Capítulo 2

Depois daquela noite conturbada, tudo o que eu desejava era um pouco de paz. Ao chegar na empresa na manhã seguinte, pedi à minha secretária que não deixasse ninguém me interromper. Precisava de um momento para colocar meus pensamentos em ordem e focar no trabalho que tinha pela frente.

Ao longo do dia, mergulhei em uma pilha de papéis para assinar, ocupando minha mente com as tarefas do escritório e deixando de lado as reflexões sobre os acontecimentos do dia anterior. A monotonia dos documentos burocráticos era um refúgio bem-vindo, permitindo-me escapar momentaneamente das preocupações familiares e das tensões emocionais.

No entanto, como dizem, tudo que é bom dura pouco. Assim que eu comecei a me sentir imerso na rotina do escritório, meu amigo Fred, sempre tão cheio de energia e entusiasmo, irrompeu no meu escritório sem cerimônia. Seu sorriso cativante e sua personalidade extrovertida eram como um furacão que abalava a calmaria que eu havia construído.

- Oi, Mickey!! - Fred exclamou com uma risada contagiante.

Ele me chamava assim por causa de um antigo apelido que minha ex costumava usar. Desde então, Fred adotou o hábito de me chamar dessa forma, uma lembrança constante de um período da minha vida que preferia deixar para trás. Apesar de suas intenções serem amigáveis, esse apelido trazia à tona lembranças dolorosas, e eu não conseguia evitar um leve desconforto toda vez que o ouvia.Fred, com seus cabelos negros, destacava-se em qualquer ambiente. Sua estatura de um metro e setenta e três o tornava imponente, enquanto sua força física evidente inspirava respeito. Sempre vestindo uma camisa social, com as mangas habilmente arregaçadas até os cotovelos, ele combinava uma aparência elegante com um toque casual. Sua escolha de calça jeans completava o visual, adicionando uma vibe descontraída à sua presença confiante.

- Fred, estou ocupado!

- Está bem, senhor Ocupado. Parece que não tem mais tempo para os amigos!- ele respondeu com um tom de brincadeira.

- Aqui vamos nós de novo com esse papo...

- Fred, estou ocupado!

- Está bem, senhor Ocupado. Parece que não tem mais tempo para os amigos! - ele respondeu com um tom de brincadeira.

- Aqui vamos nós de novo com esse papo...

- Mas eu só mencionei isso agora... - ele rebateu, lançando-me um olhar divertido.

- Não, não é por isso, Fred. É que ontem eu briguei com meus pais... Esquece. - murmurei, tentando evitar entrar em detalhes.

- Fala, cara? - ele insistiu, sua expressão mostrando preocupação genuína.

- Não...

- Então fica aí, ignorante! - ele brincou, mas havia uma ternura em seu tom de voz que me fez sorrir apesar da minha relutância em compartilhar.

Nós dois éramos como duas crianças, Fred e eu. Ele era meu melhor amigo desde a infância, e eu sempre podia contar com ele para tudo, mesmo quando talvez não devesse. Lembrei-me do tempo em que fui o "vela" no primeiro encontro dele com uma garota, e também quando ele quebrou a perna e eu o ajudei a superar os desafios que isso trouxe. Fred e eu sempre estivemos juntos, enfrentando os altos e baixos da vida lado a lado.Mas eu só mencionei isso agora...", ele rebateu, lançando-me um olhar divertido.

- Então, fala logo o que você quer. - eu disse, interrompendo sua tentativa de me convencer.

- Quero que você me ajude. - Fred respondeu, sua expressão séria indicando que ele estava falando sério.

- Com o que? - perguntei, curioso para saber qual era o pedido dessa vez.

- Quero que você vá em uma festa comigo! - ele anunciou, seu rosto iluminando-se com a animação.

- Me desculpe, mas não irei. - respondi firmemente, já antecipando a confusão que isso poderia causar.

- Se vai sim. - ele insistiu, com determinação evidente em sua voz.

- Não, eu não vou. - rebati, resistindo à ideia de me envolver em uma situação que claramente não me interessava.

- Vai, Eric, me ajuda?! Vou ver uma garota lá... - ele tentou apelar para minha simpatia, sabendo que eu tinha dificuldade em dizer não quando se tratava de ajudá-lo em assuntos amorosos.

- Está bem, eu irei - cedi finalmente, cedendo à sua insistência.

- Está bem! Vou passar na sua casa amanhã, ok? - ele disse, satisfeito por finalmente ter me convencido.

- Ok! - concordei, resignado, enquanto ele saía empolgado com seus planos.

