Espero que gostem do quarto. Fiz questão de prepará-lo com carinho para vocês. - Marcia sorriu gentilmente.

- Está ótimo, obrigado. - Agradeci, tentando disfarçar meu desconforto.

Fernanda apenas assentiu, parecendo ainda mais nervosa do que antes. Marcia nos deixou sozinhos e fechou a porta atrás de si, deixando-nos finalmente a sós no quarto.

-Eric... - Fernanda começou, visivelmente hesitante.

- Eu sei, Fernanda. Eu também não estava esperando por isso. Mas é só por uma noite, certo? - Tentei tranquilizá-la, embora minha própria voz denunciasse minha ansiedade.

Fernanda assentiu lentamente, parecendo resignada com a situação. Nosso relacionamento falso tinha nos colocado em diversas situações desconfortáveis, mas essa certamente era uma das mais inesperadas. Nos aproximamos da cama e nos sentamos lado a lado, sem saber muito bem o que dizer um ao outro. O silêncio pairava no ar, pesado e carregado de tensão, enquanto ambos processávamos o que estava acontecendo.

- Se você quiser, eu posso dormir no chão. - Eu disse sem pensar duas vezes.

- Por mais que eu quisesse isso, não seria nada agradável. Aliás, eu tenho certeza de que você nunca dormiu no chão.

- Já dormi sim, não sou tão engomadinho quanto você pensa.

- Mas essa casa é um pouco fria, é melhor não. - Ela refletiu por alguns segundos. - Olha, tem alguns travesseiros a mais, podemos fazer uma barreira na cama em cada lado, o que acha?

- Acho uma ótima ideia.

Desarrumamos a cama e pegamos os travesseiros, criando uma linha divisória; ela ficaria com o lado esquerdo e eu com o direito.

- Vejo que ela trouxe até nossas malas. - Ela disse, olhando para as bagagens.

- Verdade, e esse quarto não é suíte. - Comento, observando ao redor do quarto.

- Eu sei, preciso trocar de roupa... - Sua voz saiu falha.

- Você pode trocar, prometo não olhar. - Ofereço.

- Promete?

- Prometo, aliás, você não faz o meu tipo. - Eu queria convencer a mim mesmo de que ela não fazia meu tipo.

Eu me virei de costas para a parede, tentando ignorar a respiração um pouco ofegante de Fernanda. Admito que uma parte de mim queria dar uma espiada, mas eu estava determinado a não tornar a situação mais constrangedora do que já estava. Enquanto escutava o leve barulho dos movimentos dela, percebi minhas mãos começarem a suar e meu corpo todo estremecer. Era uma sensação estranha e desconhecida para mim. Apesar de ter saído com várias mulheres antes, nunca me senti tão nervoso como agora. Fechei os olhos, prendendo a respiração por um momento, tentando acalmar meus nervos e controlar minhas emoções. A situação parecia intensificar cada vez mais minha consciência sobre sua presença, tornando-me ainda mais consciente de cada pequeno detalhe ao meu redor. Eu não conseguia evitar a sensação de que algo estava mudando entre nós, algo que eu não conseguia identificar totalmente.

Finalmente, depois de alguns momentos de tensão silenciosa, ouvi o som de sua voz novamente.

- Pronto... - ela disse, quebrando o silêncio. Senti um alívio momentâneo ao ouvir sua voz, mas ao mesmo tempo uma sensação de desconforto persistia.

- Eu acho que vou dormir assim mesmo. - Tirei os sapatos rapidamente, ainda vestindo camisa social, calça e cinto, e me deitei na cama. - Você pode apagar a luz, por favor? - Estava estranho, e sabia que ela podia notar isso. Ela desligou a luz e deitou-se na cama. Seu perfume invadiu minhas narinas e fiquei enfeitiçado por ele. Meu instinto masculino gritava para eu remover aqueles travesseiros e beijá-la, mas minha verdade interior dizia que não era isso que eu queria. Afinal, o que estávamos vivendo era uma pura mentira. Enquanto tentava acalmar meus pensamentos, ela falou.

- Coldwell, você também não faz meu tipo. - Sua voz soou áspera e rude, e senti um nó na garganta.

- Eu sei... - Sussurrei para mim mesmo.

- Sabe? - Ela perguntou do outro lado do travesseiro.

- Sim, eu vi o rapaz que estava com você na rua. Parecia que estavam bem à vontade.

- Aquele rapaz era meu irmão mais novo, Coldwell. Não queria te contar, pois queria que me deixasse em paz.

- Seu irmão? - Fiquei boquiaberto. - Ah, ótimo. Agora tenho certeza de que não estava sendo traído.

- Bem, você é um ator péssimo, Coldwell. - Ela riu. - Pelo menos agora sabe que meu "namorado" não é uma ameaça.

- Namorado? - Eu ri, aliviado. - Achei que fosse algo mais sério.

- Não, só meu irmão caçula. Mas é engraçado ver o quão ciumento você ficou.

- Ciumento? Eu? - Dei uma risada nervosa. - Não sei do que está falando.

- Claro que sabe. Parecia que ia explodir quando me viu com meu irmão.

- Bom, talvez tenha sido um pouco surpreendente. - Admiti, tentando manter o clima leve.

- Um pouco? Você quase teve um ataque cardíaco. - Ela provocou.

- Não exagere, Fernanda. Foi apenas uma reação inesperada.

- Eu diria que foi muito esperada, considerando que você age como se fosse meu noivo. - Ela sorriu maliciosamente.

- Sabe, você é bem divertida quando não está me chamando de noivo. - Devolvi o sorriso.

- Eu prefiro chamar você de meu noivo do que meu amor. - ela disse em cima do travesseiro e virei para olhar melhor.

- Você não gosta? - perguntei provocando.

- Não quando você fala. - ela provocou mais ainda. - Eu sei que é mentira, e essa palavra é muito forte.

Por um momento, meu coração gelou.

- Acho melhor você ir dormir. - disse, tentando disfarçar o desconforto.

- Ok. - Ela deitou novamente. - Boa noite, noivo.

Não respondi, apenas senti quando ela se virou na cama. O peso de suas palavras pairou no ar, deixando-me tenso e pensativo.

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