Assim, mais uma vez, me vi envolvido em uma situação desconfortável por causa de Fred. Mas, como sempre, eu estava disposto a ajudá-lo, mesmo que isso significasse sair da minha zona de conforto. O tão esperado dia da festa se aproximava, e Fred não parava de me enviar mensagens, demonstrando sua empolgação contagiante. Estava marcado para as 8:00 da noite, e quando olhei no relógio eram apenas 7:15. O sol ainda lançava seus últimos raios sobre a cidade, tingindo o céu de tons alaranjados enquanto as ruas começavam a se encher com a agitação típica do início da noite.

Fred chegou pontualmente, como sempre, e começou a tagarelar sobre estarmos atrasados, mesmo que ainda tivéssemos quase uma hora antes do horário combinado. Às vezes, sua ansiedade excessiva conseguia me tirar do sério, mas eu sabia que fazia parte de quem ele era. Chegamos ao local marcado, um dos melhores bares da região, conhecido por sua atmosfera animada e sua seleção variada de bebidas. A música pulsante podia ser ouvida desde a entrada, convidando os frequentadores a se entregarem à diversão da noite.

Fred estava com sua típica camisa social, as mangas arregaçadas até os cotovelos, e sua postura descontraída contrastava com a agitação de sua mente inquieta. Seus cabelos negros estavam penteados para trás, e seus olhos brilhavam com excitação enquanto observava o ambiente ao nosso redor. Eu, por outro lado, optei por uma camisa casual e uma calça jeans, mantendo-me confortável para a ocasião. Minha expressão era mais reservada do que a de Fred, refletindo minha relutância em participar daquela festa, mas também uma certa resignação diante das circunstâncias.

- Mickey, hoje nem eu nem você saímos solteiros... - Fred deu um tapa no meu ombro, soltando uma risada estrondosa.

- Pare de me chamar assim... E cara, já conversamos sobre isso, eu não quero ninguém, ok? - respondi, um pouco irritado com sua insistência.

- Pare de graça, Mickey...

- Pare de me chamar assim! - Irritado, levantei-me. "Sabe de uma coisa? Eu vou embora."

Ele me olhou com a cara fechada e não disse mais nada, apenas resmungou:

- Deixa pra lá, mano!

Decidi ficar, apesar do incômodo da situação. Ficamos em silêncio por um tempo, até que a mulher chegou. Alta, com longos cabelos pretos e usando um vestido vermelho colado, ela era impressionante. Fred ficou todo animado e foi até ela, abraçando-a e dando um beijo em sua bochecha antes de vir em minha direção.

- Eric, quero te apresentar Melissa. Melissa, este é Eric, meu amigão.

Cumprimentamo-nos e ela me deu uma piscadela, deixando-me sem saber se era um tique nervoso ou se ela estava flertando comigo. Sentamo-nos, e Fred começou a falar sobre ela, dizendo que ela morou nos Estados Unidos e que havia se mudado para cá recentemente.

Ele perguntou a ela se queria algo para beber, e ela aceitou. Quando ele saiu para buscar as bebidas, Melissa puxou papo comigo.

- Seu amigo é muito lindo, não é? - ela comentou.

- Sim! - concordei, embora para mim sua beleza não fosse tão impressionante assim.

- Mas não tão lindo quanto você, gato!

Engoli em seco, surpreso com a situação. Aquilo era a última coisa que eu esperava: a mulher do meu melhor amigo estava dando em cima de mim. Enquanto tentava processar o que estava acontecendo, ela continuou com suas investidas.

- Então, gato, tenho alguma chance com você?

Naquele momento, tudo o que eu queria era pedir que o tempo parasse para que eu pudesse reunir meus pensamentos. A mulher do meu melhor amigo estava claramente flertando comigo, e eu me sentia desconfortável e confuso diante da situação.

Antes que ela pudesse continuar, Fred voltou com as bebidas. Eu me levantei abruptamente e disse a ele que não estava me sentindo muito bem e que precisava ir embora. Ele não insistiu e ficou com a moça, enquanto eu me afastava rapidamente, desejando estar em qualquer lugar, menos ali.

Caminhei pelo estacionamento, lamentando ter aceitado essa ideia absurda do Fred. Não deveria ter vindo. Talvez, se eu tivesse recusado, estaria em casa agora, desfrutando da tranquilidade e da música de Beethoven. Mas, em vez disso, me vi preso em uma situação desconfortável e embaraçosa, tudo por causa de uma decisão impulsiva e mal pensada.

O impacto foi repentino e assustador. Não tinha percebido que o sinal havia fechado e, distraído, atravessara a faixa de pedestres. Para meu azar, uma mulher passou na frente do carro no exato momento em que avancei, e o inevitável aconteceu: eu a atingi.

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